Heart on Fire in Her Hands (Hiatus Indeterminado) escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 7
Capítulo 6: Amarras


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, pessoal!
Como vocês estão?

Mais uma vez... Peço desculpas pela demora. Tenho passado por alguma dificuldades e escrever tem sido algo bem complicado, contudo, eu escrevi esse capítulo em dois dias e espero que essa produtividade continue e que vocês não me abandonem xDDD

Enfim, sobre o capítulo, ele trata de assuntos que são consequências diretas do capítulo anterior, especificamente, ocorrem no mesmo dia. Nele, vocês vão saber mais sobre Rachel e de toda a bagunça que ela tem dentro de si. Espero que a compreendem.

Para tal, eu indico "Downfall" da Matchbox 20 (eu acho essa música muito Faberry dessa fanfic, espero que concordem comigo xDD) e, a propósito, eu fiz uma playlist para a fanfic, está no spotify e o link segue abaixo:

https://open.spotify.com/user/fernandaredfield/playlist/1hNaGElSYVa2DTnKbvDquN

Espero que gostem, boa leitura!



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Os pontos de fusão (ou congelamento) são diferentes para cada substância, nenhuma temperatura coincide, assim como as substâncias são diferentes entre si. Contudo, Rachel Berry desconfiava que, muito de si, foi congelado no instante em que ela voltou para Quinn, Sam e Kurt, ainda que o seu corpo fosse feito de diversos componentes e substâncias... O gelo vindo dos olhos de Quinn era intenso. E quando Sam voltou a falar sobre o píer, o trio parecia bastante entrosado enquanto a morena se sentia cada vez mais deslocada e cada vez mais congelada.

Primeiramente, toda aquela frieza criou uma espécie de abismo na boca de seu estômago que se propagou por seu corpo, a ponto de lhe fazer enxergar a praia, que tanto amava, de outra forma. Como resultado, o sol pareceu brilhar menos, mesmo que não existissem nuvens naquele dia; a sensação de liberdade tomou outra natureza e pareceu aprisionar e sufocar a alma atrevida de Rachel; as pessoas que caminhavam pelo píer não mais pareciam sinceras nos sorrisos que davam e nas risadas que riam...

Santa Monica, a cidade que fincava os pés de Rachel no chão se tornou, naqueles segundos de frieza inexplicável, uma espécie de prisão.

A morena deixou-se ficar para trás e não se surpreendeu quando nenhum dos três procurou ou esperou por ela. Por isso, Rachel deu às costas ao trio e caminhou através do píer, em direção às areias da praia. Seus chinelos batiam nas pedras do calçadão e ela concentrou a sua audição nesse som, tentando se esquecer ou, ao menos, ignorar aquela sensação incômoda que deturpava o seu interior e arrastava os seus pés pela praia.

Ainda queria descobrir o que Quinn Fabray significava a ela, porém, não negava que sentia medo. Era algo intenso a ponto de, em três dias, deixá-la daquela forma. E também era algo poderoso o bastante para mudar as percepções mais certas que ela tinha a respeito de quem era e do que a circundava.

Rachel se sentia estranhamente frágil quando estava próxima a Quinn, frágil de uma forma que só se sentira com ela e com Ruby em alguns momentos do romance de verão que vivenciaram. E sentimentos tão intensos, associados às pessoas mais importantes de sua vida, só deixavam a pequena morena ainda mais perdida quando resolvia pensar sobre Quinn Fabray.

Mal a conhecera e já se encantara. Assim como mal se apresentara e já deixara uma péssima impressão. Rachel se conhecia bem e, também, não era de negar o que sentia... Entretanto, essas particularidades de sua personalidade não significavam que ela estava disposta a se apaixonar — e até sentir algo mais - daquela forma.

Deveria existir um manual sobre o que sentia, sobre como sentir e como pensar a respeito... Porque Rachel não era conhecia por ser racional ou pesar as conseqüências de suas atitudes, pelo contrário, Rachel era feita de momentos.

E o seu momento, naquele verão, parecia ser feito de tudo que Quinn Fabray possuía. O complicado era querer um momento com quem não queria ter absolutamente nada consigo. O medo era do que viria depois daquele momento...

Rachel colocou as mãos dentro dos bolsos dos shorts e seus olhos, cobertos pelos óculos de sol, voltaram-se ao mar. Nas ondas que tocavam a areia, a morena procurou encontrar a calmaria que o seu interior, bagunçado e arredio, precisava. Entretanto, a agressividade do mar a carregou da mesma forma como os olhos de Quinn a afogavam e a morena se viu, mais uma vez, pensando nas dezenas de mulheres de sua vida e se demorando nas duas que mais importavam e na última que a confundia.

Ela e Ruby. E, por último, Quinn.

E Rachel, talvez, tivesse sido novamente afogada nas profundezas de seus sentimentos e lembranças se uma risada máscula conhecida não tivesse lhe arrancado dos pensamentos que não a levariam a nada. A morena seria capaz de reconhecer Noah Puckerman em meio a uma multidão de pessoas, ele simplesmente era a sua metade - talvez, a melhor parte do que tinham dividido em dois - e ela o encontrava sempre que podia e muito quando precisava.

E, nossa, como precisava de seu melhor amigo agora.

Os passos sem destino de Rachel rumaram em direção ao seu porto, que não era o mais seguro ou o mais sensato, mas, era o indubitavelmente fiel. Noah Puckerman estava sentado na areia há alguns metros, duas belas garotas o cercavam e ele sorria para ambas, o sorriso charmoso e desgraçado que fazia qualquer uma cair na sua lábia.

Rachel estava sorrindo antes mesmo de falar com ele e, talvez, o que os unisse fosse forte o bastante para fazer com que um sentisse a presença do outro porque Puck desviou os olhos de suas companhias quando Rachel estava prestes a alcançá-los. O bad boy se ergueu, o seu físico definido, bronzeado e sem camisa, se fez presente e Rachel retirou os óculos, ele abriu os braços - não existia qualquer sinal de ressaca em seu rosto - e exclamou:

— Estava me perguntando se ia ver você hoje!

