Café a Duas escrita por Joana A Dark


Capítulo 3
É só que eu me apavorei ao me ver tão feliz


Notas iniciais do capítulo

E aí pessoas, demorei um pouquinho mas voltei, pra esse capítulo não tenho nenhuma observação importante então sem mais delongas, boa leitura aí, enjoy!
~ recadinho nas notas finais, se eu fosse você, eu leria também viu ~



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Voltamos pra mesa e nos sentamos tentando agir como se nada tivesse acontecido até a hora de ir embora, despedi-me de todos com um aceno e de Heloísa com um rápido beijo na testa. Ganhei a rua com certa rapidez, visto que mal podia esperar que chegasse em casa, meus pensamentos estavam confusos e eu só queria deitar na minha cama e ficar em paz.

Quando cheguei em casa, tentei ir furtivamente em direção ao quarto para que pudesse passar despercebida, o que foi falho, já que minha mãe acabou me abordando, preocupada:

— Marina, eu tenho notado que você está distante desde o dia daquela festa... Aconteceu alguma coisa? Eu sou sua mãe, e você sabe que pode confiar em mim pra tudo. –

Aquela frase acabou por me fazer sentir uma ponta de culpa em tudo isso, porque tinha acontecido alguma coisa, muita coisa, mas nada que eu pudesse confidenciar-lhe sem temer ser odiada ou quem sabe expulsa de casa, eu amava minha mãe mais que tudo, e me doía imensamente ter que mentir:

— Não, nada de mais, deve ser o stress das provas chegando...Está tudo bem. – A abraço apertado e permaneço assim por um tempo, finalmente chego no quarto, jogo minhas coisas em qualquer lugar e sinto meu celular vibrar com uma mensagem:

H: Sobre hoje > MELHOR DIA!

As mensagens de Heloísa sempre eram sinônimo de alegria pra mim, mas aquela tinha algo de especial, porque me fez sentir diferente de uma forma inexplicável, como se eu não fosse só mais uma garota que ela quisesse beijar. Só que eu estava decidida a não me deixar levar por impressões, e não demonstraria nada até ter certeza de várias coisas, como os sentimentos dela, e até os meus próprios.

M: Tb gostei muito de hoje

H: E quando vamos sair dnv?

M: Veremos.

H: Tá distante...o que houve?

M: Nada, só tô cansada...

H: Ahh...vou te deixar em paz  então

Não queria incomoda-la com meus problemas, mas a questão da minha sexualidade era o que predominava em meus pensamentos, estar vivendo tudo isso é algo extremamente novo e difícil pra mim, o beijo, os carinhos, tudo poderia ser descrito como perfeito, mas em minha mente o fato de ser uma garota ainda era difícil de passar, afinal era UMA GAROTA.

Pode parecer preconceituoso ou homofóbico da minha parte estar pensando tudo isso, mas a causa principal de tanto transtorno é de que cresci ouvindo histórias com príncipes e princesas, vendo em novelas o galã tentar conquistar a mocinha e ouvindo da família um futuro sempre atrelado a palavra “ marido “, comentários como “ quando Marina crescer, Silvia, espero que Deus dê a ela um bom marido” eram comuns em noites de grandes reuniões como no Natal, e todas essas coisas faziam com que, pra mim, fosse quase impossível me imaginar chegando para a ceia com uma namorada, esposa, ou seja lá que tipo de relacionamento eu tivesse, sendo com uma pessoa do sexo feminino, já parecia errado em minha cabeça.

Fui tirada de meus devaneios pela vibração do celular indicando que eu havia recebido uma mensagem, era novamente Heloísa:

H: Ei, vc ta ai?

M: Tô, rlx linda.

             - Marina, tem macarronada de atum, venha comer antes que esfrie! –

Minha mãe me chamava pra jantar, era a macarronada de atum que eu adorava, estava uma delícia e acabei repetindo, o que fez com que a culpa me corroesse mais uma vez, já que minha mãe estava tentando me ver feliz, e eu estava sendo uma mentirosa. Ajudei-a a lavar a louça e fui tomar banho, antes de dormir e depois de ter me despedido de Heloísa passei a fazer uma pesquisa sobre coisas que pudessem ser úteis pra compreensão da minha sexualidade.

“ LGBT”, “ Bissexual”,” Homofobia”, ”Gay”, “ Lésbica”, todos esses termos já me eram conhecidos, mas nunca tinham feito parte da minha realidade como estavam passando a fazer, comecei a pensar que tinha medo da ideia por não conhecer e a partir do conhecimento esse medo iria sumir, afinal, quem não teme o desconhecido? Comecei a ler depoimentos de pessoas e vi que eu não era a primeira nem a última a me sentir dessa maneira, o que não resolveu o problema, mas ajudou e reconfortou muito. Eu vi em relatos, encontrei em histórias de pessoas desconhecidas, a orientação e o acolhimento que sabia que nunca iria receber em casa, e mesmo não sendo o ideal, foi o suficiente pra mim naquele momento.

