A Redenção do Tordo escrita por IsabelaThorntonDarcyMellark


Capítulo 22
22. O que diz um olhar




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Por Peeta

Atravesso a rua carregando uma vasilha repleta de biscoitos dos mais variados tipos. Fiz um bom estoque de guloseimas para receber meus dois hóspedes, Delly e Blaine, que chegarão ao Distrito 12 daqui a algumas horas.

Daisy me ajudou a cortar a massa e a confeitar boa parte deles. A cada dia, ela me surpreende mais com seu talento para as artes e, apesar de parecer natural que eu lhe ensinasse alguma coisa, é o contrário que acontece. Sou eu que aprendo com ela, observando-a superar suas limitações e o preconceito que sofre por ser diferente dos padrões da sociedade.

Aproveito cada segundo de sua doce companhia, pois penso ser esta uma das vivências mais próximas que terei da experiência de ter filhos, já que Katniss não os quer e não me imagino formando uma família com mais ninguém. Apesar disso e apesar de tudo.

Não está sendo fácil manter-me afastado de Katniss, especialmente nos momentos em que sei que ela mais precisa de mim, quando ouço seus gritos desesperados durante a noite, depois de seus terríveis pesadelos. Sofro isso na pele também. Somos dois marcados pelos Jogos.

No entanto, Katniss preferiu que eu me distanciasse, ainda que não completamente. Ao menos, foi a vontade que ela expressou para mim com palavras. Apenas com palavras, pois seus olhos sinceros sempre me dizem algo diferente, mais terno e caloroso, mais parecido com o que gostaria que ela verdadeiramente dissesse pra mim...

É isso o que seus olhos cinzentos me confessam agora, quando Katniss pisca, recuperando-se do pequeno sobressalto que teve ao se virar repentinamente e se deparar comigo diante dela, em sua sala de estar.

Eu não tinha a intenção de assustá-la e sequer cogitei que isso pudesse acontecer. Afinal, desde que tive minha última crise, é por volta desse mesmo horário que chego à sua casa para trazer algo para o seu café da manhã e, como não poderia deixar de ser, para vê-la. A hora mais preciosa dentre todas as outras, o único momento do dia em que fico com ela. Ao menos, tem sido assim nas últimas semanas.

— Bom dia, Katniss! Estou conseguindo andar silenciosamente, viu? Você nem notou quando entrei aqui. Não serei má companhia na floresta agora — comento, enquanto estendo-lhe o pote com os biscoitos.

— Obrigada. — Ela segura o recipiente e o leva até a cozinha. — Na verdade, ouvi um barulho, mas pensei que fosse o Buttercup brincando com os novelos da minha mãe.

Olho para o lado e, tal como ela disse, o gato se encaminha para o cesto onde estão guardadas as suas adoradas bolas de lã.

— Verdade? Lá se vai a minha oportunidade de passar uma tarde com você na floresta hoje! A não ser que... — Faço suspense.

— Pode falar! — Katniss me incentiva a prosseguir.

— A não ser que você queira me ajudar a preparar uns pães para Delly e Blaine — sugiro. — Delly me disse ao telefone que o aerodeslizador vai trazê-los hoje do Distrito 13.

Katniss não responde de imediato, porém não parece ter ficado chateada com o convite.

— Você só precisa me ensinar a fazer os pães — concorda ela finalmente.

— Estava pensando em fazer um pão trançado, com cobertura de doce de leite. Fica bonito e bem gostoso. E é um dos preferidos da Delly. Fiz também geleia de morango e podemos usá-la.

— Acho que me sairei bem. Aposto que o meu pão trançado vai ficar mais bonito que o seu.

— Isso é o que vamos ver! — digo em tom de provocação, feliz por sua reação entusiasmada à minha proposta. — O material já está separado na minha cozinha. Basta você chegar para começarmos.

— Até daqui a pouco, então — despede–se Katniss.

Suspiro levemente depois de fechar a porta. Finalmente, eu a encontrei bem-disposta. Não é sempre que ela está assim ultimamente.

Chegando à minha cozinha, separo alguns utensílios e dois aventais. Disponho o doce de leite e a geleia de morango que estão prontos desde ontem à noite em duas tigelas e espero cerca de meia hora até Katniss aparecer.

— Podemos começar? — Ela se aproxima da bancada e eu lhe entrego o seu avental.

Dou as coordenadas sobre o preparo da massa e a auxilio em todas as etapas, até chegar o momento de modelar os pães.

