Make Your Choice escrita por Elvish Song, SraFantasma


Capítulo 13
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Notas iniciais do capítulo

Olá, meninas! Estamos de volta aqui, e tenho certeza de que o capítulo vai deixar vocês beeeeem felizes, porque teremos de tudo: alta tretas, momentos fofos e... Um final pra deixar vocês com sorrisinho no rosto, ok? Tomara que gostem!



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Christine estava distraída com César, acariciando o belo cavalo negro, quando Erik foi se juntar a ela; chegou de mansinho, mal se fazendo ouvir, e abraçou a moça. A primeira reação dela foi enrijecer ao toque inesperado, tensa, sua respiração alterada de medo, antes que percebesse tratar-se de seu amado. Ante essa percepção, relaxou nos braços dele e acariciou a mão que pousou em seu ombro.

— Você é uma das poucas pessoas de quem este danado gosta. – comentou o Fantasma – geralmente ele é esquivo e arredio.

— Dizem que o animal que não se parece com o dono, é roubado. – brincou ela, virando-se de frente para Erik, que lhe deu um beijo na testa e perguntou:

— Quer montar?

— Sou uma negação em equitação, meu Anjo. – confessou ela – até consigo montar um cavalo manso, que segue os demais, mas conduzir por conta própria, ou montar um animal como César... Nunca aprendi.

— Então, já é hora de aprender. – o músico se aproximou do cavalo e o alisou, antes de colocar-lhe um cabresto – venha, garoto. Vamos ensinar Christine a cavalgar, está bem?

O Fantasma encilhou sua cavalgadura, mas não com cilhão, e sim, com sela comum; ao ver aquilo, a moça perguntou:

— Mas como vou montar, assim?

— A cavaleiro. – respondeu o Anjo – se não sabe montar, precisa aprender primeiro do jeito mais fácil, e depois, do mais difícil. – e rindo-se ante o rubor que tomou o rosto da moça – ora, vamos! Não vou ficar chocado em ver seus belos tornozelos.

Ela corou mais ainda e deu um tapa leve no braço de Erik:

— Pare com isso, que estou constrangida! – isso arrancou uma risada dele, enquanto levava César para fora dos estábulos, seguido de perto pela soprano. Um sol fraco os recebeu naquele começo de outono, e a “lição” começou: amarrando o cabresto a um poste na rua, Erik ajudou Christine a subir no animal alto, sentindo a insegurança dela. Esperava que a sugestão de Madame D’Albignon estivesse certa, e aprender a cavalgar ajudasse sua musa a se sentir mais confiante e segura.

— Erik – chamou ela, agarrando-se à sela – o que eu faço aqui em cima?

— Ponha os pés nos estribos – riu o homem, divertindo-se com todo o embaraço da garota ao fazê-lo – ótimo. Viu? Não morreu por mostrar seus lindos tornozelos. – Ela pegou as rédeas de modo desajeitado, e ele corrigiu o modo como as mantinha nas mãos – assim, com os polegares voltados para cima. Desse jeito, terá mais força para conter o animal, se preciso. Agora... Puxe a rédea direita para ir para a direita, e esquerda para ir para a esquerda. Puxe-as simultaneamente para parar e, para fazê-lo andar, bata devagar com os calcanhares na barriga de César. – ele tomou o cabresto na mão – você guia. Eu apenas vou acompanhar ao seu lado.

Ela anuiu, ainda muito tensa, e bateu de leve os calcanhares na barriga do corcel negro; ele começou a andar, contido por seu dono e, à medida que prosseguiam, e o Fantasma ia corrigindo as falhas na postura da moça, a jovem relaxava e ficava mais à vontade sobre o cavalo. Ao vê-la bastante tranquila, Erik perguntou:

— Quer tentar sozinha, agora?

— Acho que consigo. – sorriu Christine, pegando o cabresto da mão de Erik e o enrolando no cabeçote da sela. O Anjo segurou sua mão com carinho, antes que ela tomasse as rédeas em ambas as mãos e incitasse César a um passo um pouco mais rápido. Foi até o final da rua e retornou, e ao fazê-lo, tinha um sorriso triunfante nos lábios, uma expressão de criança que havia aprendido algo novo, e neste momento Erik percebeu o quão menina ela ainda era, com seus dezesseis anos.

