Heart on Fire in Her Hands (Hiatus Indeterminado) escrita por Fernanda Redfield


Capítulo 6
Capítulo 5: A Rainha de Gelo e a Beleza da Califórnia


Notas iniciais do capítulo

Feliz madrugada a todos!
Como vocês estão?

Espero que não estejam muito chateados comigo pela demora no capítulo... Mas, ele foi complicado. Muita coisa acontecendo e eu ainda tive que deixar algumas coisas para o próximo. Essa dificuldade e eu ainda inventei de começar uma maratona de Game of Thrones que tirou todo o meu foco (: Hahahaha

Enfim, eu estou muito ansiosa pela reação de vocês a esse capítulo! Espero que realmente gostem... E, bem, as músicas para esse capítulo são: "She's So Mean" (Matchbox Twenty), "Smooth" (Santana feat. Rob Thomas) e "19 You + Me) do duo Dan + Shay.

Boa leitura, espero mesmo que gostem!



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Rachel permanecia de olhos fechados, porém, naquele momento, amaldiçoava-se por sua audição ser tão refinada a ponto de conseguir escutar todos os sons que Marley produzia - ainda que tentasse não fazer barulho - enquanto se levantava. A morena aguardou que sua amiga saísse aos tropeços do quarto, ela parecia correr e essa constatação fez Rachel se sentar. Ainda de olhos fechados, ela sentia sua cabeça rodar, conseqüência da bebedeira de ontem.

Com muito medo e receio, a morena abriu os olhos e se sentou na cama. O quarto estava na penumbra, tentando se manter escuro diante do sol que penetrava no fino tecido das cortinas das janelas. Aquela pouca evidência de luz despertou uma pontada de dor certeira em seus olhos e ela voltou a se jogar na cama. Fechou os olhos e massageou as pálpebras, tentando amenizar a dor, mas, tudo em vão.

Imersa na dor, na confusão de despertar e na tontura de sua cabeça, Rachel tateou às cegas pelo seu celular na mesa da cabeceira e encontrou-o. Abriu os olhos novamente e fez uma careta para a nova pontada de dor, resmungou irritada, depois de tantos porres, ela deveria ter se acostumado com uma ressaca. Desbloqueou o celular e, assim que viu as horas, amaldiçoou Marley.

Não eram nem oito horas da manhã!

O que Marley tinha na cabeça para acordar, a essa hora, nas férias? E pior, acordar Rachel que, como era de conhecimento da loira, não conseguia voltar a dormir depois de ser acordada... Devido a essa particularidade de seu comportamento, Rachel chutou as cobertas e levantou-se. Sua boca tinha um gosto amargo e ela foi, imediatamente, ao banheiro da suíte para fazer a sua higiene matinal.

Saiu, ainda de pijamas e cheia de dor, para o corredor. Escutou a porta da frente bater e enviar mais uma pontada de dor em sua cabeça. Rachel franziu a testa e apertou os olhos, resmungando:

— Filho da puta!

Apoiando-se na parede da casa e tropeçando na maior parte do caminho, Rachel chegou à cozinha e surpreendeu-se ao enxergar Sam de pé, em meio a toda tontura de sua cabeça. O loiro olhava pela janela da cozinha e, ao escutá-la jogar o corpo em um dos bancos de madeira da cozinha, sorriu e cumprimentou bem humorado:

— Bom dia, Rach!

— Não sei para quem o dia começou bem. - Rachel voltou a resmungar, esticando o braço pelo balcão que separava a cozinha da sala, apanhando a garrafa térmica cheia de café e servindo mais do que o necessário em uma xícara. A morena aspirou ao aroma do café e somente a fumaça quente já colocou um pouco de seus sentidos e reflexos no lugar. Sam finalmente deixou de olhar a janela e sorriu torto, erguendo a caneca como se brindasse a ela. Ele estava com aquela expressão de quem sabia mais do que deveria. - Não brinde nada comigo hoje, quero distância de qualquer coisa relacionada a álcool e gostaria de ter dormido mais um pouco se minha querida convidada não tivesse feito um estardalhaço no quarto tão cedo.

— Pare de implicar com Marley, ela não tem culpa se você e Puck fizeram tanta coisa na vida a ponto de ficarem bêbados em uma brincadeira inocente. - Sam respondeu sarcástico, segurando-se para não rir da irritação matinal e ressacada de Rachel. A morena mostrou o dedo do meio para o amigo antes de tomar um gole de café, era forte e ela já se sentia muito melhor. Sam virou-se para os armários em busca de algo para comer. - Pelo menos, você não teve que agüentar os roncos bêbados de Puck.

Rachel riu para a resposta de Sam, Puck realmente roncava além do normal quando bebia e conhecendo o seu melhor amigo, Rachel sabia que ele não estaria acordado antes do meio-dia. Sam sentou-se ao lado da morena, depositando tudo que encontrara nos armários e na geladeira. Frutas, cereais, pão, geléia, manteiga, pasta de amendoim... Ele serviu-se de pão com geléia e ofereceu a Rachel. O estômago da morena embrulhou e ela negou com a cabeça, depois, tomou mais um gole do café e perguntou:

— A propósito, para onde foram Marley e Finn?

— Finn acordou cedo, ele conseguiu um trabalho na oficina de um amigo de Puck. Um trabalho e grana para as férias inteiras... E Marley saiu com Ruby. - Sam respondeu distraído pelo pão e o abocanhando em seguida. Rachel olhou para a porta de entrada, debatendo se deveria ou não ficar preocupada com aquela proximidade entre Ruby e Marley.

A morena não era ingênua, claro que percebera a tensão entre a sua amiga e a sua ex, o que não era difícil visto que era tão real que poderia ser cortada com uma faca. E, por mais que quisesse que Marley experimentasse de tudo naquelas férias - e isso incluía um romance de verão, ainda que fosse vivido com Ruby Clearwood -, não conseguia evitar a amargura que começava a se fazer presente em seu interior. Rachel sabia que Ruby era muito parecida consigo, gostava do jogo da conquista e era sedutora o bastante para conseguir quem quisesse... Mas, até que ponto isso era somente um jogo para Marley? Rachel não se lembrava de sua amiga dando qualquer evidência de também gostar de garotas e Ruby podia machucá-la nesse jogo... E a morena não perdoaria a californiana se isso ocorresse.

