A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 44
De geração a geração


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Apesar de ser sob o ponto de vista da Katniss, o capítulo é dele, por ele, pra ele e a música inspiradora só poderia ser sobre ele:
"Peeta" do Jonathan Thulin.

Eu coloquei os links no início do capítulo, caso os links não abram, vocês podem encontrá-la nos seguintes endereços:

https://www.youtube.com/watch?v=1YGJhHCJz8c

https://www.letras.mus.br/jonathan-thulin/peeta/traducao.html

Ela não está completa no vídeo do YouTube (Everlark | Peeta's song), mas, mesmo cortada, é maravilhosa, ainda mais com a edição das cenas casando com as frases da música.

Eis minha parte preferida:

I wanna live, bake the bread and pour the wine.
I wanna love all the world and all that's mine.
I wanna dream precious pearls and Everdeen
I wanna fight for the right I know is mine.

(Eu quero viver, assar o pão e despejar o vinho.
Eu quero amar todo o mundo e tudo o que é meu.
Eu quero sonhar preciosas pérolas e Everdeen
Quero lutar pelo direito que eu sei é meu.)

O capítulo está grande, pois tentei fazer com que o máximo de personagens participasse desse evento tão especial... e ainda consegui incluir um hot básico.



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Peeta's song/Everlark

Música "Peeta" completa - letra e tradução

 

Por Katniss

Terminado o lanche com a primeira fornada de pães feitos na nova padaria e depois de organizarmos tudo o que ficou fora de lugar, Delly se oferece para fechar as portas do local, pois ela ainda esperaria Thom ser liberado do trabalho para levá-la em casa.

Quando eu e Peeta estamos voltando para a Aldeia dos Vitoriosos, acompanhados de Effie, Haymitch, Johanna, Annie e Finn, encontramos Greasy Sae também indo para lá. Os outros caminham à frente e eu e Peeta atrasamos o passo para andarmos ao lado dela.

— Soube há pouco que vocês já haviam voltado do lago. Estava indo saber se precisam de alguma ajuda em casa – oferece ela.

— Estou precisando de ajuda, mas para outra coisa – afirma Peeta. — Você conhece alguém que gostaria de trabalhar na padaria?

— Conheço dois rapazes. Eles me pediram para indicá-los a você, se surgisse a oportunidade. Seus nomes são Casper e Lionel.

— Eu já ouvi esses nomes, mas não os conheço pessoalmente – admito.

— Eu também não. Porém, se a indicação vem de você, Sae, isso é perfeito! – Peeta comemora.

— Eles moravam na Costura e trabalhavam como mineiros há poucos anos. Acho que, por isso, não tiveram muito contato com vocês na escola – assinala Greasy Sae. — Apesar de não terem experiência, parece que trabalhar com algo tão diferente das minas de carvão é um sonho pra eles.

Peeta reflete por alguns instantes sobre a afirmação de Greasy Sae e pergunta:

— E você, Sae, também tem um sonho?

— Ora, Peeta, eu não tenho mais idade pra isso. – Ela fica acanhada com o questionamento.

— Nunca é tarde para se realizar sonhos – discorda ele.

— Vocês já me ajudaram muito, nem imaginam o quanto, especialmente com a Daisy.

— E você ajudou e continua ajudando a nós dois – interfiro. — Gale me disse que, durante os primeiros Jogos, você iniciou uma coleta de dinheiro para nos patrocinar na arena.

— Ah! Eu não fiz nada de mais. Deveria ser algo restrito aos vendedores do Prego, mas muitas outras pessoas ouviram falar disso e contribuíram. Eu só dei o passo inicial.

— Sae, o preço de qualquer presente na arena é exorbitante. Foi muito importante pra nós – reconheço.

— Sem dúvida, fez a diferença para ficarmos vivos. Então, também por isso, eu quero saber de um sonho seu e ponto final – insiste Peeta.

— Tudo bem, eu digo. – Ela suspira profundamente. — Eu sempre quis ter um lugar decente para vender minhas sopas, bem diferente daquela tenda com um balcão precário no Prego.

Peeta a escuta atentamente e para de andar de modo súbito.

— Acabei de lembrar que preciso voltar à padaria… Vocês podem seguir pra casa sem mim? – pede ele e, depois, tenta me tranquilizar ao ver minha apreensão. — Está tudo bem. É só um assunto pendente.

Sem mais explicações e claramente omitindo algo importante, Peeta faz o caminho de volta à padaria. A mudança de planos é tão repentina que me assusta, fazendo-me pensar mil coisas, porém a ideia que fica rondando minha mente é a de que ele se viu obrigado a se distanciar de mim, pela iminência de uma nova crise.

Greasy Sae anda a passos lentos ao meu lado até minha casa, conversando pouco, pois percebe que não consigo fixar minha atenção no que ela diz.

Mais tarde, muito depois de Greasy Sae ter ido embora após me ajudar a preparar algo para a janta, aguardo Peeta enquanto acaricio o pelo espesso de Buttercup. Ouço o som de vozes e, através do vidro da janela, vejo quando Peeta, Blaine, Delly e Thom chegam à Aldeia dos Vitoriosos, conversando animadamente.