— E então? – perguntou, segurando as rédeas do cavalo, enquanto ela relaxava um pouco as mãos doloridas de segurar o forte animal.

— É maravilhoso! Nunca pensei que cavalgar pudesse ser tão bom!

— Certamente é melhor quando se monta feito gente, e não empoleirado de lado, como esperam das damas. – provocou o músico. A soprano riu, concordando, e tirou um dos pés do estribo, descendo pelo lado esquerdo do cavalo. Contudo, o chão estava mais longe do que pensara, e ela quase caiu; antes disso, porém, os braços de Erik a envolveram, e ele a pôs em pé no chão. E ficar em pé depois de cavalgar era estranho: os músculos pareciam querer voltar à posição que assumiam sobre o cavalo, de modo que o caminhar da moça ficou estranho e meio trôpego. Constrangida, ela perguntou – o que está havendo? Por que minha pernas estão tão estranhas?

Erik quase engasgou de tanto rir, e explicou:

— Você usou músculos que só a equitação exercita. – parou para tomar fôlego ao parar de rir, e prosseguiu – as pernas ficam doloridas e dormentes nas primeiras vezes, é normal.

— É estranho – ela tinha vontade de rir, pois de repente era como se tivesse um ano de idade e tropeçasse nas próprias pernas para andar. Erik lhe ofereceu o braço, e ela aceitou, enquanto levavam César para o estábulo que, naquele momento, estava vazio.

Puseram o cavalo na baia, e cada um se ocupou de fazer uma coisa. A soprano o escovava, enquanto Erik punha água e comida para o corcel, que deleitava com os mimos da jovem, a qual cantarolava baixinho durante a tarefa. Depois de terminarem os cuidados com César, dirigiram-se para fora.

Estavam quase saindo do estabelecimento quando, ainda de pernas trêmulas, Christine tropeçou em algo, e caiu sobre Erik, que a segurou firmemente, no susto. Os olhos azuis dele se fixaram no rosto de sua musa, enquanto ela mesma parecia hipnotizada por ele, fitando-o fixamente e com os lábios entreabertos, arfante. Antes que pudessem entender o que se passava, estavam unidos num beijo intenso e passional, os braços da moça ao redor do pescoço de seu amado, ele a cingindo contra o peito. O beijo se aprofundou, e ele a empurrou contra a parede, erguendo-a do chão, sem pensar em nada que não fosse a maravilhosa sensação de tê-la nos braços.

Sentindo-se erguida do chão, Christine estreitou seu abraço, passando as pernas ao redor do corpo de Erik. A razão a abandonava, e ela só queria mais dos beijos de Erik, do corpo de Erik... Sentiu o corpo dele pressionar o seu, e a excitação dele contra seu baixo-ventre. Aquilo a fez petrificar por uns breves momentos, e ele se afastou levemente, apenas o bastante para fitar o semblante da jovem. Em resposta, ela o beijou outra vez; não um beijo fogoso, como o anterior, mas uma tentativa de se libertar de seus temores e experimentar o amor de seu Anjo. E à medida que ele adotava o ritmo que ela conseguia seguir, a tensão se desvanecia aos poucos, enquanto as memórias de dor se afastavam de lado para dar lugar às memórias que o agora pretendia criar.

De repente, porém,  o som de passos no deque de madeira trouxe ambos de volta à realidade, e só tiveram tempo de se recompor minimamente, alisando as roupas amassadas, antes que um dos cavalariços entrasse no estábulo. Ruborizada e ofegante, Christine não conseguiu sustentar o olhar de Erik, constrangida: fora apenas um beijo – em momento algum haviam passado deste ponto – mas ela se sentia mal, como se houvesse feito algo errado. Como se não houvesse agido dignamente...