Pensando na situação de Marley, Rachel chegou a Quinn. Não soube em que ponto o seu pensamento desviou-se para essa loira, mas, agora, pensava no que acontecera na noite anterior. A bebida jamais a fazia esquecer e era por isso que se lembrava, claramente, de outro debate na noite anterior. Rachel se perguntara se já havia se apaixonado e a resposta, confusa e insegura, a assustou.

Sabia que andaria em círculos se negasse que Quinn a atraíra e também sabia que era inútil não explicar, se não como uma paixão, o que aquela loira despertara em si. Era uma atração que não precisou de muito para se tornar especial, no primeiro encontro, Rachel já estava totalmente vendida para Quinn. E isso sim assustava porque não se recordava de ter sido tão facilmente vencida por outra garota em um suposto jogo da conquista.

Rachel também se lembrou da expressão de Quinn quando não bebeu a dose da pergunta que voltou a atormentá-la, mesmo quando tentou ignorá-la. Quinn sentia-se da mesma forma e Rachel, pela primeira vez em sua vida, não soube o que fazer com a reciprocidade que existia. A morena sabia que Quinn era diferente, mas, não sabia se estava disposta a se arriscar nesse desconhecido.

A morena voltou os olhos para a sua xícara e bebeu o conteúdo que restava em um só gole, o líquido quente ardeu em sua garganta, mas, a cafeína e a temperatura acordaram-na instantaneamente. Rachel piscou os olhos e observou Sam preparar mais um pão antes de, em uma tentativa de esquecer os seus pensamentos relacionados a Quinn, perguntar curiosa:

— E você? O que faz acordado?

— Eu também tenho um compromisso com Kurt e Quinn, eu prometi mostrar um pouquinho de Santa Monica aos dois... Sabe como é, nada melhor do que um nativo para mostrar toda a beleza dessa cidade. - Sam respondeu animado, dando uma piscadela antes de abocanhar novamente. Rachel percebeu um brilho diferente nos olhos azuis do amigo e também se viu confusa no reflexo do olhar dele.

Quando mais tentava esquecer Quinn, mais ela voltava a sua vida. O que deveria fazer? A resposta surgiu mágica, sem que Rachel esperasse e, muito menos, pensasse nela. Aliás, Rachel não era muito de pensar sobre aquele assunto e nem sobre nada na sua vida... Ela vivia na impulsividade.

— Eu gostaria de ir com você, não quero agüentar o mau humor de Noah quando ele acordar... Dá tempo de eu tomar um banho e me trocar? - Rachel surpreendeu-se com o tom inseguro em sua voz, pedia mentalmente para que Sam não juntasse as peças e nem perguntasse por que ela queria aquilo. Aparentemente, o rapaz a entendia porque Sam acenou com a cabeça e respondeu:

— Dá tempo sim, eu vou terminar o café e guardar as coisas.

Rachel beijou, efusivamente, a bochecha de Sam. O loiro riu rouco da atitude da amiga e Rachel, ainda surpresa com suas atitudes, se viu correndo e sorrindo em uma manhã de ressaca.

A morena não sabia o que Quinn fizera com ela, mas, estava disposta a descobrir. Por mais que não soubesse o que fazer, estava disposta a arriscar.

 

O silêncio perdurava dentro do Mustang 1968, salvo os cumprimentos de bom dia trocados quando Marley ainda estava para entrar no carro, nem ela e nem Ruby diziam nada. Porém, a californiana tinha um sorriso nos lábios cheios enquanto dirigia com uma das mãos no volante e a outra descansando sobre a própria perna. Marley, por sua vez, estava inquieta, enquanto olhava da janela para as próprias mãos sobre o colo.

As duas seguiam o trânsito pela avenida à beira da praia, a mesma pela qual Marley viera com Rachel e os garotos quando chegaram a Santa Monica, entretanto, seguiam na direção oposta, afastando-se da bagunça matinal da cidade que despertava. A nova-iorquina percebeu que as ruas pareciam mais cheias do que estavam há dois dias, os turistas começavam a chegar.

Marley bufou para o silêncio e, o mais discreta que conseguiu ser, olhou para Ruby. Agora, a californiana tinha o braço esquerdo apoiado sobre a janela aberta do Mustang enquanto guiava o carro com a mão direita. Os fios loiros estavam brincando no vento que entrava através da janela aberta e ela usava óculos escuros, Ray Ban Warfarer, de armação dourada e lentes escuras. Marley não pode deixar de pensar que ela ficava com um ar de bad girl com aqueles óculos e dentro daquele carro... Uma garota má extremamente bonita.

A nova-iorquina corou diante de seus pensamentos e desviou os olhos de Ruby, o antigo rádio do Mustang estava desligado e Marley adiantou-se para ligá-lo. Porém, a mão direita de Ruby capturou a sua mão esquerda e os dedos das duas, instintivamente ou não, entrelaçaram. Marley corou ainda mais e paralisou-se, observou Ruby guiar as mãos dadas até o banco de couro em que estava sentada, descansando-as na borda. Ruby desviou os olhos do trânsito por um breve minuto e perguntou:

— O que pensa que está fazendo?

— Eu estudo Música e o silêncio me incomoda, pensei em ligar o rádio. - Marley respondeu sincera, procurando respirar fundo e desaparecer com aquela vermelhidão vergonhosa que sempre a tomava quando Ruby fazia algo inesperado. A californiana sorriu para ela, os olhos de volta ao trânsito e as mãos ainda entrelaçadas. Ruby afagou a mão de Marley com o polegar e respondeu carinhosa:

— Não precisamos ficar em silêncio e não precisamos da música... Podemos conversar. Você, inclusive, poderia me contar como foi que se tornou uma jogadora profissional de sinuca.

— Ainda isso? Você realmente é competitiva, não? - Marley finalmente sentiu o calor em suas bochechas e em seu pescoço se dissipar, realmente, a conversa era melhor do que o silêncio. Ruby arqueou a sobrancelha e fez beicinho para a constatação de Marley, finalmente, as duas soltaram-se uma da outra porque a californiana precisou engatar mais uma marcha quando o tráfego andou mais rápido. Marley ajeitou-se no banco e olhou para frente. - Não é uma história tão interessante quando comparada aos seus machucados por causa do surf.