Abro a porta ao ouvir o tilintar das chaves dele do lado de fora e o sorriso sincero de Peeta é exatamente o que preciso para me acalmar. Em termos.

Ele atravessa o umbral da porta e sequer termina de trancá-la atrás de si, quando minhas mãos envolvem seu pescoço. Preciso ouvir sua voz, sentir seu cheiro, provar sua pele. Em vez de me tranquilizar por finalmente tê-lo junto de mim, estou ainda mais impaciente.

— Já está pronta pra dormir? Demorei, não foi? – admite ele, segurando meu rosto com ambas as mãos.

— Você não imagina o quanto. – Busco avidamente seus lábios com os meus, nada sendo suficiente para aplacar a angústia misturada ao desejo, que obscurecem a minha razão, ainda mais enfraquecida sob o efeito devastador de seus olhos azuis. Os azuis que tanto queria ver, depois de horas de desassossego. — Você precisou se afastar de mim naquela hora em que voltou para a padaria?

— Não foi isso. Você esteve preocupada todo o tempo em que estive fora? – Ele retira alguns fios de cabelo que caem por minha testa.

Balanço a cabeça para confirmar e o pesar de Peeta é notório.

— É que foi tudo tão rápido. Você ficou com o olhar perdido, parecendo estar a quilômetros de distância e me deixou sozinha com Greasy Sae no instante seguinte. Mas agora está tudo bem. Você está aqui. – Aperto seus ombros para me certificar de que isso é verdade.

— Eu não podia revelar os meus planos na frente de Greasy Sae, pois estragaria a surpresa que pretendo fazer pra ela. – Ele acaricia minhas costas por sobre o pijama que estou vestindo.

— Surpresa?

— Sim. Tenho muitas novidades, mas… elas podem esperar— sussurra Peeta antes de afundar seu rosto na curva do meu pescoço, fazendo-me arfar com o toque de sua boca em minha pele.

Em segundos, ele me levanta e me carrega até a escada.

O andar de cima não está iluminado, mas o deslocamento preciso de Peeta indica que ele pode percorrer o trajeto mesmo sem as luzes acesas.

Ele me leva até a cama e só deixa de tocar meus lábios com os seus ao me deitar e cair suavemente sobre meu corpo, descalçando seus sapatos e meias com os próprios pés e chutando-os para fora do colchão.

Peeta se senta sobre mim, sustentando seu próprio peso em suas pernas. Ele agarra a barra inferior da minha blusa e a puxa para cima. Depois, coloca a mão atrás da nuca e se livra sua própria camisa.

Espalmo minhas mãos em seu peito nu e passeio os dedos por seu abdômen e por suas costas, quando ele se abaixa sobre mim para continuar beijando minha boca.

Seus lábios traçam uma linha descendente até atingirem a minha cintura. Ele sabe exatamente como e onde me tocar, aquecendo cada ponto de contato.

Uma de suas mãos está sob mim e encontra o caminho até o fecho do meu sutiã.

Seus carinhos me deixam excitada pelo que sei que está para acontecer. Porém, Peeta me surpreende com algo novo e extremamente prazeroso, ao deslizar a língua sobre a pele que é exposta quando desamarra o cordão do meu short e puxa minhas roupas pelos quadris de uma só vez.

Eu me delicio com as sensações provocadas enquanto ele saboreia cada parte da minha intimidade, enroscando meus dedos em seus cabelos macios.

Quando meu corpo inteiro vibra de deleite, não reprimo um forte suspiro e seus lábios continuam a umedecer minha pele num rastro que alcança toda a extensão das minhas pernas até meus tornozelos.

Peeta rasteja sobre os lençóis para estar novamente diante mim e, nesse instante, inverto nossas posições, encaixando minhas pernas em cada lado de seu tronco.

Deslizo as alças do sutiã pelos ombros e braços e suas mãos tomam meus seios antes mesmo de a peça branca pender dos meus dedos até o colchão.

Estendo a mão até o botão de sua calça e o abro, sentindo a sua masculinidade através do tecido. Ele empurra a calça um pouco para baixo e eu termino de despi-lo.

Pela primeira vez, eu o liberto de sua perna mecânica.

— Tem certeza? – pergunta ele e um lampejo de insegurança cruza seus olhos.

— Hoje eu quero sentir apenas o calor da sua pele.

Eu alinho meu rosto ao dele para beijar o canto de sua boca e me posiciono para guiá-lo para dentro de mim.

Sua respiração fica paralisada e um som grave escapa de sua garganta.

Movemos nossos quadris num ritmo inicialmente lento, delicioso e torturante. Eu me inclino sobre ele e Peeta explora meus seios com sua boca. Suas carícias adornam meu colo e me incendeiam, obrigando-me a implorar por mais e a intensificar nossos movimentos.

Ele ergue o tronco e me abraça, aproximando seu rosto do meu para me encarar com seus olhos lascivos, enquanto a tensão acumulada em minhas entranhas se dissipa por todo o meu corpo como uma corrente elétrica, fazendo-me estremecer e me contrair de prazer.

Seus dedos se enterram em minha cintura, o que me sinaliza que se aproxima o auge da sua liberação, que acontece quando ainda mantemos contato visual. Eu calo seu murmúrio rouco com meus lábios.

Com seu olhar intenso, Peeta me faz o juramento mais sincero e mais puro de adoração eterna.

