Make Your Choice escrita por Elvish Song, SraFantasma


Capítulo 10
Música


Notas iniciais do capítulo

Olááááááá! Certo, para nos redimirmos de tudo o que já fizemos Erik e Christine passarem, hoje o capítulo é mais leve, ok? Esperamos que gostem!



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Três semanas depois

 

Erik estava sentado ao piano, tocando; imerso como ficava na música, não percebeu a jovem soprano que caminhou até ele e, como um Fantasma, ficou a observá-lo, fascinada, hipnotizada. Os olhos castanhos recuperavam aos poucos a lucidez, e havia neles o brilho de outrora, ao ouvir a música; esquivando-se ao medo que a vinha aprisionando, fez aquilo que sua alma exigia: ergueu sua voz para acompanhar a melodia. E quando sua voz se ergueu, cantando “Norma casta Diva”, Erik quase petrificou onde estava! Espantado, parou de tocar e se virou para a moça, que o encarou com dúvidas: teria feito algo de errado? Cabisbaixa, sussurrou:

— Perdão.

— Perdão? – Erik estava confuso, e fez a moça se sentar ao seu lado – jamais peça perdão por cantar. Sua voz é como um sino de cristal, pura, límpida, suave como o vento tocando a água... Cante quando quiser, e o quanto quiser; você é um rouxinol, e não se amordaça um pássaro de bela voz! – aquelas palavras a fizeram sorrir timidamente, e o Fantasma passou um braço por sua cintura, beijando-lhe o topo da cabeça. Ela ainda se encolhia ao ser tocada, e parecia incapaz de tomar decisões ou ter iniciativas próprias, mas voltara a falar, andar e conviver, o que já era mais do que a doutora Renée esperara, em tão pouco tempo.

Os únicos momentos em que Christine agia como a mulher que sempre fora eram aqueles em que Erik a contemplava com música: nessas horas, seus olhos brilhavam, e ela o acompanhava com sua bela voz. Inicialmente apenas sussurrava as canções, mas, à medida que percebia não ser retaliada por cantar, sua música se fora elevando, até este dia, onde tomara pela primeira vez uma iniciativa própria, cantando tão lindamente!

— Acompanhe-me, meu Anjo – pediu Erik, recomeçando a música, deixando que a soprano erguesse sua voz maviosa aos céus. Aquela voz o deleitava, o enchia de prazer e êxtase, como se ouvisse um coro de anjos! Ah, como era maravilhoso uma vez mais ouvir sua amada cantar! Quando isso acontecia, não havia lembranças ruins ou passado nefasto: apenas eles dois e sua música.

Quando o piano e a voz da moça silenciaram, a jovem criada bateu palmas discretamente – havia se aproximado muito da soprano, naquele mês, e até mesmo de seu reservado patrão – e disse:

— perdoe-me a intromissão, Monsieur, mas foi o mais belo cantar que já ouvi, em minha vida.

Erik sorriu para a jovem e, abraçando uma Christine que parecia devanear, ainda em êxtase após a vivência musical, declarou:

— Concordo plenamente com você, Mademoiselle. Christine é inigualável, e ouvir sua voz é um privilégio. – ele havia se tornado mais gentil naquelas semanas. A moça ruiva anuiu e declarou:

— Vim perguntar se posso servir-lhes o almoço.

— O que acha, meu amor? – perguntou ele a Christine, que o mirou longamente – quer almoçar? Está com fome?

A moça apenas deu de ombros, como fazia com toda pergunta direta. Jamais escolhia algo ou tomava alguma iniciativa, e isso começava a desesperar o músico... Tenso, ele pediu a Louise que servisse a refeição, e perguntou a sua amada:

— Por que não me diz o que quer? – ela baixou a cabeça, sem responder, submissa. Erik tentava compreender o estado da moça, mas ver aquele abatimento, aquela apatia, o exasperava! Desanimado, ele continuou – Christine, responda-me!

Ela ergueu os olhos, assustada, e respondeu:

— O que preferir, Monsieur. – aquelas palavras apenas deixaram o Anjo mais desesperado. Sem pensar no que fazia, ele segurou a jovem pelos ombros com mais força do que pretendia, e lhe deu uma leve sacudida:

— Por que você não reage?! – ela tentou se soltar, mas ele a manteve em suas mãos, desesperado por trazê-la de volta – por que desistiu deste modo, Christine? Por que não reage?! Por que não volta para mim?! – seu tom se alterou, e a jovem se soltou do aperto, apavorada. Ah, perfeito! Ele conseguira causar outra crise de pânico nela! Maravilhoso, Erik, maravilhoso!

Aterrorizada, ela se abaixou contra a parede, encolhida, as mãos protegendo a cabeça daquele modo estranho que se lhe tornara habitual após o cativeiro, e implorou:

— Perdoe-me, por favor! Perdoe-me! Eu serei uma boa garota, eu prometo! Por favor, perdoe-me! – Erik revirou os olhos, de coração partido, e a abraçou, cantando baixinho para ela até a moça parar de tremer; quando isso ocorreu, ele a levantou consigo e a conduziu até a mesa posta, fazendo-a se sentar. Tinha uma ideia para fazer Christine realizar escolhas e começar a demonstrar iniciativa, mas não estava certo de que funcionaria...