Ruby riu para a resposta de Marley, uma risada contagiante e genuína que soou como música aos ouvidos da nova-iorquina. O tráfego parou em um sinal fechado e Ruby pode, finalmente, virar-se para Marley. A nova-iorquina estava preocupada em ajeitar os cabelos bagunçados pelo vento que entrava através da janela aberta do carro e se surpreendeu quando Ruby colocou uma mecha para trás de sua orelha. O toque dela era como a troca de maré, a maré alta preenchendo os espaços entre os grãos de areia secos e intocados durante a maré baixa, Marley sentiu-se inundar por ela e engoliu em seco. Ruby sorriu para ela e o tráfego voltou a seguir enquanto ela dizia:

— Mas, eu gostaria de saber qualquer parte de você, inclusive, as partes que você julga desinteressantes.

Mais uma vez, o silêncio. Só que, dessa vez, ele estava sendo ocupado pelo sorriso satisfeito de Marley e pela curiosidade latente de Ruby. A mais nova observava o tráfego passar e, animada, respondeu:

— Bem, se é assim... Mamãe sempre trabalhou com serviços terceirizados e ela começou a trabalhar em um bar quando eu tinha uns doze anos. Ficamos por lá até os meus quinze anos e o dono do bar, Hank, gostava bastante de mim. Tanto que ele me ensinou a jogar.

— Ele deve ser um jogador e tanto para lhe ensinar a, praticamente, guiar o jogo sem dar a mínima ao seu adversário. - Ruby comentou surpresa e, um pouquinho, ressentida. Marley sorriu ao ver as mãos da mais velha se fecharem com mais força no volante, aquela competitividade de Ruby a deixava parecendo uma criança birrenta quando perdia, a nova-iorquina pigarreou e continuou:

— Ele não era tão bom assim, mas, era um excelente professor. Ele me ensinou o bastante para que eu pudesse tirar os jogadores indesejáveis das mesas e ainda me pagava por isso.

— Ah, então você já aposta há um bom tempo? - Ruby perguntou brincalhona, mais uma vez, desviando o rosto do trânsito e presenteando Marley com mais um de seus sorrisos quentes e sedutores. O Mustang já havia se afastado da zona mais movimentada de Santa Monica e parecia que começavam a entrar em um ponto mais privado e menos freqüentado. Marley riu da pergunta de Ruby cruzou as pernas, colocando-as sobre o banco. - Agora, eu entendo as risadas de Rachel quando você se propôs a jogar... Eu estava perdida desde o começo do nosso jogo!

— Em minha defesa, você pediu por isso ao fazer o convite, tão cheia de si! - Marley disse risonha e Ruby fez uma careta ofendida, a nova-iorquina tentou afastar-se dela porque sabia que estava perdida no instante em que Ruby parou, novamente, em um sinal. Livre da preocupação do trânsito, a mais velha esticou-se e, mais uma vez, apanhou a mão de Marley.

Mais uma vez, os dedos entrelaçaram-se e, naquela segunda vez, não havia espaço para cogitar o instinto. Era pura vontade de ambas.

Ruby a puxou pela mão e o corpo de Marley, totalmente vencido por aquele toque inicial, se aproximou. As duas ficaram próximas, o bastante para Marley sentir o perfume de Ruby e embriagar-se totalmente nele. Os lábios da californiana desenharam um sorriso que foi devidamente acompanhado pelos olhos da nova-iorquina. Ruby mordeu o lábio inferior e perguntou sedutora:

— Se eu pedir mais alguma coisa, eu posso tê-la?

— Acho que não, fui eu quem venceu a aposta. - Marley surpreendeu-se por conseguir formular uma frase e ainda assim parecer desafiadora o bastante para Ruby. A californiana não pareceu surpresa, mas, o seu sorriso assumiu uma natureza interessada e extremamente satisfeita diante da sua resposta. O tráfego voltou a andar e Ruby manteve-se segurando a mão de Marley, o Mustang percorreu mais alguns metros antes de Ruby sussurrar sedutora:

— Então, certifique-se de usar bem essa vantagem. Não é sempre que você a terá.

Foi a vez de Marley rir extasiada. Seja lá o que Ruby despertava nela deixava-a eufórica, funcionava como uma droga que injetava adrenalina em suas veias, colocando brilho em seus olhos e um sorriso em seus lábios. Ela sentia-se desejada como nunca, parecia que Ruby conseguia enxergar além de sua timidez, fazendo com que ela mesma entregasse o melhor de si... Aquele lado risonho, meio pateta e, ainda assim, charmoso.

Ruby soltou a mão de Marley quando engatou mais uma marcha. A nova-iorquina observou a sua mão solitária e respirou fundo, naqueles poucos minutos, acostumou-se ao calor da palma de Ruby sobre a sua. O silêncio voltou a ocupar o Mustang e, dessa vez, Marley ligou o rádio e olhou pela janela aberta, sorrindo para o sol e para a maresia que entrava no carro.

A californiana olhou de lado, suspirando para a visão de Marley tão risonha e de olhos fechados. Ruby voltou a apoiar o braço esquerdo na janela aberta e apoiou a sua cabeça em suas mãos, puxando os cabelos enquanto um sorriso teimoso não se deixava levar de seus lábios. O rádio tocava uma música animada e elas, tão imersas em seus próprios mundos, não perceberam a letra.

Watchin’ that blonde hair swing

To every song I’d sing

You were California beautiful

I was playin’ everything but cool 

# # # # #

Quinn estava mais animada naquela manhã, a luz do sol penetrava e diluía-se no tom verde de seus olhos, espalhando esferas douradas em suas pupilas. Seus olhos estavam brilhantes e nem pareciam que eram os mesmos que estavam opacos pela natureza nublada de seus sentimentos na noite anterior.

A loira estava sorrindo e a sua cabeça não procurava pensar no que a magoara. Não deixara Connecticut para arrumar um amor de verão e sim, para encontrar o necessário para tornar essas férias inesquecíveis. Quinn, depois de horas em claro e até algumas lágrimas durante a noite, chegou à conclusão que, talvez, precisasse se encontrar antes de sequer procurar alguém.

