The Lost boy Returns escrita por MagnusChase


Capítulo 1
Aniversário de Sete Anos




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Poseidon estava sentado no banquinho de um bar, bebendo a sexta rodada. Ele desligou seu celular, e sabia que quando o religasse haveria uma dúzia de mensagens não recebidas. Poseidon não queria ser incomodado, ele só queria ficar ali e beber até poder esquecer que dia era hoje.

Ele não percebeu quando seu irmão entrou pela porta. Hades bufou quando o viu. Vestido todo de preto, parecia uma sombra se movendo pelo estabelecimento. Hades se sentou do lado de seu irmão mais velho e pediu ao garçom dois dedos de uísque.

—O que você quer, Garoto da Morte?- Poseidon falou, emburrado.

Hades riu.

Tinha ganhado esse apelido na família após abrir seu próprio necrotério. O apelido acabou ficando.

—Não posso deixar meu irmão favorito passar o dia se embriagando, posso?

—Porque não? Eu sou um adulto, posso cuidar de mim mesmo.

Hades o olhou preocupado. Com sua camiseta havaiana, seus calções de mergulho, aquele chapéu de pescador na sua cabeça e aquela expressão de cachorro perdido, Poseidon parecia mais miserável do que nunca.

—Você sabe que Sally ligou na Mansão Olympus uma dúzia de vezes, morta de preocupação?

Poseidon não respondeu. Encarou sua bebida, provavelmente imaginando se iria para cadeia se quebrasse o copo na cabeça de Hades.

—Você sabe que dia é hoje? – Poseidon perguntou, mudando de assunto.

Hades suspirou.

—Sim, todos nós sabemos. Fazem sete anos desde que Percy desapareceu.

Poseidon concordou com a cabeça.

E ele provavelmente está morto, Hades pensou, mas não disse.

—Tudo que eu consigo pensar é que ele está ferido, ou assustado e eu não estou lá para ajudar ele.- Poseidon disse, olhando para seu copo.

O Garoto da Morte não sabia o que dizer. Ele preferia os mortos. Os mortos eram previsíveis, nunca machucavam ninguém. Os vivos, no entanto? Um drama atrás do outro. Sua especialidade nunca foi consolar as pessoas.

—Olha, porque não voltamos para Olympus e conversamos sobre isso lá? A última coisa que você vai querer é um bando de repórteres filmando você bêbado.

Poseidon riu, fazendo Hades sorrir. Dos três irmãos, Hades era o mais sensato e não importa o quanto ele odiasse os outros dois, ele cuidava deles.

O Cabeça de Peixe – Poseidon tinha esse apelido por ser um pescador – ficou sério novamente.

—Foi alguém da família. –Sussurrou para si mesmo.

Hades teve que aproximar sua cabeça para ouvir.

—Como assim, Poseidon?

—Alguém da família o matou. Todos sabem que inimigos eu tenho de sobra. Alguém queria me ferir e foi atrás do meu garoto.

O Garoto da Morte ficou em silêncio. Seu irmão havia compartilhado sua teoria com ele meses atrás. Hades gostaria de dizer que ele estava errado, mas não podia. A família Olympus era cheia de intrigas familiares e mortes misteriosas, com mais azar do que os Kennedy. Poseidon não era só um simples pescador, ele construiu um império sobre a exportação de congelados e muitas pessoas adorariam derrubá-lo. Mas seriam capazes de cometer assassinato?

Hades meneou a cabeça.  Não queria dizer, mas alguém tinha e seria melhor se ele ouvisse de seu irmão favorito do que de Ares ou Hermes.

—Como você sabe que Percy ainda está vivo?

Poseidon olhou para Hades, avaliando o que ele ia dizer. Suspirou.

—Eu sou o pai dele, e um pai sabe. Percy sempre foi uma criança determinada mesmo quando pequeno. Se lembra da briga com Ares?

Hades riu. Como ele poderia esquecer? O acontecimento se tornou uma lenda dentro da família. Ares tentou tirar o skate de Percy como castigo e o resultado foi um skate no nariz e uma visita ao hospital. Enquanto Apolo consertava o nariz quebrado de Ares, Percy foi dar uma volta no parque de skate para secar o sangue seco da tábua.

Percy Jackson sempre foi um guerreiro, não importa o que outros digam, ele não ia desistir sem uma luta. Hades sentiu uma pontada de dúvida. Talvez seu irmão estivesse certo.