— Você realmente não agüenta ficar sem mim, não é? - Rachel até tentou imprimir um tom risonho em sua voz, mas, o seu sorriso de lado entregou que algo não estava bem. Ainda assim, ela se jogou nos braços do melhor amigo e ele, compreendendo o que vira em seu rosto, apertou-a de forma protetora e, principalmente, carinhosa. O rapaz abaixou-se até a altura de seu ouvido e sussurrou preocupado:

— Tudo bem?

— Você me conhece bem o bastante para não precisar perguntar isso. - Rachel, dessa vez, deixou que a ironia fizesse casa em suas palavras. Puck franziu a testa para a resposta da amiga e ela, tentando aliviar o clima, o socou amigavelmente no ombro e sorriu, virando-se para as garotas que também estavam em pé, mas, encontravam-se tímidas e aos sussurros. Rachel sorriu charmosa, ambas ficaram vermelhas e ela piscou orgulhosa da impressão que causara. - Você pode me apresentar essas duas... Eu não me importo em conhecê-las.

— Não é como se elas gostassem do que você pode dar, Rae! - Puck grunhiu levemente enciumado, ele admirava a capacidade da amiga de ser charmosa e encantadora, só que detestava quando ela usava isso contra ele. As garotas riram dos dois amigos Puck foi até o meio delas, abraçando cada uma e acenando, enquanto as apresentava. - Essas são Kitty e Harmony, acabamos de nos esbarrar na praia.

— Na verdade, o seu amigo nos encontrou lá no começo da orla e foi educado o bastante para nos guiar até o Píer... - A morena de olhos azuis, que se chamava Harmony, respondeu em um tom gentil e Rachel a observou atentamente. Aquela garota era tudo, menos hetero, assim como a sua companheira que demorara os olhos nas pernas de Rachel... Puck realmente precisava melhorar o seu gaydar.

O bad boy, entretanto, não tinha o rosto voltado para as três garotas que o acompanhavam. Em vez disso, seu rosto estava erguido, observando algo às costas de Rachel e pela forma como o corpo da morena reagira - arrepiando-se e contraindo-se em torno de si mesmo - ela tinha certeza que um par de olhos verdes estava cravado em sua nuca.

E ela não estava errada.

— Puck também estava comentando conosco a respeito de um local que você e ele freqüentam... “Jewelry of the Coast”? - Foi Kitty quem perguntou bastante interessada e deixando que Harmony cuidasse de Puck. O rapaz tinha os seus olhos nessa morena, mas, os seus sentidos já estavam afiados e atentos a Quinn que continuava no Píer. Rachel sentiu a sua alma atrevida desvencilhar-se das amarras que a frieza de Quinn proporcionara e, por isso, olhou para Kitty de forma sedutora e respondeu:

— Ah sim, aquele é meio que o nosso local, nós conhecemos a dona e sempre nos encontramos ali quando queremos algum movimento na noite mágica de Santa Monica...

— E pretendem ir lá hoje à noite? - Harmony tomou a frente e perguntou ansiosa. Puck colocou uma mecha dos cabelos escuros atrás da orelha dela e respondeu:

— Hoje não... Mas, quem sabe amanhã? Vocês, aliás, poderiam aparecer também.

As duas garotas não se manifestaram verbalmente, mas, acenaram freneticamente de forma afirmativa. Rachel e Puck trocaram olhares significativos e satisfeitos, as meninas, então, apanharam suas coisas e despediram-se de cada um, acenando. Puck suspirou de forma exagerada e levou as mãos ao peito, Rachel riu abertamente dessa reação exagerada e teria continuado a rir se o rapaz não tivesse alterado o seu humor tão rapidamente.

Puck se calou e respirou fundo, atitudes que ele tomava quando queria ter o tipo de conversa séria que Rachel evitava (a menos que estivesse em seu limite). Ele sentou-se na areia e bateu nos grãos ao seu lado, Rachel o obedeceu e sentou ao seu lado. Ao redor deles, os mais diversos sons ecoavam enquanto eles permaneciam em silêncio. E teriam ficado assim, contudo, Puck segurou a mão da amiga que repousava na areia e a apertou, olhando o mar, ele perguntou:

— O que está acontecendo entre você e a amiga da latina esquentadinha?

— Não tem nada acontecendo, Noah... - Rachel respondeu de forma evasiva, sentindo-se culpada por tomar o tempo do amigo quando não mais queria falar. Aparentemente, era melhor distrair-se com garotas como Kitty e Harmony a enfrentar algo mais complicado que sequer acontecera com Quinn.

Puck retirou os óculos e segurou o rosto da amiga, guiando os olhos dela para os seus. O bad boy tinha os olhos escuros preocupados e, sobretudo, curiosos. Rachel se enxergou na íris castanha do amigo e o que viu deixou-a ainda mais incomodada. Existia uma insegurança latente nas feições de seu rosto e um temor acanhado em seus olhos. Não parecia a mesma quando vista daquele jeito. Puck parecia concordar porque ele continuou a observá-la enquanto dizia:

— O tipo de olhar que eu peguei dela não indica isso. Muito menos, o que aconteceu ontem à noite.

— Como você pode se lembrar de ontem? Você estava caindo de bêbado! - Rachel protestou indignada pelas tentativas de Puck em tirar a verdade dela. Ele, primeiro, ofendeu-se e logo depois estava rindo de sua irritação. Rachel fazia beicinho e cruzava os braços, como uma criança. Puck desfez os nós nos braços da amiga e disse gentil:

— Para você ver... O que está acontecendo entre vocês está estranho o bastante para que eu, bêbado, perceba. Vamos lá, Rae... Nós dois sabemos que tem algo aqui.