Sentando-se de frente para ela, estendeu duas taças para a moça, servindo suco em uma, e vinho em outra. Ela o fitou, esperando que lhe dissesse se e qual deveria pegar, mas então o Anjo fez o inesperado:

— Suco ou vinho, Christine?

— Anjo? – perguntou ela, confusa. O que deveria fazer?

— Quero que escolha – pois bem, ela obedecia ordens de modo rigoroso e imediato, então, talvez ele precisasse coloca-la em paradoxos, para quebrar esta condicionante – estou ordenando que escolha. – ordenar que ela escolhesse forçava a mente da menina: por um lado, ela se sentia obrigada a cumprir a ordem e, por outro, precisava tomar uma decisão por si mesma... Por um instante Erik pensou que ela apenas ficaria parada, mas, então, a jovem estendeu a mão para a taça com suco. Fazia sentido, pois a soprano era abstêmia, e essa pequena demonstração de gosto próprio, de vontade própria, encheu de alegria o coração do músico, que sorriu – muito bem, meu amor. Muito bem.

Ele repetiu o ato por todo o almoço, “ordenando” a Christine que escolhesse o que queria comer, e quanto desejava. Ela hesitava e demorava em cada escolha, dividida pelo paradoxo, mas acabava demonstrando suas próprias vontades. Quando a refeição terminou, havia grande satisfação na alma do Fantasma.

— Christine – perguntou ele – o que achou da refeição?

— Estava muito boa, meu Anjo. – disse, daquele modo tímido e levemente consternado.

— Fico feliz que tenha gostado. E o que quer fazer, agora?

Outra vez ela ficou perturbada; escolher era difícil, como a própria doutora Renée dissera que seria... Ela baixou a cabeça e cruzou as mãos no colo, dizendo:

— O que preferir, Anjo.

— Resposta errada – disse ele, indo até sua amada e segurando-a pelas mãos, levantando-a – vou repetir. O que você quer fazer?

Ela olhou hesitante para o piano, e então para Erik... Abriu a boca para falar, mas hesitou muito antes de conseguir fazer algum som sair:

— Piano?

O Fantasma sorriu, levando-a até o piano, outra vez, e começou a tocar; sabendo-se observada, a soprano começou a cantar, porém de cabeça baixa, acanhada, tímida. Aquilo fez Erik parar e, gentil, porém severo – a mesma postura que adotara como professor da moça, por longos anos – fê-la erguer a cabeça, e repetiu a lição que um dia lhe dera:

— Uma Primeira Dama jamais canta de cabeça baixa. Se for cantar, seus olhos devem brilhar, e sua cabeça deve estar bem erguida e orgulhosa: quando canta, é uma deusa, uma rainha, uma estrela, e não deve se acanhar ante aqueles que a assistem. Sua voz deve se elevar sem amarras, brilhar e bailar pelos ventos, como uma adoração à arte! – ele lhe segurou o queixo delicadamente, tomou-lhe uma das mãos e começou a cantar ele mesmo:

— Che gelida manina (que gélida mão) – e beijou-lhe os dedos, gentil, antes de prosseguir:
— Se la lasci riscaldar. (deixe-me aquecê-la)
Cercar che giova? (Para que procurar?)
Al buio non si trova. (Na escuridão, nada se encontra) – e acariciou o rosto da soprano, que sorriu, sentindo a música afastar o medo.
— Ma per fortuna (Mas por sorte)
è una notte di luna, (é uma noite de lua)
e qui la luna (e a lua)
l'abbiamo vicina. (a temos como vizinha)

Christine sorria, mas hesitou ante a aproximação de Erik e deu alguns passos para trás, como se pretendesse fugir; ele segurou seus dedos com delicadeza, e continuou a canção:

— Aspetti, signorina, (espere, senhorita)
le dirò con due parole (lhe direi resumidamente)
chi son, e che faccio, (quem sou e o que faço)
come vivo. Vuole? (como vivo. Gostaria?). – entrando no papel de Mimi, Christine sorriu e assentiu, sentando-se no banco do piano, a cabeça levemente tombada para o lado, em seu desejo de ouvir aquela voz que a fascinava.

— Chi son? (quem sou)
Sono un poeta. (sou um poeta)
Che cosa faccio? Scrivo. (O que faço? Escrevo.)
E come vivo? Vivo! (e como vivo? Vivo!)
In povertà mia lieta (em minha pobreza feliz)
scialo da gran signore (poso de grande senhor)
rime ed inni d'amore.  (em rimas e canções de amor)
Per sogni e per chimere (de sonhos e de quimeras)
e per castelli in aria, (e castelos no ar)... – ele a ergueu pelos ombros, vendo aquele olhar deslumbrado e enlevado da moça, o que o fez sorrir, antes de prosseguir:
— l'anima ho milionaria. (minha alma é rica)
Talor dal mio forziere (mas, às vezes, de meu peito)
ruban tutti i gioelli (roubam todas as joias.)
due ladri, gli occhi belli. (dois ladrões, estes belos olhos) – ele deslizou a mão delicadamente pelo rosto dela, fechando-lhe momentaneamente os olhos.
— Ma il furto non m'accora, (mas este furto não me perturba)
poichè, v'ha preso stanza (pois, com ele vem)
la dolce speranza! (uma doce esperança) - ele beijou a fronte da jovem que, pela primeira vez, não estremeceu ao toque, e então a fez encará-lo:

— Or che mi conoscete, (agora que me conhece)
parlate voi, deh! Parlate. (fale de si. Fale !)
Chi siete? Vi piaccia dir! (O que sente? Agrada-te falar?)

