A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 43
Novidades


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal!

Eu convidei vocês para a festa de inauguração da padaria, não foi?

Acontece que eu tive um problema de excesso de palavras e a solução foi adiar a festa para o próximo capítulo...

Como já aconteceu algumas vezes, eu comecei a escrever e o texto tomou um rumo totalmente diferente do planejamento inicial.

A parte legal é que eu consegui fazer uma pré-inauguração para comemorar uma novidade que espero que gostem!

Boa leitura!



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Por Katniss

Eu e Peeta chegamos sãos e salvos à nossa casa. Atravesso a porta e caminho até a sala, porém Peeta não se afasta da entrada. Eu me viro para ele e nos entreolhamos.

Peeta me observa como se não existisse mais nada no mundo além de mim.

Seus olhos estão límpidos. Então, não há motivos para temer.

— Eu amo você desde que tenho uso da razão e, mesmo quando às vezes ela me falta, continuo amando loucamente… literalmente. – Sua expressão séria vai se transformando em um sorriso, que logo alcança seus olhos.

E seus olhos estão lindos. Então, abandono um pouco a angústia que estou sentindo e retribuo a sua contemplação repleta de amor.

— Embora eu insistisse em dizer pra mim mesma que não, cresci desejando que um dia alguém me olhasse como meu pai olhava para a minha mãe. Como você está me olhando agora – confesso.

Eu dou os passos que faltam para que seu fôlego quente atinja meu rosto. Peeta segura minhas mãos e as leva até seus lábios. Depois, suavemente desenha círculos imaginários no dorso delas com seus polegares.

— Você é o meu melhor remédio, Katniss.

— E eu espero que um dia seja o único.

Seu beijo chega manso e se aprofunda aos poucos. Meu corpo inteiro reage ao toque de seus lábios e às suas mãos, que deslizam sob minha camiseta e pressionam de leve a minha pele.

Relutante, Peeta se afasta, suspirando profundamente.

— Enquanto isso não acontece, tenho que tomar meus comprimidos. Infelizmente, não posso adiar mais. – Ele beija o topo da minha cabeça e vai em direção à gaveta na cozinha, onde estão guardados seus medicamentos.

Buttercup entra pela porta aberta e logo vem se esfregar em meus pés. Eu e ele seguimos Peeta até a cozinha.

Peeta enfileira os frascos sobre a bancada da pia e eu lhe entrego um copo com água. Ele engole as pílulas uma a uma e, depois, apoia as duas mãos na borda de mármore, curvando-se para frente, como se fosse difícil manter a cabeça erguida.

Guardo novamente os pequenos vidros na gaveta e Peeta não sai da posição em que está, enquanto inspira e expira devagar. Acaricio seus ombros e sua nuca, aguardando algum movimento dele.

Após longos minutos, ele coloca-se ereto e tenta esboçar um sorriso, quando vê minha expressão preocupada.

— Você parece muito cansado. – Noto seu abatimento incomum, embora ele esteja se esforçando para parecer bem.

— Acho que não é bom tomar todos os remédios de uma vez. Além disso, a simples ameaça de uma crise me deixou esgotado. – Ele aperta os olhos e as pálpebras pesadas mal se abrem em seguida. — A dor de cabeça está insistente. Espero que os analgésicos aliviem o mal estar.

— Você quer comer alguma coisa? Talvez seja fome – menciono e ele nega com um gesto de mão.

— Ainda estou sem apetite. Quero apenas tomar um banho e me deitar.

— De qualquer modo, vou preparar um chá pra você. Posso também fritar alguns daqueles ovos que trouxemos da floresta.

— Tão prendada a minha esposa! – Peeta brinca, ladeando meu rosto com ambas as mãos.

— Daqui a pouco, subo pra ficar com você – digo, quando ele encosta sua testa na minha.

— Obrigado por cuidar de mim – sussurra ele em meu ouvido e recebo seu abraço apertado, antes de vê-lo subir os degraus em direção ao nosso quarto, acompanhado de Buttercup.