— Christine, meu amor – sussurrou Erik, segurando a moça pela mão, levando-a para fora do estábulo – você está bem? – e ante a negativa dela, que comprimia os lábios nervosamente – perdoe-me pelo que houve.

— Você é a última pessoa que deve me pedir perdão por algo, Erik. – sussurrou ela de volta – com tudo o que já lhe fiz...

— pare com isso – disse ele, firme, virando-a para si – está no passado. Nós dois fizemos más escolhas, tivemos atitudes ruins. Mas não importa mais, Christine: nós dois amadurecemos e crescemos com tudo isso e, talvez, tantas tribulações sejam um novo caminho para nós dois.

Ela deu um sorriso amargo e deitou a cabeça no peito do Fantasma, abraçando-o com força. Como pudera, algum dia, ter medo daquele homem? Ele, que fora seu mentor, seu amigo, seu mestre... Como pudera acreditar por um segundo sequer, que ele fosse capaz de mata-la ou feri-la? Ergueu a cabeça e o fitou nos olhos, antes de dizer:

— Eu amo você, Erik Destler.

Ele não disse nada: apenas sorriu e, segurando o rosto de sua pequena soprano, cobriu-lhe os lábios com os seus.

*

Christine estava ajudando Louise com a casa; com Erik ausente, a moça não conseguia ficar quieta. Nunca fora o tipo de menina que fica parada no mesmo lugar por muito tempo, e isso não mudara; no momento, a jovem acabara de tirar as cinzas da lareira e já arrumava a lenha para ser acesa, mais tarde. Em outros tempos, Erik ficaria bravo por sua musa fazer algum serviço doméstico, mas, hoje em dia, deixava que ela tomasse as próprias decisões. Afinal, fora muito difícil conseguir que ela começasse a tomá-las.

A soprano foi para o jardim com a caixa de cinzas, espalhando-as aos pés das flores, que ganhavam mais viço com aquele cuidado; ia se dedicar a arrancar ervas daninhas quando, de repente, o sino da campainha soou. Christine apenas ignorou: sabia que não se tratava das Girys o de Madame D’Albignon, e não tinha interesse em ver qualquer outra pessoa. Em verdade, depois do que Raoul lhe fizera, a presença de estranhos era algo difícil de suportar, mesmo que já estivesse há cinco meses a salvo, sob as asas de seu Anjo.

Alguns segundos de silêncio se passaram, enquanto a moça tirava as ervas daninhas dos canteiros, mas então a voz de Louise soou, da porta:

— Christine... Há alguém que quer lhe falar.

— Quem? – perguntou a soprano, preocupada ao ver a expressão de desagrado e confusão da amiga. Contudo, não precisou de resposta, pois, assim que irrompeu na sala, reconheceu o “visitante”; tratava-se de Gérard de Chagny, tio mais novo de Raoul, capitão da marinha mercante.

De imediato a moça sentiu aquele frio intenso percorrer seu corpo, um tremor irracional de medo que trouxe de volta, como uma onda avassaladora, as piores memórias de sua vida. Suas faces perderam a cor, e Louise tentou intervir:

— Senhor, eu creio que...

— Eu não discuto com criadas. – disse o atual Visconde, rude, mas então suavizando-se ao falar com Christine – Mademoiselle Daae.

— Não fale assim com Louise, Monsieur – disse Christine, escondendo o próprio pavor atrás de uma máscara gélida de formalidade – ela é minha amiga e confidente e, se a destratar, eu mesma o porei daqui para fora, de modo nada elegante.

— Perdão, senhorita. – disse o capitão. Era um homem nem jovem, nem velho, tendo por volta de quarenta anos; loiro como todos os demais da família, com barba curta e bem cortada, e olhos cor de mel. O nariz era levemente adunco, como se um dia houvesse sido quebrado, mas seu rosto era bastante agradável, de um modo geral. Mas não para a cantora, que conseguia identificar nele cada simples traço similar ao de seu algoz, e lutava contra o terror com todas as suas forças, a ponto de um suor gelado escorrer por suas costas. – Preciso lhe falar, Mademoiselle. A sós.

