A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 31
A entrevista


Notas iniciais do capítulo

*Atenção: Capítulo contém um pequeno Spoiler da minha primeira fic (O presente de Peeta para Prim).



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Por Katniss

A primeira semana depois da partida de Peeta foi terrível, mas a segunda semana está sendo pior, pois significa que eu não o vejo há quinze dias. Longos e intermináveis dias em que é quase impossível me convencer de que as convicções dele não começaram a ser redirecionadas.

Afinal, depois que o bebê de Annie nasceu, continuaram a ser publicadas imagens do dia a dia deles no Distrito 4 e, apesar de Peeta ser cuidadoso para não mais se deixar fotografar ao lado dela, talvez para evitar que sejam confundidos com um casal, ele não esconde a sua fascinação pela criança.

É lógico que eu não o recrimino por isso. Longe de mim. Eu não esperaria nada de diferente dele. No entanto, toda nova foto publicada aumenta em meu peito a angústia por estar cada vez mais claro que a paternidade é uma experiência que ele deseja muito. Eu sabia que o que ele viveria nessa viagem mudaria tudo e acho que vou confirmar isso amanhã, pois está sendo insistentemente anunciada uma entrevista com ele na TV.

De qualquer forma, estou me esforçando para não me render ao pessimismo, não sem antes conversar com ele pessoalmente, como deixamos ajustado naquele último telefonema. Estou determinada a manter minha sanidade até esse momento chegar.

Para isso, a floresta continua sendo o meu refúgio, sempre o lugar em que eu me encontro.

Enquanto você conseguir se achar, nunca vai passar fome.”

Hoje compreendo a sabedoria por trás dessa frase dita por meu pai, quando encontramos raízes de katniss numa de nossas incursões pela floresta. Quando ele faleceu, essas palavras me foram úteis em seu sentido literal. Eu colhia as raízes comestíveis que têm o meu nome e matava a fome da nossa família.

No entanto, agora, eu preciso apenas aplicar a frase em sentido figurado. Afinal, minha sobrevivência atualmente depende mais do meu encontro com a menina que eu era antes de meu pai morrer, assim como da redescoberta de emoções que estive tão determinada a sufocar desde que ele partiu.

Então, é na floresta que encontro, literalmente, as minhas raízes, mas não só isso. Eu também colho a mim mesma.

O fato de Effie estar por perto e a minha reaproximação com Gale também têm me ajudado muito a me manter longe de um estado depressivo, além do cuidado dos demais amigos. Ainda que os pães de queijo que Delly prepara algumas vezes por semana não se comparem com os que Peeta faz.

Ouço o som que vem da porta e sei que é ela quem bate. Delly pediu para ficar aqui em casa essa noite, pois Blaine vai oferecer um jantar para a Violet, a filha de Timothy, o atual prefeito, e ela achou por bem deixar o irmão apenas na companhia da pretendente dele.

Estamos todos na torcida para que Violet deixe de ser apenas sua pretendente e esta é a minha parcela de contribuição: ajudar a deixar os dois a sós para que Blaine possa impressioná-la com seus dotes culinários e seu romantismo.

Delly entra na sala, acompanhada de Thom, que carrega a bolsa com os pertences que ela trouxe para passar a noite. Nós nos acomodamos à mesa, onde eu havia arrumado os pratos, os talheres e a comida feita por Greasy Sae. Divido meu jantar com Buttercup, enquanto conversamos sobre amenidades por algum tempo, até que o tema final acaba sendo a grande amizade entre Delly e Peeta.

— Eu não conhecia vocês tão bem e sempre imaginei que havia algo além de amizade, Dell – reconhece Thom, alisando a mão dela sobre a mesa.

— Não havia algo além nem com o Peeta, nem com ninguém – afirma ela, olhando para baixo.

— Você nunca namorou? – Thom parece não acreditar ao vê-la negando com a cabeça.

— Nunca cheguei nem perto disso. – Delly sorri fracamente.

— Não beijou outro garoto nem de brincadeira? Nem o Peeta? – indago.

Delly ergue os ombros e fecha os olhos, como se eu tivesse falado a coisa mais absurda do mundo.

— Não! Seria como beijar o Blaine! – exclama ela e, depois, completa. — Você nunca precisaria se preocupar comigo, Katniss. Eu nunca liguei para loiros. Prefiro morenos.

Observo que ela olha para Thom de soslaio e que ele lhe devolve o olhar.

— Então, não fui a única a não ter uma vida amorosa movimentada, antes daquela colheita – comento.

— Seu primeiro beijo foi aquele da arena com o Peeta… – Delly conclui e eu assinto.

— E o do Peeta? Você sabe com quem foi, Delly? – investigo o assunto que nunca abordei antes, mas que me deixa muito curiosa.

— Ele sempre esperou que fosse com você o primeiro beijo pra valer. Mas, pouco antes da 74ª colheita, a Evelyn agarrou o Peeta de jeito.

Meu corpo gela por dentro. Evelyn era a filha única do dono da loja de tecidos e uma das meninas mais bonitas, não só da nossa turma, mas também de toda a escola.

