Entre vãos escrita por Miss Birth


Capítulo 16
O testamento


Notas iniciais do capítulo

Voltei! Quase morrendo, mas voltei... Espero que apreciem o capítulo. :)



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Tony acordou animado e pronto para testar seu novo traje. Logo cedo, Jarvis o notificou que o mesmo já estava apto para o primeiro uso. As novas configurações físicas e virtuais, diferentes de tudo anteriormente feito por ele, seriam postas à prova naquele dia, sem interrupções. Por isso, Stark optou por um café da manhã rápido e prático, se dirigindo a oficina logo depois de ingeri-lo.

—“Hoje é o dia, Jarvis!”, disse ele, transbordando alegria.

—“Ah, olá, senhor!”, respondeu Jarvis. “Estou pronto para começar os testes da plataforma Mark V.”

—“Eu também. O dia está magnífico!”

—“O céu está limpo, o mar agitado e os termômetros marcam a temperatura de vinte e seis graus Celsius. Ótimas condições para voar.”, informou o assistente.

—“Então, o que estamos esperando?”, Tony perguntou, carregando a maleta robótica para o local pré-demarcado no piso da oficina. “Jarvis, solta o som.”

Os autofalantes estrategicamente organizados no recinto passaram a ressoar o bom e velho rock, criando certa adrenalina no ar. Sem demora, Tony pisou sobre uma pequena alavanca e, de repente, a armadura foi ativada. Abaixando-se para colocar suas mãos nas ‘luvas’ metálicas, ele rapidamente esticou os braços e se pôs ereto, sentindo as peças se encaixando automaticamente por todo o seu corpo. Por último, o capacete vermelho e prateado se fechou, ativando a interface do sistema e exibindo as preferências que Jarvis importara do servidor pessoal.

—“Montagem bem sucedida!”, disse ele. “Devo exibir o relatório preliminar?”

—“Guarde para a volta!”, ordenou Tony, ativando as botas a jato. “Au revoir, sir Jarvis!”

Como um raio, Tony saiu em disparada, atravessando os portões da oficina num piscar de olhos. Embora já estivesse acostumado com a sensação de liberdade ao sobrevoar Los Angeles, sempre se sentia como na primeira vez em que alçou voo com o modelo Mark II. Os altos edifícios do centro se tornavam caixinhas de fósforo quando vistos da grande altitude que alcançara quase no máximo da potência do traje; as pessoas e os automóveis, como pontinhos indistinguíveis.

—“A srta. Potts solicita contato.”, avisou Jarvis. “Devo permiti-lo?”

—“Sim. Ponha ela na linha.”, respondeu Tony.

—“Tony? Você tá aí?”, perguntou ela.

—“Oi, Pep. Sou todo ouvidos.”

—“Onde você se meteu a essa hora? Acabei de chegar na mansão. E trouxe uma papelada pra você assinar. Que barulho é esse?”

—“Desculpe! Estou testando uma nova armadura. Me espere um pouquinho, já vou descer.”, respondeu ele.

—“Não me deixe plantada aqui, sr. Stark.”, ela pediu. “Há muito pra fazer na empresa.”

—“Relaxa, deite no sofá, beba alguma coisa... Jarvis vai te fazer companhia.”

—“Ah, meu Deus...”, Pepper suspirou. “Tô vendo que isso vai demorar...”

—“Pra te tranquilizar, eu vou na sede com você.”

—“Pra fazer o quê? Não tem nenhum compromisso marcado pra hoje.”, retrucou ela.

—“Não posso visitar minha própria empresa, srta. Potts?”, questionou ele, fingindo seriedade.

—“Claro que pode.”, ela disse. “Só achei que lá não tivesse nada que lhe interessasse. Além do uísque da sala da presidência, claro.”

—“Exatamente isso!”, Tony exclamou. “Esperta! Eu nunca tive dúvidas sobre ter te contratado, Pepper.”

—“Sério? Eu também nunca tive dúvidas que estava trabalhando no lugar certo. Quero dizer, às vezes sim...”

