A Linhagem Bennet escrita por Wondy


Capítulo 4
Sobre iniciações e família.


Notas iniciais do capítulo

Atenção para o ataque: AI MEU LOKI DE ASGARD MINHA ZEUSA FABULOSA A MINHA ESTÓRIA FOI RECOMENDADA!!!! EU TO PULANDO AQUI CARA!!!!!!!!!!!!!!!!
Recomponha-se, Wondy, recomponha-se. Então, eu recebi uma recomendação linda das Filhas da Sabedoria (não sei se sao duas, ou se é só uma delas que acompanha a fic, mas whatever), uma leitora que eu amo os reviews e sempre apoiou muito a fic! Esse capítulo é dedicado à você!
enjoyyy!!!!



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Nova York, 14 de junho de 1916.

Os cabelos incomuns da garota dançam com a brisa vinda da janela aberta. Seus lençóis já estavam sujos, assim como seu punhal como já era de se esperar. Ela passava-o pelos seus braços como se estivesse tocando um violino, cujas notas eram leves e dolorosas, porém ainda assim viciantes. Ela precisava estar preparada, afinal era sua iniciação. Ela finalmente faria. Finalmente seria uma devida Bennet.

Muitas não conseguiam. Na verdade, o histórico de Bennets que realmente conseguiram passar pela iniciação era muito pequeno. Afinal, era difícil. Muito difícil. Sua mãe, por exemplo, não havia conseguido, embora tivesse completa confiança que ela conseguiria dessa vez. Ela a orgulharia. Ela orgulharia suas antepassadas.

Olhou-se no espelho, contemplando os olhos castanhos que logo tornar-se-iam azuis gelo. Ela passaria no teste. Se preparara sua vida toda para aquele dia, e ele finalmente chegara. Então por que esse sentimento de desespero tomava cada vez mais conta de seu peito? Por que seus olhos começavam a marejar todas as vezes que pensava no que precisaria fazer? Por Deus, ela havia treinado tanto para aquele dia, por que essa insegurança a atacava de repente?

Ela sabia que aquilo fazia parte da Maldição. Para ser digna de tal honra, você precisaria provar que é merecedora. Você precisa provar que é capaz de controlar suas emoções. Ela era capaz. Ela havia controlado por quinze anos, havia aprendido a conter sua tristeza e sua raiva antes mesmo de aprender a engatinhar. Ela era, sem dúvida, a Bennet mais bem treinada até ali.

E mesmo assim o pensamento de falhar a assombrava.

Ela se levantou para ficar de frente para o espelho, encarando a garota que o mesmo refletia. A menina do espelho a encarou de volta, sem medo. Ela passou a mão pelo cabelo platinado, manchando-o de sangue. O reflexo fez o mesmo.

— Você realmente quer isso? – A garota do espelho indagou.

— Quero – respondeu, embora sua voz soasse hesitante até para os próprios ouvidos.

— Talvez viver com emoções seja melhor – argumentou o reflexo. – Você nem ao menos saberá o que é felicidade, Agnes.

— Eu nunca soube.      

— Você acha que conseguirá aguentar aquela vida?

Aquela pergunta a perseguia por meses. Sua mãe sempre fazia a idéia da maldição parecer incrível, algo que todos iriam querer. Mas, e se não fosse? E se quando você finalmente ativa a Maldição, você fica... vazia? Sem sentimento algum. Sem dor. Sem amor. Sem tristeza. Apenas o desejo insaciável de matar?

— Você tem uma escolha – o espelho disse.

Agnes sentiu vontade de rir.

— Não, eu não tenho – retrucou ela. – Eu nunca tive, nunca terei. Isso é quem eu sou, é quem eu sempre fui. É impossível escapar da maldição.

— Como quiser – suspirou o reflexo em tom reprovador. – Apenas não vá se arrepender mais tarde.

Agnes estava pronta para responder quando duas batidas na madeira da sua porta a interromperam. Ela se abriu revelando seu irmão, John. Os cabelos longos e loiros dele estavam presos com uma fita, fazendo-o parecer-se com seu pai.

— Está na hora.

Em alguns minutos, ela já estava no porão de sua casa. Toda a sua família estava lá, incluindo sua mãe, sua avó e suas tias que também não haviam conseguido iniciar a maldição. Encolhida num canto estava a pequena Sarah, o novo orgulho da família, desenhando em um caderno. Agnes se questionou se ela ficaria ali o tempo todo. O que aconteceria a seguir poderia ser traumático para uma garotinha de apenas seis anos.