— Evelyn Cranford? – Thom pergunta, coçando o queixo e dando uma risadinha, num ato falho que não passa despercebido por Delly.

— A própria – confirma ela, apertando os olhos na direção do namorado. — E, pelo visto, não foi só o Peeta…

— Ah, bem… E-eu… – Thom gagueja, o que acaba por confirmar o que Delly está desconfiando.

— A Evelyn? Logo ela? – pergunta magoada.

Eu me lembro de que a Evelyn não era mesmo muito agradável, especialmente com a Delly. Agora imagino que esse comportamento hostil talvez fosse justamente pela proximidade de Delly com o Peeta.

— Não é preciso ter ciúme. Isso é passado. – Thom tenta acalmá-la.

— Não estou com ciúme! Evelyn gostava mesmo era do Peeta, que não dava a mínima pra ela… – Delly rebate, ainda aborrecida, cruzando os braços e se distanciando de Thom. — E nem quero imaginar como foi o seu passado.

— Katniss, você pode me ajudar? – Thom implora, apontando alternadamente para ele e Delly.

— Ele tem razão. Também não fiquei feliz em saber que a Evelyn beijou o Peeta, mas tudo isso ficou para trás. – Acho que consigo disfarçar o modo como a notícia me afetou.

Delly descruza os braços e permite que Thom novamente segure sua mão. Está claro que não são só Blaine e Violet que precisam ficar um pouco sozinhos esta noite, de modo que faço companhia a eles por mais um curto intervalo de tempo, logo me recolhendo para dormir.

— Bom, eu já vou me deitar… A chave da sala está na fechadura, Delly. Está tudo pronto no quarto de hóspedes. Se precisar de alguma coisa, pode me pedir. Vou deixar aberta a porta do meu quarto – explico. — Adeus, Thom.

— Obrigada mais uma vez, Katniss – agradece Delly.

— Tenham juízo – brinco.

— Delly tem juízo por nós dois – graceja Thom, já puxando Delly para mais perto. Ela se reaproxima dele sem oferecer resistência.

Pego Buttercup nos braços e subo as escadas. Apesar do pequeno atrito entre Delly e Thom a respeito do passado dele, a noite toda foi muito agradável. A leveza das histórias que compartilhamos me contagia nas primeiras horas de sono, mas não me poupa por todo o tempo.

Em determinado momento, estou na escola, almoçando com Madge, no mesmo espaço que ocupávamos quase todos os dias. A única diferença é que o ambiente parece muito mais iluminado do que de costume.

A expressão de Madge é serena, como na maioria das vezes. O silêncio entre nós duas nunca foi constrangedor. Ao contrário, nós nos entendíamos melhor sem as palavras. Ela estica o braço para tocar com as pontas dos dedos o broche do Tordo que ela me deu e que está preso na frente do meu vestido azul.

Seu olhar cheio de significado me diz que tudo está bem, em paz. Esse sentimento tranquilizador me invade e se espalha por minhas veias como morfina. Eu posso sorrir, respirar, descansar, dormir.

Madge recolhe a sua mão, quando Peeta se senta à minha frente, ao lado dela. Ele me fita com doçura e seus olhos brilham para mim do outro lado da mesa.

Outros alunos começam a se acomodar ao meu redor, como se formassem um círculo à minha volta. Não sei o nome de todos, porém reconheço suas faces. Muitas delas eu não vi depois da rebelião. O rosto dos outros está inexpressivo, mas Madge continua me observando com carinho e Peeta mantém seu olhar amoroso em minha direção.

Até que Evelyn Cranford se aproxima dele e tasca-lhe um beijo.

Como se não bastasse a dor que essa cena me causa, ao terminar o beijo, Evelyn aponta para mim com um sorriso sarcástico, enquanto os olhos de Peeta – agora escuros de ódio –, acompanham o dedo acusador dela e, em questão de segundos, ele salta por sobre a mesa e avança até mim.

Evelyn e os outros alunos fecham o cerco ao meu redor, unindo seus corpos para formar uma barreira que impede a minha fuga. O silêncio é quebrado bruscamente por gritos de: “Assassina!”, vindos de todos os lados.

Tento em vão abrir uma passagem pelo meio das pessoas, mas Peeta é mais rápido e prende suas mãos em meu pescoço com força, ferindo também meus ouvidos com uma voz cortante.

Uma bestante implacável como você merece morrer. Você explodiu nosso Distrito e matou os meus amigos. Você destruiu minha casa e minha família.

E a paz que eu sentia se transforma em tristeza, pavor, falta de ar e… escuridão.”

Agito meus braços e pernas, tentando escapar do aperto em minha garganta. Quando sinto uma mão pousar em minha testa, meus gritos ficam ainda mais altos.

— Katniss, está tudo bem. Foi apenas um sonho ruim. – Delly tenta se fazer ouvir em meio aos meus berros.

Abro os olhos e ergo meu tronco, ofegante e trêmula.

— Estava tudo tão calmo, Delly, mas de repente…

— Não precisa se lembrar – diz, limpando minhas lágrimas. — Vou fazer um chá calmante pra você.