Preparo o chá e os ovos. Arrumo tudo numa bandeja com tampa e levo até ele.

— Será que seu apetite já voltou? – Empurro a porta do quarto com meu ombro, dizendo essas palavras, mas Peeta já está adormecido, abraçado ao travesseiro.

Deixo a bandeja na mesa de cabeceira e reúno a toalha, as roupas e os demais itens de que preciso para um bom banho também. Passo os dedos por entre as orelhas de Buttercup.

— Tome conta do Peeta, viu? – O gato se esparrama ainda mais pelo colchão. — Senti sua falta, figura!

Ao voltar ao quarto depois de me banhar, ouço a respiração irregular de Peeta. Talvez ele esteja tendo um pesadelo.

Eu me aproximo dele com cautela e sussurro frases reconfortantes em seu ouvido. Quando Peeta parece mais calmo, deposito beijos ternos em seu pescoço e em suas costas.

— Por mais difícil que seja, o fogo pode ser controlado. Mas você, garota em chamas, pelo visto, não pode. Deixou o garoto desacordado! – A voz sibilada de Haymitch me faz dar um pulo.

— Haymitch! – Eu o repreendo em tom baixo, saindo da cama. — Se você ganhasse dinheiro para cada bobagem que fala, estaria bilionário!

— Estou mentindo?

— Está deduzindo coisas antes de saber o que aconteceu. – Eu agarro seu braço e o conduzo para fora do quarto, deixando a porta encostada.

— Eu vi a janela aberta e mal pude acreditar… Enquanto você e o Peeta ficam aí de namorico, tenho que fazer o papel de ajudante de padeiro? Estava indo para a cidade agora cumprir a lista de tarefas que ele me passou. – Haymitch exibe o papel com as anotações de Peeta.

— Ele quase teve uma recaída hoje cedo e está se recuperando – lamento.

Haymitch logo assume uma postura mais grave e passa a mão pelos cabelos, andando de um lado para o outro.

— Isso é terrível. Vocês estavam sozinhos e… – Ele para de repente e estreita os olhos para mim. — O que você aprontou dessa vez?

— Você não me dá nenhum crédito! Nem sempre sou a culpada. – Minha indignação com a acusação dele é evidente.

— Como se eu não conhecesse seu jeito amável, sutil… – Haymitch murmura e eu ergo uma sobrancelha. — E delicado também, docinho! – Ele esfrega o braço que eu estava segurando há alguns minutos.

— A chuva da última noite estragou os remédios de Peeta e viemos embora antes do previsto por causa disso – explico e tomo a lista das mãos dele. — Se não quiser ir à cidade, eu mesma faço isso. Eu só não quero deixar o Peeta sozinho.

— É claro que eu vou! É um bom motivo para ficar algumas horas fora de casa. – Haymitch pega o papel de volta. — Já imaginou Effie e Johanna sob o mesmo teto?

— Eu também procuraria uma desculpa pra sair de perto – resmungo e ele acha graça. — Pior seria se eu estivesse lá também.

— Não me faça ter pesadelos à noite. – Ele ergue a mão à minha frente, fechando os olhos.

— Eu, você, Effie e Johanna. O banho de sangue começaria antes da contagem de sessenta segundos.

— O papo está extremamente desagradável e, por isso, já vou indo, lindinha… Mas, pensando bem, não seria má ideia você ir comigo. Tenho que reconhecer seu talento para o comércio. Podemos pedir à Annie e à Johanna para ficarem com o Peeta. Não vou chamar a Effie, pois ela está impossível hoje! Peeta está medicado, não está?

— Sim. Acredito que Annie e Johanna já lidaram com ele em momentos mais difíceis – falo com tristeza e Haymitch me lança um olhar de compreensão.

— Eu vou falar com as duas – oferece ele.

Haymitch vai em direção à escada, porém eu o impeço de seguir.

— Antes que você desça, Haymitch… – Estendo a ele a minha mão com a palma para cima. — Quero a chave da casa.

Ele me espreita carrancudo por alguns instantes até que abre seu sorriso torto. Haymitch retira o chaveiro do bolso, mas não o entrega a mim.

