Entre vãos escrita por Miss Birth


Capítulo 12
Preparar, apontar, fogo!


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos! O tempo de atualização mudou, mas por motivos justos. Nesse capítulo, temos uma pitada de ação. Espero que curtam!



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O céu, salpicado de estrelas, tornava a vista esplêndida. O vento soprava a seu favor. O avançar das horas o distanciava de seu lar, mas o aproximava de seu destino. E os pequenos pontos luminosos abaixo lhe lembravam que milhões de corações pulsavam pela terra, ansiando segurança e paz. Em suas mãos, carregava o desejo de lutar pelo que acreditava e por aqueles a quem amava. E por tal desejo faria o que fosse necessário.

Tony voava há algumas horas. Durante o trajeto, revezava entre conversar com Jarvis a respeito de sua missão, ouvir suas músicas favoritas ou simplesmente admirar a imensidão que o cercava. Mas não demorou muito para que Jarvis anunciasse:

—“Senhor, estamos no espaço aéreo colombiano. Apenas alguns quilômetros e chegaremos a Bogotá.”

—“Finalmente!”, comemorou ele. “Se eu tivesse noção de que é tão longe de casa, teria arrumado as malas e vindo de jato.”

—“Isso com certeza quebraria o sigilo de sua missão, senhor.”, replicou Jarvis.

—“Claro, óbvio, nitidamente ou como queira.”, disse ele, descontraído. “Bem, a galera daqui está tirando uma soneca.”

—“É o que as pessoas fazem às duas horas da madrugada, senhor.”

—“É sim. Mas pra mim, é a melhor hora pra trabalhar. Assim ninguém me atrapalha.”

—“Aliás”, disse Jarvis, “devo lembrá-lo que a srta. Potts agendou seu encontro com os acionistas para as dez horas da manhã. Se quiser chegar a tempo, terá que ser mais rápido em encontrar o sr. Brandt.”

—“Não se apresse, Jarvis.”, respondeu Tony. “O dia mal começou. Vamos ver o que se passa por aqui e dar o fora.”

—“Sim, senhor.”

Em poucos minutos, Tony mergulhou rapidamente em direção ao solo, pousando sobre uma ruela mal iluminada e estreita. Os resquícios da arquitetura colonial deixavam o lugar ainda mais misterioso e sombrio. Dando passos calmos, Tony fez reconhecimento do território. Primeiro, deduziu que estava num bairro nada amistoso: havia pixações e marcas de tiro pelas paredes, garrafas de bebida por alguns cantos e restos de cigarro pela sarjeta. Nada novo para um lugar que há muito tempo travava uma luta intensa pelo fim do tráfico de armas e drogas. Usando o sistema de escaneamento infravermelho, pode detectar assinaturas de calor por perto – ele não estava sozinho. Uma voz ecoou curiosa.

—“¿Donde tu vienes, hombre de metal?”

Tony arqueou as sobrancelhas, embora seu rosto não estivesse visível por causa da máscara.

—“Jarvis, traduza isso.”, ordenou ele, em posição defensiva.

—“Significa ‘De onde você vem, homem de metal?’”, respondeu Jarvis.

—“Homem de metal? Parece que a notícia não chegou por aqui.”, resmungou Tony.

A voz pertencia a um homem que estava num beco há uns três metros da armadura. A escuridão dificultava a visão, mas Tony logo o enxergou com auxílio da câmera de visão noturna embutida no visor do traje.

—“¿Que tu queres aqui?”, gritou o sujeito, dessa vez se aproximando lentamente, carregando consigo um revólver de fabricação caseira.

Espanhol não era seu forte, então Tony utilizou o sistema de voz da armadura para responder a altura.

—“Yo soy un amigo. Estoy en busca de Gary Brandt. ¿Tu sabes?”

Desconfiado, o homem apontou sua arma e disse:

—“Você é o cara que veio negociar com Brandt?”

—“Então fala minha língua?”, respondeu Tony, prontamente.

—“Se veio para isso”, prosseguiu ele, “sugiro que me acompanhe.”

Entendendo que tudo aquilo se tratava de uma jogada arquitetada, Tony aproveitou a chance e assentiu. Num gesto rápido, o  sujeito entrou no mesmo beco do qual havia saído. Sem hesitar,  Tony o seguiu para dentro. Quem saberia o que lhe esperava ali?

O homem sacou do bolso um molho de chaves, encontrando de primeira mão aquela que abriria a fechadura do grande portão que selava o local do tal encontro. Ao abri-lo, um barulho agudo denunciou o estado enferrujado do metal e também revelou o lado interno do ambiente: um cômodo bolorento e úmido, com pouca iluminação. Era possível ver que mais dois homens estavam ali, de tocaia. E havia um terceiro, que freneticamente folheava algumas folhas de papel em meio a bebidas e armas. Este chamou a atenção de Tony.

—“Achei que seria mais difícil trazê-lo até aqui, Stark.”, disse Brandt, mas sem fazer contato visual.

—“E agora entendo porque foi tão fácil achar você.”, retrucou.