As duas últimas palavras fizeram a visão da moça se turvar e, apoiando-se na mesa para não sucumbir ao tremor das pernas, ela respondeu:

— O que quer que tenha a me dizer, Monsieur, será dito na presença de Louise. Ainda tenho as cicatrizes deixadas pela última vez que fiquei a sós com alguém de sua família.

— Que é o que me traz até aqui, senhorita. – ele hesitou – por que não nos sentamos?

Rígida como uma tábua, a dama se sentou na beirada do sofá, bem longe de seu interlocutor, tentando fingir que não era acossada por uma terrível vontade de chorar e gritar, sair correndo dali. A moça ruiva, por sua vez, aproximou-se devagar e pousou uma das mãos no ombro da amiga; em sua outra mão, uma pequena faca estava oculta, pronta para ser usada em caso de necessidade. Enquanto a ais velha se preparava para reagir, a jovem morena protegia a si mesma com aquela postura extremamente rígida e fria, e aquela máscara de impassibilidade.

— Muito bem, monsieur: o que o traz aqui?

— A família descobriu o que houve... Bem... O que Raoul – a soprano prendeu a respiração ao ouvir o nome de seu carrasco, o que fez Louise apertar levemente seu ombro, passando-lhe forças – lhe fez...

— Imagino que tenham sabido. – havia enorme desprezo estampado na voz feminina.

— Foi um ato deplorável, senhorita. Gostaria que soubesse que todos condenamos as ações do antigo Visconde... Nada daria a ele o direito de encarcerá-la, de fazer...

— Eu agradeceria se parasse de mencionar o que me foi feito, monsieur, uma vez que eu estava lá, e sei bem o que me foi feito. Vá direto ao assunto.

Desarmado pelo tom cortante e frio da voz de Christine, o Visconde começou a explicar, tentando parecer tão gentil quanto poderia, afinal, a menina já sofrera o bastante:

— Pois bem, Mademoiselle: há uma mácula em sua honra, agora. Uma mácula difícil de reparar... Sei o quão constrangedor é falar a respeito, mas, sejamos sinceros: seria difícil, para a senhorita, encontrar um bom casamento, agora. Seu nome está manchado, assim como sua reputação, e...

— Obrigada, Monsieur, por me lembrar de minha condição de mulher usada e maculada. – cortou Christine, à beira das lágrimas ante as memórias que retornavam com toda a força. Estava fazendo o possível para ser forte, mas sua voz já soava embargada, e seus olhos estavam levemente baços – agora, eu agradeceria se saísse por aquela porta e não retornasse.

— Perdoe-me, Mademoiselle, perdoe-me! De modo algum quis ofendê-la... Bem, melhor ir direto ao que vim fazer aqui: eu vim lhe propor casamento, senhorita.

Por um segundo, o próprio tempo pareceu se suspender: casamento? Ela ouvira corretamente ou estava ficando louca? Aquele homem REALMENTE acabara de dizer que pretendia casar-se com ela?

— Creio que não entendi direito, senhor Visconde...

— Pois entendeu perfeitamente, senhorita: vim aqui lhe propor casamento, como meio de remediar o aviltamento a que foi submetida.

— Remediar? – perguntou ela, com uma lágrima escapando e rolando pelo rosto – remediar, Visconde de Chagny? – ela se levantou, suas emoções fugindo ao controle, e voltou as costas ao homem, para que ele não visse o medo em seu rosto – diga-me: como um casamento iria remediar toda a vergonha, dor e humilhação que passei? Como um casamento poderia remediar os pesadelos, o pânico, o medo de sair na rua, porque cada rosto meramente parecido ao de seu sobrinho me causa verdadeiro terror?