— Sim, sabemos. Eu só não sei o que é. - Rachel confessou insegura, os seus olhos voltaram às ondas e elas, novamente, dragaram-na para as profundezas de seus sentimentos tão atribulados. A morena piscou e apertou a mão do amigo entre as suas, à procura de sustentação e segurança. - E eu tenho medo do que posso descobrir se pensar muito sobre isso.

— O que pretende fazer? Agir como sempre agiu? - Puck perguntou e a sua voz não disfarçou a reprovação em seu tom. Rachel desviou os olhos do mar e seu melhor amigo a observava, dessa vez, uma reprovação tímida existia em seus olhos. A morena, então, olhou para a areia e brincou com a textura dos grãos entre seus dedos. Um suspiro ao seu lado e ela soube que Puck diria o que ela não queria e sim, o que precisava escutar. - Quinn não é Ruby. E você sabe que ela não ia querer que você agisse dessa forma diante de uma situação como essa.

— Não, eu não sei... Ela teve que me deixar antes que soubesse quem eu poderia ser nesse aspecto, Noah. - Rachel não esperava que as palavras fossem doer tanto, muito menos, esperava a amargura presente em sua voz e nem o aperto perceptível e dolorido em seu peito. Fazia tanto tempo, porém, parecia que fora ontem.

E ainda doía.

Puck soube, ali, que aquela conversa tinha acabado. Ele olhou desolado para a amiga, em seu íntimo, ele queria ser capaz de tirar toda aquela tristeza e aquela melancolia que a nublavam e colocá-las em seus ombros. Puck queria que ela fosse feliz, de verdade. Mais do que momentos, ele gostaria que Rachel tivesse um infinito de felicidade... Ela merecia.

Contudo, ele não era tão poderoso para tanto, também não era um super-herói... Era apenas o melhor amigo e cabia a ele, em conversas como aquela, os conselhos e, sobretudo, a presença. Por isso, ele estendeu o braço musculoso sobre os ombros pequenos e encolhidos de Rachel, abraçando-a junto ao seu corpo, tão apertado que ela riu de forma abafada em seus braços.

Puck sorriu diante do riso dela, sentindo-se melhor e, principalmente, forte... Por ela.

Os dois ficaram em silêncio, olhando o mar. As pessoas passavam por eles, mas, pareciam distantes do que eles dividiam naquele instante. E eles ficariam se algo não os tivesse puxado bruscamente para a realidade, mais precisamente, era Finn Hudson que os gritara e que, ofegante, chegava a eles enquanto dizia:

— O carro da Ruby pifou, ela precisa de mim e eu preciso de uma carona!

Puck sorriu animado e bateu continência, Rachel se sentiu ser arrastada pelos dois e, a partir daquele momento, deixou Quinn de lado para pensar em Ruby e nos problemas de seu Mustang.

 

Quinn Fabray até tentou não olhar e nem se importar com a presença - ou seria ausência? - de Rachel Berry. O seu ar despreocupado falhou miseravelmente ainda nos primeiros momentos em que percebeu a distância da morena em relação ao seu grupo. A partir dessa percepção, o passeio deixou de ser entediante e passou a ser maçante.

Tudo o que Sam falava entrava por um dos seus ouvidos e saía pelo outro, todos os seus sentidos (menos os seus olhos) procuravam captar qualquer evidência de onde e com quem Rachel estava. E quando, enfim, se rendeu às teimosas insistências de seu corpo em reencontrar a morena, os seus olhos encontraram justamente o que ela não queria encontrar.

Rachel estava há alguns passos, na areia da praia, acompanhada de Puck e duas garotas. Ela tinha aquele sorriso charmoso, o mesmo sorriso pelo qual Quinn se encantara no primeiro esbarrão das duas no “Jewelry of the Coast”. Um sorriso que, aparentemente, não era único de uma e sim, genérico para todas. Quinn se sentiu ainda pior porque, afinal, pensara que, dentre todas as coisas vindas de Rachel, ao menos aquele sorriso pudesse ser especial ou fruto de uma sinceridade que ela não estava pronta para mostrar.

Mais uma vez, se enganara. Mais uma vez, todas as situações pelas quais as duas passavam - juntas ou separadas - indicavam que elas não pertenciam ao mesmo mundo ou aos mesmos conceitos e, até mesmo, aos mesmos sentimentos.

Quinn era tímida e até sonhava com uma relação meteórica e escaldante, mas, não era ingênua a ponto de cegar-se. Talvez, o seu encantamento por Rachel viesse, justamente, do ar de impossibilidade que a envolvia... A garota rebelde, pegadora e livre que, talvez, pudesse ter um interior delicado e que precisasse de salvação. Quinn não se orgulhava de querer ser a única garota de uma garota como Rachel, mas, não podia evitar... Era atração.

Mais do que isso, era uma espécie de gravitação.

Os mundos de ambas, mesmo tão diferentes e tão distantes, se esbarravam na órbita formada por seus amigos em comum. E eles gravitavam próximos, através de olhares intensos e incompreensíveis, mas, jamais se alinhavam porque a ausência de palavras os impediam de estarem na mesma órbita.

Elas podiam gravitar próximas e atraindo uma a outra, mas, jamais, se alinhariam. As milhas as separavam por um infinito de escuridão e, recentemente, por uma frieza absurda entregue por Quinn.

A loira se forçava a tratar aquelas férias como elas, de fato, eram para ser: uma folga de seus pais, um momento com seus amigos, uma chance ao desconhecido... Um único período para tentar ser livre.

Assim, Quinn até tentou voltar às palavras de Sam... Entretanto, ele e Kurt estavam alguns passos à frente, imersos em seus sorrisos e olhares que brilhavam. Inconscientemente, aquela aura dos dois a envolveu e ela se viu sorrindo. De forma automática, Quinn levou a câmera ao rosto e seus olhos deixaram de ser a única testemunha de um momento tão especial como aquele.