—“Pois é. Quer sentar um pouco?”, perguntou ele, mostrando-lhe uma cadeira logo a sua frente.

—“Vou ficar bem. Agora, pode me explicar o que seu nome tem a ver com as armas no farol e com isso tudo aqui?”, questionou Tony.

—“Bem, você lembra que fiquei desempregado recentemente.”, disse Brandt. “Isso é normal. Aviões sempre caem por aí. O fato é que Obadiah também não me pagava como merecia e não era o chefe perfeito... Que Deus o tenha!”

—“Por isso você continua fazendo o trabalho sujo dele?”

—“Sinceramente, não gosto de ser o chefe. Prefiro seguir ordens. Os caras que só obedecem, por incrível que pareça, são os mais felizes. Porque se a bomba estourar, a culpa deles é menor. Por isso o chamei aqui.”

—“Quer um emprego? Por que não checa um jornal?”, ironizou Tony.

—“Pensei que poderíamos fazer negócios. Eu vi seu discurso na TV, que não faz mais armas e blá blá blá. Mas não acredito que o chamado ‘Mercador da morte’ desistiu tão fácil. Ainda mais com uma coisa tão legal como essa que você está usando.”

Levantando a máscara, Tony olhou nos olhos de Brandt.

—“Acredite, aquilo nunca foi a minha vida.”

Brandt sorriu desdenhosamente, apanhando uma garrafa de tequila e dando um gole rápido.

—“Até onde sei, seu ato heroico não incluiu abrir mão da fortuna que o cerca. Aliás, o que sua empresa faz agora que abandonou o navio?”

—“Escuta”, disse Tony, já impaciente com a conversa. “O que você realmente quer?”

—“Uma oportunidade de fazer dinheiro, Stark. Sei que disso você entende muito bem. Como eu já disse, preciso de um mentor. Você só precisa me dar os produtos e eu encontro o compradores. E não, não vou me meter com aqueles terroristas com quem o Obadiah trabalhava. Meu negócio é mais humilde.”

Tony podia sentir suas veias pulsando fortemente a cada palavra que Brandt proferia.

—“Falando sério, não estou interessado na sua proposta totalmente indecente. E acho bom que você encontre um motivo para que eu não exploda essa espelunca com seus capangas e tudo.”

De repente, os três homens se posicionaram contra Tony, apontando suas armas para ele. Brandt também sacou seu revólver, mas se manteve no mesmo lugar.

—“Conhecendo a potência dos seus brinquedinhos, sei que poderia destruir a cidade inteira se tivesse vontade.”, provocou ele.

—“Se realmente conhecesse, saberia que posso derrubar cada um de vocês antes mesmo que possam pensar em fugir e sem levantar um grão de poeira.”

—“Neste caso…”

Sem terminar a sentença, Brandt sinalizou e tiros começaram a atingir a armadura – sem conseguir perfurar as placas metalizadas que a compunham. Tony desferiu uma carga do repulsor de sua mão direita, atingindo Brandt em cheio. Este caiu e permaneceu imóvel. Em seguida, Tony virou-se e também atingiu um dos homens, que tombou em cima de um velho sofá. Sem cessar os tiros, os outros dois sujeitos chegaram mais perto do traje. Uma bala ricocheteou, atingindo um deles na cabeça. Assustado ao ver seu parceiro ferido, o terceiro ficou sem reação e jogou sua arma no chão, implorando que Tony não o machucasse. Ele, por sua vez, o acertou com um golpe forte o suficiente para desacordá-lo.

A chuva de balas levantou uma densa camada de poeira e fuligem, o que dificultava a visão. Usando novamente o sistema de visão aguçada do traje, Tony pode ver Brandt arrastando-se para a saída. Também ouviu sirenes ao longe, avisando a presença da polícia nas ruas.

—“Não será a última vez que nos veremos, Stark.”, gritou Brandt, correndo com dificuldade para a rua.

Tony sabia que não seria bom que o Homem de ferro fosse associado àquele cenário. Por tal razão, deixou que ele pudesse escapar. Em um momento mais oportuno poderia pegá-lo de surpresa.

Por sorte, não havia nenhum carregamento com itens das indústrias ali, então ativou a função de vôo e deixou o lugar poucos segundos antes da chegada das viaturas.

—“Jarvis, relatório da missão.”

—“Meu escaneamento não detectou nenhum artigo de interesse no esconderijo de Brandt. Creio que qualquer item que ele possua esteja em outro local.”, informou o assistente.

—“E a integridade do traje?”

—“Exibindo informações na tela de início.”

—“Bom… 43% de energia, fuselagem quase intacta apesar dos tiros. Que droga! Isso acaba com a pintura!”, disse Tony, divertindo-se. “São três e meia da manhã. Será que é seguro tirar uma sonequinha até chegar em casa?”

—“Posso cuidar de tudo, senhor.”

—“Preciso descansar a mente para a reunião de mais tarde. Me mantenha informado, filho.”

—“Sim, senhor.”

