Não Diga que Me Ama escrita por Sabrina Azzar


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Dia de Cap novo! =)
Espero que gostem!
Boa leitura...



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Katniss

 “Bem eu sinto que no fundo do seu coração

Há feridas que o tempo não poderá cicatrizar

Que o tempo não poderá cicatrizar

E sinto que alguém, em algum lugar está tentando respirar

Bem, você sabe o que eu quero dizer

Este é um mundo louco

Mantém a mulher acorrentada”

Tears For Fears – “Woman In Chains”

 

No começo eu estava relutante, não queria cantar em público. Eu tinha vergonha. Mas a insistência de Prim e Peeta me fez subir até o bendito palco, com apenas uma música em mente.

Fight Song falava muito sobre como eu estava me sentindo nos últimos dias, com vontade de lutar e quebrar as malditas correntes que não me deixavam ser feliz, que não me deixavam amar e quando deixei a voz escapar da minha garganta me convenci que podia sim.

Mesmo que Peeta não soubesse, ele me fazia ser forte, me fazia querer lutar por algo que eu jamais achei que superaria. E quando seus olhos brilharam para mim enquanto eu cantava com a multidão vibrando, eu tive certeza de que o amava.

Confesso que senti medo. Medo de a vida o levar de mim, assim como levou minha mãe e irmã.

Mas na minha inocência me apeguei á ideia de que desde que eu não dissesse em voz alta que o amava, talvez ela não pudesse ouvir.

***

O meu domingo estava tranquilo, quente como um forno, mas ainda sim tranquilo e eu decidi que passaria o dia com meu pai. Fazia algum tempo em que não fazíamos um programa juntos e eu precisava do seu colo, assim como eu sabia que ele precisava do meu.

Depois do acidente nós meio que nos afastamos um pouco e eu queria recuperar aquele tempo, não queria me arrepender de nada se um dia eu o perdesse. E mesmo sendo difícil admitir aquilo á mim mesma, eu sabia que não teria meu pai comigo por muito tempo.

Ele estava doente, mesmo que não tivesse me contado, eu sabia que estava. Eu podia ver em seu rosto pálido e cansado que ele não estava bem e aquilo me doía o peito de uma forma que eu não conseguia explicar.

— O que vamos fazer hoje á tarde pai? — perguntei beijando sua bochecha e ele sorriu, virando-se para me olhar enquanto tomava o seu café da manhã.

— Eu vou fazer o que sempre faço aos domingos, e você? O que vai fazer hoje?

— Vou fazer o que o senhor for fazer — sorri me sentando á mesa.

— Você vai fazer palavras cruzadas na varanda? — perguntou arqueando uma das sobrancelhas e eu assenti colocando suco em um copo. — Quer que eu leve você ao hospital?

— Pai...

— Não está doente? — fiz que não enquanto tomava um grande gole do liquido vermelho em meu copo. — Você odeia palavras cruzadas.

— Não é pela atividade, e sim porque quero ficar meu pai, e se ele vai fazer palavras cruzadas na varanda, então eu também vou — o senhor Landon me encarou desconfiado e eu ri observando-o tomar uma xícara de chá.

Terminamos nosso café da manha, contando como havia sido a semana um do outro. Contei á ele sobre o meu passeio ao circo com Peeta e Prim e que a pequena havia ficado encantada com tudo, já que era a sua primeira vez. Meu pai gostava muito ela, ele dizia que lembrava a minha irmã e tinha um carinho muito especial por ela, assim como eu.

Quando ele foi se levantar para ir até a cozinha, lavar a louça que havíamos sujado, eu pedi que fosse até o sofá que eu me encarregaria de fazer aquele serviço. Ele não quis de inicio, mas sabia que eu era teimosa e acabou cedendo, dizendo que a louça do almoço ficava por sua conta. Eu concordei, mas não o deixaria lavá-la, hoje eu faria o seu papel, cuidaria dele assim como ele sempre fez comigo.