Abraço minhas pernas, dobradas à frente do meu peito, contudo elas continuam se sacudindo sem controle. Buttercup volta a subir na cama e se deita ao meu lado.

Delly não demora a voltar com a xícara de chá e o pote de açúcar numa bandeja. Ela a coloca perto de mim, sobre o colchão. Respiro fundo para me estabilizar, mas a colher vibra em meus dedos e eu mal consigo adoçar o chá sem derramar na bandeja quase todo o açúcar que pego.

— Você ainda está tremendo, Katniss. – Ela se espanta. — Agora entendo a preocupação de Peeta em relação aos seus pesadelos.

— E essa até que foi uma noite calma… Não acordei até perto do amanhecer. – Observo o céu ainda escuro, quase pronto para receber o sol nascente.

Delly pega cuidadosamente a colher e mexe o chá para dissolver o açúcar. Depois, põe a xícara em minhas mãos.

Mesmo que eu esteja segurando-a firmemente, com meus dedos apertados na louça aquecida, a xícara balança tanto que desisto de tomar o seu conteúdo, devolvendo-a ao lugar onde estava. Sem dizer nada, Delly traz a xícara à minha boca e bebo alguns goles.

— Obrigada, Delly. E desculpas por acordá-la.

— Não se preocupe comigo. – Ela deposita a xícara na bandeja. — Está menos abalada agora?

— Estou melhor, sim. Somente Peeta consegue me acalmar de verdade nessas horas… Você tem falado com ele, Delly? – Não resisto em perguntar.

— Peeta telefona quase todos os dias. Ele conta as novidades e, antes de desligar, sempre pergunta sobre você. – Os olhos atentos dela captam todas as minhas reações. — Ele confirmou que vai pegar o trem de volta pra casa na quinta-feira à tarde. Na sexta-feira, estará aqui para o jantar.

Não consigo esconder o sorriso que se forma em meus lábios, apesar de apertá-los um contra o outro.

— Peeta também está feliz por voltar – diz Delly, vendo a transformação na minha expressão.

— Também? Eu não disse nada…

— Nem precisa! Esse brilho nos seus olhos já diz tudo. – Ela sorri, enquanto disfarço, estendendo a mão para acariciar Buttercup, até que, por fim, sorrio de volta, provando que ela está certa.

— E como estão você e o Thom? Fizeram as pazes? – pergunto, mudando de assunto.

— Ah, nós ficamos… bem. – Ela ruboriza e olha para seus dedos, que traçam distraidamente um círculo na borda da xícara. — Vocês dois tinham razão. O fato de Thom ter um passado não pode me aborrecer. Só me deixa preocupada.

— Qual seria o motivo pra isso?

— Thom é mais vivido que eu. Deve me comparar com outras garotas, já que eu sou completamente inexperiente. Nunca sei se estou fazendo a coisa certa, no momento certo.

— Não sou a conselheira ideal, mas acho que o casal deve definir juntos o momento certo para cada coisa acontecer.

— Sinto falta da minha mãe nessas horas. Com certeza, ela ouviria minhas dúvidas e me aconselharia. Aí eu teria essa segurança que você demonstra…

— Segura? Eu? – Rio ante ao elogio tão inapropriado.

— Sim. O modo como você lidou quando soube do que houve entre o Peeta e a Evelyn foi bem mais maduro do que a maneira com que me comportei. Fiquei parecendo muito mais tola do que realmente sou.

— Você não é tola, Delly!

— Só de imaginar que o Thom já gostou desse tipo de garota, tão diferente de mim… Não quero nem pensar em perdê-lo, em deixar de viver o que estamos vivendo. Pra mim, é tudo tão novo e tão bom. Parece que o mundo para de girar quando estou com ele.

Eu não consigo me abrir tão facilmente quanto Delly. No entanto, sei bem do que ela está falando. Quando estou com Peeta em momentos assim, eu me esqueço de todo o meu passado turbulento e me sinto apenas como uma simples garota de dezoito anos, com impulsos, anseios e sensações que sempre neguei que um dia sentiria.

— Obrigada por me ouvir. – Ela apoia a mão em meu ombro. — A pessoa mais próxima com quem costumo conversar é o Peeta.

— Você e o Peeta conversam sobre tudo mesmo?

— Sobre muitos assuntos, mas não tudo… Não fique envergonhada. Ele nunca me disse nada comprometedor, nem eu a ele. Até porque eu não tenho nada de comprometedor pra contar! – Ela ri sem humor e suspira. — E eu não sei se isso é bom ou ruim… Você tem com quem tirar esse tipo de dúvidas?

— Foi bom você perguntar. – Eu me levanto da cama e minhas pernas já mais firmes me obedecem. — Não faz muito tempo, a Johanna ligou pra mim, dizendo que queria me dar umas dicas sobre… sexo. O estranho é que minha mãe me telefonou no mesmo dia, também querendo tratar disso.

— O que será que o Peeta andou comentando com elas lá no Distrito 4? – Delly pergunta distraída.

Arregalo os olhos a ponto de assustar Delly, que logo defende o amigo.

