Make Your Choice escrita por Elvish Song, SraFantasma


Capítulo 17
Conversa no Jardim


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui, outra vez! O que esperam para este capítulo? Garanto que vão se surpreender... Boa leitura!



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— Eu... Eu não sei se tenho forças, doutora... – sussurrou a jovem, um tanto envergonhada, fitando as mãos que jaziam no colo.

— É claro que tem! – a mulher lhe segurou o rosto e a fez erguer o olhar – não sabemos a força que temos, até carecer dela.

— Mas... Eu não consigo ficar perto de pessoas! Fui ontem até a cidade e, por Deus! Achei que ia desmaiar de tanto medo! Não consigo, não consigo! Eu tentei, mas... É mais forte do que eu!

— Não diga isso, criança – a médica parecia compreensiva e gentil – eu sei que parece ser um abismo do qual nunca conseguirá sair, mas a reabilitação é um processo. Depende de tempo e esforço, mas vem, afinal. Sei que agora você não vê esperança, mas...

— Não, doutora! – Exclamou a moça, levantando-se de supetão – Eu duvido que saiba! Não quero duvidar de sua boa vontade, mas... – ela escondeu o rosto nas mãos – se eu conseguisse pôr em palavras como me sinto...

Um breve momento de silêncio pairou no ar, cortado apenas pelos passarinhos nos galhos e pelo farfalhar das folhas; a mulher loura fitou as próprias mãos de um modo triste e, talvez, levemente perturbado antes de dizer:

— Você sente como se os rostos na multidão fossem carrancas e monstros terríveis; parece que cada olhar sabe de sua vergonha e humilhação, e a acusa, escarnece e relembra de tudo. O vozerio é assustador, e machuca seus ouvidos como um órgão de foles desafinado; sair para lugares abertos é como estar num labirinto de espinhos, onde qualquer movimento a fere, e você está perdida, sem direção, espremida entre as agulhas pontiagudas que se aproximam para perfura-la. É um pássaro numa jaula sem portinhola... Não há saída alguma.

Christine ergueu o rosto e fitou a médica, espantada; sustentando o olhar da mais moça, a mulher continuou:

— Sente que há algo lá, à espreita, apenas esperando um momento de fraqueza ou descuido para feri-la outra vez. Que não pode confiar em ninguém. Sente-se observada, e duvida da própria sanidade, porque cada rosto na multidão é o rosto de quem te feriu. Cada escolha que precisa tomar, seja mesmo virar à direita ou esquerda, é terrível, porque foram escolhas erradas que a puseram no olho deste tornado. Os pesadelos te acompanham mesmo quando está acordada, a ponto de, às vezes, não saber o que é real e o que é sonho, e precisar beliscar a si mesma para voltar à realidade... – Havia lágrimas marejando os olhos da adolescente, que via seus sentimentos sendo relatados pela outra de modo tão vívido... E, para sua surpresa, também os olhos da médica estavam úmidos - E tudo isso é uma dor terrível, porque você se sente uma prisioneira da própria mente. Uma prisão da qual não tem como escapar. É impossível esquecer... O máximo que pode fazer é não lembrar.

Trêmula de espanto, Christine se sentou ao lado de Renée, tomando-lhe as mãos nas suas, estupefata:

— Como sabe, doutora?

— Trate-me apenas por Renée, menina. Já nos conhecemos o bastante para isso. Mas respondendo à sua pergunta... – a médica desabotoou os punhos das mangas e as levantou, revelando os antebraços repletos de cicatrizes de cortes – Não é a única a ter passado por maus bocados. Chega um momento em que os pesadelos te consomem de tal modo que você os tem mesmo quando desperta, e já não sabe diferenciá-los da realidade. O único jeito é a dor: ela, sim, é real, e os afugenta para um canto sombrio de sua mente, como se cada corte, em vez de drenar sangue, drenasse o sofrimento para fora de si... Por algum tempo, pelo menos.