 Engoliu seu uísque em uma virada enquanto Poseidon pedia mais uma cerveja. O telefone de Hades começou a tocar e quando ele verificou quem era, guardou o celular frustrado.

—Sally? –Poseidon perguntou.

O irmão assentiu. Poseidon suspirou novamente.

—Eu deveria ligar para ela.

—Sim, você deveria. Você não foi o único que perdeu algo naquele dia.

Poseidon sentiu a culpa o invadindo, mas tentou ignorar o sentimento. Ele se levantou, pagou as bebidas e se encaminhou para fora do bar com Hades o seguindo.

Poseidon ergueu a mão para bloquear o sol, apertando seus olhos. Sentiu Hades dando um tapa em seu ombro e se virou.

—Vamos pedir um táxi, não?

Os dois irmãos começaram a andar a procura de uma carona.

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Leo terminou de beber sua Coca-Cola enquanto digitava ferozmente no computador. Tocha, como seu apelido era na Internet, era o hacker mais experiente de toda a Califórnia. Seus melhores amigos Piper e Jason sabiam de seu hobby, mas não aprovavam.

Tocha abriu um programa chamado Narciso.124 que procurava por palavras chaves em arquivos de polícia e delegacias. Se ele quisesse saber sobre roubo, só precisava digitar “roubo” no sistema e todos os relatórios de roubos acontecidos nas últimas semanas iriam aparecer na sua tela.

As palavras-chaves desse mês eram “Olympus” e “seqüestro”. Desde ano passado, Tocha passava uma boa parte do seu tempo procurando por notícias de Percy. Sabia que as chances dele estar vivo eram mínimas, mas desde que entreouviu Tio Poseidon e Quíron – o tutor da família Olympus – conversando sobre o assunto, ficou interessado.

Se lembrava nitidamente da conversa que ouviu. Eram duas da manhã na Mansão Olympus, quando sentiu uma fome repentina e decidiu ir lá embaixo para pegar algo para comer. Quando estava descendo as escadas distinguiu a voz de Quíron dizendo:

—...sinto muito, Poseidon. Se eu soubesse que Percy iria desaparecer, teria prestado mais atenção.

Houve um silêncio. Leo parou de se mover, porque tinha consciência de que essa era uma conversa privada e não queria se meter em encrenca. Então Tio Poseidon respondeu.

—Não foi sua culpa, Quíron. Eu só não entendo porque um dia antes de Percy desaparecer ele foi falar com você?

—Parecia importante, Percy estava muito agitado. Acho que ele pressentiu que algo ia acontecer e tentou me avisar. Eu deveria ter ouvido.

—Está tudo bem. Mas isso significaria que Percy sabia que alguém vinha atrás dele. Se esse for o caso...

Ele deixou a frase no ar. Leo ouviu Poseidon se dirigir as escadas. Com o coração martelando no peito, Leo correu para seu quarto e se escondeu debaixo das cobertas. Mas ninguém bateu na porta, então ele relaxou.

Segundo a conversa secreta entre Quíron e Poseidon, antes de sumir Percy sabia que algo estava prestes a se desenrolar. Mas como? Ou melhor, quem?

Por essa razão decidiu começar a investigar, tipo Lisbeth Salander. Se alguém podia resolver aquele crime, seria Leo.

 Seus amigos não sabiam no que ele estava trabalhando e também não perguntavam, o que dava à Tocha liberdade total para investigar.

Leo estava prestes a desistir e ir fazer um sanduíche quando seu computador emitiu um barulho. Se voltando para a tela, viu que havia encontrado algo. Clicou no relatório da delegacia de Gracepoint, sob o comando do Det. Marris Ongell. Seus olhos se estreitaram quando leu a primeira linha.

Na sexta-feira de 17 de Abril, um garoto de dezesseis a dezoito anos de estatura mediana, com cabelo negro e olhos verdes, machucado e assustado, foi encontrado vagando pelas ruas de Gracepoint, Indiana.  Não emitiu um som ao ser preso e levado à custódia. Parece ser mudo. Foi encaminhado para o hospital e exames de DNA irão revelar quem são seus pais.Tudo indica possível seqüestro. Esse caso me lembra do caso Olympus. Eu odeio casos assim.

Cabelo negro? Olhos verdes? Parece muito com Percy.

Mas porque esse detetive mencionou o caso Olympus? Ele suspeita que aquele garoto seja Percy Jackson? Poderia ser?

O relatório dizia que o garoto havia sido encontrado duas semanas atrás. Isso é tempo o suficiente para o exame de sangue sair, então porque eles não foram avisados ainda?