Sam sorria como se Kurt fosse algo muito interessante que ele precisava descobrir e Kurt o olhava como se ele fosse o oásis no meio de um deserto.

A câmera foi clicada mais de uma vez, outras tantas que Quinn não contou. Ela se deixou levar pela fotografia e pelas almas que podia apanhar através das lentes de sua câmera. Ela girou o corpo e seus olhos encontraram casais apaixonados, crianças levadas, famílias unidas e banhistas solitários e esperançosos.

Essa parada não planejada no Píer mostrou a Quinn que Santa Monica era um local para todos. Ainda que todos os tipos não se encontrassem ou se esbarrassem. Existia lugar para pessoas esquentadas como Santana, meigas como Brittany, feridas como Kurt e inseguras como ela mesma... E, também, existia um local para pessoas como Rachel. Pessoas que pareciam indecifráveis e, ainda assim, apaixonantes. Pessoas que pareciam se esconder mesmo quando mostravam tudo.

Até porque, Rachel pareceu colocar todas as cartas na mesa enquanto conversavam e, ainda assim, Quinn sentia que ela se escondia. Ela se recusava a acreditar que alguém como Rachel fosse feita somente por aquela superficialidade e desconfiava que era justamente essa suspeita que a irritava.

Quinn queria conhecê-la. Queria ter mais um pouco da morena encantadora, de sorriso fácil que chamara sua atenção, cantando e tocando em cima de um jipe. Queria mais da garota que lhe dera através do olhar e da música sentimentos que nem mesmo seu ex-namorado foi capaz de lhe dar. E, principalmente, queria ser feita do calor dela e não ser obrigada a lhe entregar o frio.

E, exatamente como a gravidade, Quinn voltou a encontrá-la através das lentes de sua câmera. Suas mãos tremiam enquanto tentava ajustar o foco, mas, foram firmes o bastante para guardar aquele momento.

Rachel e Puck sentados e abraçados na areia de Santa Monica, o sol quase a pino e os dois, no calor, dispersos de suas máscaras e entregues as suas essências.

Através da câmera, o riso de Rachel nos braços dele era o mais real que ela tinha presenciado e, para sua tristeza, provocou a secura de sua garganta. Puck tinha parte da Rachel que ela queria... E que, depois de toda aquela manhã conflituosa e intensa, provavelmente, não teria. 

Os dois continuaram abraçados e só se separaram quando Finn apareceu e disse algo. O trio correu pela areia em direção ao jipe de Puck e, aparentemente, em direção a mais uma de suas experiências inesquecíveis de Verão.

Quinn abaixou a câmera e a aconchegou em seu peito, a tira de sustentação machucou o seu pescoço e ela o massageou. Os seus olhos se prenderam ao mar enquanto ela procurava, dentro de si, a vontade de voltar a capturar pessoas e momentos... Nunca se sentira daquela forma, exceto agora em que queria uma única pessoa, de forma exclusiva e de forma atemporal, muito diferente de um simples momento.

Dentro de seus pensamentos, Quinn não percebeu quando um Old Beetle conversível parou violentamente ao seu lado. Entretanto, ela escutou a buzina estridente e foi bruscamente colocada à terra, os olhos castanhos e intensos desapareceram em suas lembranças recentes, assim como o brilho no sorriso acalentador. A loira se virou bruscamente em direção ao som.

Santana Lopez ria de forma exagerada, os seus cabelos caramelos estavam movimentando-se através do vento, ela usava óculos escuros e tinha as mãos no volante. Quinn não pode deixar de bufar para ela, porém, quando seus olhos encontraram Brittany, ela sorriu. A loirinha também usava óculos escuros e tinha os pés apoiados no porta-luvas. Ela deu um tapa na mão mais próxima de Santana enquanto sussurrava para Quinn:

— Desculpe por isso, Quinnie.

— Eu não me desculpo! Você estava distraída demais e não tirar uma da sua cara seria desperdício! - Santana estava visivelmente bem humorada naquele dia, nem mesmo o olhar reprovador da namorada tirou o sorriso malvado de seus lábios. A latina apoiou o braço sobre o encosto da namorada, olhando ao redor. - Onde está Porcelana? Vocês não tinham vindo juntos?

— Eu não sou a babá de Kurt, Santana. - Quinn respondeu irritadiça, apertando a máquina fotográfica nas mãos antes de tomar impulso e saltar para o banco de trás do Old Beetle.

Santana olhou surpresa para ela e a loira sentiu como se os olhos escuros da amiga estivesse tentando perfurar a sua carranca, em busca da razão de sua expressão fechada. Quinn posicionou a câmera entre as suas pernas e começou a observar as fotos que tirara, começando de trás para frente, tentando evitar, ao máximo, um novo olhar em Rachel Berry. Quinn escutou cochichos no banco da frente e, segundos depois, Santana pigarreou e disse contrariada:

— Seja lá o que tenha acontecido, isso não lhe dá o direito de descontar em nós. Foram apenas uma brincadeira e uma pergunta, Fabray.

A latina podia estar furiosa com as palavras rudes de Quinn, mas, a loira bem sabia como ela falava quando também estava frustrada. E, no meio daquela bronca, existia um sincero pedido de desculpas e, principalmente, um silencioso perguntar a respeito de seu bem-estar. Quinn sentiu as bochechas avermelharem, não deveria ter respondido daquela forma, Santana não era Rachel. Ela ergueu os olhos da câmera e Santana a esperava, o corpo virado para encará-la. Quinn suspirou e respondeu:

— Eu... Desculpa. Eu não deveria ter respondido daquela forma. Kurt está com Sam, mais a frente. E eu não acho que ele vá querer trocar o californiano loiro e sarado por nós três.