— Eu amo você – sussurramos juntos e ele se joga sobre o travesseiro atrás dele.

Por fim, deito minha cabeça em seu peito, enquanto nossas respirações se estabilizam.

— Essa vida de casados tem muitas novidades. – Peeta beija minha têmpora. — Chego cansado, mas, mesmo depois de tanta atividade, fico mais relaxado que antes, com a energia revigorada e com vontade de abraçar o mundo! – diz ele, abrindo os braços sobre o colchão e bagunçando ainda mais os lençóis.

— Não precisa abraçar o mundo, só me abraça – peço.

— Você é o meu mundo. – Peeta me enlaça com ternura e eu roço meu nariz por sua bochecha. — Já estou desculpado por ter deixado você tão aflita hoje?

— Sei que foi por uma boa causa… Afinal, que surpresa você está preparando para Greasy Sae? – pergunto.

— Quando ela nos contou qual era o sonho dela, pensei em transformar aquele cômodo externo, que eu faria de depósito, num lugar para ela vender suas famosas sopas… Por isso, voltei à padaria. Precisava verificar com a Delly e o Thom se era possível fazer isso, antes de falar com Greasy Sae.

Eu o encaro admirada, da mesma maneira que olhei pra ele quando espontaneamente ofereceu um mês de nossos ganhos até o fim de nossas vidas para as famílias de Rue e Thresh, na Turnê da Vitória.

— E então, é possível?

— Sim! E poderá ficar tudo pronto em pouco tempo. Greasy Sae não sabe de nada ainda. Quero dar a notícia junto com você.

— Mal posso esperar para ver a reação dela. – Busco seus dedos para entrelaçá-los aos meus. — E quais são as outras novidades?

— Eu já conheci Castor e Lionel. Greasy Sae avisou aos dois que eu estava na padaria e eles foram até lá. Os dois parecem bons rapazes e vou treiná-los para serem meus auxiliares. Blaine e Violet estiveram lá também. Ela vai ser a atendente da padaria por meio período, pois quer continuar estudando.

— Que ótimo! Quanto tempo falta para ficar tudo pronto para a inauguração?

— Acho que uns dez dias. Ou menos! – Seus olhos brilham de animação. — Falando nisso, a partir de amanhã, não estranhe, pois terei que ir à padaria em alguns horários pouco convencionais.

— Qual a razão disso? – questiono e ele pensa um pouco antes de responder.

— Digamos que preciso alimentar uns bichinhos de estimação. – Ele ri, pois não escondo a estranheza que a informação me causa. — Eu pretendo apresentar você a eles, quando já estiverem se comportando como o esperado.

Não posso imaginar quais os animais de estimação podem ser criados numa padaria prestes a começar a funcionar. No entanto, ele não me dá mais nenhuma pista a respeito.

Na manhã seguinte, não esperamos Greasy Sae ir até a Aldeia dos Vitoriosos. Vamos buscá-la em sua casa bem cedo, com a desculpa de que Peeta precisa da ajuda dela para preparar um grande café da manhã, como forma de agradecimento aos operários que trabalham na construção da padaria. Essa parte da desculpa é verdade, mas omitimos o detalhe de que Peeta quer tornar real o sonho da velha senhora.

Prestativa como sempre, Greasy Sae vai conosco e auxilia na elaboração de alguns pratos, enquanto eu me encarrego das bebidas e Peeta assa os pães.

Depois de aprontarmos a mesa, Peeta a conduz ao depósito. Delly e Thom vão conosco.

— O que vocês acham de usar esse espaço para fazer refeições como essa que acabamos de preparar? Para diversificar as atividades da padaria, sabe? Talvez vender caldos e… sopas. – Peeta fita Greasy Sae diretamente, que retribui um olhar desconfiado para ele. — Qual a sua opinião, Sae?

— Aqui é o lugar ideal, Peeta. É independente da padaria – afirma ela.

— Então, se você quiser mesmo fazer isso, o espaço é seu. E Delly e Thom vão se empenhar para que tudo fique a seu gosto – anuncia Peeta.

Os olhos úmidos de Greasy Sae percorrem o local. Várias emoções perpassam seu rosto.

— Eu… eu preciso me sentar – balbucia ela, apoiando-se em Delly.

— Vou pegar uma cadeira pra você. – Thom se apressa em ajudá-la.

Greasy Sae se acomoda no assento e eu e Peeta nos abaixamos para segurar suas mãos enrugadas.

— Assim meu coração não aguenta – emociona-se Greasy Sae e todos rimos antes de ela continuar: — Apesar dessa minha reação, eu aceito o emprego.

— Não é emprego, Greasy Sae! – Delly diz rapidamente.

— É um presente – acrescento.

— É o seu sonho – completa Peeta.

Greasy Sae aperta nossos dedos com força e nos puxa para um abraço. Eu não consigo identificar se os sons abafados que ela emite são de riso ou de choro. Ou dos dois.

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Na semana que se segue, Peeta fica envolvido no treinamento de seus dois ajudantes. Effie se encarrega de ensinar noções de etiqueta e de atendimento ao público a Violet.