Christine compreendia aquilo: nunca chegara a se cortar – mesmo porque Erik e Louise mantinham vigilância constante sobre ela – mas inúmeras vezes enterrava as unhas nas próprias mãos até arrancar sangue, quando os terrores a consumiam. Era sua alternativa a demonstrar o próprio sofrimento para Erik: fingir que estava tudo bem, enquanto a dor física espantava a dor do espírito. E às perguntas dele acerca dos machucados, ela respondia dizendo que se acidentara, esfolara as mãos na madeira ou outra desculpa qualquer...

— Por isso quer me ajudar, Renée?

— Quero ajuda-la porque ninguém mais pode, Christine. – disse a médica – os médicos são homens. O que sabem eles das dores que sentimos? O que podem saber sobre ser trancada, violada, abusada de inúmeros modos por alguém que deveria protege-la e amá-la? Nada! Eles não sabem e, como não conseguem entender, chamam de doença, de loucura! Taxam-nos de histéricas, de psicóticas, e seu tratamentos consistem em nos deixar tão letárgicas que ficamos incapazes de reagir. – aquilo parecia mais um desabafo, uma confissão – quero ajuda-la, porque estive exatamente onde você está. Quero fazê-lo porque posso fazer. E porque, quando eu precisei, tudo o que mais queria era que alguém compreendesse. Isso eu posso lhe dar. Mas só se aceitar.

Christine já não pensava acerca da própria dor, pois via nos olhos da outra lampejos de um passado sombrio e doloroso... Memórias que hoje eram apenas isso, mas que já haviam sido demônios a torturar a alma de Renée.

— Por Deus, Renée, o que fizeram com você? – perguntou, horrorizada. A médica começou a remexer nervosamente nos punhos das mangas, hesitando: deveria contar a Christine sobre seus próprios fantasmas? Não era uma relação típica de médico e paciente, e poderiam mesmo denunciá-la por conduta antiética, se soubessem... Mas tudo o que pretendia fazer pela moça seria antiético, para não falar das acusações de charlatanismo. E talvez... Talvez se a moça soubesse, então confiasse nela, e compreendesse o motivo de cada passo do tratamento; compreenderia como Renée chegara à conclusão sobre cada estágio, e isso poderia ajudar a alcançar resultados melhores. Enfim tomando sua decisão, ela começou:

— Eu tinha quinze anos... Cresci numa família boa, sabe? Meus pais se amavam, e aos quatro filhos... Éramos felizes. Mas quando fiz quinze anos, acertaram meu casamento com um conhecido da família. Um homem dez anos mais velho, nada realmente relevante... Ele era bonito, cortês... O tipo de noivo que faria uma menina adolescente suspirar e ansiar pela cerimônia. Mas ele não era o que eu pensei... O que todos nós pensamos... – a mulher ergueu o rosto e fitou o horizonte – a primeira vez que me agrediu foi na noite de núpcias, quando tive vergonha de me despir, como mandara. Deu-me tapas e socos, rasgou minhas vestes e me violentou...

Christine fechou os olhos com força, tentando não se lembrar de Raoul amarrando-a à cama, rasgando seu vestido e deflorando-a daquela maneira tão brutal... Ao mesmo tempo, tentava não imaginar a médica diante de si como uma adolescente, passando por algo similar ao que ela sofrera...

— Foi a primeira vez, mas nem de longe a última. Ele era extremamente violento, e me ameaçava, caso eu contasse a minha família ou amigas; e eu não duvidava de suas promessas de assassinato. Sofri em silêncio por meses, escondendo os machucados com maquiagem e roupas fechadas... Mas um dia ele exagerou, e me bateu até eu ficar inconsciente. Provavelmente por medo de perder seu brinquedinho, ele chamou um médico... Doutor Charles Martin... E não sei se por estar desesperada por uma âncora, ou se por ele ser a primeira pessoa a me tratar com delicadeza em meses, eu me apaixonei por ele. E à medida que meu marido ficava mais violento, minha relação com Charles foi se estreitando, dada a frequência com que nos víamos. Acabamos nos tornando amantes, e nos braços dele eu encontrava um pouco de alívio, enquanto planejávamos uma fuga juntos. Não era fácil, pois assim que descobrisse meu sumiço, meu marido viria atrás de mim. E eu tinha tanto medo dele... Tanto medo, que não conseguia ajudar Charles a planejar nada! Ele tinha de fazer o trabalho todo sozinho.