*****

O estalo da fechadura servia-lhe como lembrete de que após um longo dia de labuta finalmente estava em casa, onde poderia desfrutar de uma boa noite de descanso. Jogando sua pequena bolsa sobre a mesa de centro, Pepper rapidamente retirou seus sapatos e jogou-se sobre o estofado da sala, suspirando aliviada. Massageando as têmporas com leveza, fechou os olhos e relaxou.

—“Um banho morno seria ótimo.”, pensou ela.

Em direção ao quarto, despiu-se com vagarosidade, deixando suas roupas pelo chão, a caminho do banheiro. Ajustou a temperatura do chuveiro e, sem delongas, o ligou. Pode sentir toda a tensão espalhada por seu corpo esvair-se com o deslizar preguiçoso das gotículas de água, lhe trazendo grande relaxamento. Após aproveitar o banho por alguns minutos, Pepper vestiu seu roupão bege e envolveu seus cabelos em uma toalha menor. Andando de volta para o quarto, escolheu um pijama básico e, depois de vesti-lo, sentou-se sobre sua cama enquanto secava seus longos fios ruivos com o auxílio de um secador. Terminada a tarefa, apanhou sua loção demaquilante e removeu a discreta pintura que usara para o jantar desagradável de uma hora antes. Uma rápida olhada no espelho e pode constatar o quão exausta estava. O dia seguinte seria igualmente cheio, porém, não mais faria tudo sozinha. Tony estaria presente em seus compromissos – ao menos ele parecia estar falando sério quando disse que iria.

Desligando as luzes, Pepper deitou sua cabeça sobre uma almofada macia e aninhou-se debaixo de seu cobertor. Fechando os olhos, pôs-se a pensar nas mais variadas coisas – feira, jantar, reunião. Mas, aos poucos, perdeu a consciência e foi tragada pelo cansaço. Foi derrubada por um sono avassalador. 

*****

Tony caminhava confuso por um deserto. Nenhum sinal de vida em canto algum. Repentinamente, uma explosão, seguida por um grande clarão, destruiu a escassa vegetação do local, mas sem atingi-lo. O assentar de uma densa nuvem de poeira revelou milhares de mortos – homens, mulheres, crianças… Tudo devastado num piscar de olhos. Seu nome estava escrito com sangue em cada vestígio. Sua assinatura em cada corpo sem vida.

—“Senhor!”, exclamou Jarvis, bruscamente, a fim de despertá-lo.

Tony acordou assustado.

—“Jarvis? Onde estamos?”, perguntou ele, um tanto perdido ao ver que ainda estava no traje em pleno vôo. O sol já havia surgido.

—“Bom dia, senhor!”, saudou o assistente. “São oito da manhã. Estamos a alguns minutos de Malibu.”

—“Eu dormi por quanto tempo?”

—“Segundo meus cálculos, por quatro horas seguidas.”

—“Legal. Preciso de um bom café da manhã. Estou faminto!”

—“Recomendo que o senhor prepare a bebida a base de clorofila, já que não procurou a ajuda médica necessária para a correção de seu problema de intoxicação.”, sugeriu Jarvis, sempre tão prestativo.

—“Obrigado por me lembrar disso. A euforia com a missão me fez esquecer até mesmo do jantar.”

—“Também devo lembrá-lo de seu compromisso na sede da companhia.”

—“Não ponha os burros à frente da carroça, Jarvis!”, disse Tony. “Primeiro, vou tomar uma ducha e, depois de um bom desjejum, corro até a reuniãozinha medíocre. Tá bom assim pra você?”

Quando por fim entrou na mansão, Tony retirou a armadura e seguiu a caminho de seu quarto, no andar superior. A breve ida a Colômbia o deixara exausto. Mesmo assim, estava determinado a honrar seu compromisso na empresa, então tratou de tomar um banho, barbeou-se e, em poucos minutos, já escolhia sua vestimenta: uma calça jeans de lavagem escura e uniforme, camisa social branca e um blazer acinzentado. Sapatos sociais pretos e um relógio da mesma cor no pulso esquerdo. Cabelos penteados para trás, levemente desgrenhados. Tudo estava perfeitamente alinhado – ele sempre fora um homem vaidoso e bem arrumado. Fez uma rápida passada na cozinha para preparar um café da manhã reforçado, servindo-se em seguida. Encheu uma caneca de porcelana com o café fumegante, ingerindo-o com cuidado, enquanto visualizava o noticiário matinal numa tela holográfica. Torradas e frutas fizeram parte do cardápio e, conforme sugestão de seu assistente pessoal virtual, experimentou a bebida verde que supostamente o ajudaria com a intoxicação que sofria.

Cantando pneus, dirigiu a caminho da sede da companhia, ostentando com um dos seus modelos esportivos favoritos, um Audi branco, modelo R8 Spyder.

 Não podia negar que a sensação de comparecer a uma reunião após meses de ausência lhe causava um certo estranhamento. Entretanto, também não podia esquecer que isso era apenas uma de suas muitas facetas. Como chefe executivo ou, simplesmente, presidente, tinha muito, muito trabalho a fazer.


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Notas finais do capítulo

O que vai acontecer na bendita reunião? Como Stark vai remediar o problema com o reator?
Veremos no próximo capítulo. :)
Fiquem ligados.



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