— Calma! Perguntei por perguntar. Não acho que ele tenha feito nenhum comentário. – Ela sorri com a minha expressão assustada. — O que eu queria perguntar de verdade é: o que Johanna e sua mãe disseram?

— Elas até queriam falar sobre o assunto comigo, mas fiquei tão sem graça que nem deixei que continuassem a conversa.

— Puxa… – Delly fica visivelmente decepcionada.

— Mas elas disseram que eu poderia perguntar qualquer coisa, quando quisesse.

— Você acha que é uma boa ideia tentar falar com elas?

— Por telefone, deve ser mesmo mais fácil. – Reflito por alguns segundos. — Pensando bem, acho que nem por telefone eu consigo. Vamos fazer o seguinte: eu ligo, mas você faz as perguntas, Delly.

— Tudo… bem…?! – concorda ela, porém ergue as mãos em demonstração de incerteza.

Delly me acompanha na descida da escada até a mesa do telefone, que fica na sala. Procuro os números que tenho anotados num pequeno caderno e disco para Johanna. Posicionamos o aparelho e juntamos nossas cabeças para que nós duas possamos ouvir a pessoa do outro lado da linha.

Alô? – Ouço a voz sonolenta de Johanna atender ao telefone e só então me dou conta de que está, de fato, muito cedo para ligar para alguém.

— Johanna, sou eu… – começo a dizer, mas nem preciso terminar de me identificar.

O que há de errado com você, desmiolada, pra me ligar a uma hora dessas?

— Desculpas por acordar você, Johanna, mas… Sabe aquele assunto que ficou pendente entre a gente? Eu queria retomar.

Ah! Já ficou sabendo que o Peeta vai voltar, não é, garota em chamas? Vou avisar ao padeiro para ir se preparando…

— Não! Não é isso, Johanna – eu a corto. — Não diga nada a ele, por favor!

Então, pode me explicar o motivo da pressa?

— É que eu e Delly estamos com umas dúvidas – digo envergonhada e cutuco Delly para ela começar a cumprir o que combinamos.

Então, são duas desmioladas pensando em ter mais intimidade? Que perigo! – Johanna zomba. — Mas digam quais são as dúvidas…

— Eu não sei como… Não sei como deixar de ficar assustada. Nem como me sentir confortável com meu corpo ou quando… – Delly começa.

Ei! Uma coisa de cada vez. – Johanna abafa uma risada. — Isso é natural. É normal ficar assustada. No entanto, você deve confiar em você mesma. Confiar nele.

— Não tenho essa confiança em mim. Eu não sei do que ele vai gostar.

Vamos direto ao ponto. Rapazes, em geral, são muito fáceis de agradar. Você tem um belo par de peitos, loirinha. Não precisa de nada mais!

— Johanna, assim você não está ajudando muito – interfiro.

Ok, desmiolada! Vou falar sério agora… Não há um jeito certo de fazer sexo. Cada casal é único e se entende de maneira única também. O segredo é, basicamente, experimentar bastante e descobrir o que cada um gosta e não gosta. E isso não se desvenda de um dia para o outro. Leva tempo e… prática. – Johanna faz uma voz insinuante para pronunciar o final da frase.

— O que devo esperar da minha primeira vez? – Delly parece mais à vontade para perguntar. — O básico eu já sei, pelas explicações nas aulas de educação sexual no Distrito 13.

Imagino como deveriam ser estimulantes essas aulas— diz Johanna com ironia. — Vou tentar colocar em palavras. A primeira vez… e não me refiro só à primeira de todas… A primeira vez de um casal é uma novidade atrapalhada, excitante, embaraçosa, engraçada até… Se rolar num momento legal, com a pessoa certa, é uma das coisas mais maravilhosas que podemos viver.

— Johanna, você está apaixonada! – exclamo, feliz por ela, pela minha constatação.

É tão evidente assim? – A pergunta de Johanna soa como uma confirmação.

— Eu estava esperando você falar um monte de obscenidades que me deixariam apavorada e nauseada. Mas você está me surpreendendo com palavras românticas – afirmo.

É que não cheguei à parte das obscenidades ainda! Onde nós paramos mesmo, antes dessa desprovida de cérebro me interromper?

— Você dizia que a primeira vez pode ser uma experiência maravilhosa… – Delly continua.

Ah… Romantismos à parte, tenho que ser realista e dizer que nem sempre é tão maravilhosa assim. Porém, depois, a tendência é melhorar, meninas! Por isso, se a primeira vez não for legal, não desistam. Algumas mulheres sentem um pouco de dor, outras não. A boa notícia é que, com a prática, chega-se à perfeição.

— Você daria algum conselho pra gente? – Até eu me animo a questionar.

Vamos ver… Um conselho: deixem-se levar. Pode apertar, arranhar, morder, lamber…

Delly põe a mão no bocal do telefone e cochicha:

— Lamber?

Enquanto isso, Johanna continua falando verbos que eu prefiro nem escutar. Quando voltamos a encostar os ouvidos no telefone, ela está concluindo:

O segredo é experimentar e, o que é muito importante, deixar claro se não gostarem de alguma coisa. E, quando gostarem, deixar muito claro.