— Está pronta? – sua mãe perguntou, hesitante.

Agnes deu um passo à frente, tentando esconder seu desespero ao ficar ereta.

— Sim, estou pronta.

Sua mãe estendeu a mão. Em sua palma havia um punhal feito de prata, seu cabo era encrustado com pedras, formando estrelas e luas crescentes. Era a arma mais linda que Agnes já vira. Ela estendeu a mão e a segurou. A sala inteira pareceu prender a respiração. Sarah levantou os olhos do seu caderno, observando com interesse a cena que se passava.

As mãos de Agnes tremiam. Chegara a hora. Ou ela fazia, ou ela viraria a mais nova vergonha da família.

Mas... e se ela não fizesse? E se ela aceitasse ser a vergonha da linhagem Bennet? Mas, então, sua mãe morreria, afinal ela já havia falhado uma vez, agora falhou com sua própria filha. A punição para isso é a morte.  

— Orgulhe-nos – sussurrou sua mãe, fechando os olhos esperando o que iria vir.

Agnes encarou o punhal em suas mãos. Fechou os olhos, concentrando-se tanto que sua cabeça chegou a doer. Seus olhos ficaram marejados. Ela não queria fazer aquilo. Ela queria ser normal. Mas isso não era uma escolha. Ela não tinha uma escolha. Nunca teve. A raiva abrasadora atingiu Agnes como um soco. Por que ela se sentia assim? Por Deus, ela era uma Bennet! E as Bennets nunca permitem que as emoções interfiram em suas escolhas e ações. Uma Bennet... 

Quando Agnes abriu os olhos, eles estavam azuis, calculistas, cruéis. Frios.

Ela era uma Bennet.   

Avançou com sua mão, cravando o punhal no peito de sua mãe. A mulher ofegou com a surpresa, encarando os olhos inexpressivos da filha enquanto a vida esvaía-se de seu corpo. Agnes observou enquanto sua mãe caía, banhando-se em sangue, sem sentir nada. Ela não sentia nada. Acabara de matar a única pessoa que já amou e não sentia remorso ou culpa.  

As badaladas do relógio ecoaram pelo cômodo úmido, marcando a meia noite e a chegada do seu aniversário. A dor que atingiu Agnes foi arrasadora. Ela se arqueou para frente como se tivesse levado um soco, apertando a cabeça com as mãos, gritando abrasadoramente. Vozes berravam em sua mente, como se centenas de agulhas a rasgassem chamando-a de assassina. Era insuportável. Ela só queria que parasse. Só que a dor parasse.  

Ao longe, a pequena Sarah observava a prima berrar em pura dor com os olhos azuis escuríssimos curiosos. Ela não sentia medo, nem angústia. Sentia-se fascinada. Curiosa. Um sorriso frio se abriu em seus lábios. Ela olhou para o desenho em seu colo, observando a mulher feita de grafite deitada no chão. Olhou para a tia que sangrava no chão.

É, ela achava que aquele desenho precisava de mais vermelho.   

*****

Piper McLean

O refeitório estava quieto. Todos estavam ali, sentados em silencio, temendo o começo da reunião. Percy estava sentado ao lado da namorada, com os braços cruzados e uma carranca. Hazel parecia ter perdoado o descuido de Frank ao espalhar a notícia sobre Hayley e Nico, mas ainda assim ela parecia nervosa, como se temesse a hora que precisasse começar a falar. Leo parecia do mesmo jeito, batucando os dedos na mesa em um certo ritmo que ele sempre faz quando está nervoso.

Particularmente, a notícia bombástica “Hayley e Nico” não foi tão bombástica assim para mim. Sinceramente, eu já tinha percebido que tinha alguma coisa ali desde que havíamos resgatado Nico há uma semana atrás.

— Muito bem – começou Jason, inclinando-se para frente. – Leo, foi você que convocou a reunião, o que aconteceu?

Leo parecia um pouco verde, como se estivesse muito enjoado.

— Ãhn... tá bem – disse ele, olhando para todos na mesa até que seus olhos parassem em Percy. – Ontem à noite, Hayley falou comigo por sonho.

Ela o quê? — perguntou Percy, perplexo.

Leo abriu a boca para falar algo, mas a fechou logo em seguida lançando um olhar que berrava “me ajude” à Hazel. 

— Ela viajou pelos sonhos – disse ela. – Nico sabe fazer isso, deve tê-la ensinado...