Durante esse tempo, eu, Annie e Johanna nos ocupamos em ajudar nos preparativos para a festa de inauguração. Effie estava na dúvida se faria um evento noturno e de gala, com a presença de figuras importantes da Capital para impulsionar a expansão dos negócios, ou se organizava algo mais simples e restrito às pessoas do nosso Distrito. Peeta preferiu a segunda opção, com uma recepção na parte da manhã, na qual ele acolherá seus futuros clientes e distribuirá amostras dos produtos que venderá.

Na véspera da inauguração, Peeta me leva com ele à padaria. O ambiente está muito diferente de quando visitei as instalações pela última vez.

— Olhe ao redor. Agora sim esse lugar está com jeito de padaria de verdade. – Peeta mostra o maquinário, os utensílios e os materiais em seus devidos lugares. — Bem-vinda aos bastidores do meu universo particular.

— Do qual eu sempre fui grande admiradora… Prim também. E acho que toda a população do Distrito 12.

Caminhamos até uma grande bancada no interior da padaria, ladeada por uma pia e uma geladeira.

— Desde que eu comecei a trabalhar pra valer na padaria dos meus pais, não houve um dia em que você não estivesse em meus pensamentos. – Ele pisca pra mim, enquanto passa um avental por sua cabeça, levando as mãos para trás para amarrá-lo. — Era uma rotina pesada, difícil de conciliar com a escola, mas você me inspirava, mesmo sem saber.

Não importa tudo o que já passamos juntos, as palavras dele me fazem ruborizar.

Peeta abre o refrigerador e retira de dentro dele um recipiente de vidro. Depois de colocá-lo à minha frente, ele estica uma das mãos para enlaçar as minhas, enquanto pousa a outra mão sobre a tampa do vasilhame.

— Agora que você está aqui, vai conhecer alguns dos meus segredos… Aqui dentro estão os bichinhos de estimação sobre os quais falei. – Ele franze o cenho de brincadeira, acompanhando os movimentos do meu próprio rosto. — Eu explico. O fermento que aprendi a usar com o meu pai é o biológico, que nada mais é que uma massa obtida pela mistura de farinha e água. Ao ser exposta, ela é contaminada por micro-organismos dispersos no ambiente, que encontram nessa massa um ótimo meio de crescimento. Depois de um tempo, essa mistura tem condições de servir como fermento. – Ele pega uma jarra com água e um pote de farinha. — Então, há alguns dias, eu misturei esses ingredientes e deixei a natureza fazer seu trabalho. Durante cerca de uma semana, foi preciso adicionar farinha e água diariamente, em intervalos certos.

— Por isso, você precisava vir até aqui naqueles horários estranhos… – recordo. — Por que não fez isso em nossa casa?

— Como eu disse, o fermento natural usa os micro-organismos presentes no ar e na farinha. Eu queria que esse fermento fosse criado com os elementos existentes aqui, nessa cozinha, onde realmente tudo começou.

— Os pães daqui não serão como os que você faz em casa?

— Poderiam ser. Seria até mais fácil – destaca ele. — Fazer um pão com fermento natural leva mais do que o dobro do tempo de um pão com fermento químico, pois é necessário esperar a massa crescer antes de começar a assá-la. Mas vale a pena.

— E por que você chama o fermento de bichinho de estimação?

— Porque ele é mesmo algo vivo. É preciso cuidar dele e alimentá-lo regularmente. A farinha e a água que uso para fazer uma massa de pão servem de alimento para esse fermento. Então, a primeira massa dá origem à segunda massa e assim por diante. Desse jeito, ele se eterniza. – Peeta demonstra o que ele acabou de explicar, misturando farinha e água à massa dentro da vasilha. — É uma renovação constante. Uma conquista diária. É como… nós dois.

Eu sorrio, encantada com a metáfora.

— Posso cuidar dele também? – peço permissão para ajudá-lo na tarefa.

— Eu prefiro que você cuide de mim.

— Ainda bem que o meu padeiro favorito já me ensinou essa receita.

Contorno seus belos traços com as pontas dos dedos e encosto suavemente meus lábios nos dele.

Depois, com o cotovelo apoiado na bancada, sustento meu queixo em meu punho fechado, suspirando levemente.

— O que foi? – pergunta ele.

— Você simplesmente não consegue evitar ser adorável em todos os aspectos… Então, vida-longa aos seus bichinhos de estimação!

— Você está brincando, mas ele é mesmo um fermento feito para a longevidade, para passar de geração a… – Peeta não se permite continuar. — Deixa pra lá. Essa não é a nossa realidade.

— Ele é feito para passar de geração a geração. Eu entendi – complemento o que ficou subentendido, tentando afastar qualquer constrangimento de Peeta pelo que estava explanando. — É… impressionante.

Pensativo, ele volta os olhos para o recipiente.

— É uma opção mais saudável também – desconversa Peeta. — Além disso, todo esse processo nos ensina a aceitar o tempo que as coisas levam para acontecer naturalmente.

Não é minha intenção manter em evidência um dos assuntos que nos deixam tão melindrados, mas não posso me impedir de dizer a ele o que somente a minha razão está querendo calar.

— Você faz bem em ensinar seu ofício a outras pessoas. Você me explicou tudo com tanto amor. Aliás, como tudo o que faz.