Eu e Delly concordamos com a cabeça, como se Johanna pudesse nos ver assentindo.

Entenderam? Alguma dúvida? – Johanna pergunta.

— Oh… bem, acho que… todas! – Delly resume bem nosso estado de espírito.

Ah, que bom! Era isso que eu esperava ouvir de vocês! Sinal de que são pessoas normais… na medida do possível, né? Já que nenhuma das duas tem muito juízo.

— Como se você fosse a pessoa mais ajuizada do mundo! – retruco.

Ah, deixa pra lá. Agora é minha vez de perguntar… Quem é o felizardo, Delly?

— É o Thom. Ele participou dos treinamentos no Distrito 13, não sei se você o conheceu por lá.

Não tanto quanto eu gostaria na época. Eu sei quem é o Thom… Você escolheu bem, hein, loirinha? E quanto a você, Katniss, seu padeiro está aqui cheio de amor pra dar. Vê se entende isso de uma vez.

— Exagero seu. Peeta nem deve se lembrar de mim por aí, com tantas novidades acontecendo.

Pelo visto, você não está sabendo. Peeta vai ser entrevistado hoje mais tarde, ao vivo, e ele está fazendo isso por você, principalmente.

— Eu vi os anúncios dessa entrevista.

Então, trate de ligar a TV. Peeta quer desfazer o mal entendido que a publicação daquelas fotos provocou. É um bom plano. Pense nisso antes de dizer que ele mal se lembra de você enquanto está por aqui.

— Tudo bem, Johanna. Obrigada pelas dicas.

— Obrigada, Johanna! – Delly também agradece.

Estou às ordens, suas desajustadas! Tchau.

Quando finalmente o telefone está posicionado no gancho, eu e Delly respiramos, ainda que não aliviadas.

— A Johanna não tem filtro mesmo, mas ela me ajudou bastante – comenta Delly e nós nos entreolhamos. — Você ainda quer ligar para a sua mãe?

— Na verdade, não. Quer dizer, não para falar disso. Mas ela me fez prometer que eu ligaria para ela, caso tivesse a conversa que acabamos de ter com a Johanna.

No entanto, antes que eu pudesse ligar pra minha mãe, Greasy Sae abre a porta e olha atentamente para mim e Delly.

— Vocês estão com umas caras, meninas! – Ela repara e eu e Delly trocamos um sorriso cúmplice.

— Precisamos nos arrumar para começar o dia – afirmo.

— Isso. Precisamos de um bom banho… frio – completa Delly, de cabeça baixa.

— Ok, então. – Greasy Sae nos olha confusa e sorri, encolhendo os ombros. — Seja lá o que vocês estão aprontando, o café logo estará pronto.

Mais tarde, quando eu e Delly já estamos devidamente banhadas e sentadas à mesa, Blaine surge na porta entreaberta.

— Bom dia! Vim tomar café da manhã com vocês, posso?

— Pode entrar, Blaine! – convido.

— Conta tudo o que aconteceu ontem, vai! – Delly pede.

— Bem, vocês tentaram me deixar sozinho com a Violet, mas o pai dela tinha outra ideia em mente. Então, eu ofereci um belo jantar romântico à Violet, mas também aos seus dois irmãos mais novos.

— Não acredito que ela veio acompanhada de Camellia e Darrell! – Delly se espanta.

— Mas eu fiz bom uso daquele velho ditado: Fazer do limão uma limonada. Aprendi com o Peeta que as garotas adoram quem leva jeito com crianças. O principal assunto na cidade são as fotos em que ele aparece cuidando do bebê, como um paizão.

— Blaine… – Delly o repreende.

— Mas isso é algo bom, não é, Katniss?

— É sim, Blaine, é algo bom – concordo, sabendo que ele fez o comentário sem maldade, por provavelmente não saber a respeito da minha decisão sobre não ter filhos.

— E deu certo! – Blaine comemora. — Fiz um bom trabalho. Incentivei as crianças a comerem tudo, brinquei com os dois por toda a sala e a noite terminou com os dois voltando pra casa já adormecidos. Darrell no meu colo e Camellia no colo da Violet. – Ele se volta para a irmã. — Ah! Não brigue comigo pela bagunça que ficou e ainda não arrumei, Dell.

— Mas terminou só assim mesmo? Nada mais aconteceu? – questiona ela.

— Acho que me esqueci de contar um pequeno detalhe. O Timothy me permitiu alguns instantes a sós com a Violet. E foi tempo suficiente.

— Suficiente para… – Delly insiste.

— Vou deixar para vocês imaginarem. – Ele faz suspense, mas logo emenda. — Sou o mais novo comprometido do distrito. Peço desculpas por acabar com suas esperanças, Katniss, mas meu coração já tem dona.

Blaine se esquiva do guardanapo que jogo em sua direção.

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Terminado o café da manhã, fico novamente sozinha em casa até quase o fim da tarde, pois Greasy Sae fez comida suficiente para o almoço e a janta.