— Agora é a hora do desafio, Everdeen. Não estava pensando nisso como uma competição, mas você quis apostar que o seu pão trançado vai ficar mais bonito que o meu... — anuncio animado.

— Desafio aceito, Mellark — afirma ela, confiante.

— Então, a postos, em cada lado da bancada. Mãos à obra!

— Mãos na massa! — Katniss me corrige carinhosamente.

Enquanto estico e moldo a massa, ela fica pensativa e nada faz. Fico observando de soslaio, curioso, até que ela me pergunta:

— Peeta, posso pôr a geleia dentro do pão em vez de colocá-la por cima?

— Pode! É preciso abrir a massa até que fique bem esticada. Depois, você deve espalhar o recheio por cima, enrolar como um rocambole e fechar bem as pontas.

— Entendi — afirma e já começa a colocar em prática as minhas dicas.

Algum tempo depois, finalizo a montagem da trança, que fiz bem disforme de propósito, com grandes sulcos entre os pontos onde as tiras da massa se encontram, para que comportem uma porção generosa da cobertura de doce de leite. Em suma, meu pão está mesmo muito feio antes de ser assado, mas ficará bonito e gostoso quando estiver pronto.

— Já terminei de moldar o meu pão trançado. Quer ajuda? — Eu me ponho à disposição.

— Não. Você pode tentar estragar tudo, só pra sair vencedor no desafio.

— Não faria isso — nego, ao mesmo tempo em que jogo um pouco de farinha sobre a massa que ela está modelando.

— Ei! Isso não vale! Pode ir para o seu lado do balcão! — Katniss reclama em voz alta, inclinando o corpo de modo protetor sobre o mármore da bancada.

— Só faltou uma coisa... — digo, chamando sua atenção.

Quando ela se vira em minha direção, estou com as mãos abertas e unidas na altura do queixo, pronto para assoprar um punhado de farinha em cima dela.

Ao mesmo tempo em que Katniss desvia da lufada de pó, ela consegue alcançar o pacote de farinha e lançar um bocado sobre mim.

Mesmo conhecendo seu histórico de caçadora, ainda me espanto com seu reflexo e sua agilidade e, aqui estou eu, completamente sujo com o pó branco, ouvindo a sua risada. Tento me limpar como posso e ergo meus olhos até os dela, que estão apertados devido ao seu largo sorriso.

— É muito bom vê-la sorrir assim de novo. — Minha voz sai como um sussurro, tamanho é o meu receio de romper a frágil bolha de felicidade que nos envolve nesse instante.

Durante nossa intensa troca de olhares, seu riso diminui aos poucos, mas seu semblante alegre não desaparece. No entanto, a quietude se torna imediatamente embaraçosa. Katniss abre a boca para falar, mas desiste.

— Preciso de um bom banho agora — quebro o silêncio, que parece nos engolir.

— Você confia de deixar seu pão aqui comigo? Não acha que vou trapacear?

— Deposito em você toda a minha confiança. — Acaricio seu rosto, deixando em sua pele a marca dos meus dedos cheios de farinha, numa trilha branca, que ela não se apressa em limpar.

— Vou terminar minha tarefa aqui — desconversa, virando-se novamente de frente para a bancada.

— Depois, volto para ajudar a limpar a bagunça e para colocar os pães para assar. Não demoro.

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Quando retorno, noto que a cozinha está limpa e que ela já deixou seu pão descansando. Fico realmente admirado com o que Katniss fez. Enquanto eu modelei um pão trançado comum, entrelaçando três rolos de massa, Katniss fez um pão recheado inteiriço, com algumas finas tranças feitas de massa em volta dele.

— Puxa, seu pão ficou sensacional! — exclamo.

— De trança eu entendo, Peeta — afirma Katniss, passando a mão por seus cabelos presos, e rimos juntos. — Agora é a minha vez de me aprontar para receber Delly e Blaine.

— Você vai voltar mesmo?

— Sim. Quero dar as boas vindas aos meus novos vizinhos.

Meu sorriso se expande, ao mesmo tempo em que o dela, e sinto um grande alívio por saber que Katniss pretende estar aqui.

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Tal como garantiu que faria, ela volta pouco antes do horário marcado para a chegada dos novos moradores do Distrito 12. Com Delly e Blaine, retorna também a família que ficou com a construção que estava designada para ambos.

A aeronave pousará num descampado próximo à Aldeia dos Vitoriosos e já estamos do lado de fora de casa, aguardando qualquer sinal dela no céu. No entanto, o alerta para a sua chegada é o silêncio repentino dos tordos e o grasnado dos gansos de Haymitch, que correm desvairadamente pela rua, com ele atrás, gritando:

— Maldito aerodeslizador! — Um Haymitch ofegante cessa a perseguição, quando nos aproximamos dele. — Podem ir até o campo de pouso. Esse berreiro todo dos gansos significa que seus hóspedes já chegaram.