— Foi o meu pai que me ensinou todas essas coisas. Eu gostaria mesmo de transmitir esses conhecimentos a alguém que pudesse dar continuidade a tudo isso. – Os olhos de Peeta fixam-se em um ponto indefinido, enchendo-se de esperança.

Essa é a oportunidade ideal para ele fazer uso do nosso trato. Peeta poderia ter argumentado sobre filhos, porém não o faz. As outras vezes em que ele falou comigo a respeito foram uma espécie de brincadeira ou um ato falho.

Se ele dissesse algo agora, seria pra valer. No entanto, Peeta não usa esse momento de comoção para tentar me convencer a nada, o que só faz o meu amor e meu respeito por ele aumentarem. E a minha angústia por privá-lo disso também.

Peeta se dirige à pia para lavar as mãos. Em seguida, guarda o fermento novamente na geladeira. A tensão se dissipa completamente quando ouvimos o gritinho de um bebê e a risada de uma criança, que anunciam a chegada de Annie, Finn e Daisy, justo nesse instante.

Desde o casamento, os três têm passado muito tempo juntos. Houve uma grande identificação entre Annie e a menina.

— Peeta? Com licença. – A voz de Annie se faz ouvir antes que possamos vê-los.

— Estou aqui dentro com a Katniss. Podem entrar – convida Peeta.

Daisy entra na cozinha, empurrando o carrinho de bebê onde Finnick está.

Annie traz um embrulho em suas mãos, que ela deposita nos braços de Daisy, incentivando-a a entregá-lo a Peeta.

Peeta pode ver no rosto da menina o quão exultante ela está em poder presenteá-lo.

Ele retira do pacote um avental com o logotipo da padaria, repleto de marcas coloridas de tinta com os pés e as mãos das duas crianças. A emoção de Peeta é visível.

— Isso é perfeito. Obrigado mesmo. – Ele beija a face sorridente de Daisy.

— Achei que seria uma boa recordação do dia da inauguração. E, pra ficar pronto, contou com a participação de pessoas que querem muito bem a você. A Sandy costurou o avental, a Sra. Everdeen bordou o emblema e, depois, ela me enviou por trem. Eu organizei a bagunça que as crianças fizeram com as tintas – declara Annie.

Eu ajudo Peeta a substituir o avental que está usando pelo seu novo presente.

— Ficou lindo, Daisy – opino e a menina aponta para o bebê, ligeiramente decepcionada por eu não incluí-lo no elogio. — E Finn – digo e ela volta a sorrir.

— Vocês nos acompanham no tour pela padaria? – Peeta sugere.

— Não podemos ficar. Tenho que deixar a Daisy em casa antes da hora do almoço! – Annie justifica a recusa e Peeta somente os deixa ir embora depois de arrancar algumas gargalhadas das crianças, fazendo cócegas nos dois.

Após eles atravessarem a porta em direção à saída, Peeta estende a mão para mim.

— Venha ver onde serão confeitados os bolos.

Peeta me conduz a uma sala cujas paredes não são feitas de tijolos, mas de painéis de vidro.

— Ficou lindo esse lugar. Apesar de separado do restante da padaria, não deixa de estar integrado às outras áreas. – Admiro a estrutura que ainda não conhecia.

— Eu gosto da ideia de ter um espaço isolado para fazer a decoração dos bolos, mas não queria ficar confinado entre quatro paredes de alvenaria. – Peeta abre a porta e me dá passagem. — Além disso, finalmente, eu não preciso de um refúgio pra me esconder da minha mãe.

Eu me encolho ao ouvir a menção à Sra. Mellark e olho penalizada para Peeta ao me lembrar de quando testemunhei uma das agressões que ele sofreu.

— Tudo seria tão diferente, se você não tivesse sido corajoso para enfrentar a ira da sua mãe, quando me deu os pães naquele dia de chuva. Meu coração se aperta só de pensar que ela foi capaz de bater em você… uma criança. – Eu me aproximo dele e toco meus lábios onde lembro de ter visto as marcas nas suas feições de menino.

— Ela me bateu aqui também… E aqui… E aqui. – Peeta aponta diversas partes do seu corpo, pedindo mais beijos.

— Isso não tem graça – reclamo.

— Eu também não achava nada engraçado, mas já que ganhei o direito de receber alguns beijos… – Ele prende minha cintura e cola nossos lábios.

— Ham, ham. – Ouço alguém pigarrear e dar batidas no vidro. — Isso não é muito higiênico. Não quero comer bolo com os fluidos corporais de vocês. – A voz de Johanna é ouvida nitidamente através das paredes transparentes.

— Johanna, isso é nojento! – resmungo depois que Peeta me solta e começa a rir.

— E não foi exatamente o que acabei de dizer? Nada de fluidos! É nojento.

De repente, a figura musculosa de Maximus assoma atrás de Johanna, trazendo uma bolsa de viagem no ombro.

— Não fale em fluidos, mulher, estou há duas semanas sem ver você!

Peeta abre a porta para ambos entrarem e segura a bolsa de Max para que ele nos abrace com seu jeito nada sutil, enquanto Johanna protesta.

— Quem mandou passar uma semana na Capital?

— Fui visitar meus pais. E olha só o que eu fiz! – Max suspende a manga da camisa e exibe a tatuagem de um machado estilizado na parte superior do braço.