Quando está próxima a hora da entrevista, Haymitch vem me buscar para eu assistir a ela na casa dele com a Effie. Chegando lá, minha eterna escolta está na cozinha, separando uns petiscos para comermos durante a transmissão. Haymitch vai fazer uma exceção à abstinência de álcool e prepara um drinque para ele.

Sento-me em um dos bancos que ficam ao lado do balcão da cozinha, de onde posso visualizar a TV.

— Falei com Peeta mais cedo pra saber o que está planejando. Ele exigiu que a entrevista fosse ao vivo, mas haverá um apresentador num estúdio na Capital a postos para cortar a entrevista em qualquer momento que ele considere constrangedor – informa Haymitch.

— Isso era de se esperar – digo e Effie concorda com a cabeça.

— Será que apenas eu estou vendo o quanto isso é arriscado? – Haymitch se desespera, sacudindo o copo em sua mão nervosamente, quase deixando derramar o líquido de dentro dele. — As últimas entrevistas de Peeta foram sob tortura. Essa situação pode ser um gatilho para uma crise. Ao vivo!

Meu antigo mentor tem razão. Peeta está colocando muita coisa em risco pra conseguir seus objetivos. Agora a minha apreensão com essa entrevista está nas alturas.

Effie apoia sua mão no braço de Haymitch e ele se acalma um pouco. Os dois se sentam em frente à TV.

— Katniss? Fique aqui conosco no sofá – oferece Effie.

— Estou bem, obrigada. – Aqui onde estou é um pouco distante do televisor, porém é o lugar ideal para ocultar de Haymitch qualquer emoção diferente que eu venha a sentir.

Ele terá que olhar pra trás para saber como estou me comportando durante a entrevista.

A canção que introduz o programa de entrevistas começa a tocar. Caesar Flickerman surge na tela com o seu visual extravagante e aquele sorriso que sempre marcou sua pérfida simpatia em relação aos tributos. Ele está num estúdio, mas não há sinal de Peeta.

Olá, amados telespectadores de Panem! Finalmente, chegou o momento que tanto ansiamos. Nosso convidado está se preparando no Distrito 4 para mais uma entrevista, que nós esperamos que seja emocionante, reveladora e impactante, como todas as outras que tive o enorme prazer de fazer com ele. Dessa vez, não serei eu o entrevistador, pois estou em nossos estúdios de televisão na Capital. Vejo uma movimentação por aqui… Nossa equipe de transmissão está em polvorosa. Já temos imagens ao vivo do Distrito 4? – Ele gesticula para alguém que está próximo, mas não é mostrado pelas câmeras. — Ótimo! Está tudo pronto. Fiquem agora com a minha querida colega Venília Press, diretamente do Distrito 4, muitíssimo bem acompanhada de… Peeta Mellark!

A imagem muda para onde está a repórter. Ela caminha sobre um  deck de madeira, numa área externa de frente para o mar.

Boa tarde, Caesar! Boa tarde, Panem. Eu sou Venília Press e estou diante dessa paisagem belíssima, na companhia de uma das figuras mais carismáticas do nosso país. O vitorioso Peeta Mellark.

A filmagem acompanha seus movimentos e ela se senta numa cadeira. A imagem da câmera se afasta e enquadra também o local onde está o entrevistado.

E eu vejo Peeta. Meu coração pulsa desenfreado. Não consigo mais ficar tão longe da TV. Desço do banco e ando devagar até ficar atrás do sofá, sem tirar os olhos da tela. Tento ser discreta, mas Haymitch nota quando me aproximo. Ele bate a mão no assento a seu lado e é onde me acomodo logo depois.

Peeta está diferente até nas roupas que está usando, leves e coloridas, típicas da região praiana, com um pequeno chapéu e óculos escuros.

Sua pele está bronzeada e ele parece muito bem fisicamente. No entanto, sua maneira de se portar não é descontraída como o seu modo de se vestir. Peeta está bastante sério.

A jornalista se ajeita mais confortavelmente na poltrona em frente a ele e abre um sorriso em sua direção.

Peeta, seja bem-vindo ao nosso programa!

Obrigado. – Peeta sorri ligeiramente, mas não é o seu sorriso aberto característico.

Quem diria que você, que já esteve em duas edições dos Jogos Vorazes e lutou durante a rebelião, estaria aqui hoje, para mais uma entrevista?

Peeta se inclina um pouco na direção dela. Vestígios do sorriso anterior permanecem em seus lábios, tornando mais nítida a covinha do seu queixo.

Desde a minha primeira entrevista, eu fico diante das câmeras achando que vai ser a última vez. – reconhece ele. — E aqui estou eu! Finalmente, sem essa sensação.

Sua vida se transformou radicalmente, Peeta. O que representa a sua mudança para o Distrito 4?

Eu não me mudei para o Distrito 4 – responde ele.

Ah, não? Então, não é verdade que você está morando com a Annie há cerca de duas semanas? Temos imagens suas na chegada ao Distrito 4. – A repórter pressiona.

Peeta corre as mãos pela testa, afastando seus cuidadosamente desordenados cachos loiros.

Eu sou apenas um hóspede da minha amiga Annie. É bem diferente de admitir que me mudei para o Distrito 4 e de que estou morando com ela.