— Prometo fazer uso da chave apenas em casos extremos. Fico com essa cópia, para o bem de vocês… Nunca se sabe.

— Você tem razão. – Retiro a minha mão e Haymitch torna a guardar o chaveiro com ele. — Mas você poderá usá-la somente em emergências.

Haymitch concorda com um aceno e desce as escadas. Quando chega ao último degrau, ele olha para cima e grita:

— É bom você lembrar que emergência é um conceito muito amplo. Hoje, por exemplo, era um caso de emergência, em minha opinião.

— Haymitch! Você é terrível! – esbravejo de volta, esquecendo que Peeta está dormindo, e ele acaba acordando.

— Katniss! – Peeta me chama com a voz rouca. — Katniss, o que houve?

Entro no quarto rapidamente, para não deixá-lo tenso. Assim que me vê, Peeta relaxa a cabeça no travesseiro.

— Haymitch veio fazer uma visita e, pra variar, perdi a paciência com ele – esclareço.

— O que ele queria? – Peeta pergunta, já de olhos fechados novamente.

— Perturbar, como sempre, e saber se estava tudo bem. – Eu me aproximo dele no colchão e corro meus dedos por seus cabelos. — Haymitch pediu que eu fosse com ele até a cidade, para ajudá-lo com a sua lista de afazeres.

Peeta abre os olhos em surpresa e faz uma careta de dor para se sentar, esfregando suas têmporas.

— Eu esqueci completamente… Você não precisa fazer isso. O compromisso é meu.

— Não se preocupe. Eu quero mesmo participar mais ativamente da inauguração da padaria – afirmo e ele recebe a notícia com um sorriso.

— Então, vou com vocês. – Peeta faz menção de se levantar, porém apoio as mãos em seus ombros.

— Você precisa dormir. Haymitch foi chamar Annie e Johanna para lhe fazerem companhia. – Gentilmente, faço com que ele se deite. — Vou avisar a elas que você está descansando.

Eu me inclino para beijar seus lábios antes de sair do quarto, deixando-o novamente entregue ao sono.

Abro a porta e, nem mesmo ponho os pés pra fora de casa, vejo Johanna correr até Haymitch, que está saindo da antiga casa de Peeta carregado de bolsas e coisas de bebê, seguido por Annie com seu filho adormecido nos braços.

— Haymitch, vou botar fogo no seu quintal, se você não der um jeito na Effie! – Johanna berra, mas depois se controla ao ver Annie e Finn logo atrás dele. — Não aguento mais ouvir aquele cabide de perucas reclamando dos meus modos e de tudo o que eu faço! Vou invadir a casa da Katniss e do Peeta pra passar os próximos dias bem longe dela.

— Não precisa nem invadir, Johanna. É só pedir. – Annie faz um meneio de cabeça em direção à minha casa e sorri para mim.

Johanna gira seu corpo e me encara com incredulidade.

— Já de volta? Não é à toa que eu chamo você de desmiolada. Dispensou uns dias a sós com aquele padeiro maravilhoso?

— É bom rever você também, Johanna! – Uso o mesmo tom irônico dela. — E, para sua informação, não dispensei nada. Ocorre que, infelizmente, tivemos problemas no paraíso.

A expressão de sarcasmo de Johanna desaparece e ela adianta-se até mim, segurando a minha mão e avaliando o meu rosto. Ela tenta disfarçar, mas seus olhos focam em possíveis marcas no meu pescoço.

— Nada saiu do controle e está tudo bem, pode deixar! – Eu a tranquilizo e nós damos passagem para que Haymitch e Annie passem pela porta.

Enquanto Annie prepara um espaço para acomodar o bebê no sofá, eu seguro a criança, que ainda dorme, e faço um resumo dos acontecimentos dessa manhã para justificar o pedido à Johanna para que fique com Annie, Finn e Peeta em minha casa, enquanto vou à cidade com Haymitch.