— Eu a protegeria. Defenderia seu nome, sua honra e sua integridade física com minha própria vida. – ele se levantou e foi para perto de Christine, mas o decoro não lhe permitia manter distância menor do que um passo da jovem – Sou um bom homem, Mademoiselle. Perdi minha esposa para uma febre trágica, mas juro por todos os santos, juro em nome de Jesus, nosso Senhor, que jamais ergui a voz contra ela ou a desrespeitei, ou magoei de qualquer modo que fosse. O mesmo tratamento daria à senhorita, e ainda maior deferência. Se aceitasse, tratá-la-ia como um anjo entre os homens, dedicando-lhe cuidado e atenção. Teria um quarto apenas seu, e estaria livre das obrigações de esposa, se assim o desejar. Pois meu único e sincero desejo é, de fato, apagar a mancha que meu sobrinho causou em sua reputação.

Ele parecia sincero, mas Christine já aprendera a não confiar em mais ninguém. Aprendera do modo mais duro, e fora uma lição bem aprendida; seus dedos agarravam o tampo da mesa com força, sua cabeça girava... Ela sabia estar tendo um ataque de pânico, e tentava se controlar do modo como Renée lhe ensinara, mas não parecia estar surtindo muito efeito! Seu coração estava descompassado, as lágrimas escorriam de seu rosto, e seu peito doía como se uma faca o atravessasse! Ela olhou desesperada para Louise, que se interpôs à amiga e o visitante:

— Senhor, Mademoiselle Daae não está em condições de continuar esta conversa. Sua simples presença aqui é uma afronta a ela, ao se considerar o que sua família fez a ela, e...

— Eu já disse que não falo com criadas. – respondeu o nobre, direto, contornando Louise e tomando a mão de Christine na sua. Esse simples gesto, porém, fez a cantora dar um grito de horror, e recuar vários passos:

— NÃO! – ela estava a ponto de desmaiar, mas mantinha-se firme pela pura força de vontade – FIQUE LONGE DE MIM! – os olhos dela pareciam queimar de ódio, como se todo o horror desenterrasse uma força até então oculta – Eu não serei outra vez um brinquedinho mimoso a ser exposto e admirado, sem vontade nem direito. Diz que me protegerá: como pode me proteger, quando até respirar o mesmo ar que eu ofende minha honra e avilta minha pessoa? Como eu aceitaria a proposta de um homem que, enquanto Raoul me torturava, estava rindo e bebendo com seus parentes, porque a noiva rebelde era assunto do então Visconde? – agora, até mesmo os lábios dela estavam totalmente descorados – eu desprezo seu nome e odeio sua estirpe! Malditos sejam, todos vocês, e que morra até o último De Chagny sobre a terra! O que houve a seu sobrinho foi bem merecido, e é o que desejo a cada um de vocês! Que o Inferno se abra sob seus pés para recebê-los, Monsieur De Chagny!

Gerard estava atônito, mal compreendendo a reação da jovem: pois Raoul fora o único culpado por seu sofrimento, e não o restante da família. Ela, porém, parecia projetar seu ódio sobre todos os que carregavam o mesmo nome de Raoul, e isso fez o nobre imaginar que as coisas das quais haviam tomado ciência eram apenas uma ínfima parte do que seu sobrinho devia ter feito à pobre garota. Movido mais pela vontade de acalmá-la do que por ter sido afetado pelos insultos, ele a segurou delicadamente pelos ombros, mas Christine tomou aquilo como uma agressão: apavorada, começou a bater nele, a unhá-lo e a se debater desesperadamente. Incapaz de ver mais daquilo, Louise tentou afastar Gerard de sua amiga, mas esta estava tão desesperada que não conseguiu fazê-lo!

Em pânico, Christine agarrou um vaso sobre a mesa e o arremessou contra o Visconde; a peça acertou o ombro do homem que deu um passo adiante e, para impedir a moça de machucar a si mesma ou a um dos outros presentes, imobilizou-lhe os pulsos. Isso não apenas fez a moça se aquietar: fê-la ficar imóvel, tão aterrorizada que mal respirava, todo o seu corpo tremendo violentamente. Aquele toque tão próximo, de alguém tão parecido com Raoul, foi mais do que a menina podia suportar, e ela perdeu os sentidos, sendo amparada por Louise.

Preocupada apenas com a amiga, a moça de cabelos fulvos quase não teve tempo de entender o que se passava quando uma mão forte agarrou o pescoço de Gerard, arrancando-o do chão enquanto uma voz masculina ciciava:

— Quem é você e como chegou aqui?