Poucos minutos depois eu já havia terminado, não tinha muita coisa para ser lavada e resolvi que faria algo diferente para comermos na hora do almoço. A senhora Rodriguez, que cuidava da casa de Peeta me ensinou uma receita ótima e super fácil de arroz cremoso.

Eu a tinha marcado em meu notebook, então fui correndo até o quarto para ver quais ingredientes eu precisaria.

400 g de presunto

3 xícaras de arroz branco cozido, bem soltinho

250 g de queijo mussarela em cubos

2 tomates maduros sem pele e sem sementes, em cubos

1 vidro de azeitonas sem caroço picadas

1 lata de creme de leite

1 lata de milho

1 colher de chimichurri

Sal a gosto

Queijo ralado para polvilhar

 

Algumas daquelas coisas nós tínhamos em casa, outras eu teria que ir ao supermercado para comprar, mas havia algo que eu não fazia ideia do que era.

Chimichurri.

Que diabos é chimichurri?

 

Anotei em um papel todos os ingredientes que precisava e fui até a sala, onde meu pai via um programa de TV qualquer.

— Pai, vamos ao supermercado comigo? Quero fazer uma receita que a senhora Rodriguez me ensinou.

— Claro minha filha, me espera trocar de roupa?

— Preciso me trocar também, nos vemos no carro em quinze minutos? — meu pai assentiu e se levantou, indo em direção ao seu quarto. — Ah pai! — gritei antes de ele chegar a porta, e então se virou, confuso. — O que é chimichurri? — ele gargalhou colocando as mãos na barriga e fez que não com a cabeça.

— Não sei não — e dito isso ele entrou em seu quarto, ainda dando risada. Dei de ombros, confusa e fui até o meu, tirar o pijama que estava vestindo.

Coloquei um short jeans de cintura alta e lavagem clara, um top trançado em “x” no busto na cor rosa claro, um tênis branco e rosa da Hello Kitty que havia ganhado do meu pai no aniversário anterior e uma bolsa na cor nude. Usei alguns acessórios e uma maquiagem clara, também na cor rosa; peguei meu celular, meus óculos de sol aviador e coloquei o papel com os ingredientes no bolso de trás do short.

Acabei por deixar o cabelo solto, com alguns cachos caindo em meus ombros e fui até o carro onde meu pai me esperava, ouvindo músicas antigas na rádio local.

Dei a volta e entrei no Ford Ka preto, recebendo um sorriso sincero em seguida.

— Pronta?

— Prontíssima — respondi empolgada, jogando a bolsa no banco de trás.

Meu pai deu partida no carro e eu aumentei o volume do som, reconhecendo a música que estava tocando. Não resisti e comecei a cantar junto.

Eu não consigo mais lutar contra este sentimento

E, no entanto, tenho medo de deixá-lo fluir

O que começou como uma amizade tornou-se mais forte

Eu só queria ter a força para demonstrar isso

 

Eu digo a mim mesmo que não posso resistir eternamente

Eu digo que não há motivo para meu receio

Pois me sinto tão seguro quando estamos juntos

Você dá rumo a minha vida, Você deixa tudo tão evidente

 

Meu pai me olhou sorridente, talvez surpreso por eu saber a letra de cor e soltou a voz junto comigo enquanto dirigia atentamente.

E mesmo enquanto eu vagueio, estou mantendo você à vista

Você é uma vela na janela, Numa fria e escura noite de inverno

E estou me aproximando mais do que jamais pensei que poderia

 

E eu não consigo mais lutar contra este sentimento

Eu esqueci pelo que comecei a lutar

Está na hora de trazer este navio para a praia

E jogar fora os remos, para sempre

 

Pois eu não consigo mais lutar contra este sentimento

Eu esqueci pelo que comecei a lutar

E se eu tiver de rastejar no chão

Chegarei derrubando sua porta

Querida, não consigo mais lutar contra este sentimento

 

Aquela música tinha muito significado, pois foi a que tocava quando os meus pais se beijaram pela primeira vez, e reparando bem na letra, ela se encaixava perfeitamente comigo. FPeetado dos sentimentos que eu guardava dentro de mim, aqueles que eu não conseguia deixar transparecer.