— E, Johanna, você pode escolher um dos quartos daqui para ficar até a sua volta ao Distrito 4 – concluo com um convite.

— Ah! Eu ficaria, se a casa estivesse vazia. Vocês ainda estão em lua de mel. – Johanna pisca para mim, com o mesmo olhar malicioso que usou durante aquele espetáculo que ela fez no elevador do Centro de Treinamento da Capital. — Acho que consigo não matar a Effie por mais alguns dias. – Ela se vira para Haymitch, batendo a mão no ombro dele. — Falando nisso, meu velho amigo, pra não fazer um estrago na maquiagem daquela desorientada, fiz uma pequena reforma em alguns de seus móveis.

— O que você destruiu? – Haymitch coça a cabeça.

— Fica calmo, não destruí. Effie veio falar no meu ouvido, porque eu estava amolando a lâmina do meu machado sobre a mesa da varanda. Então, só deixei um buraco bem no meio dela e de umas cadeiras.

— Justamente a mesa e as cadeiras de mogno? – indago.

— E como ela está? – Haymitch demonstra uma preocupação acima do normal.

— A mesa até que ficou bonitinha. – Johanna sacode os ombros.

— Acho que ele não está se referindo à mesa, Jo… Você não pode deixar a Effie nervosa! – Annie a repreende, sem perder o tom tranquilo de sua voz, estendendo os braços para pegar o filho e colocá-lo no sofá.

— Ela foi se deitar, dizendo que estava indisposta – informa Johanna.

Haymitch se sobressalta, mas Annie apoia a mão no braço dele.

— Johanna pode ficar com o Finnick, enquanto vou checar como Effie está. – A ruiva fita Haymitch de um jeito que demonstra seu entendimento sobre o motivo da apreensão dele. — Pode ficar calmo. É uma fase.

— É apenas uma fase – repete Haymitch, quase conformado, querendo convencer a si mesmo disso, sem muito sucesso.

— Seu otimismo é bem convincente, Haymitch – arremata Johanna e ele sequer se dá ao trabalho de responder, saindo porta afora.

— Vamos, queridinha! – Haymitch me chama e sigo atrás dele.

Ele dá passos largos e rápidos, claramente evitando que eu o alcance para dar vazão à minha curiosidade.

— O que está havendo com a Effie? – questiono, quando consigo ficar lado a lado com ele na calçada.

— Depois da festa de casamento, ela ficou cheia de planos para depois que a Turnê Presidencial for concluída. Prepare-se, pois Effie e a sua equipe de preparação estão se associando para montar uma empresa de organização de eventos. E essa sociedade já está dando o que falar!

— Eu gostei da ideia. É o que eles gostam de fazer e fazem muito bem. É um modo também de Effie sempre se sentir ligada à Capital e às coisas que nós sabemos que ela adora.

— Analisando por esse lado…

— Só há um problema – afirmo e ele olha pra mim alarmado. — Algo me diz que sua preocupação tem pouco ou nada a ver com essa sociedade.

— Er… Bem… Tem um pouco a ver sim – hesita Haymitch, mas logo despeja a novidade. — Effie está desconfiada de que está grávida e a primeira festa que ela quer organizar é o nosso casamento.

Abro a boca, estupefata. Minha falta de palavras pela surpresa é compensada pelo abraço carinhoso que dou em Haymitch.

— Eu… eu nem sei o que dizer! Mas estou muito feliz por vocês! – Eu me afasto para ver o rosto dele e retiro as mãos de seus ombros, quando percebo olhares curiosos de alguns transeuntes sobre nós.

— Você não sabe o que dizer? – Ele me segura pelos braços, tão desnorteado que chega a ser engraçado. — Eu não sei o que dizer, o que fazer, pra onde fugir!

— Você pode começar levando a Effie para fazer um exame e confirmar essa suspeita. Depois, se for verdade, contar isso depressa para a Johanna, antes que o pior aconteça – proponho e ele assente. — Quanto ao que está por vir, tenho certeza de que você, meu esperto mentor, terá um plano. E terá a sua equipe a seu lado. Sempre.