A garota Chanson levou uma semiconsciente Christine até o sofá, deitando-a, e então se voltou para o lugar onde Erik ameaçava o Visconde com uma espada nas mãos; o homem loiro tinha a boca cortada e o rosto marcado pelos murros de Erik, o qual o ameaçava com uma espada em riste:

— Sua laia é tão estúpida, que você pensou poder vir aqui e aterrorizar minha esposa, sem consequências?

— Senhor, eu não sabia que ela era casada...

— Agora já sabe! – Erik parecia prestes a matar o homem – se preza sua vida, vai sair daqui agora, e sentir-se grato por ter perdido apenas dois dentes. – o Fantasma, com olhos vermelhos de ódio, lançou ao chão o “visitante”, e avisou – se voltar aqui, ou se algo acontecer a mim ou a minha Christine, você e toda a sua família terão o mesmo destino de Raoul, fui claro?!

Gerard de Chagny rastejou pelo chão até a porta, e a cada vez que tentava se erguer, chutes de Erik – ou seria Lúcifer? – o punham no chão outra vez. Foi só do lado de fora que ele conseguiu se erguer, e encarou aquele demônio de pele pálida, cabelos negros e olhos vermelhos, que lhe falou em voz perigosamente ameaçadora:

— Sua família machucou minha Christine de um modo que pode estar além da possibilidade de cura. Foi só em respeito a ela que não o despedacei ali mesmo, naquela sala. Mas se tornar a procurar por ela, ou por mim, nem mesmo seu cadáver será encontrado.

Surpreso com a violência e frieza simultâneas do homem que dizia estar casado com Christine, o novo Visconde compreendeu que era melhor não discutir: ele fora ali com a melhor das intenções, mas insistir poderia ter como preço mais do que apenas sua vida: podia acarretar, também, a morte de seus filhos e irmãs. E Christine parecera tão aterrorizada em vê-lo, a despeito de ter entrado na sala com toda a serenidade... Talvez aquele tal Fantasma, aquele monstro, fosse menos monstro do que Raoul. Talvez a família do nobre, tida como “respeitável” fosse, aos olhos da menina, muito mais monstruosa do que qualquer homem deformado... Foi em extrema confusão, somada a u pouco de pânico, que ele subiu em seu cavalo e partiu, pensando que deveria ter ouvido os conselhos da pessoa que rastreara o paradeiro de Christine. Agora entendia porque todos temiam o Fantasmas da Ópera: para um fantasma, ele estava vivo demais.

Enquanto isso, dentro de casa, Erik correu para sua Christine, que despertara e estava encolhida no sofá, abraçada aos joelhos, tremendo. Lágrimas escorriam de seus olhos, mas ela não fez menção de se afastar ou manifestou medo quando seu Anjo se sentou ao seu lado, abraçando-a. Ao contrário, entregou-se docemente a tal abraço, deixando que o amor dele mandasse embora todo o terror que sentira. E quando ele a pôs em seu colo, ela escondeu o rosto no peito forte:

— Ah, Erik, fiquei com tanto medo... Eu tentei ser forte, mas, quando ele me tocou...

— Perdoe-me, patrão – desculpou-se Louise – eu tentei impedir tudo, mas o Visconde simplesmente não me ouvia, dizia que não discutia com criados.

— Não haverá próxima vez, Louise, mas, se um dia isso se fizer necessário deixe bem claro que você não é uma criada. Você é amiga de minha esposa, e tenho por você grande consideração. Se alguém a destratar, enfie uma faca na garganta deste alguém.

A moça sorriu e anuiu; vendo que ela estava abalada, o Fantasma pediu:

— Menina, vá para casa. Ficou bastante nervosa, hoje, e... Bom, apenas vá para casa, está bem? Está dispensada de seu trabalho.

— Mas e Christine? – perguntou a jovem, preocupada com a amiga, que se abraçara ao próprio corpo, ainda trêmula e um tanto pálida.