— É claro que ele ensinou – murmurou Percy, inaudível.

— Tá, mas como ele faz isso? – perguntei, confusa.

— É complicado – Hazel e Leo responderam em uníssono.

— A questão é – continuou a filha de Plutão. – Nico fez contato com os mortos na noite passada.

Ela falou com a maior naturalidade, como se Nico tivesse apenas trocado mensagens de texto com um amigo.

— Ele me disse para irmos à Casa de Hades.

— Hayley disse a mesma coisa para mim – falou Leo. – Disse que era uma espécie de santuário ou algo assim, onde os gregos antigos iam para falar com os mortos.

— Exato – concordou Hazel. – Era uma espécie de caverna onde os gregos homenageavam seus antepassados.

Frank franziu a testa.

— Os chineses fazem isso: adoram os antepassados e varrem suas sepulturas na primavera – disse ele, como se estivesse recordando de algo bom.

— Parece muito com os Día de los Muertos, também – disse Leo, embora a lembrança não parecesse assim tão boa.

Hazel pigarreou.

— A Casa de Hades é diferente, pois, ao contrário das tradições de outros países, ela fica aberta o ano inteiro. Pessoas vinham de longe para falar com seus antepassados, pois lá eles podiam realmente de comunicar com eles. Você atravessa diferentes níveis de túneis, mas a maioria se perde e enlouquece. Se não beber as poções especiais certas...

— Poções especiais – murmurou Leo. – Que delícia.

Jason pigarreou, lançando um olhar de “já chega cara”.

— Prossiga, Hazel.

— Os poucos que sobreviveram à Casa de Hades diziam que a caverna inteira era feita para enlouquecê-los e que, se você chegar muito fundo, os fantasmas podem aparecer para você e, se gostarem das oferendas, até revelar o futuro.

— Futuro? – indagou Percy. – Não me parece uma má idéia.

Annabeth bufou.

— É, se conseguirmos sobreviver até lá – ponderou ela. – Então é lá onde as Portas da Morte estão?

— Sim.     

— E podemos ter certeza que essa... fonte de Nico está falando a verdade? – questionou Jason.

Hazel o encarou por alguns segundos.

— Absoluta – disse ela com convicção. Uma sombra de raiva passou pelos seus olhos, como um aviso para que Jason não ousasse mais duvidar da confiança de seu irmão.    

Jason pareceu ter entendido, pois engoliu em seco e pigarreou, desconfortável.

— Muito bem – Ele se remexeu na cadeira, como se, de repente, o móvel tivesse se tornado incrivelmente desconfortável. – E Nico lhe falou se há algum jeito de detectar as armadilhas? Sem ofensa, cara, mas acho que você não conseguirá achar armadilhas mágicas com mais de milhares de anos em uma caverna escura – completou ele ao ver Leo abrir a boca para contestar.

Hazel olhou para as próprias mãos.

— Não, não falou – admitiu ela, parecendo envergonhada. – Mas ele me disse que voltaria com mais informações.

 - Annabeth poderia pesquisar algo no Laptop de Dédalo – opinou Frank.

— Eu poderia, se eu ainda o tivesse – respondeu Annie, cabisbaixa. – Ele estava na minha mochila, da qual Hayley usava quando.... pulou.

A mesa ficou silenciosa. Até então ninguém havia falado em voz alta a palavra. Todos diziam “escorregou” ou até mesmo “caiu”, mas ninguém havia falado “pulou” até então. É claro que todos ali já sabiam disso, só não queriam admitir. Afinal, é muito mais fácil colocar a culpa em algo, do que assumir a verdade. Hayley era uma guerreira. Ela havia treinado por anos, havia passado por tantas coisas e mesmo assim conseguia achar razões para sorrir e fazer piadas. Era surreal a ideia de que aquela garota apenas pulou de um abismo mesmo sabendo dos riscos. Embora tenha sido por uma causa admirável, ela acreditava que não tinha nada a perder. A ideia de que ela pode morrer a qualquer momento assombrava-nos.

Por um momento, lembrei-me da imagem que havia visto em minha lâmina Katoptris. Mas, antes que as lembranças pudessem voltar à minha mente, um solavanco fez com que todos se desequilibrassem e minha mente fosse para um lugar completamente diferente. E, nesse caso, esse lugar é chamado por muitos como chão duro do refeitório do Argo II.

— Mas o que.... – ofegou Leo, correndo para o speaker na parede e apertando o botão. – Festus! O que está acontecendo?