Seguimos o restante do percurso em silêncio. Mesmo à distância, a nova padaria já se destaca na paisagem.

Ao me aproximar, reparo que a vitrine está exatamente como era a que foi destruída. O ambiente interno é aconchegante e agradável aos olhos. Apesar de alguns elementos rústicos na construção, que remetem à padaria original, o mobiliário e os equipamentos são bem modernos. Está tudo muito bonito e funcional.

Quem está no interior da padaria é Delly, conversando com dois homens. Ela pede licença a ambos e vem até mim e Haymitch.

— Estava esperando apenas o Haymitch, Katniss. Está tudo bem? – pergunta ela, quando se junta a nós.

Esclareço a razão de estar ali e me lembro de parabenizá-la pelo noivado. Delly exibe sorridente o belo anel em sua mão direita.

— Quem diria que aquele projeto da casa dos meus sonhos seria da minha própria casa? Estaria tudo perfeito, se não fosse… – Ela abaixa os olhos sem terminar a frase, mas não é preciso muito esforço para saber que o silêncio repentino está ligado à ausência dos seus pais e amigos nesse momento importante da vida dela. — Por outro lado, talvez nada disso estivesse acontecendo, se tudo fosse como antes. É tão confuso!

— Eu sei como se sente, Delly – admito.

E sei mesmo. Culpada por estar feliz. Nunca estaremos livres dessas sombras do passado. A diferença é que eu mereço me sentir assim e Delly, não.

— Ei, vocês duas! – Haymitch finge enxugar algumas lágrimas. — Vamos parar com esse sentimentalismo. Temos um trabalho a fazer… Mas parabéns pelo noivado, Delly. Thom é um grande garoto.

Delly ergue o olhar para ele e concorda com a cabeça, sorrindo novamente.

— Estou aqui na padaria a essa hora, pois os equipamentos chegaram e fui encarregada de supervisionar a instalação. O representante da fábrica disse que voltaria aqui mais tarde – diz ela. — Aqueles senhores ali são os fornecedores dos materiais para o preparo das massas e confeitos, Jesse e Scott, ambos do Distrito 9.

— Os dois devem estar nos aguardando, então – deduz Haymitch e vamos até eles.

Delly nos apresenta aos comerciantes, que claramente não esperavam que fossem negociar comigo e com Haymitch. No entanto, nós nos saímos bem e conseguimos bons produtos por preços razoáveis, tudo de acordo com as especificações dadas por Peeta.

Quando Jesse e Scott se despedem, Delly nos leva até o andar superior, onde era a casa dos Mellark. Agora é um grande salão, circundado de enormes janelas, pelas quais se vê a praça, a Campina, a floresta e boa parte do Distrito.

Quando me aproximo de um dos painéis de vidro, Delly me mostra as obras já bem adiantadas da sapataria. Ela começa uma narrativa que envolve Peeta e o fato de os dois poderem acenar um para o outro pelas janelas de suas antigas casas.

Eu me dou conta de que me encontro, pela primeira vez, no lugar onde ele passou toda a sua vida com a família. Meu coração se aperta, ao pensar que ele também deve se sentir como Delly em relação às suas perdas e às suas novas conquistas. Uma felicidade dolorida, se é que isso existe.

Ouço alguém falando ao longe e, de algum modo, isso me acalma. Conforme o som fica mais nítido, identifico como sendo a voz de Peeta e, inicialmente, penso ser fruto da minha imaginação.

No entanto, ao me virar na direção da Aldeia dos Vitoriosos, vejo caminhando juntos pela estrada Peeta, com o pequeno Finnick no colo, Johanna, Effie e Annie. Peeta acena pra mim, usando a mão do bebê, e eu gesticulo de volta.

Um dos rapazes da equipe de obras vem nos avisar que o representante da fábrica de equipamentos está no andar de baixo.

Descemos os degraus e a pessoa de visual extravagante que nos aguarda, claramente vindo da Capital, espanta-se ao me ver ao pé da escada com Haymitch, porém disfarça o estranhamento ao se apresentar, após titubear por breves segundos.