— Ele é um tremendo de um piroqueiro, isso sim! - Santana esbravejou enciumada, antes de proferir várias palavras em espanhol, termos que Quinn desconfiou serem do calão mais baixo imaginável. Brittany franziu as sobrancelhas para a namorada antes de trocar um olhar preocupado com Quinn, Santana continuava grunhindo e ligara o carro, irritada. - Essas férias eram para ser sobre nós e não sobre um bando de estranhos que ele conheceu em New York!

— Amor, nós não podemos impedir que Kurt ou Quinn se envolvam com alguém. Nós temos uma à outra e seria muito egoísmo, da nossa parte, querer que eles ficassem sozinhos. - Brittany sussurrou docilmente, deixando um beijo na bochecha de Santana, o que, imediatamente, acalmou os ânimos da latina.

Essa era uma verdade sobre Brittany S. Pierce: ela sempre sabia o que dizer para Santana e, também, sempre sabia como contornar o humor explosivo da latina. Quinn até mesmo acreditava que a inteligência emocional da loirinha era muito maior do que a dela mesma, ou a de Santana, ou a de Kurt.

Santana, agora, mordia os lábios e olhava para frente. Os seus olhos escuros tanto procuravam que logo encontraram Kurt. O moreno estava acompanhado de Sam e caminhava em direção a elas, ambos tinham sorrisos nos rostos e Sam até arriscou um rápido abraço de lado em Kurt. Quinn sorriu para os dois e, incrivelmente, suspirou sonhadora.

O brilho nos olhos de ambos era o mesmo, assim como a incerteza de suas ações. Eles estavam tímidos em relação ao outro, ao mesmo tempo em que desejavam entregar tudo que o outro pedisse. Quinn se viu, mais uma vez, desejando capturar os dois naquele momento. Ela voltou a erguer a câmera e esta encobriu-lhe os olhos, ela os focou e tirou a foto, no exato momento em que conversavam próximos.

Depois, afastou a câmera e observou a imagem... Viva e pungente, quente.

Tudo que ela queria de Rachel, diferente do que, maldosamente, a entregara.

Quinn suspirou e Kurt percorreu os últimos metros, sozinho. Sam o olhara por meros segundos e um sorriso bobo ainda habitava seus lábios quando ele caminhou em direção ao jipe, estacionado do outro lado da avenida da orla. A loira se recusou a olhar naquela direção porque sabia que seus olhos novamente encontrariam Rachel.

Ela não viu, mas, escutou as risadas de Rachel seguidas pelos xingamentos de Finn e Puck.

Kurt saltou para dentro do Old Beetle. Santana voltou a se virar no banco e não era preciso ser algum gênio para saber como aqueles olhos escuros estavam atrás das lentes dos óculos de sol. Com toda a certeza, Santana estava fuzilando-o em busca de respostas. Kurt a ignorou, ele colocou os próprios óculos e voltou os olhos para o mar. Quinn não resistiu e riu do ar blasé de seu amigo. A latina bufou e despejou impaciente:

— Achei que não iria nos agraciar com a sua agradável presença no almoço de hoje.

— Eu já as troquei por homem no passado. Foi um dos meus piores erros... Não farei isso de novo. - Kurt respondeu sincero e suas palavras provocaram sorrisos imediatos em suas amigas, ele escorregou os óculos escuros pela ponta do nariz arrebitado e piscou para Santana, depois, bateu na lataria da porta do carro e gritou animado. - O que está esperando, Satan?!

— Não bata na porra do meu carro, Hummel! - Santana gritou irritada, antes de acelerar o carro e, dessa vez, cortar a frente do jipe azul. Ela recebeu uma buzinada e mostrou o dedo do meio, as buzinas os acompanharam até uma esquina, em que eles viraram para o bairro residencial e o jipe seguiu na avenida, para fazer o retorno em direção a Venice Beach.

Os olhos de Quinn acompanharam o jipe até não poderem mais alcançá-los. Apertava a sua câmera na mesma intensidade que tinha o coração apertado, ela observava os nós de seus dedos, brancos e delicados, até que estes foram envolvidos por uma mão quente que a afagou.

Kurt não a olhou e sequer deu sinal de que estava fazendo o que fazia. Mas, ele apertou suas mãos e Quinn suspirou, o aperto diminuiu e ela pode respirar de novo.

Respirando a maresia, com o sol queimando a sua pele, Quinn quase escutou, entre os sons das ondas quebrando na praia, o que Kurt tentava dizer.

E ele dizia: nós dois sabemos o que acontece. Mas, apenas você sabe o que quer... 

Kurt estava dando o seu aval em relação a Rachel, mesmo que não confiasse na morena. E Quinn também não confiava nela porque tinha certeza que não a vira por inteiro...

Quinn pediu por um Verão inesquecível e não se lembrava de incluir o complicado em seus pedidos.

# # # # #

Ruby observava Marley e tinha plena certeza de que a mais nova estava evitando seu olhar. A nova-iorquina tinha as bochechas coradas e os olhos azuis límpidos focados nas ondas que quebravam na praia de Venice Beach enquanto estava sentada, ao lado de Ruby, no meio-fio do calçadão. A californiana inclinou o rosto e riu, Marley ajeitou os óculos de grau e franziu o nariz, Ruby viu e flertou:

— Você não estaria tão envergonhada se eu fosse capaz de parar de olhar para você.

— Não jogue a culpa em mim, eu que sou a envergonhada aqui. - Marley respondeu entre risadinhas inseguras antes de virar o rosto. Os seus olhos azuis deixaram o mar, mas, se afogaram no tom escuro de Ruby.

A californiana continuava a sorrir, ela se aproximou só que não tocou os lábios de Marley, a nova-iorquina sentiu o calor de Ruby incendiar o seu interior e mesmo tão quente, tremeu. As mãos de Ruby envolveram os braços de Marley e ela sussurrou próxima ao ouvido da estudante de música:

— Foi você quem me beijou.