Ouviram-se vários sons de engrenagens e rugidos de máquinas. Ao ouvir, Leo saiu correndo no mesmo instante para o convés, soltando alguns xingamentos quando o navio sacudiu novamente. 

Percy, que por algum milagre havia conseguido ficar em pé, ajudou Annabeth a se equilibrar e correram atrás de Leo para saber o que estava acontecendo. Hazel se encolhia no chão apertando a barriga, parecendo enjoada demais para tentar levantar. Frank havia se transformado em um grande buldogue e parecia não conseguir voltar à sua forma humana, como sempre acontecia quando ele entrava em pânico.

Agarrei-me à mesa para tentar me levantar, mas quase caí novamente quando outro solavanco atingiu o Argo II. Só não fui de encontro ao meu velho amigo chão por que Jason me segurou.

— Vamos – exclamou ele, puxando-me pelas escadas. Quando chegamos ao convés, eu começara a ter uma idéia melhor do que a palavra “apocalipse” significava. Pedras voavam para todos os lados. Leo girava furiosamente os controles de Wii, tentando fazer com que o navio se afastasse das pedras, Percy bloqueava algumas com seus poderes, Annie desviava as pedras de Leo e o Treinador Hedge rebatia vários pedregulhos com seu bastão de baseball de alumínio.

— Vieram se juntar à festa? – perguntou Percy.

Jason controlou os ventos para que uma pedra gigante desviasse de Percy.

— O que...?

— É um deus da montanha! – gritou Annabeth. – E um bem ranzinza!

Uma pedra muito maior do que as outras arrancou o mastro do Argo II.

— Ah, qual é! – gritou Leo. – É a terceira vez que terei de substituir esse mastro! Eles acham que eles dão em árvores?

Jason franziu a testa.

— Mastros são feitos de árvores!

— Essa não é a questão!

Suspirei. Seria uma longa noite.

*****

Resistência Asfodeliana, Mundo Inferior.   

Lindsay olhou-se no espelho pela quarta vez naquela manhã. Embora soubesse que sua maquiagem estava completamente perfeita, usava a desculpa que estava apenas checando-a todas as vezes em que parava para ver seu reflexo. Não era verdade. Ela fazia isso por outra razão.

Afinal, ela não poderia negar, a semelhança entre ela e o novo resistente era incrível. Lindsay nem precisou vê-lo duas vezes para ter certeza. Ele não era quem dizia que era. Ele era filho do maior inimigo da Resistencia, assim como ela.

Essa vergonha a seguia por onde ia. Sempre temeu que seus amigos descobrissem a verdade. A Resistencia era seu lar. Ela havia crescido ali, amado ali. Ela havia, finalmente, achado uma família ali. Não iria pôr tudo aquilo a perder por causa do seu pai.

“Sabe, você tem uma característica muito curiosa, Lindsay” dissera Freddie, após examinar uma amostra do seu sangue. “Uma característica apenas encontrada em filhos de Hades”

Lindsay se lembrava de ter prendido a respiração naquele dia, há anos atrás, tentando fazer com que seu desespero não ficasse visível. Ela tinha certeza que Freddie a expulsaria da Resistencia, acusando-a de ser uma espiã de seu pai.

Mas ele não fez isso. Ele pegou um papel que sai de uma impressora - o resultado que dizia que Lindsay era uma semideusa - e o jogou na lareira.

“Ninguém pode saber disso, Lindy” disse Freddie. “Eu vou apagar tudo que comprove que você tem sangue divino, mas você não pode contar à ninguém, nem mesmo à Hayley. Para todos, você é apenas uma mortal que morreu num trágico acidente de carro onde perdeu toda a família, e não lutando com monstros. Se a Resistencia descobrir, irão te exterminar achando que é uma espiã. Você entendeu? Só posso te proteger se me disser que entendeu”

Lindsay, em meio à perplexidade, conseguiu juntar forças para assentir com a cabeça.

Aquilo acontecera há sessenta anos, e por todo aquele tempo Freddie cumpriu a promessa. Ele a mandou para um lugar específico, onde ele sabia que Hayley Bennet sempre fazia ronda procurando almas que se lembravam. Hayley a achou e a apresentou à Resistencia como uma mortal comum que conseguira milagrosamente manter suas memórias com muito esforço e dor.

Era uma mentira.