Foram se passando os dias e eu acabava evitando Heloísa na escola, coisa que já havia explicado a ela que iria acontecer devido ao medo que eu tinha que minha mãe descobrisse, após ser bastante cobrada, e também por sentir muita saudade, acabamos marcando de ir ao cinema no sábado seguinte, dessa vez só as duas, em um Shopping bem maior que o de antes, quando contei para as meninas do beijo e do “ segundo” encontro, elas pareciam mais animadas que eu:

— Ai nem acredito, vocês são tão fofinhas, me conta tudo, eu vou querer saber T-U-D-O! – Bárbara parecia querer pular de felicidade, e me abraçou bem apertado

— Se eu não tivesse chamado vocês não teriam ficado né? Porque se dependesse da tua atitude Marina, não ia rolar nunca, ô menina morta tu! – Vick ria enquanto me olhava.

— Eita, eu quero ser a madrinha desse casamento aí, viu? – Brincou Verônica enquanto arrumava uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Tu tem que pegar ela e agarrar, dar uns beijos, assim olha. – Fabiana puxa o rosto de Gabriela e dá uma lambida em sua bochecha, a deixando toda babada.

— Sai Fabi, eca que nojo! Tô muito feliz amiga, mas sem a baba dessa outra aqui! – Gabriela lança um olhar de desdém pra Fabiana, que começa a rir.

— Ei Mari, vem cá, nesse Shopping eu conheço um lugar...- Bárbara puxa minha cabeça e cochicha algo em meu ouvido.

— Deixa comigo que vai dar certo, mas valeu! E Verônica, pra todos os efeitos sábado eu vou ao cinema é contigo, viu?  – Sorria e bagunçava o cabelo dela.

A semana passou quase voando, e ao chegar o dia de sábado, me arrumei cuidadosamente, soltando o longo cabelo castanho, cacheado nas pontas, me muni do batom vermelho que destacava bem a boca, apesar de usar mais maquiagem na boca, e até gostar dela, o que mais me agradava no rosto eram os olhos, grandes e escuros, mas sem serem esbugalhados, escolhi uma calça bege e sapato de salto baixinho, bonito e confortável de andar, com blusa branca que contrastava bem com o tom da minha pele mestiça. Com tudo pronto, já estava para sair de casa quando minha mãe comenta:

— Toda arrumada assim só pra ir no cinema com a Verônica? Cuidado viu mocinha, está linda! – Ela ri, passando a mão por meu cabelo.

— Bem, nunca se sabe quem vai encontrar por aí mãe...vou logo pra não me atrasar! – A beijo no rosto e saio, triste por estar a enganando, apesar de não ter outro jeito.

Chego no horário combinado e, ligando pra Heloísa, ela me diz que vai se atrasar então eu a espero na fila do cinema. A vejo chegando de longe quase meia hora depois, de short jeans, tênis e uma camiseta preta escrito “ Star Wars” que marcava bem seus seios,eles eram bem fartos e eu creio que ficariam marcados em qualquer roupa que ela usasse, vinha com os cabelos negros, que apesar de lindos soltos ela insistia em prender num rabo de cavalo, vê-la me fez perder qualquer vontade que existia de brigar pelo atraso.

Quando ela para do meu lado, percebo que o sapato havia me deixado maior que ela, apesar de sermos quase do mesmo tamanho, Heloísa ainda era mais alta que eu. Depois de ter os ingressos em mãos fomos comprar comida rapidamente pra não atrasarmos ainda mais e entramos com o filme nos trailers, acabamos ficando de novo dentro do cinema como era esperado, mas eu ainda tinha planos para aquela tarde que não acabavam no filme.

Ao final da sessão, fomos pro andar da praça de alimentação, e como a Babi tinha me dito, procurei a escada de emergência e lá foi onde tivemos um pouco mais de privacidade, puxei Heloísa pela nuca e a beijei com urgência, ela já descia mãos ao meu bumbum e o apertava com força, o que me deu coragem para massagear carinhosamente seu seio esquerdo durante o beijo, que acabou se repetindo várias e várias vezes, até que chegou a maldita hora de ir embora.

A despedida foi demorada e sofrida para ambas, e ao me deixar na parada de ônibus, ela começou a me tratar com frieza sem motivo aparente, o que me deixou transtornada, subi no ônibus e fiz o caminho de volta pra casa pensando em tudo o que tinha acontecido, me vendo cada vez mais entregue a Heloísa, a querendo e ao mesmo tempo lutando para não querer. Chegando em casa meu celular vibra com uma mensagem dela, que resolvo ignorar até a hora em que achasse que devia. Me esforcei o resto da noite para não pensar nela, o que acabou sendo um pouco em vão, porque a garota sempre me ocorria no pensamento, quando eu menos esperava, lá estava ela tomando conta da minha cabeça outra vez. Antes de ir dormir passei por minha mãe e a dei um beijo de boa noite, ao me deitar, eu finalmente leio a mensagem que Heloísa havia me deixado:

H: Desculpe-me por ter meio que te ignorado na hora de ir embora, eu não queria que você fosse e isso acabou me deixando daquele jeito, o fato de querer que ficasse. Por mim, aquele nosso momento poderia se prolongar por horas e horas, sem que eu notasse que o tempo havia passado. Espero realmente que desculpe meu comportamento, o que eu menos quero é você com raiva de mim ou chateada por minha culpa, sinto muito mesmo.


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Notas finais do capítulo

Quem quiser ler pelo Spirit pq prefere ou,sei lá, também tô postando lá:
https://socialspirit.com.br/perfil/joanaadark
Muito obrigada por ter lido, e até o próximo capítulo! *-*