Mal contenho a ansiedade de rever minha querida amiga de infância e, quando finalmente posso distinguir à distância seus longos cachos dourados, corro até ela e a rodopio num abraço efusivo. Cumprimento Blaine com igual entusiasmo.

Katniss chega logo depois junto a nós e Delly precisa acotovelar o irmão algumas vezes para ele não ficar encarando-a com ar admirado. No entanto, não posso evitar as apresentações.

— Katniss, acho que já conhece a Delly. E, finalmente, este é o Blaine — digo.

Ele faz questão de segurar a mão de Katniss e de beijar-lhe os dedos:

— Encantado e agradecido por tudo o que fez por nós.

— Muito prazer. — Somente quem conhece bem Katniss nota o desconforto em sua voz.

— Recomendei tanto que ele não fizesse algo assim — Delly murmura para que apenas eu possa ouvir.

— Nós somos figuras públicas, infelizmente estamos acostumados a esse tipo de abordagem — tranquilizo–a.

No entanto, sei o quanto isso é difícil para Katniss.

— Você está mais magra, Delly. — Tento mudar o foco.

— Não sei até quando vou ficar magra, morando com você... Se bem que não é má ideia ganhar uns quilinhos. Essa foi a única roupa diferente daquele uniforme do Distrito 13 que me sobrou e está bem larga em mim agora. — Delly alisa a blusa e a saia que está usando e que, provavelmente, foram as roupas com as quais escapou do bombardeio no Distrito 12.

— Tenho um guarda-roupas repleto de peças que nunca usei, da época da Turnê da Vitória. Se servirem para você, ficarei feliz em dividir — oferece Katniss.

Delly me olha espantada, como uma criança que pede autorização dos pais para dar uma resposta, e sinalizo que está tudo bem.

— Fico muito agradecida, Katniss.

— E posso fazer o mesmo por você, Blaine — falo.

— Legal! Vou me vestir como um vitorioso! — responde ele, fazendo Delly levar as mãos ao rosto e balançar a cabeça em sinal de desaprovação.

— Está tudo bem, Dell — afirmo. — Estou muito feliz por estarem aqui. Agora, conte as novidades.

O trajeto é curto, mas, até chegarmos em casa, já sabíamos que Delly havia feito o curso técnico em edificações e que Blaine, por sua vez, preferiu aprofundar seus conhecimentos como sapateiro, o ofício de seu pai. Essas eram algumas das formações oferecidas no Distrito 13.

Quando chegamos à minha casa, Delly e Blaine ficam extasiados com a mesa de lanche que preparei para eles.

— Mesmo depois da rebelião, o cardápio do Distrito 13 não foi alterado. Nem sonhava mais em saborear essas maravilhas, Peeta! — Delly comemora.

Blaine nem tem como dizer nada, pois já está devorando alguma coisa. Katniss continua bastante quieta e se serve de um pedaço de cada um dos pães que fizemos.

— Esse pão trançado está uma delícia. Esse outro aqui está lindo. Nunca vi você fazer um assim, Peeta — elogia Delly.

— Qual deles é o mais bonito? — questiono e Delly aponta para o pão que Katniss fez.

— Esse quem preparou foi a Katniss. Nós fizemos um desafio para ver quem faria o pão mais bonito.

— Como eu havia previsto... — Katniss fala com ar de vitória.

— Isso foi sorte de principiante! Mas faltou fazer ainda uma pergunta: qual é o mais gostoso? — indago, conhecendo a preferência de Delly por doce de leite.

Agora sua mão vai em direção ao pão preparado por mim.

— Estamos empatados? — pergunto.

— O desafio era fazer o pão mais bonito. — Katniss dá de ombros.

— Não se preocupe, Katniss. Voto no seu nas duas categorias — opina Blaine.

— Já que é assim, eu me rendo! — Ergo os braços. — Mas, de agora em diante, vou restabelecer para o Blaine a dieta do Distrito 13...

— Oh, não! Tudo menos isso! — Blaine finge estar em desespero.

Haymitch chega logo depois, ainda resmungando sobre o trabalho que teve para resgatar os gansos.

— A Delly eu já conhecia e você deve ser o Blaine! — Haymitch os cumprimenta e já engata num papo animado com os recém-chegados.