Lindsay havia morrido lutando contra um grifo. Ela achara estranho, já havia lutado com tantos grifos e era sempre bem fácil derrota-los. Mas, eram pelo menos vinte grifos, o que era incomum pois eles andavam, no mínimo, com três. Bem, isso já não importava mais. Lindsay aprendeu que não adiantava de nada ficar presa ao passado. Afinal, ele não mudaria mesmo.

Três batidas na porta fizeram com que Lindy pulasse devido ao susto. Xingando em francês, ela se encaminhou à entrada do quarto, pronta para dar um soco no individuo atrás da mesma. Porém, a vontade se dissolveu no instante em que abriu a porta, revelando Nico di Angelo.

— Nick? – perguntou ela, surpresa. Lindsay não sabia ao certo por que começou a chama-lo daquele jeito, mas não conseguia mais chama-lo de Nico.

— Posso entrar? – perguntou ele, encarando-a com os mesmos olhos que Lindy via todas as vezes em que se olhava no espelho.

Lindsay assentiu, fechando a porta logo depois que o garoto passou por ela.

— Então, como posso te ajudar Nick? – questionou ela, virando-se para ele.

Nico deu de ombros, a expressão séria sem nunca deixar seu rosto.

— Me contando a verdade – disse ele. – Eu sei quem você é. E você também sabe quem eu sou.

O coração Lindsay parou. Ela tentou balançar a cabeça e sorrir, mas sabia que ele não estava blefando. Afinal, ele não era cego. Qualquer um com dois olhos poderia ver a semelhança física entre os dois, sem mencionar que Nico poderia ser qualquer coisa menos idiota. É claro que ele ligaria os fatos. Mas, é claro, Lindsay tinha uma carta na manga.  

— Tudo bem – disse Lindsay, dando de ombros e sem desviar o olhar.

Nico franziu a testa, parecendo confuso.

— “Tudo bem”? – indagou ele, descrente.

Lindsay deu de ombros novamente.

— Não há nada com que me preocupar – disse ela, calmamente. – Não pode me dedurar, pois sou a única que sabe sobre você.

Nico a encarou por um tempo antes de balançar a cabeça.

— Tem razão – admitiu ele. – Você me deduraria?

Lindsay deu de ombros, incapaz de admitir a verdade nem para si mesma.

Você me deduraria, Nick? – indagou de volta, com as sobrancelhas arqueadas em desafio.

Nico pareceu querer sorrir, mas se conteve. Ele desviou o olhar, mudando de assunto:

— Então, há quanto tempo você sabe que é semideusa?

Lindsay deu de ombros, cruzando os braços.

— Desde que nasci, eu acho – disse ela, sentando-se em sua cama. - Eu morava na França, até que minha casa foi invadida por grifos.

— Não tinham barreiras mágicas contra monstros? – perguntou Nico.

Lindsay assentiu.

— Tínhamos sim. – afirmou ela. – E é isso o que é mais estranho. Como um grifo poderia ter ultrapassado a barreira?

Nico franziu a testa.

— Bem, isso é bem estranho.

Lindsay suspirou pesadamente.

— É, é mesmo. – disse ela, encarando suas mãos. – Mas, e aí? Como você descobriu?

Nico mordeu o lábio.

— Eu não gosto muito de falar disso, sabe? – disse ele. Para a maioria das pessoas, essa frase era o bastante para fazer com que parassem de perguntar e mudassem rapidamente o assunto. Mas isso não bastou para Lindsay.  

— Ah, venez là! Eu te contei a minha história, agora você precisa me contar a sua. – protestou ela, cruzando os braços como uma criança de seis anos.

Nico precisou conter a risada. Ele a encarou por alguns segundos antes de suspirar pesadamente.

— Existe esse hotel em Las Vegas – começou ele. – chamado Hotel Lótus. Uma vez, um cara levou a mim e a minha irmã para esse hotel. Acontece que o lugar é amaldiçoado. Você não vê o tempo passar quando está lá dentro, o que faz com que você fique décadas lá pensando que se passaram apenas alguns dias. – Lindsay escutava-o com atenção. – Achei que havia ficado lá por apenas algumas semanas, mas, na verdade, acabei por ficar lá por mais de setenta anos.

— E quem foi que te mandou para lá? – perguntou Lindsay, arregalando os olhos.

— Já vou chegar nessa parte. – disse Nico. – Então, depois que saí do hotel, eu conheci outros semideuses: Percy Jackson, filho de Poseidon, Thalia Grace, filha de Zeus e Annabeth Chase, filha de Atena. Eles nos salvaram de um monstro, e logo depois acabamos por encontrar as Caçadoras de Ártemis – ele fez uma pausa, como se questionasse silenciosamente se Lindsay as conhecia. Ele continuou depois que ela assentiu com a cabeça. -, e minha irmã, Bianca, acabou por se juntar à elas.