Existia certo deleite no tom de voz de Ruby e Marley, de olhos fechados e mordendo os lábios, suspirou profundamente. A risada rouca da californiana envolveu a sua audição e Marley segurou-lhe o rosto, mantendo-se próxima àquele calor. Ruby não perdeu tempo e beijou a região atrás da orelha de Marley, sentindo-a tremer em suas mãos.

As duas permaneceram próximas e nem mesmo o sol de meio-dia parecia tão quente quanto o que dividiam.

As mãos de Ruby abandonaram a pele arrepiada de Marley, apenas o necessário para trafegarem pelos seus ombros e chegarem as suas costas. A californiana dedilhou os delicados músculos de Marley, assim como arranhou a pele que tocava. Marley suspirou e, à procura de mais, rompeu o pouco que as separava.

Os dois corpos colidiram e elas se abraçaram, os sorrisos iguais brotaram nos lábios de cada uma. Ruby aplicou um beijo delicado em um dos ombros de Marley e a mais nova afagou-lhe os cabelos dourados, respirando profundamente àquele cheiro de maresia e admirando, atenta, àquela pérola queimada pelo sol e aquele corpo esculpido pela praia e pelo mar.

Marley nunca imaginou que, um dia, estaria tão envolvida por uma garota. Sendo amiga de Rachel, esse tipo de relação jamais a incomodou, entretanto, nunca achou que teria isso dentro de si. Jamais imaginara que seria capaz de tomar a atitude de beijar alguém, ainda mais, uma garota... Contudo, existia algo em Ruby que despertara esse tipo de comprometimento nela.

Ruby Clearwood a fazia querer mais, sem ligar para o que os outros pensariam dela. Desde que a vira pela primeira vez, algo estalara dentro de seu peito e iluminara a sua mente. Não conseguiria lutar contra essa atração mesmo que quisesse. E, sendo assim, se viu lutando por Ruby como jamais lutara por outra coisa em sua vida.

De alguma forma, essa californiana era a chave de sua liberdade e o fruto de sua descoberta.

E Ruby parecia saber o que Marley pensava porque ela se afastou, entretanto, o toque entre elas se manteve porque o rosto da nova-iorquina era sustentado por uma mão bronzeada. Ruby a observava atentamente, tentando encontrar naquela garota - tão tímida e desajeitada - o que procurara em todas as outras, incluindo, em Rachel.

Ela não sabia o que Marley tinha, mas, ela tinha, fosse o que fosse.

Existia alguma coisa forte e inexplicável na forma como aqueles olhos azuis, tão expostos e vulneráveis, olhavam para ela. Assim como tinha algo na forma como Marley a tocava, como se fosse algo delicado e precioso. E, com certeza, havia algo muito intenso na forma como Marley a beijara.

Ruby sentia como se fosse invencível e, principalmente, como se fosse insubstituível.

E, talvez fosse cedo demais, mas... Ruby tinha uma ideia do que isso tudo poderia significar.

Deixando as interpretações e os entendimentos de lado e, mais uma vez, entregando-se ao momento, a californiana se aproximou e, mais uma vez, seus lábios rachados pelo sol colidiram aos lábios rosados de Marley Rose. A nova-iorquina a recepcionou e, mais uma vez, entregou tudo que ela procurava e não sabia.

Delicada e intensa, Marley inclinou-se sobre ela, aproximando-se. Ruby sentiu seu pulso ser afagado pelo polegar da mão de Marley e foi a vez da californiana rir, quando a mais nova se mostrou tão sedenta e tão apaixonada. As duas se beijaram por um tempo que julgaram ser pouco e se separaram porque os seus pulmões exigiam oxigênio.

Ruby sentia como se tivesse se afogado e, quando abriu os olhos, encontrou as águas mais limpas em que havia nadado nos olhos de Marley. Ela tinha as bochechas rosadas e Ruby as afagou, mordendo-lhe o queixo. Os dentes da nova-iorquina rangeram e ela respirou fundo antes de ofegar:

— Digamos que estamos quites porque, dessa vez, foi você quem me beijou.

— Agora, nós vamos disputar quem inicia qual beijo? - Ruby perguntou sedutora, arqueando a sobrancelha dourada e piscando os olhos azuis. Marley, mesmo tímida, acenou com a cabeça e, nesse gesto, entregou a sua vontade. Ruby voltou a se aproximar e deixou um selinho em seus lábios rosados, mantendo-se próxima o bastante para que Marley sentisse sua respiração. - Garanto que essa aposta será vencida por mim. E não acho que você ficará irritada por perdê-la.

Marley acenou de forma afirmativa com a cabeça e riu pronta para receber mais um beijo que não aconteceu. As duas foram interrompidas pela tradicional gritaria de Puckerman, Sam e Finn além do som familiar vendo do motor do jipe. Elas se afastaram lentamente e, a julgar pela expressão dos garotos, não era como se algum deles tivesse entendido o que haviam interrompido.

Sam cumprimentou Marley com um abraço de urso, Finn foi direto para o Mustang - familiarizado, abriu o capô e já tinha metade do corpo debruçado pelo motor - Puck estava ajudando Rachel a descer do jipe e era a expressão dela que fazia Ruby sentir-se subitamente trêmula e insegura.

O tempo delas já havia passado... Mas, Rachel era única e Marley era sua amiga. Essa era uma das situações mais embaraçadoras pela qual Ruby passara. Duas garotas atualmente importantes em sua vida em sua frente, justamente no momento em que quase beijara uma em frente à outra.

E a expressão de Rachel Berry não entregava muita coisa, o que era preocupante para uma pessoa que tinha sempre um sorriso fácil nos lábios e um brilho inesquecível nos olhos. A morena estava séria e forçou um sorriso ao passar por Marley, Ruby percebeu.

A californiana era uma das pessoas que lia Rachel da forma mais verídica possível.