— Sou o Constantinus. Vim conhecer a nova padaria e inspecionar a instalação dos equipamentos.

— Seja bem-vindo! – Haymitch o saúda. — Você quer falar com Peeta Mellark? Eu e Katniss estamos aqui em nome dele.

Antes que ele responda, a horda de vitoriosos dos Jogos adentra a padaria, acompanhada de Effie, e o negociante quase perde a fala, engolindo em seco.

— Olá, olá, olá! – Effie nos cumprimenta, apertando a mão de Constantinus, como se já o conhecesse, e beijando minha bochecha e a de Haymitch. — Podem continuar a conversar. Não se assuste, Constantinus. Nós não mordemos. A Johanna, por outro lado…

Johanna sorri debochada, exibindo os dentes e simulando uma mordida no ar na direção de Effie. Haymitch se posiciona entre elas de modo protetor e anuncia:

— Já que o dono da padaria chegou, preciso resolver algo importante com a Effie. – Ele bate no ombro de Peeta e pega uma Effie bastante confusa pela mão, conduzindo-a pelo caminho que leva ao novo hospital. — Com a licença de vocês…

A piscadela que ele dá pra mim e pra Annie não escapa da observação de Peeta, que me questiona com o olhar. Encolho os ombros e o abraço de lado, enlaçando seu tronco.

— Vamos esperar eles voltarem. Aí vamos saber – sussurro em seu ouvido. — Você está melhor?

Peeta vira seu rosto pra mim e faz um gesto afirmativo antes de dizer:

— Agora sim.

O bebê se remexe inquieto nos braços dele. Beijo o topo da cabeça do menino, mas ele não se acalma.

— Ainda falta muito para o Finn ser um aprendiz de padeiro. – Annie pega o filho do colo de Peeta. — Está com fome, meu amor?

— Você ficará mais à vontade no escritório, Ann. – Peeta indica o local, onde Annie se instala para amamentar o bebê, sendo auxiliada por Johanna.

Finalmente, eu e Peeta podemos dar atenção ao representante da fábrica de equipamentos.

— Acho que falei com o senhor por telefone, quando encomendei as máquinas, não foi? – Peeta pergunta.

— Exatamente. Naquele dia, tive a impressão de que se tratava de uma construção menor, mas a nova padaria tem uma estrutura muito boa. Só que você comprou um maquinário bem básico. Nós fabricamos outros equipamentos moderníssimos e de alta qualidade.

— Eu entendo. Porém quero começar com uma panificação artesanal. A princípio, não quero fazer nada em grande escala. – Peeta justifica a recusa da oferta. — Caso eu mude de ideia, sei que poderá me ajudar.

— Estarei à disposição.

— Quando vocês podem nos ensinar a operar as máquinas? – Peeta indaga.

— Imediatamente. – Constantinus esfrega as mãos, animado.

— Mas estou sem material aqui – queixa-se Peeta.

— Os fornecedores deixaram algumas amostras de farinha, fermento e temperos, Peeta – aviso e ele se entusiasma.

— Você quer fazer comigo a primeira fornada? – Peeta segura minha cintura.

— A primeira de muitas! – exclamo.

Então, eu e ele participamos da capacitação oferecida, num clima divertido.

Cada um assume uma tarefa, pegando os diversos ingredientes e acionando os equipamentos em cada etapa da preparação.

Por fim, o treinamento termina e Constantinus deixa a padaria. Apenas não testamos a máquina modeladora, pois cada um de nós moldou o seu próprio pão.

Annie, Johanna e Finn retornam a tempo de participarem da modelagem e, ao final, até o pequeno bebê termina com as mãozinhas e as bochechas sujas de farinha e massa.

Eu e Johanna arrumamos a mesa, enquanto Annie vai até a pia limpar o filho, e Peeta prepara um pouco de chá de hortelã para o lanche.

O cheiro de pães assados já toma conta da padaria, quando Effie e Haymitch reaparecem, ambos parecendo muito preocupados.