Tocha abriu um programa que lhe dava acesso a Deep Web, ou seja, o local onde armas e outras coisas ilegais eram comercializadas via contas no Caribe. Ele não tinha contas no Caribe, mas Paypal servia.

Tocha aqui. Preciso de ajuda num projeto.

Esperou alguns segundos pela resposta. Sempre tinha alguém online em algum lugar do mundo.

Qual projeto?E quanto você paga? Butter falando.

Leo sorriu. Dinheiro nunca era um problema quando se trabalhava na loja de seu pai, o mecânico mais famoso de todo o país. Estralou seus dedos, e se pôs ao trabalho.

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O jantar da família Olympus foi relativamente calmo, o que era estranho já que na maioria das vezes os jantares de família eram sempre tensos. Mesmo antes do desaparecimento de Percy, as refeições eram cheias de brigas e desentendimentos. Nesse jantar em questão, Poseidon estava calado enquanto Sally tentava compensar falando pelos dois.

Sally não era oficialmente uma Olympus, mas todos da família gostavam dela, especialmente Atena.  O que era irônico, já que Atena detestava Poseidon.

O jantar continuou bem, até que o smartphone de Leo tocou.

—Você sabe as regras, Leo. Sem celulares na mesa. –Apolo falou.

—Sim, eu sei. Mas é importante.

Ele pegou o celular enquanto Jason e Piper trocavam um olhar. Leo leu a mensagem.

O detetive do relatório trabalhou no caso Olympus antes de se mudar para Gracepoint. E também, o garoto desapareceu três dias depois de ser encontrado. Sumiu. Ninguém sabe para onde ele foi. O exame de sangue foi inconclusivo. Foi mal. – Butter.

As engrenagens na cabeça de Leo começaram a girar. Ele sumiu? Desapareceu? Se os exames foram inconclusivos, não há forma de provar que aquele rapaz é Percy. E se ele sumiu, foi por conta própria ou ele foi seqüestrado?

—Qual o problema, Leo? –Hazel perguntou.

Toda a atenção da mesa foi para o garoto. Pela expressão no rosto dele, algo tinha acabado de acontecer. Leo pensou se deveria contar a verdade ou não. Olhando no rosto de Tio Poseidon e Tia Sally ele percebeu que se estivesse errado, só traria mais sofrimento para essa família.

Então tomou uma decisão.

—Nada demais, só um pequeno projeto meu. – Ele mentiu.

Os outros assentiram. Leo estava sempre construindo coisas e surfando na Internet, fazendo sabe o que. Hefesto sabia que era melhor não perguntar.

O pessoal continuou a comer.

Naquela mesma noite, eram quatro da manhã quando Frank abriu seus olhos. Ele não sabia o porquê de ter acordado no meio da noite, mas alguma coisa havia o deixado incomodado. Talvez tenha sido a expressão no rosto de Leo quando recebeu aquele SMS, como se ele estivesse escondendo algo.

Ou o quanto deprimido Tio Poseidon parecia estar.

Todo ano era a mesma coisa, aquele sentimento de tensão dentro da casa como se só mencionar o nome de Percy fosse um pecado. Todos eles tinham crescido juntos dentro da mansão, os sete mais Thalia e Nico. E quando Percy não voltou para casa um dia desses, isso mudou a vida da cidade inteira. Houve buscas no condado inteiro de Rockwell para achar o garoto perdido, mas sem sucesso.

Annabeth, Thalia e Nico foram os que sofreram mais. Annabeth porque ela gostava de Percy, isso não era nenhum segredo. E os primos porque eles eram como irmãos para o Garoto-Peixe, como Thalia costumava chamar Percy.

Mas mesmo assim, todo ano ele fazia falta para a família inteira. Você não podia olhar para o mar ou ir nadar na piscina do clube sem sentir sua falta e se perguntar, o que aconteceu?

Frank decidiu que ele não conseguiria voltar a dormir e saiu da cama.

Foi até a porta e olhou para fora no corredor para verificar que não havia ninguém lá. Então voltou para dentro do quarto e trancou a porta. Sozinho no meio do escuro foi tateando até seu armário e abriu a porta de madeira com um rangido.

 Na última estante havia uma caixa decorada com desenhos chineses e fechada à chave. Frank pegou a caixa e voltou para cama. Tirou a chave que carregava no pescoço e abriu a caixa, onde lá dentro, havia algo grande enrolando em um pano.

O garoto grandalhão ainda se lembrava da última conversa que teve com Percy. Há sete anos, Percy o acordou à meia-noite o convidando até o jardim para uma conversa noturna.