É só uma questão de admitir, Peeta? Se for esse o problema, isso é simples de resolver. Você está diante de uma câmera, sendo transmitido para toda Panem. Fique à vontade.

Tudo bem. Estou à vontade e vou assumir que aconteceu, sim, uma mudança. – Ele se recosta na cadeira e aponta para o próprio peito. — Eu mudei. A única mudança que ocorreu foi internamente mesmo. Afinal, o nascimento do Finn foi a experiência mais sagrada que já vivi. O milagre da vida acontecendo diante dos meus olhos. Foi realmente transformador.

Por que você não nos conta mais sobre essa experiência? – sugere a entrevistadora. — Ela foi transformadora em que sentido?

Acredito que me tornou uma pessoa com muito mais vontade de fazer o bom momento que estamos vivendo em nosso país dar certo.

Você quer construir um mundo melhor para os seus futuros filhos também?

Sim— afirma Peeta, depois de um tempo de hesitação. — Para todos os filhos de Panem.

Por enquanto, você está treinando para ser papai com o bebê Finnick. Como você está se saindo?

Fome, sono, desconfortoTudo isso ganha um novo significado, quando se quer consolar um bebê. Mas o grande mérito de tudo estar indo bem é da Annie. Ela está sendo fantástica. Durante a gravidez, no parto e, agora, como mãe… Ela vive cada momento em completa entrega e com grande dignidade, o que só contribui para que esse meu “treinamento” — Peeta faz aspas no ar ao dizer essa palavra – esteja sendo único e maravilhoso. Um período de muito aprendizado.

Será que o pequeno Finnick vai considerar você como um pai futuramente?

Eu ficaria honrado de ser uma figura paterna para o Finn. A Annie me convidou para ser o padrinho dele, inclusive. Mas o Finn sempre vai saber que é filho de um cara incrível e insubstituível. – Peeta abaixa a cabeça por alguns segundos, porém volta a segurar o microfone com firmeza.

Peeta não tira os óculos escuros em nenhum instante. E eu quero tanto ver seus olhos!

Vou reformular a pergunta que fiz anteriormente. Não vou mais falar em mudança, pode deixar. – Ela ri do próprio comentário. — O que representa a sua estadia no Distrito 4?

Representa a minha alegria de estar aqui para dar conforto emocional à Annie, especialmente para fazer tudo ao meu alcance para que ela se sentisse mais confiante e segura para enfrentar o parto.

Não é de se admirar a ligação forte que há entre vocês. Pelo visto, você conseguiu o seu objetivo.

Eu, outros amigos e os profissionais de saúde. Foram muitos os que estiveram presentes e possibilitaram que o pequeno Finnick nascesse em um ambiente tranquilo, cercado de amor e respeito.

Conte mais sobre o que você viveu e sentiu nesse dia, então.

Mesmo ele estando de perfil, eu posso ver suas sobrancelhas se relaxando. Ele baixa suas defesas, mesmo que por apenas um momento.

Peeta claramente não tinha intenção de revelar tanto dele mesmo nessa entrevista. Ele parece estar focado em um objetivo e, para alcançá-lo, criou uma barreira que a jornalista não estava conseguindo derrubar. No entanto, com essa pergunta, ele cede e eu não posso negar que aprecio esse deslize. Só assim consigo ver o verdadeiro Peeta.

É difícil colocar em palavras algo que, de tão intenso, é quase indescritível. Foi a experiência mais marcante que já vivenciei. Passei a admirar ainda mais as mulheres que são mães.

Meu peito afunda. Ele está cada vez mais encantado por Annie e certamente me despreza por não querer filhos. Annie é dona de uma beleza incomum, foi corajosa o suficiente para engravidar e está sendo forte para ser mãe, mesmo sem Finnick. Eu não posso competir com isso.

Mas eu quero deixar bem claro que respeito as que decidem não ter filhos – completa ele em seguida.

— Oh! – o som escapa da minha garganta e o olhar de Haymitch queima minha pele, analisando todas as minhas atitudes. Desvio os olhos de sua expressão curiosa e fito novamente o televisor.

— Dá até vontade de ser mãe, depois de ouvir o Peeta falar todas essas coisas. Você não concorda, Katniss? – Effie pergunta, completamente alheia à tensão entre mim e Haymitch.

Haymitch arregala os olhos e, em outra situação, eu até riria de sua reação, porém estou muito perturbada com tudo o que ouvi.

— Perdão, Effie… Não prestei atenção à sua pergunta – digo evasivamente, esperando que ela não repita a questão.

Haymitch percebe meu desconforto e distrai Effie, pedindo para que complete o copo dele com a bebida que está na pequena mesa ao lado dela.

A câmera deixa de focalizar Peeta e enquadra apenas a entrevistadora, que se comunica com Caesar Flickerman. É ele agora que toma conta do monitor.

Estamos muito curiosos aqui no estúdio da Capital. Nós queremos saber o que o Peeta tem a dizer sobre as lindas imagens que nosso repórter fotográfico capturou nas praias do Distrito 4. Peeta ao lado da nossa querida vitoriosa Annie. O belo casal protagonizou cenas de puro romance alguns dias antes do nascimento do bebê.