Haymitch traz um envelope nas mãos e Effie tem um curativo na dobra do cotovelo. Ela fez o exame.

— Vocês vão explicar o motivo do sumiço? – Peeta carrega um tabuleiro com os pães prontos e o coloca sobre a mesa.

Haymitch entrega o envelope à Effie, que aperta o papel pardo em seus dedos por alguns segundos, devolvendo-o a ele pouco depois. Haymitch fica imóvel.

— Dá logo isso aqui! – Com impaciência, Johanna pega o envelope e o abre. Ela retira a folha que está dentro dele, mas não lê o que está escrito, apenas o estende a Haymitch. — O que é isso? Um exame para avaliar o nível de insanidade da Effie?

— Talvez. Olha só as caras deles – diz Peeta em tom baixo ao vê-los paralisados, sem esboçar qualquer reação.

Até que os dois se entreolham e sorriem um para o outro. Haymitch segura o rosto de Effie para lhe dar um beijo apaixonado. Em seguida, ele se abaixa para beijar também a barriga dela. O carinho que expressam um pelo outro é comovente. Só então Johanna lê a informação que consta no papel que ainda segura.

— É sério isso? Você está grávida, Effie? – Johanna pergunta com descrença, mas sua atitude em relação à Effie é completamente diferente do seu comportamento anterior. — Você vai fazer o favor de dar ao mundo mais uma geração de Abernathys? – expõe ela a seu modo a admiração que tem pelo amigo de longa data e convoca a todos nós para um abraço coletivo.

Após nos separarmos, Haymitch pede silêncio para falar:

— Essa notícia… A notícia de que vou ser pai acabou de mudar a minha vida, meus ideais, minhas prioridades, minha visão do mundo. E isso foi apenas o começo. – Ele apoia um dos joelhos no chão e segura a mão de Effie. — Nesse grande, grande, grande dia, eu peço… Casa comigo?

— Sim, sim, sim! – aceita ela efusivamente. — E, para não perder o costume: que a sorte esteja sempre a nosso favor!

Os aplausos e assobios chamam a atenção de Delly, que está do lado de fora, e ela logo vem participar da comemoração.

Peeta distribui o chá em alguns copos e fazemos um brinde às novidades, comendo os pães que preparamos. Ele vem se sentar ao meu lado.

— Não havia modo melhor de inaugurar a padaria. Entre amigos e com essa notícia maravilhosa! – comenta Peeta.

— Espere aí, mocinho. A ocasião merece uma festa e você vai ter uma festa! – Effie o corta.

— Mas é que… – protesta Peeta.

— É melhor não contrariar a Effie, Peeta! – Annie o aconselha.

— Contrariar a Effie nunca foi uma boa ideia – falo e a própria Effie concorda, sorrindo.

— E todos queremos uma festa! – Johanna completa.

— Então, nós teremos uma festa! – Peeta declara.

Ele pega um dos pães e faz menção de entregá-lo a mim, porém interrompe o movimento no ar.

— Esse ficou queimado. Tenho que regular o forno para que todos assem por igual.

Seguro sua mão, antes que ele descarte o pão tostado além da conta, e cochicho em seu ouvido:

— Às vezes, um pão queimado cai muito bem, garoto com o pão!


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Notas finais do capítulo

Oi de novo!

E aí? Que tal a novidade Hayffie?

Antes de me despedir, gostaria de deixar claro que não vou desistir da fic antes de colocar o ponto final no epílogo dela e, até lá, ainda escreverei muitos capítulos.
Só pra vocês terem uma ideia, estive pensando em fazer o epílogo no casamento da Willow (depois de algumas passagens de tempo, é claro).

Essa é uma boa notícia ou é algo meio assustador??? Sejam sinceros!

Então... Escrevi tudo isso só pra dizer que, quando eu demoro a postar, o motivo principal é a falta de tempo para escrever.

Confesso que, às vezes, rola um desânimo, mas ele passa rápido, especialmente quando recebo manifestações de carinho de vocês, com mensagens, comentários e favoritos.

Beijos a todos!

Isabela