—O que nós estamos fazendo? –Frank havia perguntado a ele, sonolento.

Percy sorriu com mistério e fez um sinal pedindo silêncio. Eles foram até o jardim de trás onde as esculturas de arbustos em forma de animais formavam sombras assustadoras no chão. A piscina estava coberta e as espreguiçadeiras estavam cheias de folhas. O vento soprava fazendo barulho nos sinos de vento que Rachel havia insistido em colocar.

Percy havia se voltado para ele, sorrindo.

—Frank, você é um cara incrível. Você é inteligente e um líder nato.

O garoto rechonchudo ficou vermelho com esse elogio, mas porque era noite não deu para notar.

—Quero que você fique com isso. –Continuou Percy, entregando para ele um pedaço de madeira.

Frank aceitou o presente e olhou para ele confuso. Na madeira alguém havia gravado um endereço: Ocean Sheys, Collogan, 17748.

—O que...? –Frank começou a dizer, mas Percy o interrompeu.

—Guarde isso num lugar seguro, Frank. Até eu poder pegar de volta.

Frank concordou, mesmo sem entender.

Agora, sentado na cama sete anos depois, Frank entendeu. Ele era uma mera criança na época, mas agora? Era praticamente um homem. Ele agora sabia que Percy tinha a suspeita de que algo ia acontecer. Poderia não saber exatamente o que era, mas sabia que algo estava próximo.

Frank pensou em contar para os outros sobre o endereço milhares de vezes, mas sempre acabava mudando de idéia. Ele tentou encontrar a rua no Google, mas não houve resultados. Poderia pedir ajuda para Leo, mas seu orgulho sempre falava mais alto. Então guardou segredo.

Todo ano Frank pensava em como aquelas palavras e números poderiam estar ligados ao desaparecimento de Percy.

Como poderia achar um endereço que não existia? E porque Percy confiou isso nele, de todas as pessoas? Abrindo a caixa, ele removeu o pedaço de madeira do pano e olhou a inscrição. Ocean Sheys, Collogan, 17748.

Qual era o significado daquilo?

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Eram quatro da manhã e Artemis ainda estava trabalhando. Ela tinha uma pilha de relatórios que precisava escrever e dois casos para investigar. E ela não pretendia parar até resolvê-los. Não era a toa que seu apelido na delegacia de Rockwell era A Caçadora, porque ela nunca desistia.

Ouviu o sino em cima da porta da delegacia tocar e fechou a sua pasta, preparada para enfrentar o que viesse. Talvez fosse uma mulher idosa reclamando de alguém ter roubado sua bolsa. Ou um vândalo que pichou o muro. Ou até um criminoso qualquer.

Mas quando ergueu os olhos, avistou um garoto adolescente. Ele usava jeans e camisa grandes demais para serem dele. Era desajeitado como se tivesse crescido em um lugar pequeno demais. Seu cabelo estava oleoso e havia olheiras embaixo de seus olhos, uma atadura em seu braço direito e ele mancava na perna direita também. Seu cabelo era negro como piche e seus olhos eram verdes.

Artemis tomou nota de tudo isso enquanto observava o rapaz. Era seu trabalho ser a melhor em seu esquadrão. O garoto se aproximou do quadro de recados e ficou lendo os avisos de desaparecidos. Artemis suspirou.

Os outros policiais de plantão ignoraram o rapaz, significando que ela teria que cuidar desse caso ela mesma. Pela atadura e pelo corpo desnutrido do garoto, ele deveria ter sofrido algum tipo de abuso. Todo policial odiava casos desse tipo, crianças e mulheres principalmente.

Artemis se levantou e andou até onde o garoto estava. Ela decidiu contra tocar ele no ombro porque não sabia como ele poderia reagir. Ao invés, tossiu disfarçadamente.

O garoto se virou. A Caçadora hesitou. Havia algo familiar sobre ele, mas ela não conseguia entender o que era. Estudou seu rosto tentando se lembrar mas não conseguiu.

Artemis respirou fundo.

—Posso ajudar com algo? –Ela perguntou.

O garoto apontou a mão enfaixada para um cartaz de desaparecido com a foto de Percy Jackson.

Artemis sentiu um frio na barriga, mas se forçou a perguntar.

—O que você sabe sobre Percy Jackson?

O garoto a olhou confuso.

Artemis sabia o que ele ia dizer antes de responder.

—Eu sou Percy Jackson. –Ele disse.

 


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