Minha vida tem sido como um vendaval desde que vi você

Eu tenho corrido em círculos dentro de minha mente

E sempre parece que estou seguindo você, garota

Pois você me leva aos lugares que eu sozinho nunca encontraria

 

E mesmo enquanto eu vagueio, estou mantendo você à vista

Você é uma vela na janela, numa fria e escura noite de inverno

E estou me aproximando mais do que jamais pensei que poderia

 

E eu não consigo mais lutar contra este sentimento

Eu esqueci pelo que comecei a lutar

Está na hora de trazer este navio para a praia

E jogar fora os remos, para sempre

 

Pois eu não consigo mais lutar contra este sentimento

Eu esqueci pelo que comecei a lutar

E se eu tiver de rastejar no chão

Chegarei derrubando sua porta

Querida, não consigo mais lutar contra este sentimento

 

Quando a canção terminou e outra se seguiu depois dela, eu e meu pai nos olhamos de maneira cumplice e sorrimos, parecendo entender tudo o que se passava no coração um do outro. Ele sabia os meus medos e eu sabia os dele.

E aquele segredo nos unia de uma forma que eu jamais conseguirei explicar, mas também não tinha problema, desde que fosse vivida.

***

Enquanto andávamos pelos corredores do supermercado, procurando as coisas que precisávamos para fazer o almoço, meu pai me perguntou como estava indo o colégio e o tal programa de música.

— Está tudo bem pai, o programa de música é ótimo e estou pegando rápido o jeito com o violão — respondi contente, enquanto alcançava o vidro de azeitonas sem caroço.

— E o violão? Você está precisando de um? — aquele era um assunto delicado, o qual eu não estava disposta a discutir com meu pai.

— A Annie me emprestou um dos seus e disse que não precisa dele — sorri e continuei andando, empurrando o carrinho com as compras.

— O que mais falta para pegar? — olhei para o papel em minhas mãos e vi que o único ingrediente que faltava era o bendito chimichurri.

— Aquele tal de chimichurri — respondi revirando os olhos. — Como é que eu vou comprar algo que eu não sei o que é?

— Fica calma — meu pai riu. — Nós podemos perguntar para alguém — assenti e olhei em volta, procurando alguma alma viva, mas tudo o que eu vi foram cabelos castanhos escuros, bagunçados com gel de cabelo, e mais a frente uma garotinha que corria até o corredor de doces.

Encarei atentamente a cena, pendendo a cabeça para o lado, esperando que algum deles me visse, e quando o garoto se virou, procurando por algo nas prateleiras um sorriso esperto brotou em seus lábios carnudos.

Sorri em resposta e coloquei uma mecha que caia em meus olhos atrás da orelha, com a mão que não segurava o papel eu fiz um leve aceno que foi correspondido por um seu.

— Oi — não ouvi sua voz, mas só entendi porque estava encarando seus lábios se movimentarem, formando a pequena palavra de apenas duas vogais.

— Oi — respondi com as bochechas coradas.

Eu simplesmente odiava o jeito como ficava na sua presença, toda tímida, com cara de idiota. Droga! Não ia demorar muito para ele descobrir sobre meus sentimentos.

Não percebi que ele havia chegado tão perto, só me dei conta quando os pequenos braços de Prim enlaçaram a minha cintura.

— Ei Prim — falei abraçando-a de volta.

Meu pai e Peeta estavam se cumprimentando quando eu realmente acordei da divagação. Prim estava me contando que ela e Peeta iam fazer brigadeiro de panela e que depois passariam na locadora, pegar alguns filmes para verem juntos na parte da tarde. Só desviei a atenção da pequena quando ouvi meu pai convidá-los para almoçar conosco, em casa.