— O Flickerman é totalmente tendencioso. Já apresenta os dois como um casal. – Haymitch se aborrece.

Novamente, são reproduzidas as fotos de Peeta e Annie juntos, ao som de uma música tocante. Eu pisco algumas vezes antes de desgrudar os olhos da televisão e consigo evitar o surgimento de lágrimas. Essas fotos ainda têm um grande impacto em mim.

— Ah, mas eu reconheço que, quando se trata de Annie e Peeta, é fácil confundir se é namoro ou amizade! – Effie exclama. — Eu me lembro bem da visita que fiz a ele no hospital da Capital. Annie estava lá. Há tanto carinho, tanta cumplicidade entre eles…

Acho que Effie continuaria falando, mas Haymitch balbucia pra ela algo que entendo como “Não está ajudando… não está ajudando”.

A imagem volta para onde estão Peeta e a entrevistadora.

Acho que não são apenas vocês aí no estúdio que estão interessados em saber todos os detalhes dessas fotos… Peeta, essas imagens são de tirar o fôlego! Ajude-nos a entender o que está acontecendo aqui no Distrito 4. Por acaso, um certo alguém já roubou o seu coração?

Se você está falando do pequeno Finnick, não tenha dúvidas disso.

Não, isso nós já constatamos. Na verdade, estou falando das mulheres em sua vida. Temos um romance à vista? – instiga a repórter.

Bom, não sei o motivo de você usar a palavra assim no plural. Mulheres…— Ele balança levemente a cabeça, mas não de forma hostil.

Apesar das segundas intenções da pergunta, Peeta é gentil, discreto, doce. Perfeito. Depois de se ajeitar na cadeira, ele exibe o lampejo de um sorriso, antes de prosseguir:

Acho que todos já sabem a resposta para essa pergunta. Eu nunca escondi de ninguém que, quando o assunto é romance, só há uma mulher na minha vida.

Haymitch quase cospe a bebida ao tentar reprimir uma risada. Tento disfarçar o estremecimento que se espalha por meu corpo. Se fosse possível, eu ficaria invisível agora mesmo.

E o nome dela é Katniss Everdeen— conclui Peeta e, pela primeira vez, retira os óculos escuros e olha diretamente para a câmera. — Isso é tudo o que eu queria ter dito desde o início da entrevista. A dona do meu coração sempre foi e continua sendo Katniss Everdeen.

Eu me fixo em seus olhos e minha respiração perde a cadência normal.

— Ah, esse garoto! E eu ainda me surpreendo com as artimanhas dele. Aposto que ele pegou você de surpresa também, hein, lindinha? Já estava aí pensando que havia perdido o Peeta para sempre… Agora ele não precisa explicar mais nada sobre as aventuras no Distrito 4.

Sinto meu estômago se contrair e, sem despegar os olhos da televisão, digo:

— Ele nunca precisaria se explicar – falo tão baixo que acho que ninguém ouve.

A repórter anuncia o fim da entrevista e a última imagem que vejo é a de Peeta com a mão estendida para se despedir dela.

Eu me levanto do sofá ainda atordoada.

— Que saudades do Peeta! Imagino que você também sente muita falta dele, Katniss! – Effie diz ao me abraçar.

— Deu tudo certo, docinho. – Haymitch afaga o meu braço com um sorriso engraçado no rosto.

Retribuo o sorriso e volto pra casa, sentindo uma torrente de emoções.

— Só há uma mulher na vida dele… e sou eu – sussurro sem acreditar, pressionando as palmas das mãos contra o meu rosto, enquanto um amplo sorriso se forma nele.

Eu quero muito ouvir a voz de Peeta e escutá-lo falando esse tipo de coisas apenas para mim, e não para toda a Panem. Entro em casa e corro para o telefone. Busco rapidamente o número de Annie. O telefone dá sinal de que está tocando, mas ninguém atende. Da mesma forma, a chamada para a casa de Johanna não se completa. Devem estar todos juntos no local da entrevista e ainda não retornaram para casa.

Sento-me no chão, ao lado de Buttercup, que brinca com a cesta de novelos de lã, e acaricio seu pelo alaranjado.

Peeta me ama.

E ama bebês.

E está muito feliz por estar treinando com o filho da Annie e do Finnick para ser um bom pai.

Mas prefiro deixar esse assunto para tratar com ele depois.

No momento, apenas sou capaz de repetir incansavelmente suas palavras em minha cabeça:

Eu nunca escondi de ninguém que, quando o assunto é romance, só há uma mulher em minha vida. E o nome dela é Katniss Everdeen.

 


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!

Gostaria de mandar meus cumprimentos para todos os que abraçam a profissão de jornalista/repórter.

Como é trabalhoso fazer uma entrevista ficar interessante (nem sei se eu consegui)!

Falta pouco para o Peeta estar de volta ao Distrito 12 e para nossos amantes desafortunados terem essa conversa que a Katniss tanto quer ter pessoalmente!

Beijos!

Isabela