A conversa passa por diversos assuntos. Blaine nos leva às gargalhadas, quando comenta sobre o boato de que Haymitch havia se oferecido para ministrar as aulas de educação sexual no Distrito 13, com a finalidade de impulsionar o aumento da população, o que ele não confirmou, mas também não desmentiu, dizendo que a história não havia sido bem assim.

— Apenas imaginei que alguma coisa deveria ser feita a respeito — destaca Haymitch.

— As aulas seriam muito mais interessantes, se você fosse o professor — brinca Blaine.

— Vou indo pra casa, antes que vocês me convençam a começar um curso agora mesmo... Já que você vai ao Distrito 4, Peeta, pode convidar a Johanna para me auxiliar nessa empreitada! — Ele se levanta da cadeira e não demora a ir embora.

Ainda se recuperando das risadas, Delly pergunta:

— Você vai ao Distrito 4, Peeta? Quando?

Vejo que Katniss volta a ficar séria, como eu.

— Vou passar uma temporada no Distrito 4, para acompanhar o nascimento do bebê da Annie. É bom mesmo que vocês fiquem por aqui para tomar conta de tudo... De tudo o que é importante pra mim — digo isso fitando o chão, mas em seguida olho para Katniss, que sustenta o meu olhar por alguns segundos.

Delly, sem dúvidas, percebe cada um de nossos movimentos. Katniss vai até a mesa, limpa as mãos em um guardanapo e se dirige até a porta.

— A noite está muito agradável, mas também tenho que ir.

— Eu acompanho você até a sua casa — proponho.

— Não é preciso, Peeta. — Katniss gira a maçaneta para sair.

— Volto logo, Delly e Blaine — aviso e os dois acenam para Katniss.

Andamos em silêncio até a casa dela.

— Significou muito pra mim você ter participado da recepção de Delly e Blaine, Katniss. E pra eles também, tenho certeza.

— Não fiz nada de extraordinário, Peeta.

— Pra mim, foi extraordinário. — Estico o braço para afagar seus cabelos.

A lua cheia me permite ver o brilho dos seus olhos.

— Você disse a eles que voltaria logo... Boa noite, Peeta.

— Boa noite, Katniss. Queria que você não tivesse pesadelos, apenas bons sonhos.

— Depois de um dia alegre como hoje, é bem provável que tenha bons sonhos... Com você. — Ela sobe os últimos degraus da escada e me lança um olhar afetuoso antes de fechar a porta.

Volto para casa com os pensamentos nas nuvens. Delly e Blaine me observam curiosos, porém finjo não perceber o questionamento estampado em suas faces.

Conversamos por mais algum tempo. A satisfação de ter pessoas tão queridas assim perto de mim preenche um pouquinho o vazio que a ausência de Katniss provoca.

— Estou impressionada com a reconstrução do Distrito 12, pelo pouco que vi — afirma Delly.

— O legal é que, com a sua formação, você vai poder trabalhar nessa área aqui. Comentei com você que quem está à frente das obras é o Thom? — questiono.

— Soube por alto. — Delly finge indiferença.

— Ah, é, Dell? O fato de você saber disso não foi fruto de uma investigação detalhada da sua parte? — Blaine pergunta.

— Blaine! — Delly fica indignada com o irmão.

— Não precisa tentar esconder da gente que você gosta dele, não é, Peeta?

— Não mesmo. Acho que nem do próprio Thom.

— O que você quer dizer com isso, Peeta Mellark? — Os olhos apertados dela se fixam em mim.

— Tenho a ligeira impressão de que mencionei algo como... Você gostar dele até demais.

— Não acredito que você fez isso, Peeta! Como vou encarar o Thom agora?

— Com a sua simpatia inigualável! — rebato prontamente. — Aliás, o Thom me disse que fica muito sentido, pois você sorri pra todo mundo, menos pra ele...

— É sério isso, Peeta? Posso ser essa tagarela sorridente, mas travo só de pensar em ficar perto do Thom. Você se lembra de como nós dois éramos na época da escola, vivendo nossos amores platônicos? Você, apaixonado por Katniss, e eu, morrendo de amores pelo Thom... Sem nunca termos trocado uma palavra sequer com eles! — Delly está mesmo angustiada com o que confessei e desanda a falar, devido ao nervosismo. — Só porque você já conquistou a sua linda caçadora não significa que terei a mesma sorte.

Escuto o que Delly fala cabisbaixo. Conforme ela vai desabafando, a compreensão toma conta de mim. Eu a entendo perfeitamente.