Rachel ergueu os olhos e Ruby enxergou o que não esperava. Não existia julgamento nos olhos castanhos, parecia algo mais escuro e mais intenso, algo que foi interpretado como mágoa pela californiana. Ruby respirou fundo e jogou os cabelos para trás, Marley estava alheia ao que acontecia porque Sam estava contando algo a ela, deu um passo a frente e Rachel parou. A californiana suspirou e começou:

— Rae, eu gost...!

As suas desculpas não foram ditas porque o celular de Rachel tocou. A morena o tirou do bolso traseiro dos shorts, ainda olhando daquela forma que fazia Ruby se encolher, como se tivesse frio. Rachel levou o telefone ao ouvido e lhe deu às costas. Na verdade, Rachel deu às costas a todos eles.

 

A morena atravessou a avenida e voltou a fincar os pés na areia, ela caminhou até o ponto em que as ondas chegavam à praia e deixou que o mar molhasse os seus tornozelos. Rachel se forçou a colocar um sorriso no rosto quando aceitou a chamada de vídeo e cumprimentou:

— Olá, pais! Como vocês estão?

Estamos bem e estaríamos melhores se você não tivesse se esquecido de nos ligar. - Leroy Berry, um homem negro e de expressões duras, bronqueou. Os olhos escuros dele entregavam que ele não estava bravo. Hiram Berry revirou os olhos para o marido e Rachel riu dos dois, ao menos um pouco de riso naquele dia tão complicado. - Como foi à viagem?

— Boa como sempre e os nossos últimos dias foram bem corridos, desculpa por não ter ligado para vocês... - Rachel dissimulou da melhor forma que o seu humor permitia, mas, Hiram, o seu pai biológico, parecia ter um link direto as suas emoções porque ele franziu a testa diante de sua resposta. A morena tirou os olhos dele e concentrou-se em Leroy que, agora, sorria. Alheio a tudo, ele perguntou:

Como estão todos?

— Marley me fez passar vergonha nos primeiros dias, mas, está bem tranqüila agora... - Rachel riu de forma verdadeira ao visualizar, do outro lado da rua, a sua amiga abraçada a Sam enquanto um Puck extremamente mal humorado levava cascudos do loiro. Finn estava sendo auxiliado por Ruby que a olhara, discretamente, sob o ombro. Rachel desviou os olhos dela e voltou-os aos pais. - Os meninos continuam daquele jeito, completamente malucos... E Ruby, Ruby continua a mesma.

A morena não gostou da amargura instintiva que tomou a sua voz ao falar de Ruby. Não deveria se sentir dessa forma - tão frágil e sozinha - porque a californiana encontrara alguém em Marley. Na verdade, deveria estar sozinha pelas duas... Mas, os acontecimentos daquela manhã distorceram muito do que o Verão significava para ela e, agora, estava até mesmo com dificuldade de falar com os pais.

Os únicos que, com exceção dela, conseguiam arrancar tudo dela.

Pela tela do celular, Rachel observou a expressão de Hiram voltar a se contorcer em preocupação. A morena sorriu para os dois, tentando convencer a eles e a si mesma, quando Hiram segurou o ombro do marido. Leroy desviou a atenção da filha para ele e aguardou.

Acho que o nosso almoço está queimando no forno, é melhor você ir ver, querido. — Hiram disse gentil e com sutileza, Rachel engoliu em seco porque bem sabia o que viria a seguir. Leroy beijou a testa do esposo e a morena sorriu para o carinho genuíno entre os dois. Quando ela duvidava do amor, bastava que olhasse para eles e se lembrasse dela para voltar a acreditar. Hiram ajeitou o celular, de forma que somente ele ocupasse a tela e voltou a olhar preocupado. - Você sabe muito bem que não me convence com essa voz e essa carinha... O que está acontecendo, pequena?

Rachel não percebeu, mas, a sua mão esquerda envolveu o pingente dourado de estrela que destoava intensamente do cordão de prata que o ancorava. Ela respirou fundo e seus olhos brilharam, dessa vez, não existia excitação dentro deles, apenas tristeza e o brilho parecia ser feito de lágrimas. A morena pigarreou e, olhando para o mar, sentindo a água gelada em seus tornozelos, respondeu evasiva:

— Eu não sei... Eu acho que tem algo muito errado comigo, papai.

Não tem nada errado, nós dois sabemos que você é perfeita. Ela também sabia. Jamais diga isso, você é a nossa estr...! — Hiram se calou quando percebeu do que chamaria a filha, ele encolheu os ombros e ajeitou os óculos que, na intensidade da conversa, escorregaram pelo seu nariz judeu (que Rachel herdara). Diferentemente do que o pai esperara, Rachel inclinou a cabeça e sorriu tristemente, as lembranças chegaram ao seu coração e um filete lacrimoso manchou a pele morena. - Desculpe, eu não deveria ter dito isso... Só não se esqueça de que não há nada de errado com você. Talvez, você seja muito seletiva em suas relações. Mas, também é muito teimosa e eu sei bem que pode superar isso se quiser alguém, de fato.

— Alguém?! - Rachel repetiu alarmada, os olhos castanhos arregalaram-se e Hiram, na tela, riu abertamente. A morena sentiu as suas bochechas tingirem-se de vermelho e, levemente irritada, limpou o filete choroso. O pai continuava a rir e foi a vez dela revirar os olhos. - Como o senhor descobriu que se tratava de “alguém”?

Eu sou seu pai, meu amor... Tudo bem, Leroy também o é. Mas, você tem um pouco de mim. Eu lhe conheço. Não mude por ninguém, não se envergonhe de quem é. Talvez, seja a hora de você se mostrar de verdade para esse alguém que tanto mexeu contigo... Tenho certeza de que vão se apaixonar, ainda mais, pela Rachel que eu e poucos conhecemos. — Hiram sorria de forma gentil e orgulhosa para filha, as palavras dele trouxeram um pouco de calmaria e familiaridade a Rachel. A morena sentiu que reencontrava um pouco do que perdera naquela manhã, ainda assim, tudo estava bagunçado o bastante para ela se firmar e manter-se em pé. - Eu vou deixar você voltar aos seus amigos, até porque eu te conheço e a ideia de ligar foi única e exclusiva de Leroy... Se divirta, querida! E se permita!