Mesmo com essa decisão, isso não significava que Quinn estava imune ao encantamento que Rachel provocava nela... Aquela morena parcialmente desconhecida e, de certa forma, assustadora a fazia sentir-se diferente, ainda que estivesse presente apenas em pensamento. A loira não negava a atração, só que, depois do que acontecera ontem no “Jewelry of the Coast”, ela preferia dispensar todos os arrepios provocados em seu corpo e todos os suspiros escapados de seus lábios.

Rachel gostava de jogar aquele jogo de sedução e isso era um sinal claro de que ela não ia se prender enquanto não se apaixonasse... E mesmo que a morena não tivesse falado claramente do que gostava e do que queria para aquele Verão, a bebida que permanecera no copo falara por si só.

Não fora um coração quebrado, mas, a decepção era tão amarga quanto.

Por isso, Quinn se preocupou em colocar um sorriso nos lábios e aceitou de imediato o convite de Kurt para um passeio por Santa Monica bem acompanhado por Sam. E a loira sabia o que o moreno estava colocando em jogo ao convidá-la, mais do que a compreensão pelo seu estado, ele precisava de sua opinião a respeito de Sam. E se Quinn não poderia ter uma chance com um amor de Verão, Kurt merecia essa oportunidade em seu lugar... Bastava saber se Sam era realmente heterossexual. 

Os dois amigos estavam em frente ao prédio. Kurt estava de bermuda florida e uma camisa branca de botões, os inseparáveis óculos de sol Ray Ban Warfarer cobriam seus olhos claros e seus cabelos estavam desleixadamente penteados. Era evidente que o garoto queria impressionar o dono de sua carona e de sua atenção. Já Quinn, decidida, optou por shorts curtos listrados em vários tons de vermelho e uma regata branca, chinelo nos pés e óculos de sol. Além, é claro, de sua câmera fotográfica.

Não precisava e nem queria impressionar alguém, mas, precisava de fotos. Por isso, os óculos de sol logo foram abandonados e os olhos foram cobertos, dessa vez, pelas lentes da câmera.  

Kurt estava com as mãos nos bolsos de sua bermuda e olhava afoito de um lado para o outro da rua. Quando avistou o conhecido jipe azul na rua, um sorriso tomou conta dos lábios do moreno e Quinn, atenta, não perdeu aquele momento. Kurt não sorria apenas com os lábios, todo o seu rosto sorria, suas bochechas estavam coradas e se pudesse ver seus olhos, Quinn tinha certeza que os azuis estariam brilhantes. Aquela foto foi tirada e foi como se o sorriso de Kurt a atingisse através da lente.

Se ainda existisse qualquer resquício de melancolia em Quinn, esse teria desaparecido naquele momento.

Diferentemente de Puck, Sam dirigia tranqüilo. Ele estacionou como um perfeito motorista responsável e, ao bater a porta, cumprimentou animado:

— Bom dia! Não conseguiram convencer Santana e Brittany a nos acompanhar?

— Acredite em mim, Sam... Com todos os sons que eu e Quinn escutamos nessa noite, eu não acho que aquelas duas não saem da cama antes do meio-dia. - Kurt comentou bem humorado e a risada dele, sincera e delicada, soou como uma música apaziguadora aos ouvidos de Quinn. Era muito bom escutar o amigo soar daquela forma, com uma esperança tímida entremeada as suas palavras. Ele realmente merecia algo bom depois de tudo que passara. Quinn, distraída com sua câmera, não percebeu que eles tinham uma companhia surpresa naquele passeio. - Mas, eu vejo que você trouxe companhia!

— Rachel pode estar de ressaca, mas, ela conhece Puck por tempo o bastante para saber que a ressaca dele consegue ser ainda mais insuportável do que a dela! - Sam respondeu em tom de brincadeira e Quinn, finalmente, ergueu os olhos da câmera. Rachel estava parada ao lado de Sam, socando-lhe o ombro enquanto um sorriso brincava em seus lábios. Kurt também ria enquanto Quinn tentava olhar para qualquer outra coisa que não fosse a morena. Sam riu rouco e abriu a porta do carona, Kurt logo se adiantou e ocupou seu lugar.

Aquele foi um momento de indecisão e tensão enquanto tanto Rachel como Quinn permaneciam paradas, esperando o movimento da outra. A loira percebeu que não chegariam a lugar nenhum com aquela interação e, por isso, olhou com desagrado para Rachel, fazendo sinal para que ela subisse primeiro no jipe.

Sam e Kurt estavam distraídos em sua própria bolha para perceberem o que estava acontecendo. Entretanto, Rachel não estava.

A morena subiu no jipe de forma silenciosa, tentando compreender o que enxergara nos olhos de Quinn naquela manhã. A frieza era absoluta, não era desprezo, mas, Quinn agia como se o que as duas trocaram, silenciosamente, na noite anterior não fosse muito importante. Rachel não conseguia trabalhar com tantos sinais silenciosos porque as suas maiores armas eram as palavras e Quinn era naturalmente calada, entretanto, jamais fora fria.

Rachel sentiu o estofado do banco do jipe afundar ao seu lado, Quinn sentou-se inclinada para a porta e, novamente, já tinha a câmera em mãos e as lentes em frente aos olhos. Imediatamente, a morena sentiu falta dos olhos verdes, até mesmo, da frieza esmeralda que eles emanavam naquele dia. Rachel encostou o corpo no estofado, sentindo-se afundar enquanto pensava no que falar... Mais uma diferença importante no que Quinn aparentemente significava para ela.

Jamais precisara pensar no que queria dizer.

Rachel pigarreou para chamar atenção, mas, Quinn continuava distraída com a paisagem que passava através de seus olhos e precisou de um segundo pigarro para que ela demonstrasse um sinal de compreensão. A loira afastou a câmera dos olhos, apenas alguns milímetros e inclinou a cabeça, como se esperasse escutar mais alguma coisa. A morena olhou para Sam que já engatara uma conversa sobre gostos musicais com Kurt e respirou fundo para encher-se de coragem antes de dizer:

— Nos vimos mais de uma vez nesses últimos dias e fomos apresentadas por outras pessoas, mas, acho que eu não cheguei a me apresentar pessoalmente. Meu nome é Rachel Ber...!