— Não acredito! Você é louco! – Johanna exclama.

— Louco por você! – Max diz e ela se pendura no pescoço do namorado.

— Lembre-se, Jo! Nada de fluidos! – Peeta brinca diante do entusiasmo dos dois, devolvendo a mala de Max, que a coloca no ombro sem soltar Johanna.

— Nada mesmo! Pelo menos, não aqui. – As palavras de Johanna vão se distanciando, conforme Max a carrega para fora da padaria.

Depois que eles vão embora, Peeta me leva até o andar de cima.

— Eu quis congelar um dos nossos momentos juntos e vivê-lo para sempre, lembra? – sussurra ele antes de subirmos os últimos degraus. — Aí está.

Quando alcanço o piso superior, na parede de frente para a escada, há uma enorme tela, pintada com o pôr do sol visto do terraço do Centro de Treinamento dos tributos.

— É lindo e está exatamente como naquele dia antes de irmos para a arena-relógio! – Eu me emociono. — Aliás, a padaria toda está linda. Você merece tudo isso… e muito mais.

— Eu tenho o que eu mais desejei em toda a minha vida. – Peeta tira o avental, jogando-o sobre o ombro, e engancha os dedos no cós da minha calça.

Aperto o tecido de sua camisa e recebo seu beijo sedento, que é interrompido pela campainha do balcão.

— Olá! Alguém por aí? – Uma simpática voz masculina ressoa até nós.

— Definitivamente, tenho que trancar tudo, se quiser namorar em paz – murmura ele para, em seguida, erguer a voz. — Aqui em cima!

— Oi, patrão! – Os passos apressados diminuem de velocidade, quando Casper repara que Peeta não está sozinho. — Ah… Oi, Katniss. Cheguei cedo?

— Um pouco. – Peeta coça o queixo e eu escondo meu rosto vermelho em seu peito, quando ele me abraça. — Mas, já que está aqui, vamos trabalhar!

Logo depois, Lionel também aparece e eu os ajudo a preparar tudo o que pode ser feito com antecedência para o evento de amanhã. Peeta apenas interrompe seus afazeres para atender ao telefonema do Dr. Aurelius e da Dra. Ceres, que o parabenizaram por mais essa conquista, como ele me conta depois de desligar.

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No dia seguinte, os dois ajudantes de Peeta estão a postos na produção dos pães e Peeta dá os últimos retoques no bolo confeitado.

No interior da padaria ainda fechada, observo Effie marcar os minutos no relógio ao lado de Violet e de Haymitch.

— Você não pode ficar nervosa no seu estado! – Haymitch já dá sinais de superproteção da sua prole.

— Ora, Haymitch! Parece até que não me conhece! Eu estaria muito, muito, muito mais nervosa, se não estivesse à frente de tudo, especialmente do controle de horários.

— Isso é verdade – admite ele, encolhendo os ombros. — Então, apenas tome um pouco d'água, para se hidratar. Você pode me ajudar a tomar conta dela, Violet?

— Pode deixar. – A bela namorada do Blaine busca uma garrafa, enche um copo, mas Haymitch o intercepta antes que ela o dê à Effie.

Effie segura o copo e a mão de Haymitch que o sustenta, olhando-o com carinho, e ele finalmente relaxa.

— Você está liberado para uns drinques hoje – diz ela.

— Você ouviu isso, Peeta? – Haymitch esfrega as mãos.

— Infelizmente, não posso ajudar. Não tenho nada do tipo no estoque.

— E você acha que eu não providenciei isso? Arrumei um canto na geladeira de Greasy Sae.

A hora marcada para a recepção se aproxima e Casper e Lionel levam tudo o que está pronto para uma grande mesa colocada no centro do grande salão do segundo andar. Pontualmente, ao sinal de Effie, o próprio Peeta abre as portas da padaria para que todos entrem.

A fim de evitar receber cumprimentos, pois ainda não me sinto à vontade quando pessoas não tão próximas me tocam, fico alguns passos atrás de Peeta, apenas acenando para aqueles que sorriem em minha direção. Peeta, ao contrário, recebe com alegria os abraços e apertos de mão de felicitação.

Depois que todas as pessoas sobem e se acomodam nas diversas mesas e cadeiras espalhadas pelo espaço, Effie anuncia que Peeta fará um pronunciamento.

— Eu tenho muito a agradecer a tantas pessoas aqui presentes, mas não quero citar nomes para não ser injusto. – O que ele não diz expressamente com palavras, seus olhos comunicam, em especial, a Thom e Delly. — Por isso, vou me ater a falar dos homenageados com a reconstrução da padaria… Primrose e minha família. – Ele volta-se para Effie. — Pode ficar tranquila, Effie, meus comentários estão todos neste cartão.

Ele balança um papel no ar e Effie exibe um sorriso de aprovação. Peeta retoma o discurso.