“Aqueles semideuses me levaram para um lugar chamado Acampamento Meio-Sangue, um dos únicos lugares seguros para pessoas como nós, enquanto eles e minha irmã saíam em uma missão para resgatar Annabeth que havia sido sequestrada por monstros. Foi então que eu descobri que sou um filho de Hades e que quem me mandou para o Hotel foi meu próprio pai. Descobri isso quando os semideuses voltaram da missão, mas... Bianca não estava mais com eles.”

Lindsay arregalou os olhos. Nunca lhe ocorrera que Nico podia ter realmente perdido alguém. Tudo bem, ele era um cara caladão que não gostava de sorrir, mas mesmo assim Lindsay nunca pensara que haviam cicatrizes profundas em seu passado.

— Nick... – começou ela, desconcertada. A única coisa que ela conseguia dizer é “eu sinto muito” ou “eu sei pelo que você está passando”, mas nenhuma dessas frases lhe pareceu certa. Pelo menos nenhuma fizera efeito quando foram ditas à ela.

— Não – cortou ele, desviando olhar para a janela do quarto de Lindy – Não diga que sente muito, Bellanger, por que você não sente. Nem a conhecia.

O silencio se estendeu por longos minutos. Lindsay conseguia ouvir o som da cozinha da resistência. Já estava perto do jantar, a equipe da Sra. Collins deveria estar preparando a comida.

— Eu tinha um irmão – disse Lindsay, tão subitamente que Nico até se assustou.     

— O quê? – indagou Nico, pensando não ter ouvido direito.

— O nome dele era Sam – disse ela. – Ele era meu irmão mais velho. Ele morreu tentando me proteger.

O olhar de Lindsay estava perdido, olhando para um canto qualquer do quarto enquanto a voz de seu irmão enchia sua mente:

“Linds, corra! Estou logo atrás de você!”

Mas não estava. Os grifos haviam o pegado primeiro. Nas primeiras semanas na Resistencia, Lindsay passava noites em claro, pensado em como poderia ter sido diferente se ela tivesse olhado para trás naquela noite. Sam poderia estar vivo.

— Lindsay – chamou Nico.

Lindy piscou, momentaneamente tonta por causa das lembranças. Nico lançou-a um olhar desculpas que ela retribuiu com um sorriso triste.

— Mais alguém sabe? – perguntou ele.

— Só o Freddie.

Nico arqueou uma sobrancelha.

— Freddie?

— Sim, ele me ajudou a esconder quem eu sou – respondeu ela.

Nico pareceu momentaneamente confuso, como se não conseguisse imaginar Freddie ajudando-a com aquilo.

— Nick? – chamou Lindsay, encolhendo os ombros.

— Sim?

— Eu não iria dedurar você – declarou ela.

Nico a encarou por alguns segundos antes de desviar o olhar com a sombra de um sorriso no rosto.

— É, eu também não teria dedurado você.

Lindsay sorriu.

— Então, o que nós... fazemos? – perguntou ela.

Nico franziu a testa.

— Como assim?

Lindy revirou os olhos.

— Ah, você sabe. Hayley controla a água, Freddie faz mágica...

Nico fez uma cara de compreensão.

— Controlamos os mortos.

Lindsay abriu uma careta.

— Os mortos? Sério?

— Bem, fazemos mais do que isso. – disse Nico. – Podemos controlar as sombras, viajar nelas, entrar nos sonhos das pessoas...

— Tipo o Freddy Krueger? – perguntou Lindsay, lembrando do personagem do filme favorito de Chris.

Nico tentou conter um sorriso.

— É, Lindsay, tipo o Freddy Krueger. – afirmou ele.

— Espera ai – pediu ela. – Podemos viajar nas sombras?

— Podemos.

— Pode me ensinar?

Nico encarou Lindsay por algum tempo antes de suspirar cansativamente.

— É claro que eu posso.    

 

 


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Notas finais do capítulo

AINDA ESTOU SURTANDO COM A RECOMENDAÇÃO MAS TENTAREI COM TODAS AS FORÇAS QUE MEU PAI DRAG ZEUSA FABULOSA É CAPAS DE ME DAR: Espero que tenham gostado do capítulo, divosas, e até o próximo!! Bjinhos de brigadeiro!



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