— Eu sei quem você é, Rachel. - Quinn interrompeu a tentativa trêmula e desajeitada de Rachel em se apresentar, a loira virou-se rápido no banco e segundos depois, já conectava seus olhos verdes nos castanhos da morena. Rachel engoliu em seco porque agora eles não estavam frios e sim, escaldantes. Era como se eles queimassem os seus. Quinn depositou a câmera sobre o banco e, meio a contragosto, sorriu. - Nós não precisamos de apresentações, eu já escutei e vi muito sobre você.

— Espero que tenha escutado e vistos coisas boas em mim. Porque eu realmente gostei do que vi em você. - Rachel decidiu não pensar, dessa vez, ao responder. Até mesmo sorriu confiante, ainda que estivesse desconcertada pela interrupção e resposta breve de Quinn.

Aliás, a loira corou quando escutou a sua resposta e Rachel até mesmo acharia que tinha obtido algum progresso se ela estivesse sorrindo. Mas, naquele momento, Quinn sorrira apenas de lado, um sorriso de irônico que não combinara com ela e que logo desapareceu, para alívio de Rachel. Porém, isso não durou muito tempo porque a seriedade voltou às belas feições de Quinn e ela, com certa maldade na voz, disse:

— O que poderia ter visto em mim? Eu sou uma garota comum como qualquer outra de Yale, não tem muito que ver em mim.

— Yale? Muito bom saber que você estuda nessa universidade! Isso significa que você é, no mínimo, esforçada e, no máximo, super inteligente... Yale é algo grande, sabe? Se eu fosse chutar algum curso, diria que faz algo relacionado à arte e que, obviamente, envolve fotografia. - Rachel respondeu rapidamente, ignorando todas as negativas que emanavam na linguagem corporal de Quinn. A loira estava ainda mais afastada e os olhos pareciam lançar projéteis na direção da morena. Rachel, porém, retribuiu tudo com um sorriso, um sedutor. Porque toda aquela falta de receptividade era tão desafiadora quanto decepcionante. - E sabe o que é melhor em Yale? Ela fica em New Haven, Connecticut, o que a deixa bem perto de New York... Onde eu estudo Música, em Julliard.

A risada que Quinn libertou após a resposta de Rachel arrepiou os pelos da morena, não porque ela era contagiante, bela ou musical e sim, porque ela era fria e porque, dessa vez, Quinn não escondera o sarcasmo. A risada, exagerada e maldosa, ecoou por vários segundos nos ouvidos de Rachel, até mesmo depois de Quinn parar para respirar.

Quando o ar voltou aos pulmões da loira e as expressões de Quinn transformaram-se em uma máscara maldosa, Rachel percebeu no que se metera. E, quando Quinn arqueou a sobrancelha direita, de forma perfeita e ameaçadora, Rachel sentiu-se acuada e, surpreendentemente, excitada. Quinn, dessa vez, aproximou-se, contrariando todas as interpretações sobre sua linguagem corporal. A loira inclinou-se como se fosse beijá-la, mas, ela passou direto pelo rosto de Rachel, arrancando batidas desesperadas e suspiros atravessados da morena. Quinn respirou próxima a sua orelha e, cruel, sussurrou:

— Não vamos fingir que você se importa com a distância que vai nos separar depois daqui, Rachel.

Tão rápido quanto se aproximara, Quinn se afastou e voltou as mãos para câmera, os olhos verdes voltaram a se esconder por trás das lentes. Entretanto, Rachel viu o sorriso cruel desenhando-se nos lábios de Quinn. Aquela loira, mais uma vez, provara-se diferente e, principalmente, mostrara que tinha muito a que esconder... E se ela achava que aquela crueldade afastaria Rachel estava errada.

Rachel nunca esteve tão disposta a conquistar alguém como estava agora.

 

Marley cantava alegremente um sucesso da década de 90 e a sua cantoria, naturalmente melodiosa e bela, provocava risos em Ruby. As duas finalmente chegaram em Venice Beach, uma praia bem menor do que Santa Monica e que apresentava um público bem diferente. A nova-iorquina viu famílias e crianças e até mesmo sentiu falta da bagunça juvenil de Santa Monica.

O Ford Mustang foi estacionado ao meio-fio do calçadão de Venice Beach. Ruby desligou o motor e engatou o freio de mão, depois, saiu do carro e Marley a acompanhou. A mais nova respirou fundo, satisfeita, quando o cheiro da maresia preencheu seus pulmões novamente, era uma garota da metrópole, mas estava apaixonando-se perdidamente pela Califórnia e por muito do que ela tinha.

Nesse momento, os olhos azuis de Marley gravitaram até encontrarem a figura de Ruby. A californiana tinha a cabeça baixa enquanto trancava a porta do carro, a brisa marítima bateu em seus cabelos e os fios loiros mexeram-se num ritmo hipnotizante, Ruby tentou mantê-los no lugar por duas vezes - colocando as mechas atrás das orelhas - até que desistiu e ocupou-se em sorrir para si mesma. E, foi com esse mesmo sorriso que ela olhou para Marley.

Os olhares azuis, de tons diferentes, refletiram a mesma coisa, algo que nenhuma delas sabia muito bem o que era e que, ainda assim, assumia uma importância inesperada frente ao pouco tempo em que se conheciam. Ruby parou, ao lado da porta do motorista e Marley, ao lado da porta do carona, franziu as sobrancelhas para os olhos da californiana que, agora, estavam sonhadores. A nova-iorquina corou e, abaixando a cabeça, perguntou:

— O que foi?

— Nada, só estou constatando que não se fazem garotas como você na Califórnia. New York tem que se orgulhar de você. - A resposta de Ruby foi totalmente espontânea, mas, a californiana não se arrependeu do que dissera. Nem mesmo o calor que alcançou suas bochechas e o rubor que tingiu as maçãs do seu rosto a deixaram sem jeito. O sorriso acanhado que brotou nos lábios de Marley compensou tudo aquilo. Ruby, então, chacoalhou a cabeça e contornou o carro, parou ao lado de Marley, encostando-se na lataria. Marley observou uma expressão séria esconder o vermelhidão na pele perolada de Ruby e esperou. - E, por causa disso, eu espero não me arrepender do convite que fiz a você.