— Eu tinha a melhor das intenções, Dell — confesso. — E não conquistei ninguém, não — murmuro tão baixo que acho que eles não ouvem.

Quando o arrependimento está quase surgindo, ouço batidas na porta. Como se tivéssemos combinado o desfecho perfeito para o mal estar que provoquei, é Thom que se encontra de pé diante de mim na entrada da casa.

Mais alinhado do que costuma estar nas reuniões das quais participamos, ele segura um buquê de flores nas mãos. Convido-o para entrar, abrindo passagem.

A princípio, Delly fica mais pálida do que já é, mas aos poucos sua face vai se enrubescendo. Blaine e eu seguramos o riso, enquanto Thom parece preocupado.

— Sei que a hora já está avançada, Peeta, porém não consegui chegar aqui antes — Thom menciona o meu nome, mas olha diretamente para Delly. — Imagino que seus convidados estejam cansados da viagem, mas eu precisava estar aqui pessoalmente para pedir desculpas pela confusão na distribuição das casas já prontas.

— Não está tão tarde. Estamos todos conversando. Falávamos, inclusive, sobre a reconstrução do nosso distrito — tento acalmá-lo.

Thom oferece as flores a Delly, que as segura com as mãos trêmulas. De início, sem tirar os olhos dele, ela não esboça nenhuma reação. No entanto, após alguns instantes, observo sua boca se curvar num de seus belos sorrisos, o qual é imediatamente espelhado no rosto de Thom.

— As flores são lindas. Eu agradeço... Quer dizer, eu e meu irmão agradecemos a consideração. — Delly mal respira.

— Tudo se resolverá bem — balbucia Thom, hesitante.

— Peeta nos disse que você é um dos responsáveis pelas obras de reconstrução, Thom. Sabia que a Delly está qualificada para trabalhar na sua equipe? Ela fez o curso técnico de edificações no Distrito 13! — Blaine informa animado.

O rosto de Thom se ilumina ainda mais.

— Acho que encontrei a assistente ideal. Se... Se você aceitar, é claro. — Agora é ele quem fica vermelho. — Mas isso é assunto para se tratar com mais calma, em outra ocasião.

— Você quer lanchar conosco? — convido.

— Não, obrigado. Vim apenas me desculpar e dar as boas vindas — despede-se ele e rapidamente sai.

Depois de fechada a porta, Delly inspira o aroma das flores e suspira.

— Quem é que estava falando em não ter sorte? — provoco.

— Quem mesmo? — rebate ela. — Tenho que reconhecer que, se você não tivesse dito nada a ele, talvez não estivesse tão feliz como estou agora.

— E quanto a você, Peeta? A sorte também está a seu favor? — Blaine indaga.

— Esteve. Acho que não está mais.

— Como assim? — perguntam ambos em uníssono.

— Eu e Katniss ficamos juntos por um tempo, mas nós nos afastamos desde que contei que vou passar um tempo no Distrito 4. Depois, tivemos um grande desentendimento, quando ela me confessou que não quer ter filhos. Desde então, nada tem sido como antes — relato com pesar. — Além disso, abri meu coração pra ela de todas as maneiras, porém Katniss nunca me disse que me ama.

— Mas ela já demonstra os sentimentos dela de outras formas. Talvez seja difícil pra ela colocar isso em palavras — conclui Delly.

— O modo como ela olha pra você, Peeta, diz muita coisa — completa Blaine.

— Vale declaração de amor através do olhar? — pergunto em tom brincalhão.

Delly se joga no sofá, com uma expressão sonhadora.

— Pela experiência que acabei de ter, essas declarações por meio de olhares também são muito especiais.


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Notas finais do capítulo

Olá, pessoal!

Finalmente, consegui revisar tudo e igualar aqui o número de capítulos já publicados no Wattpad. Por isso, infelizmente, os próximos não serão postados com tanta frequência, pois consigo escrever, em média, apenas um capítulo por semana. A boa notícia é que estarei de férias nos próximos vinte dias e pretendo escrever bastante.
Essa é a oportunidade de fazerem críticas e sugestões, pois tenho a maior boa vontade de acatá-las para melhorar a fic, sempre que possível.

Gostaria de saber a opinião de quem lê, pois é muito bom interagir e saber se estou no caminho certo.

Eu sou viciada nos reviews e agradeço às pessoas que têm o carinho de comentar.

Por fim, convido vocês para o aniversário de Katniss no próximo capítulo! O que será que o Peeta planejou? Será que vai dar certo?

Pra comemorar, vou atualizar a capa da fic com uma imagem linda feita pela querida leitora YanneTakizawa.

Beijos!