Droga! Ele havia ficado maluco? Como ele podia fazer uma coisa daquelas comigo? Eu com certeza bolaria um bom sermão para lhe dar quando chegássemos em casa.

Conversa vai, conversa vem e Prim embalou em um papo com meu pai sobre seu cachorro, Jake e como ele havia crescido desde a última vez que ele o viu, e eu acabei ficando pra trás, empurrando o carrinho sem rumo, com Peeta ao meu lado empurrando o seu em silêncio.

— Então... — ele começou. — Seu pai disse que você vai cozinhar — sem olhar nos seus olhos eu assenti com a cabeça, ainda sem jeito por causa da noite anterior e o seu gesto impensado de não largar a minha mão. — Vai cozinhar o que?

— Arroz cremoso, aquela receita que a senhora Rodriguez me ensinou.

— Já pegou tudo? — perguntou vasculhando meu carrinho com os olhos.

— Ainda não, falta o maldito chimichurri! — falei irritada. Tinha até me esquecido de procurar aquela porcaria.

— Qual o problema com ele? — perguntou rindo, e eu levantei a cabeça, para olhá-lo nos olhos.

Arrependi-me na mesma hora, pois aquele sorriso que me desmontava estava estampado em seu rosto e eu senti meu coração palpitar enquanto minhas pernas bambeavam. Traidoras! Tive que me segurar com força no carrinho para não cair.

— Eu não sei o que é — sussurrei envergonhada e ele fez um aceno com a cabeça, na direção do corredor de temperos.

— Vem cá — o loiro guiou seu carrinho até lá e eu o segui, caminhando logo atrás. — É isso aqui — pegou de uma das prateleiras um vidro cumprido, com um conteúdo escuro dentro, colocou-o nas minhas coisas e sorriu. — Eu já tive que comprar para a senhora Rodriguez, também não sabia o que era quando ela me pediu — e então ele gargalhou, deixando-me mais leve a ponto de lhe acompanhar.

Voltamos a andar lado a lado, procurando meu pai e Prim, e quando os encontramos eles estavam na sessão de animais, vendo brinquedos de cachorro. Eu sorri imaginando minha irmã ali e tive que fazer força para segurar as lágrimas que estavam pedindo para cair.

Balancei a cabeça a fim de espantar a tristeza e cheguei perto, pegando o vidro de chimichurri nas mãos.

— Achamos o bendito.

— Eu achei você quis dizer, não é? — mostrei a língua e lhe dei um soquinho no ombro, vendo-o se fazer de vítima, puxando o braço.

— Para de graça, nem foi forte — rolei os olhos e ele riu, seguido por meu pai e Prim.

Depois de Peeta terminar de pegar suas coisas, nós fomos juntos até o caixa, pagamos pelas nossas compras e demos uma carona para os dois até a locadora. Combinamos de nos encontrar ao meio dia.

Meu pai e eu chegamos em casa por volta das dez da manhã, e retiramos as compras do carro, levando-as até a cozinha.

— Começamos fazendo o que? — perguntou esvaziando as sacolas.

— Hmm... Primeiro tenho que fazer o arroz, o senhor pode tirar a pele do tomate, as sementes e picá-los em cubinhos? — ele assentiu, retirando uma faca grande da gaveta e abriu o pacote com tomates.

Coloquei uma música qualquer para tocar no meu celular e deixei no aleatório enquanto preparava o arroz. Algumas vezes eu usava a colher de pau como microfone, e meu pai ria, usando duas colheres como baquetas no balcão de madeira.

Eu estava me divertindo com ele, parecia que nem havia problemas, nem cicatrizes e muito menos correntes nos prendendo ao passado. Parecíamos uma família feliz de novo, mesmo que essa família fosse composta apenas por pai e filha.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Digam nos comentários amores! ;D
Beijos e até os reviews!



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