—“É, eu sei disso. Você ficou quase duas semanas sem olhar pra mim depois daquele episódio na oficina... Cê sabe... Uma ressaca daquelas...”, Tony disse, rindo só de lembrar da cara de espanto que Pepper fez ao encontrá-lo despido no sofá.

—“Por favor, Tony. Não vamos desenterrar o passado. Venha logo pra cá!”, respondeu ela.

—“Já cheguei.”

Pepper virou-se para um lado e para o outro, procurando por ele na oficina. O portão permanecia fechado; nenhum sinal da armadura.

—“Chegou aonde?”, perguntou ela.

—“Ué? Na minha casa.”, disse ele. “Já sei. Suba para a entrada.”

Pepper prontamente percorreu as escadas, chegando até a sala.

—“Você não está aqui também. Dá pra parar de se esconder?”

Tony gargalhou.

—“Ô nervosinha!”, chamou ele, dando três leves batidas no vidro da porta.

—“Fala sério, Tony.”, Pepper reclamou. “Tira isso e vem logo pra cá. Não tenho o dia todo.”

As portas se abriram e ele caminhou a passos largos em direção a ela, que o encarava impaciente. A máscara levantou e Tony sorriu.

—“Bom dia, Potts!”

Em segundos, as peças do traje se desprenderam harmoniosamente, voltando ao formato inicial de maleta.  

—“Teste concluído com sucesso, senhor.”, Jarvis disse. “Deseja mais alguma coisa?”

—“Isso é tudo, filhão.”, encerrou Tony.

Pepper observava tudo estupefata.

—“Então é isso que você anda fazendo no ‘tempo livre’.”, deduziu.

—“Em grande parte. Cadê a papelada?”, Stark respondeu.

—“Aqui.”, disse Pepper, lhe entregando um pequeno volume de folhas. “São as rescisões definitivas dos contratos com o DOD e a autorização para efetivar os colaboradores da Expo Stark. A maioria foi selecionada de Nova Iorque.”

—“Entendi. E quanto a Flushing Meadows Corona Park? Aceitaram nossa proposta para o evento?”

—“Sim. Apesar da burocracia, o espaço foi reservado para nós. Esse pessoal que vamos incluir na folha de pagamento será realocado para dar início às atividades lá.”, ela explicou.

—“Que rapidez!”, disse Tony, registrando sua assinatura nas linhas indicadas nos papéis. “Iremos ao Queens para ver a estrutura pessoalmente.”

—“Depois das suas viagens, é claro.”

—“Pra onde vamos primeiro?”

—“Você não vai desistir mesmo, né?”, disse ela, sentando-se calmamente no estofado. “Okay, vamos para Londres. Depois, Veneza.”

—“Londres?”, perguntou ele, arqueando as sobrancelhas. “Que chato."

—“Mas tem Veneza...? Romântico, não?”, provocou Pepper.

—“Lembra do Cipriani Hotel? Um lugar muito bonito.”, retrucou Tony, fitando os olhos incrivelmente azuis de Potts. “Enfim, Veneza é uma cidade encantadora.”

—“E cheia de jovens querendo participar da feira.”, encerrou ela.

Tony desviou o olhar e devolveu para ela os papéis já assinados.

—“Vamos recrutá-los, srta. Potts.”

—“Claro que sim, sr. Stark. Hora de irmos!”, avisou.

—“Diga para Happy preparar o carro. Vou guardar a armadura lá em baixo e já volto.”, Tony pediu, indo para a oficina.

Pepper levantou-se e ligou para Hogan, pedindo para apanhá-los na mansão. Alguns minutos se passaram, mas Tony não voltara. Pepper adentrou novamente, esbarrando com ele no meio do caminho.

—“Podemos ir?”, ela perguntou, visivelmente com pressa.

—“Agora sim.”, respondeu Tony. “Só estava checando umas coisinhas com Jarvis.”

—“Okay. Happy tá esperando lá fora.”