Christine estava em choque: Renée suportara por meses aquilo que ela sofrera por apenas 48 horas! Como conseguira?! Como sua mente não se quebrara?!

— E como conseguiu escapar?

— Um dia, meu marido chegou bêbado em casa. E se já era violento sóbrio... Ele pegou o atiçador da lareira para me bater, e eu soube que me mataria. Não me lembro bem do que houve... Recordo-me apenas de pegar uma faca na cozinha e, de algum modo, o apunhalar repetidas vezes. No meio da luta, ele pegou uma panela de óleo fervendo e a jogou em mim. Por sorte não fui atingida no rosto, mas deixou cicatrizes nos braços e na frente do corpo... Ele caiu, e eu desmaiei logo depois. Acordei após uma semana, num hospital onde tratavam de minhas queimaduras e das contusões que ele deixara... E descobri que estava sendo processada por assassinato.

— Pelo amor de Deus, foi legítima defesa!

— Foi a alegação do advogado que minha família contratou. Mas entre o assassinato e as reações que comecei a ter, tremendo e chorando cada vez que me tocavam, bem... A equipe médica foi um pouco cautelosa demais, e recomendou que eu fosse encaminhada temporariamente a um sanatório, para recuperar o bom senso. – ela meneou a cabeça – sei que meus pais pensaram estar fazendo o certo, mas jamais consegui perdoá-los por isso. – ela se voltou para a jovem, seus olhos claros tão frios quanto a neve – já visitou um manicômio, Christine?

— Não. Nunca.

— Se visitasse, teria certeza de que o Diabo fez seu reino na Terra. Eu ainda tive a sorte de ficar num lugar onde as alas eram separadas em masculina e feminina, mas... É um lugar horrível, e os alienistas pouco se preocupam de fato com os pacientes; éramos, antes, cobaias nas quais testar tratamentos, do que pessoas a quem quisessem curar. Fui diagnosticada como histérica, e colocada com outras mulheres que sofriam do mesmo mal... Mantidas nuas no verão, e com trajes mínimos no inverno; os médicos criam que a “fonte” da histeria eram nossos úteros, então faziam exames vergonhosos e nos tocavam onde e como queriam. Vi muitas companheiras serem sexualmente abusadas na minha frente, e só não tive a mesma sorte porque minhas reações eram violentas demais... O médico não tentou mais nada, depois que arranquei sua orelha com uma mordida, mas isso piorou tudo. – a frieza com que ela narrava aquilo era, talvez, o mais aterrorizante de todo o relato! – Passaram a me manter amarrada a maior parte do tempo. Minha família me visitava e eu lhes contava tudo aquilo, mas os médicos lhes diziam que eram delírios da loucura, e eles acreditavam... Dizia que não estava louca, e tomavam isso como mais uma prova de insanidade. – sua voz se alterou um pouco, mas ela suspirou para se conter.

— Não precisa continuar, se não quiser... – disse Christine, horrorizada com tudo o que ouvia, já quase esquecida das coisas que ela mesma passara.

— Não, está tudo bem. Hoje sou capaz de lidar com isso. – Mas o ar dela era sombrio – sabe, quando todos dizem que você é louca, quando ninguém acredita em você, fica difícil crer em si mesmo. No meio e pessoas que eram realmente insanas, humilhada de todas as formas, acorrentada e molestada, eu criei um mantra para mim; todos os dias, repetia ao acordar e ao me deitar: eu sou Renée D'Albignon, filha de Alice e Phillipe D'Albignon. Tenho dezesseis anos. Tenho uma família que me ama. Eu matei meu marido para me defender. Eu não estou louca. Mas à medida que me desumanizavam cada vez mais, tratando-me apenas pelo meu número de paciente e pela doença que me haviam atribuído, o mantra foi se reduzindo. A descrença de minha família me fez perder a confiança neles... A única pessoa que acreditava em mim era Charles, que estava lutando contra os outros médicos, tentando conseguir minha alta... Mas enquanto isso, continuava o festival de humilhações. Naquela ala, apanhávamos diariamente, e os banhos eram baldes de água gelada jogados em nossos corpos nus; todos os dias nos prendiam mãos e pés e... Tocavam nossas partes mais íntimas, tentando encontrar a “raiz do problema”. Diante de tudo aquilo, meu mantra foi sendo reduzido, até restar apenas: Sou Renée D’Albignon. Eu não estou louca. E já não repetia isso apenas duas vezes, mas quase o tempo inteiro; tinha medo de que, se não o fizesse, fosse esquecer quem eu era. É óbvio que o lugar estava me deixando realmente louca.