— Pelo carinho e saudade que todos sentimos de Primrose Everdeen, reproduzimos na nova padaria o lugar preferido dela na cidade, a vitrine onde eram colocados os bolos confeitados. Ela merece muito mais do que essa singela homenagem. Em minha opinião, Prim representa tudo de mais precioso que nos foi tirado durante a guerra. Por isso, espero que, onde quer que esteja, ela possa se alegrar com os bolos decorados que vou expor naquele lugar que tantas vezes presenciou seu sorriso. – As lágrimas cegam minha visão momentaneamente, porém sou capaz de perceber alguns olhares sobre mim. — Meu pai – prossegue Peeta. — Não é possível medir o quanto admiro o homem de ombros largos e sorriso caloroso, com quem dizem que sou parecido fisicamente. Ele herdou as habilidades e a ocupação de padeiro dos meus avós e as transmitiu também a mim e a meus irmãos. Trabalhador, respeitoso, compreensivo e de bom coração, ele era o contraponto em relação à minha mãe, que tinha um temperamento difícil. Muito difícil!— Peeta enfatiza as últimas palavras, arrancando algumas risadas de quem conheceu a Sra. Mellark. — Um era o oposto do outro. Porém, devo reconhecer que, quando se tratava da padaria, os dois trabalhavam em completa harmonia. Juntos, eles faziam com que todas as atividades estivessem sempre perfeitamente orquestradas, com os materiais disponíveis para realizarmos tudo a tempo e com o menor custo.

Fico feliz em saber que Peeta pode enaltecer algumas qualidades de sua mãe.

— Meus irmãos mais velhos faziam com que o trabalho na padaria fosse muito desafiador, sempre colocando um obstáculo em meu caminho. – Ele dá um meio sorriso. — Coisa de irmãos, mas foi um grande aprendizado, que deixou saudades, por incrível que pareça. Sem dúvidas, eles me ajudaram a me tornar quem eu sou.

Peeta abaixa o cartão preso em seus dedos e dá a entender que não conseguirá mais segui-lo.

— Peço desculpas, Effie… Prometo não atrasar o lanche que será servido, mas eu preciso fugir do roteiro – confessa ele e Effie acena, indicando que está tudo bem. — São tantas coisas acontecendo hoje, uma infinidade de tarefas a cumprir, só que… – Peeta respira fundo. — Desde que acordei, penso no meu pai e em como eu queria que ele estivesse aqui hoje, vendo-me dar continuidade ao seu legado. Meu pai me ensinou tudo o que sei. No entanto, eu pretendo ir além. Hoje, ele não pode mais ser meu mestre, mas nunca vai deixar de ser o meu maior exemplo. Não é fácil apenas imaginar como seria reconfortante ouvir sua voz nesse exato momento. E é duro saber que não vou vê-lo colocando cautelosamente os pães dentro do forno ou que não vou esbarrar nele enquanto prepara a massa…

A voz de Peeta fica embargada. Eu me levanto de onde estou e caminho discretamente até ele, ficando ao seu lado. Peeta tateia o ar em busca da minha mão. Estico o braço e alcanço seus dedos trêmulos com os meus. Peeta os aperta com firmeza e essa firmeza agora pode ser percebida em seu modo de falar, mais seguro.

— Mas eu sei que ele está aqui – confidencia Peeta. — No momento em que eu me lembro dele, meu pai está aqui. Quando eu transmito o que ele me ensinou aos meus aprendizes, meu pai se faz eterno aqui. Comigo e com quem está ao meu lado. – Ele se vira para mim e me abraça, enquanto os aplausos preenchem o ambiente.

As lágrimas dele molham meu ombro, onde recosta sua testa.

— Como prometeu, Peeta não atrasou o momento em que será servido o lanche! – Effie comunica e todos comemoram.

Afago os cabelos de Peeta e ele ergue a cabeça. Enxugo seu rosto e ele se recompõe para começar a distribuir os pães e o bolo aos convidados, que já formam uma fila.

Greasy Sae e sua filha surgem com travessas, servindo pequenas porções de caldos quentes.

Max surpreende a todos ao equilibrar com maestria algumas bandejas de suco, passeando por entre as mesas. Ele deixa a única taça de licor nas mãos de Haymitch, que sorri satisfeito, passando o braço pelos ombros de Johanna.

— Não sei o motivo, mas eu gosto desse cara – provoca ele, apontando para Max.

— Você não viu nada – ironiza ela.

— Nem quero ver! – Haymitch se afasta dela. — Já basta ouvir vocês dois…

A gargalhada de Johanna é disfarçada pelos primeiros acordes da música animada. Algumas pessoas arriscam uns passos de dança.

Eu me distancio da agitação, buscando um lugar mais reservado. Percebendo que estou sozinha, Daisy vem se sentar em meu colo. Deixo-a sobre minhas pernas e, em seguida, passo a acariciar seus cabelos, observando tudo o que acontece à minha volta. No entanto, é Peeta que domina minha atenção.

Não consigo desviar o olhar de seus lábios quando fala com as pessoas, nem da sua maneira de se portar ao embalar cuidadosamente os pães, sem nunca se esquecer de oferecer uma fatia de bolo envolvida num guardanapo a todos, especialmente às crianças que se aproximam dele, passando por debaixo da mesa.

Um arrepio que nada tem a ver com frio varre a minha pele quando Peeta sorri de longe pra mim, pegando-me desprevenida, pois ele parecia completamente alheio à minha observação à distância.