— Cuidarei dela, não se preocupe. Esta tarde foi difícil para nós três... Vou acalmá-la e pô-la a dormir mais cedo, hoje. Rezo para que não haja nenhuma outra crise de pânico.

Apreensiva, receando que a soprano tivesse uma recaída, logo agora que estava tão melhor, Louise anuiu e beijou a fronte da mulher mais nova, dizendo:

— Fique tranquila, Chris: Monsieur Destler está aqui, e vai protege-la de qualquer mal. Você está segura.

— Eu sei, Louise – respondeu a cantora, muito mais calma e lúcida do que se podia esperar – ele é meu Anjo. Nos últimos meses, vocês dois têm sido.

Com um sorriso, a jovem fez uma breve mesura a seu patrão e foi embora para sua própria casa, deixando o casal a sós. Christine não dizia nada, abraçando o próprio corpo na tentativa de lutar contra a dor no peito que o pânico causava. Sabendo disso, Erik a chamou docemente, de joelhos ao lado da moça:

— Christine. – ela abriu os olhos, e ainda estava pálida. O Anjo tomou suas mãos nas dele, e estavam tão geladas que ele se assustou – está tão fria, querida! Quer se banhar, para se acalmar e aquecer?

— Sim, por favor. – ele deu um meio-sorriso e a levantou nos braços, carregando-a para o banheiro da suíte. Enquanto a banheira enchia de água soltando vapor, quente como a moça gostava, ele a ajudou a despir o vestido de meia-estação, longo e pesado, com várias camadas de pano sobrepostas por uma fina renda cor de creme; tirando-o, desatou os cordões do espartilho da jovem, o qual também tirou, finalizando por remover a cambraia que ela usava por sob toda aquela vestimenta. Em outros tempos, a menina teria morrido de vergonha por ficar nua diante de um homem, mas aquilo já se tornara habitual, entre eles.

Ela entrou na banheira, e o Fantasma, carinhoso, perguntou:

— Permitir-me-ia banhá-la, meu amor?

— Gostaria de sentir suas mãos, hoje, querido. Preciso do calor delas, em verdade, pois minha alma parece ter congelado de medo. – a moça secou uma lágrima – perdoe-me por ser tão fraca...

— Fraca? – perguntou Erik, surpreso, sentando-se ao lado de Christine e acariciando o rosto dela – você pode ser tudo, menos fraca. O modo como se obrigou a voltar à vida, a sair da letargia em que havia mergulhado... O esforço que fez para voltar a interagir, e mesmo o modo como conseguiu conversar com nosso “visitante”, durante um bom tempo, sem perder o controle... – ele beijou o topo da cabeça dela – você não é fraca.

Erik pegou o sabonete e começou a passa-lo devagar na jovem, primeiro nos ombros, depois nas costas, em movimentos leves que a relaxavam.

— Mas as coisas me afetam mais do que aos outros. – ela suspirou, tomando coragem para contar - Madame Giry me contou sua história, e você nunca...

— Eu fiz o que precisava para sobreviver. – disse ele – e se as coisas a atingem com mais intensidade, bem... As pessoas não são iguais uma às outras, meu amor. Você é mais sensível, delicada, gentil. E não deve se envergonhar por isso.

Ela sorriu levemente para ele, feliz em ter seu Anjo ali, consigo. Fechou os olhos e sentiu as mãos dele em seu corpo, tão macias, tão quentes... Sentiu um arrepio que nada tinha a ver com medo ou frio, um calor intenso espalhando-se por seu corpo, uma necessidade que não sabia como descrever... Por um longo minuto ela hesitou, mas enfim decidiu-se... Olhando profundamente nos olhos de Erik, sussurrou, levemente corada:

— Erik... Faça amor comigo.


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Notas finais do capítulo

HUAHUAHUAHUAHUA! Paramos aqui porque somos más! rsrsrsrs. Por favor, não nos matem, mas o capítulo estava ficando longo. O próximo, já sabem: crianças fora da sala, ok?
Kisses, meninas, e deixem suas reviews e recomendações!



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