Ambos saíram da mansão, sem trocar qualquer palavra no trajeto. O tráfego estava tranquilo e, cerca de quinze minutos depois, o automóvel conduzido pelo motorista de longa data estacionara em frente ao prédio principal da empresa. Olhos curiosos recaíram sobre Tony, que vestia jeans, uma camisa do Pink Floyd e calçava um par de tênis descontraídos – estilo bastante diferente do que os funcionários estavam habituados a vê-lo usar ali. Pepper o seguia rumo a presidência, sorrindo gentilmente para os colegas que encontrava no caminho.

—“Ai, que saudade desta cadeira!”, exclamou Tony, girando sobre a poltrona da sala. “É daqui que eu faço este império prosperar.”

Pepper riu, ligando o computador da mesa do chefe.

—“Mais fácil que seja do sofá da oficina, com o odor enjoativo da graxa no ar.”, disse ela.

—“Eu gosto, tá?”, ele protestou, brincando com um objeto decorativo da mesa.

—“Claro que gosta. Ou não passaria o dia inteiro naquele lugar.”

—“É verdade... Bom, eu odeio cortar o papo, mas preciso dar um pulo no laboratório... Você sabe: catar umas pecinhas pra aproveitar nas armaduras.”, Tony disse, levantando-se e saindo da sala.

—“Okay.”, ela assentiu. “Só não vá embora antes de passar aqui de novo. Temos que acertar os detalhes da viagem.”

—“Fechado.”

Enquanto caminhava em direção ao laboratório de biomedicina, Tony pôs as mãos nos bolsos, tateando em um dos lados dois pequenos tubos preenchidos com sangue – ele coletou de si mesmo antes de sair de casa, sem que Potts pudesse saber. Chegando na recepção, pediu que chamassem o mesmo biomédico que realizara o teste sanguíneo na semana anterior, a fim de manter o sigilo. Tony entregou as amostras e retornou ao escritório. Fez tudo sem levantar suspeitas.

*****

—“Senhor, recebi o resultado dos seus exames. Deseja vê-los agora?”, perguntou Jarvis, despertando Tony, que cochilava no sofá da sala.

—“Sim, quero muito.”, respondeu ele, espreguiçando-se. “Mas antes vou preparar minha bebidinha sinistra.”

—“Está se sentindo bem, senhor?”

—“Não. Cabeça girando, mal estar... E não é ressaca.”, ironizou Tony.

—“São os sintomas da intoxicação. A propósito, falta apenas um elemento para concluir minha análise. Infelizmente, até agora não obtive resposta satisfatória.”, explicou Jarvis.

—“Que beleza... Ótima notícia...! Vou tentar beber a gororoba com mais frequência. Talvez ajude.”

Tony foi até a cozinha e preparou uma quantidade generosa da bebida verde, levando uma jarra cheia para o refrigerador da oficina. Alguns goles e o copo ficou vazio, fazendo-o enchê-lo novamente. Jarvis exibiu os resultados do exame de sangue e também da análise relativa ao elemento que supostamente substituiria o paládio.

—“Não foi possível modificar o núcleo proposto, senhor.”, informou Jarvis.

—“O que vou fazer?”,  perguntou Tony, fechando as janelas holográficas que iluminavam o ambiente. “Não há outro modo de manter o reator funcionando. Somente o paládio; que está me matando ao mesmo tempo que mantém os estilhaços longe do coração.”

—“Sinto muito, senhor.”, lamentou Jarvis. “Só podemos controlar a intoxicação. Não há outro modo de pará-la. Além disso, utilizar o traje parece acelerar o problema.”

—“Já entendi.”, disse ele, desanimado. “Eu sempre arrumei um jeito pra tudo. Já até me livrei da mão de guerrilheiros! Dessa vez, não vai dá. Vou morrer através do meu meio de vida, não é irônico?”

Tony soltou um longo e pesado suspiro.

—“Hora de escrever meu testamento, Jarvis.”


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Notas finais do capítulo

Chegando perto de ultrapassar a lógica do segundo filme.
:) Até o próximo, guys.



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