— Como assim?! - Marley perguntou alarmada, e tão assustada que até sobressaltou-se, o que provocou a batida de seu cotovelo na lataria do carro e um choque de dor que percorreu toda a extensão de seu braço. Ruby riu da sua reação e segurou seu braço, afagando-o carinhosamente onde ela tinha contundido. Marley voltou a corar, mas, sua mão apoiou-se no braço de Ruby que as conectava. A californiana sorriu divertida e respondeu:

— Sei que não vou me arrepender por algo relacionado a você e sim, por causa daquele cara.

Ruby apontou para uma pequena cabana de madeira à beira da praia, Marley acompanhou sua indicação e se viu observando a decoração colorida e o movimento de pessoas. Pela pequena janela na parede, a nova-iorquina viu que alguém trabalhava equipado com uma máscara de ar. As feições de Marley revelaram sua expressão confusa e Ruby caminhou à frente dela, a mais nova se aproximou e perguntou:

— Ele não parece representar perigo visto daqui.

— Ele não representa perigo para mim, por favor. - Ruby respondeu brincalhona, entretanto, Marley a observara por algum tempo para saber que aquele sorriso sem graça revelava o seu desconforto. As duas caminhavam lado a lado no calçadão, aproximando-se da cabana. - Porém, ele pode ser desnecessário em relação a você. Digamos que Jake não tem limite algum quando vê alguma garota bonita, ainda mais se ela é nova.

Marley voltou a corar, o elogio de Ruby a sua aparência não passou despercebido de sua compreensão da resposta dela. Sentiu que Ruby a observava à espera de uma resposta, porém, elas deram mais alguns passos em silêncio porque não sabia muito bem o que responder. Até que, quando estavam próximas da cabana e o cheiro de parafina começava a irritar seus narizes, Marley segurou Ruby delicadamente pelo pulso e disse sorridente:

— Eu estou com você, acho que não corro perigo algum com um cara como esse.

O rosto de Ruby revelou sua satisfação, ela sorriu de uma forma que Marley não se lembrava ter visto, parecia cheia de orgulho, como se fosse a dona do verdadeiro tesouro de Santa Monica. Marley corou diante desse comportamento dela, sentindo-se quente por dentro, como se alguém estivesse colocado altas doses de felicidade em seu café da manhã. Ruby, então, escorreu a mão até encontrar a de Marley e as duas romperam o resto da distância de mãos dadas e ainda estavam dessa forma quando entraram na loja.  

O cheiro da parafina ainda era mais intenso dentro da cabana, assim como o som de um instrumento elétrico era alto do lado de dentro. Ruby só soltou a mão de Marley para tocar o sino ao lado da porta, o som parou e, enquanto a californiana caminhava até o balcão no centro da loja, Marley ocupava-se em memorizar toda a arte naquela dezena de pranchas de surf que ali estavam expostas.

Ruby esperou cerca de cinco minutos até o dono aparecer dos fundos da loja. Um rapaz negro, alto e com o corpo bem modelado apareceu sorrindo. Os seus olhos negros focaram-se na californiana e ele mal percebeu que outra garota estava em sua loja. Ruby olhou por cima dos ombros e, enfim, os olhos do rapaz acompanharam os seus e a californiana viu, de punhos fechados e lábios franzidos, quando ele sussurrou conspiratório:

— Quem é a gata, Clearwood?

— Alguém que não lhe interessa, Puckerman. - Ruby grunhiu entre os dentes ferozmente apertados, ela bateu os dedos no balcão, impaciente. Os seus olhos observaram Marley de maneira possessiva e a nova-iorquina, como se soubesse que estava sendo observada, virou-se e sorriu para Ruby. Porém, quem suspirou satisfeito foi o rapaz do outro lado do balcão. Marley se aproximou e Ruby socou o balcão. - E a minha prancha?

— Relaxe, ela está pronta dentro da capa. - Ele respondeu desatento enquanto não tirava os olhos de Marley. A mais nova finalmente chegou até eles e colocou-se ao lado de Ruby, agora compreendia sobre o que a californiana queria lhe preparar, porque os olhos daquele garoto estavam observando-a de uma forma que a fazia sentir-se desconfortável. Ele sorriu galanteador para Marley e ela sentiu como se conhecia aquele sorriso de algum lugar. - Olá, seja bem-vinda a minha humilde loja, senhorita. Sou Jacob Puckerman, ao seu dispor.

— Marley Rose, prazer. - Marley cumprimentou mais por educação do que por querer, ela esticou a mão para ele apertá-la, mas, ele beijou-lhe o dorso e Ruby olhou para o teto, em um misto de irritação e tédio. A nova-iorquina puxou a mão rapidamente quando observou Ruby pelo canto dos olhos, Jacob continuava a olhá-la como se ela fosse um pedaço de carne e Marley engoliu em seco. - Puckerman? Algum parentesco com...?

— Sim, Noah é meu irmão por parte de pai. Garanto que a minha genética é ainda melhor do que a dele. - Jacob flertava de uma forma que deixava Marley sem graça, bem diferente da forma como ela se sentia quando Ruby fazia o mesmo com ela. A californiana, aliás, perdeu a paciência diante daquelas palavras do garoto.

Marley observou quando ela cresceu e superou Jacob, Ruby debruçou-se por cima do balcão e deu um tapa na testa do garoto. Ele grunhiu irritado para a dor e para a atitude dela, mas, Ruby deu um soco em seu ombro e vociferou:

— A minha prancha, agora, Puckerman!

Jacob não precisou de um segundo aviso, a expressão ameaçadora de Ruby o levou para os fundos da loja e, só quando as costas dele desapareceram na porta, ela pareceu relaxar. Marley a observou respirar fundo enquanto ela fechava a mão em punho e, mais uma vez, esmurrava o balcão de madeira. A mais nova, preocupada, envolveu a mão de Ruby que estava sobre o balcão e disse:

— Você vai acabar se machucando.

— Ou, talvez, eu machuque outra pessoa. - Ruby respondeu furiosa, olhando de lado para Marley que se encolheu. A nova-iorquina, porém, aproximou-se dela e encostou o rosto em seu ombro, tentando esconder o sorriso em seus lábios porque os olhos de Ruby, sempre tão intensos, não escondiam o seu ciúme em relação a Jacob. Os ombros de Ruby relaxaram diante daquela proximidade inesperada, estava surpresa e furiosa para fazer algo, porém, deixou que Marley invadisse seu espaço pessoal e fizesse casa no calor de seu corpo.