— Isso é... Como podiam?

— Ninguém se importa com os loucos, Christine. Como eu disse, éramos cobaias. E um dia eu cheguei ao meu limite... Houve uma conferência, e me selecionaram para servir como exemplo de um caso “irreversível” de histeria... – Naquele momento ela pareceu realmente abalada, e a adolescente temeu o que ouviria – Tiraram minhas roupas na frente de mais de cinquenta homens, e me tocaram por todo o corpo para mostrar as minhas reações. Primeiro Eu lutei freneticamente, gritando para que tirassem as mãos de mim... E ao fundo eu ouvia apenas a voz do alienista-chefe, descrevendo meu comportamento como parte da doença, e me sentia cada vez menos humana... Imobilizaram-me e continuaram o procedimento, e o que eu fiz foi entoara a única parte do meu mantra que eu lembrava: Eu sou Renée. Eu sou Renée. Eu sou... De repente, eu não lembrava mais de meu nome. Algo se quebrou dentro de mim, e eu já não era mais um ser humano. Não era uma pessoa. Não tinha nome. Parei de lutar, parei de falar, totalmente inerte. Perdi a noção de quem era, de onde estava, do que acontecia ao meu redor. – Christine reconheceu de imediato aquilo que acontecera consigo mesma, e ficou penalizada, ao mesmo tempo em que compreendia como Renée soubera o que fazer para trazê-la de volta.

— Quem a trouxe de volta, Renée? – perguntou, curiosa.

— Charles. Não me lembro de nada antes do dia em que despertei em sua casa. De acordo com ele, passei dois meses em completa inércia, sem reação a nada. Quando voltei, não era a mesma pessoa: tinha terrores tão violentos que não sabia quando estava num pesadelo, quando estava acordada. Qualquer toque me fazia entrar em pânico, eu mal falava, e cumpria ordens com uma literalidade absurda, apavorada que um erro pudesse me render outra punição. Acho que você sabe bem como é, e qual foi o processo que Charles usou para me trazer de volta, aos poucos. Paciência, carinho, conduzindo-me a tomar minhas próprias decisões. Voltei a agir quase normalmente dentro de casa, mas ainda não suportava ser tocada, e sair era algo impensável! Sentia revolta pelo que me havia sido feito por minha própria família e, por um tempo, senti raiva de Charles, por não ter conseguido me tirar do manicômio mais cedo. Levei quase um ano para conseguir chegar exatamente onde você está: levando uma vida “normal” com meu amante. Enquanto você encontrou seu foco na música, para fugir ao terror, eu a princípio usei a auto-mutilação, até Charles ter uma ideia: presenteou-me com uma pequena peça de xadrez, uma rainha, e disse-me para memorizar cada detalhe dela, para conhece-la e trazê-la comigo sempre. Quando eu tinha os pesadelos, segurava com força essa peça e me concentrava em seu peso, em sua forma: aquela peça era real, e me servia de âncora para focar a mente e me “desligar dos pesadelos”. E funcionou.

Christine ouvia tudo aquilo, sem saber como reagir: sua reação instintiva seria abraçar a mulher e confortá-la, mas não lhe parecia que Renée gostaria disso. A jovem compreendia que a médica não estava contando aquilo como um desabafo, mas como uma forma de fazê-la confiar em seus métodos e compreendê-los. Assim, apenas manteve-se em silêncio, ouvindo atentamente.