Parecendo sair pela primeira vez do estupor em que estivera por todo aquele mês, Christine fez-se faceira e humilde ao mesmo tempo, começando a cantar, mãos cruzadas no colo:

            - Sì. Mi chiamano Mimì, (sim, me chamam de Mimi)
Ma il mio nome è Lucia. (mas meu nome é Lucia) - levantou-se e deu a volta no piano, apoiando-se levemente no instrumento:

— La storia mia è breve. (minha história é breve)
A tela o a seta (em algodão ou seda)
Ricamo in casa e fuori... (bordo em casa e fora desta)
Son tranquilla e lieta (Sou calma e feliz)
Ed è mio svago (e á minha distração)
Far gigli e rose. (bordar lírios e rosas) – Christine tocou o piano com a mão direita, e lançou a Erik um olhar... terno? Fosse o que fosse que estivesse naquele olhar, aqueceu o peito do Fantasma, enquanto ela prosseguia:

— Mi piaccion quelle cose (sou apaixonada por coisas)
Che han sì dolce malìa, (que possuem uma doce magia)
Che parlano d'amor, di primavere, (que falam de amor, de primavera)
Che parlano di sogni e di chimere, (de sonhos e quimeras)
Quelle cose che han nome poesia... (aquelas coisas às quais se chama poesia)
Lei m'intende? (Entende?)

Erik assentiu e, feliz por ver sua amada outra vez sendo ela mesma, respondeu:

— Si. – Ela ergueu os olhos, sonhadora, fitando o céu através da janela do sobrado, sentando-se sobre as pernas no sofá junto à janela:

                - Mi chiamano Mimì, (eu me chamo Mimi)
Il perché non so. (Mas não sei o porquê.) - e voltou-se para o Fantasma, sua voz descrevendo um perfeito "allegro":

— Sola, mi fo (sozinha eu vou)
Il pranzo da me stessa. (almoço sozinha)
Non vado sempre a messa, (não vou sempre à missa) - E então os trinados se tornaram lentos:

— Ma prego assai il Signore. (mas oro sempre ao Senhor)
Vivo sola, soletta (vivo sozinha, sozinha)
Là in una bianca cameretta: (lá, em um quartinho branco)
Guardo sui tetti e in cielo; (vejo o telhados e o céu) – ela cruzou as mãos sobre o peito, tal como Mimi faria, numa encenação perfeita!

                - Ma quando vien lo sgelo (mas quando vem o degelo)
Il primo sole è mio (o primeiro sol é meu) - ela abriu os braços diante da janela, como se recebesse os abraços do Sol:

— Il primo bacio dell'aprile è mio! (o primeiro beijo de abril é meu!) - e tocou os próprios lábios com as mãos, perdida em sonhos e melodias. Deu um breve sorriso, e sentou-se corretamente:

— Germoglia in un vaso una rosa... (Nesce em um vaso uma rosa)
Foglia a foglia la spio! (Folha a folha a observo)
Cosi gentile il profumo d'un fiore! (Como é suave o perfume de uma flor!)
Ma i fior ch'io faccio, (mas as flores que eu faço)
Ahimè! Non hanno odore. (pobre de mim, não têm perfume !) 
Altro di me non le saprei narrare. (Mias de mim não saberia dizer)
Sono la sua vicina che la vien fuori (Sou a vizinha que vem incomodar)

D'ora a importunare. (fora de hora)

Assim como Mimi, ela escorregou para o chão ao fim da canção, e fitou seu Anjo, seu mentor, com olhos carinhosos. Ele lhe estendeu a mão, e elogiou:

— Magnífica. – colocou-a em pé, e ficaram frente a frente por longos momentos, antes que ela fizesse a última coisa que Erik esperava: pousou as mãos em seu peito e o beijou. Um beijo carinhoso, breve, apenas um selar de lábios, antes de recuar, assustada consigo mesma, e murmurar:

— Perdoe-me... Ah, perdoe-me! – e virando-se de costas correu para seu quarto, deixando Erik a um só tempo confuso e feliz.


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Notas finais do capítulo

Alguém aí confuso/feliz/exultante com esse beijo no final? rsrsrsrsrs. Parece que Christine está se lembrando aos poucos de quem ela é, enfim. De qualquer forma, adoraríamos saber o que acharam!
Beijso enormes a todas que estão comentando nessa fic! Vocês são DEMAAAAIIIS!



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