Jacob finalmente voltou dos fundos da loja. Ruby achou que Marley fosse afastar-se e ela assim o fez, entretanto, suas mãos ainda estavam entrelaçadas enquanto elas a tiravam de cima do balcão. Jacob colocou a prancha - encapada - sobre o balcão, seus olhos negros não deixaram de ver as mãos que até então estavam juntas e, incomodado, disse:

— Eu tive um pouco de dificuldade em restaurar a arte original, mas, eu fiz o meu melhor.

— Eu sei, apesar dos pesares, você ainda é o melhor tratando-se disso, Puckerman. - Ruby também não fez questão de disfarçar o seu estado emocional, ela parecia mais tranqüila, porém, os seus olhos continuavam agressivos e repelentes. Jacob encolheu os ombros e Ruby apanhou sua prancha, ela deixou algumas notas no balcão enquanto apoiava a prancha, com costume, ao seu lado. - Obrigada.

Marley e Ruby sequer despediram-se de Jacob, a nova-iorquina ainda acenou educadamente. As duas voltaram ao sol e ao calçadão e a leveza que elas dividiram antes de entrarem naquela loja também voltara. Ruby tinha a prancha debaixo do baixo e Marley caminhava do lado livre de seu corpo, em silêncio, a nova-iorquina entrelaçou as mãos.

Não era a primeira, muito menos, a segunda vez em que elas davam as mãos naquele dia. Silenciosamente, parecia existir um acordo mútuo de que aquele gesto representava muito para elas. Por isso, Ruby apertou a mão de Marley que era envolvida pela sua e elas caminharam até o carro. Apenas se separaram quando Ruby ajeitou a prancha no banco de trás.

Ruby entrou no carro e se ajeitou no banco, seus olhos se voltaram para cabana e Jacob as observava pela mesma janela que elas o tinham observado antes. A californiana agitou a cabeça e bufou, colocando a chave na ignição. Marley manteve-se calada ao lado dela - apreciando o ciúme que lentamente se esvaía do corpo da californiana e que, ainda assim, provocava momentos engraçados, como aquele - Ruby girou a chave e o motor do carro engasgou. Ela tentou mais uma vez e o carro voltou a engasgar. Marley viu quando Ruby fechou e apertou os olhos, antes de ela sair do carro.

As duas pararam em frente ao capô e Ruby o abriu. A californiana olhou desesperada para aquele emaranhado de metal, borracha, plástico e calor. Ela suspirou derrotada e olhou envergonhada para Marley, depois, disse:

— Eu sinto muito por isso. O carro é velho e, ás vezes, ele me odeia.

Marley riu da justificativa dela e Ruby acabou acompanhando-a. As duas se olharam, Ruby apoiando uma das mãos no capô e a outra, na cintura e Marley ao seu lado, de braços cruzados e sorrindo. Nesse instante, as ondas pareceram se calar ao bateram na areia e os ruídos do tráfego silenciaram-se em seus ouvidos. Era como se elas só escutassem a respiração da outra e a única coisa que enxergavam eram os olhos da outra. Marley inclinou a cabeça em uma atitude angelical e curiosa e Ruby mordeu o lábio inferior de forma diabólica enquanto seus olhos trafegavam em direção a boca da outra.

— Vocês precisam de ajuda?! - Do outro lado da rua, Jacob Puckerman acenava, sem camisa e perguntava com um sorriso solícito, os olhos negros maliciosos. Ruby revirou os olhos azuis antes de virar-se para ele, Marley segurou risinhos as suas costas enquanto a observava esbravejar:

— Eu acho que conheço o meu próprio carro, garoto!

Jacob ergueu as mãos, como se pedisse desculpas pelo que fizera, e voltou correndo à loja. Ruby voltou a se virar para o motor do carro e, quando ela sorriu para Marley, era como se fosse outra pessoa. A californiana passou por ela e sussurrou rouca em seu ouvido:

— Além do mais, eu não estou com pressa alguma para resolver isso aqui.

Marley gargalhou e encolheu os ombros antes de correr e ajudar Ruby a tirar a caixa de ferramentas do porta-malas.

# # # # #

Rachel estava decepcionada com Sam, ele podia ser menos óbvio no roteiro turístico que preparara para Kurt e Quinn. Eles começaram o tour pela Ocean Avenue, de carro, até Sam desviar-se para os parques naturais, como Palisades Park e Tongva Park, a morena observou Quinn com um sorriso no rosto, afinal, ela fotografava tudo que podia nos parques e até teve que ser arrastada por Kurt para irem embora. Quinn tinha uma sensibilidade especial em relação à beleza, seja em qualquer forma, natural ou não. Porém, o natural parecia tocá-la de forma especial e a animação dela era contagiante.

Por isso, Rachel sorriu ainda que a situação não estivesse satisfatória para o seu lado e ainda que não soubesse por que sorria a cada vez que os olhos verdes de Quinn brilhavam de forma diferente quando focavam o que a cercava.

Sam também guiou Kurt e Quinn pelos bairros mais ricos antes de passarem pelo Farmers Market, em que Kurt ficou encantado com a quantidade de alimentos existentes e os quais ele desconhecia até então, Sam explicou sobre os alimentos que conhecia pacientemente, afinal, o mercado fora tema de um de seus trabalhos de férias para a universidade. Até mesmo naquele mercado, Rachel observou Quinn balanceando as cores e obtendo cliques que uma pessoa normal não conseguiria.

A loira tinha talento e, acima de tudo, percepção. Subitamente, Rachel amargou o desprezo que vinha sofrendo desde o início do passeio, porque ela queria conhecer mais de Quinn, principalmente, da mente dela. Quinn parecia ter uma mente tão bonita quanto a sua aparência.

A manhã passava rápida e Rachel vinha atrás, afastada do grupo, sentindo-se deslocada por toda a barreira que Quinn erguera entre as duas. A morena não estava arrependida por ter vindo, afinal, toda oportunidade de ver Quinn era especial, entretanto, não estava à vontade porque jamais se vira naquela situação... Desejando o que, aparentemente, não poderia ter.

O grupo voltou pela Ocean Avenue e passou pela Third Street Pomerade, Kurt fez algumas compras e Quinn também, Rachel descobriu que ela poupava e parecia muito controlada em relação aos seus gastos. Uma mente aparentemente bonita e uma personalidade tranqüila que, a cada minuto ao lado dela, mais fazia Rachel se encantar. Quinn e Kurt teriam que encontrar Santana e Brittany no almoço e, Rachel já suspirava diante do iminente desaparecimento de Quinn naquele dia.      