— Conseguir sair às ruas foi mais difícil. Ele me obrigava a sair, sempre tentando ser o mais gentil possível, e eu me agarrava a seu braço, aterrorizada. Com o tempo, aceitei o fato de que, pelo menos junto a ele, ninguém iria me machucar; desenvolvi estratégias para controlar a ansiedade e o pânico, também, como contar mentalmente meus passos, estabelecer uma sincronia entre respiração e caminhada, coisas do tipo. Foram dois anos até, finalmente, conseguir sair sozinha pela primeira vez. Eu já tinha dezenove anos, na época... E ao longo de um ano, forcei-me a seguir adiante, fazendo cada vez mais coisas por conta própria, até ser capaz de ir a qualquer lugar sozinha. Mas meu passado me assombrava, e a ideia de que outras moças passavam pela mesma coisa que eu enfrentara, e sem ninguém para ajuda-las, fez-me pensar muito a respeito... Então tomei uma decisão, e entrei na universidade de medicina. – ela riu baixinho – causei muito escândalo, mas Charles ficou ao meu lado em cada segundo. Não vou dizer que foi fácil, que eu estava completamente livre, mas, pelo menos, eu conseguia; e sempre que o fardo parecia pesado demais para carregar sozinha, ele estava lá, por mim. E, no final, eu venci. – ela fitou profundamente os olhos de sua interlocutora – como você também vai vencer. Não está sozinha, Christine, como eu não estava. E tem a força para vencer. Só precisar acreditar nela, e deixar-me ajuda-la.

— Depois de ouvir sua história, Renée... Sinto-me até envergonhada em não ser capaz de me libertar sozinha.

— Está errada em vários pontos, Christine. Primeiro: você é capaz de se libertar sozinha, mas eu gostaria de facilitar seu caminho. Segundo: não é uma competição. Passamos por coisas similares, e tivemos reações similares; a intensidade com que cada um sente as coisas, porém, não pode ser medida. A mente de cada um é única, e suas emoções são apenas suas. – ela segurou delicadamente o queixo da jovem – não deve se sentir envergonhada, de modo algum. Sua própria história é carregada de dramas pessoais: a perda de seus pais, ainda tão jovem... As manipulações de Erik, que certamente a deixaram emocionalmente abalada. O cabo-de-guerra em que se lançaram seu Anjo e Raoul, deixando-a no meio de uma briga terrível... Presenciou a loucura de um de seus amados, e eles quase mataram um ao outro. Seu coração foi partido por ter de escolher entre eles e, finalmente, veio a traição de Raoul. E você me diz que não passou por coisas suficientes para justificar seus traumas? Oras, pequena... – Renée a abraçou – Não seja tão severa consigo mesma. A auto-piedade é nociva, mas o excesso de severidade para consigo mesma traz uma culpa que não precisa carregar.

A moça deu um sorriso fraco e fitou a fonte do jardim, onde alguns passarinhos se banhavam; eles lembravam-na de quem costumava ser, antes de tudo aquilo... Queria muito voltar a ser aquele passarinho alegre, sempre cantando, sempre feliz, sempre sonhadora... Franzindo o cenho, perguntou:

— Acha que conseguirei voltar a ser quem eu era, Renée?

— Quem você era, dificilmente. É impossível ser a mesma pessoa que você era ontem, quanto mais alguém que você era antes de tudo o que aconteceu nos últimos dois anos. Mas certamente conseguirá se livrar de seus medos, ou pelo menos superá-los. Poderá voltar a andar sozinha e conversar livremente, sem temer. Poderá dormir sem pesadelos a maior parte de suas noites, e viver com seu marido de um modo “normal”.

— É tudo o que mais quero: libertar-me destes pesadelos horríveis...

— Eu sei. – a mulher loira acariciou os cabelos da outra e beijou sua fronte – posso ajuda-la nisso, querida... Mas só se me permitir.

Após um breve segundo de silêncio, a moça falou com voz firme e decidida:

— Mostre-me o caminho, Renée. Eu quero me libertar.

— Perfeito! – exultou a médica – pronta para começar?

Um suspiro escapou aos lábios da moça, um suspiro de quem tomava coragem para falar:

— Vamos lá.


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Notas finais do capítulo

E aí? Muitos queixos caídos ou não? O que acharam da história da doutora Renée? Surpreendente, não é?
deixem suas reviews, amores!
kisses!