Hiram acenou e Rachel fez o mesmo, pensando a respeito da ironia que as palavras do pai representavam. Ela era uma das pessoas que mais se permitiam e que mais amavam a liberdade... Contudo, para o pai ter lhe dito aquilo, significava que ela realmente estava se segurando a algo.

Talvez, estivesse se segurando ao passado e, principalmente, talvez fosse o medo de perder algo - ou alguém - que a segurava daquela forma em relação a Quinn Fabray.

Rachel voltou a olhar aos seus amigos, Marley continuava com Sam e Puck, contudo, os seus olhos não saíram de Ruby. A californiana retribuía como e quando podia, enquanto ajudava Finn. E, quando o grandalhão terminou de consertar o motor e o carro ligou, todos comemoraram. Mas, Ruby e Marley sorriram uma para a outra.

O coração de Rachel apertou-se ao olhar para as duas.

Ela suspirou e apertou o celular em suas mãos.

Seus pés arrastaram-se na areia e ela caminhava olhando para qualquer coisa. Subitamente, sentiu a necessidade de fugir, de abandonar todas as amarras que a faziam ser quem era... Sentiu vontade de não estar ali e nem naquele presente.

Quis voltar ao passado e escutar a voz dela pela última vez. Quis que ela estivesse ali para reforçar os conselhos de seu pai.

Aliás, seu pai estava errado... Rachel sabia que algo não funcionava bem dentro dela. Ela confiava em cada um de seus amigos e em seus pais, mas, bem sabia que, no fim, talvez não existissem muitas pessoas para ela.

Afinal, ela a deixara e, agora, aparentemente, Ruby e Marley não mais seriam as mesmas em sua vida.

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Quinn estava esgotada e sequer almoçara.

A loira forçava o seu corpo a caminhar até o elevador e agradeceu, mentalmente, quando se viu dentro da pequena caixa de metal e sentiu-a movimentar entre os andares. Como não queria falar com nenhum de seus amigos, assumiu a postura de quem estava interessada nas fotos que tirava.

Até olhava as imagens em sua câmera, evitando qualquer uma que tivesse Rachel Berry como foco principal.

E Quinn ficaria assim durante todo aquele dia, entretanto, assim que chegaram ao andar em que estava o apartamento que dividia com os outros, a sua audição captou um tom de voz que ela conhecia muito bem.

Ele foi a última pessoa a dizer que gostava verdadeiramente dela.

Quinn se virou em direção a voz e seus olhos encontraram uma figura masculina, alta e branca, a pele ainda intocada pelo sol da Califórnia. O rapaz tinha os cabelos castanhos muito bem penteados, olhos azuis divertidos e um sorriso muito bonito nos lábios cheios. Ele usava bermuda jeans, sapatos sem meias e camisa de botão vermelha. Bem diferente do rapaz que estava sempre impecável nos corredores de Yale.

— Quinn, onde quer almoçar hoje? - A voz da Santana fez com que Quinn desviasse os olhos do rapaz e, no instante que a loira voltou-se para a amiga, teve a certeza de que era o rapaz quem a observava. Quinn gaguejou uma resposta e viu Santana olhar acima de seu ombro, a latina fechou os punhos e assumiu uma expressão determinada que não combinava com quem fazia uma pergunta a respeito do almoço. - Perdeu alguma coisa aqui, hombre?

Quinn fechou os olhos e respirou fundo, tentando reunir coragem. Quais eram as chances de um encontro daqueles acontecer? Estava a milhas de casa... E, pela segunda vez naquele dia que mal começara, ela sentiu vontade de sumir. A primeira foi quando Rachel os deixou para cumprimentar aquela mulher no Píer. Quinn se virou e seus olhos encontraram o sorriso avassalador e o olhar pedinte de alguém que não deveria estar ali e sim, em Yale.

— Eu duvidei dos meus olhos quando a vi... É um prazer revê-la, Q. - O rapaz cumprimento de forma educada, segurando a mão direita de Quinn e a beijando. Santana e Brittany trocaram olhares interrogativos enquanto Kurt cruzava os braços e arqueava a sobrancelha para o recém-chegado. Quinn se virou para os amigos, sua mão beijada formigava e ela estava se sentindo tonta, ela pigarreou e apresentou:

— Esse é Biff McIntosh, ele estuda em Yale comigo.

Biff apertou a mão de cada um e os mesmos se apresentaram a ele. O grupo que o acompanhava o chamou e ele se desculpou quando voltou a eles, mais uma ironia do destino os fizera se instalar no mesmo andar que o grupo de Quinn. A loira virou-se para os amigos, Santana ria e Brittany a observava como quem se desculpasse. Mas, foi Kurt quem desabafou:

— Nem precisa nos dizer que ele é o seu ex. Sentimos a tensão daqui.

Quinn engoliu em seco e, mais uma vez, baixou os olhos para a sua câmera. A terceira ironia naquele dia veio dela, na tela, a foto de Rachel tocando no jipe, tirada no primeiro “encontro” das duas. A loira desligou a câmera e deixou-se levar pelos amigos... Ela pedira por um Verão intenso, mas, aquilo era demais.

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Notas finais do capítulo

O que acharam? Espero que tenham gostado...

Como podem ver, parece que todo mundo decidiu ir para Santa Monica! Hahahaha E eu espero, mesmo, que tenham entendido um pouquinho dessa Rachel Berry (ela é minha crush, confesso).

E o próximo capítulo vem intenso... Vamos ter Bon Jovi, conflitos e tensão! Espero que continuem me acompanhando!

Nos vemos no próximo capítulo, deixe seu feedback nos comentários ou na indicação! Até mais :* (@redfieldfer)