Ao meu redor, estão tantas pessoas que amamos. Mapeio a expressão alegre em cada rosto e agradeço por existirem e estarem conosco nesse momento feliz, sabendo que, com certeza, alguns também estariam nas situações de dificuldade.

Delly e Thom dançam juntos e os semblantes apaixonados competem com a sensação de dever cumprido que se lê em suas feições.

Enquanto Violet trabalha, seguindo as instruções de Effie, Blaine tira fotos com a câmera de Peeta. Ele rouba um beijo rápido dela, depois de fazê-la sorrir para uma pose.

Greasy Sae percorre o salão de um lado a outro, com uma expressão cansada, porém radiante.

Admiro o pequeno Finn nos braços de Haymitch, agarrando as bochechas dele com suas mãos minúsculas e ágeis. Effie está ao lado dos dois e, até agora, sua peruca está imune aos constantes ataques do bebê. Daisy corre para os braços de Annie, que observa feliz a interação de seu filho com o casal.

Meus olhos vasculham mais uma vez todo o salão e voltam a pousar no dono da festa, o dono do sorriso mais lindo que existe.

O pedido que ele me fez ontem, sem usar palavras, ecoa em minha mente e martela meus pensamentos, pois foi a ocasião em que mais me tocou a ideia de ter filhos com Peeta.

— O que está fazendo aí com essa cara? – Johanna me desperta dos meus devaneios, sentando-se ao meu lado e me dando um empurrão de leve com o ombro.

Max a acompanha, ajeitando-se do meu lado oposto, deixando-me entre os dois.

— Só pensando.

— Quem não tem miolos não costuma fazer isso. – Johanna segue a direção do meu olhar até Peeta. — O que se passa nessa sua cabeça de vento?

— Estou pensando que eu faria tudo pra ele sempre ter esse sorriso.

— Tudo mesmo, Katniss?

Essa é uma das raras vezes em que Johanna não se refere a mim usando um de seus adjetivos infames. Ela deve estar disposta a falar seriamente comigo.

— Eu daria a vida por ele, Johanna.

— Ah! Você já provou isso pra todo mundo ver. Os amantes desafortunados e suicidas do Massacre Quaternário, disputando quem iria para o sacrifício para salvar o outro! – Ela ri sem humor ao se lembrar de como eu e Peeta nos comportamos na segunda arena. — Antes de começarem os Jogos, eu achava que era pura cena, mas… Não importa. Não importa isso, nem o fato de que você daria a vida por ele e blá, blá, blá! – Johanna me alerta com gravidade. — Katniss, Peeta quer você bem viva ao lado dele.

— Aliás, vendo como ele se comporta com o Finn e com outras crianças, ele quer você bem viva, além de alguns pequenos Mellarks correndo pela padaria – dispara Max.

Engulo em seco, sem desviar os olhos de Peeta.

— Até ontem, eu rejeitava totalmente essa ideia. Hoje, eu já não sei mais – murmuro.

— Então, você faria tudo mesmo! – Johanna se admira. — Vai falar com ele?

— Estou confusa. Não posso simplesmente despejar nele essa dúvida, pois não sei se realmente quero tentar. Eu ainda tenho medo, muito medo. – Abaixo os olhos e permaneço assim.

Max põe a mão no topo da minha cabeça, como se eu fosse uma criança indefesa.

— Se a questão se resume mesmo a ter medo, isso pode e deve ser enfrentado. – Ele muda seu tom sempre brincalhão e sua voz fica ainda mais grossa.

— E quem melhor que Peeta pra ajudar você? – A indagação de Johanna pode ser traduzida como uma afirmação.

— Quem está precisando da minha ajuda? – Peeta está diante de mim.

Olho para os lados e Johanna e Max já se afastaram. Eu me levanto e meus lábios tremem antes que eu possa abrir a boca.

— Sobre o que conversamos ontem… O fermento que foi feito para ser passado de geração a geração. – Aperto minhas pálpebras e sinto os polegares de Peeta alisando minha face. — O meu medo de ter filhos é real e me paralisa por completo, mas eu quero tentar vencê-lo.

— Meu amor, eu não disse aquilo para pressionar você. Eu nem mencionei a palavra ‘filhos’. Por favor, não fique assim!

— Só me responde uma coisa… – Abro meus olhos para fitar a única pessoa capaz de me fazer cogitar algo que eu sempre repudiei. — Você me ajuda?

Peeta ri daquela maneira que faz um calor gostoso se instalar em meu peito. Poucos sons têm esse efeito calmante e, ao mesmo tempo, revigorante em mim.

Sempre.


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Notas finais do capítulo

Olá de novo!

E aí? Será que o coração da Katniss já está amolecendo para a chegada de Willow e Rye?

A semente está lançada e já é um bom sinal, mas é só isso por enquanto...

Atenção! Spoilers abaixo!

Estou pensando em alguns momentos de tensão que farão a Katniss adiar um pouquinho esses planos.

Sem pânico! Não é nada que vá separar nosso casal lindo. Aliás, só vai deixá-los mais unidos.

O momento tenso servirá também para justificar aquele "jogo" sobre o qual a Katniss fala no epílogo do livro "A esperança", em que ela se esforça para recordar as coisas boas que as pessoas fizeram. Ainda não tive a oportunidade de incluir isso na fic e é algo que está faltando...

Beijos!

Isabela