Agora, Sam guiava o jipe pela avenida da orla, o garoto observava a amiga atentamente através do retrovisor do carro. Ele nunca vira Rachel tão calada e desatenta, agora, a morena olhava para a praia e suspirava. Quinn, ao seu lado, olhava para o oposto, para as lojas e prédios do outro lado do calçadão. Sam sentia como se tivesse perdido algo, ele diminuiu o volume do carro e, descontraído, perguntou:

— Todo esse silêncio é para nos poupar dos males de sua ressaca, Berry?

— O que?! Eu não...! - Rachel sobressaltou-se no banco e estava perdida em suas muitas inseguranças emocionais antes de se tocar que o amigo falava com ela. Nos bancos da frente, Sam ria enquanto Kurt se virava preocupado para ela. Quinn parara de clicar a sua máquina, mas, seus olhos não se voltaram para Rachel e permaneceram presos nas lentes. A morena franziu a expressão, chateada e irritada. - Preferi ficar calada em vez de ressaltar todo o clichê presente no seu roteiro turístico, Evans.

— Aí está a Rachel ressacada que eu conheço! - Sam gargalhou a resposta, observando a expressão de Rachel enfurecer ainda mais. A morena bufou e desviou os olhos do retrovisor, Sam continuava a rir e Kurt o acompanhava. Naquele momento, Rachel realmente quis que os dois desaparecessem, preferia o silêncio de Quinn ao deboche deles. E Quinn, como se soubesse que Rachel pensava nela, disse através da câmera:

— Sério? Porque eu realmente gostei do passeio, gostaria que tivéssemos mais tempo para aproveitarmos...

Rachel novamente se movimentou no banco, virando-se para mais um embate contra Quinn. A loira finalmente abaixara a câmera e a repousara sobre o colo, seus dedos trabalhavam nos comandos do aparelho e, no momento, ela observava as fotos que tirara, descartando aquelas que julgava inferiores aos seus padrões. A morena, mais uma vez, se viu perdida nos atos de Quinn, admirando cada falange dos dedos dela e cada movimentar de seus tendões... Era patético como estava ainda mais encantada por quem a desprezara.

— Eu não disse que o passeio foi ruim, Sam só não quis arriscar levá-los para os locais menos badalados e mais especiais de Santa Monica. - Rachel justificou com uma expressão relaxada, sentindo a necessidade de explicar para não mais piorar a péssima impressão que Quinn já tinha dela. E nem sabia por que fazia aquilo se tudo o que o corpo e a expressão entediada de Quinn diziam era que ela não tinha mais chance.

Sam concordou com a cabeça e sorriu, não levando a crítica muito a sério. O loiro simplesmente era assim... Ele não se preocupava muito com nada que não necessitasse sua devida atenção. A partir da atitude apaziguadora dele, Kurt sorriu para a colocação de Rachel e houve silêncio no carro até o momento que Sam estacionou junto ao calçadão. Estavam próximos ao famoso Píer de Santa Monica e os quatro desceram. Quinn parecia disposta a ignorar Rachel pelo tempo que ainda restava do passeio e a morena se viu, mais uma vez, deslocada para trás no grupo. A morena arrastou os pés pelo calçadão e colocou seus óculos de sol, suspirando derrotada para a dificuldade em forma de mulher que caminhava majestosamente a sua frente.

Parecia que toda aquela hostilidade tinha ativado algum componente especial no corpo de Quinn porque ela parecia ainda mais atraente enquanto praticamente marchava pelo calçadão. Rachel esboçou um sorriso ao perceber que não era a única que estava tensa naquela situação, de alguma forma, o silêncio a irritava, mas, a linguagem corporal agressiva de Quinn a satisfazia.

Quinn sentia os olhos castanhos em suas costas, assim como os sentira durante toda aquela manhã. Rachel parecia disposta a enviar sinais cada vez mais controversos, sobretudo quando não usava palavras e sim, atitudes. E os gestos eram o que mais incomodavam Quinn porque fora justamente um movimento, iniciado por ela mesma, que a deixara tensa e distraída durante o passeio.

Não deveria ter se aproximado daquela forma no carro, muito menos, deveria ter sussurrado aquelas palavras próximo ao ouvido dela.

E Quinn não se arrependia pelo que poderia vir daquela atitude e sim pelo que estava sentindo naquele instante. Aquela proximidade passageira revelou uma atração permanente. A respiração de Rachel próxima a sua pele, assim como a energia invisível trocada entre elas revelou o desejo corporal, mas, também, a necessidade emocional.

Seria muito difícil abrir mão de algo que, sequer, tivera.

Aquele pensamento fez Quinn parar no calçadão. Nos segundos que se passaram, ela se viu esperando por Rachel da mesma forma sôfrega que esperou pela resposta dela no jogo da noite anterior, da mesma forma débil e atraída. Quinn segurou a câmera mais firmemente entre suas mãos enquanto sentia a tensão emanar de seus poros e, principalmente, de suas palavras rudes:

— Se você acha que poderia fazer melhor, talvez, devesse ter se candidatado a chefiar o passeio.

— Eu sequer estava sabendo que vocês iam sair até essa manhã. - Dessa vez, Rachel não quis se encolher e sim, batalhar. A morena estava curiosa para saber se Quinn conseguia segurar um conflito da mesma forma que conseguia massacrar um adversário. A loira surpreendeu-se com a resposta destemida da morena e arqueou a sobrancelha à espera de mais. Rachel sorriu para ela, a malícia chegou aos seus olhos castanhos escuros escondidos pelos óculos de sol, mas, Quinn reconheceu o sorriso malicioso e revirou os olhos antes mesmo da continuidade da resposta. - E, além do mais, se eu fosse mostrar cada um desses lugares, não seria para qualquer um e eu estaria devidamente sozinha com a pessoa em questão. São lugares especiais para mim.

— Se é assim, de nada valeu a sua reclamação. - Quinn sentenciou frustrada e entediada. Sam e Kurt haviam parado para esperá-las porque as duas estavam debatendo a questão no meio do calçadão. O loiro parecia divertir-se com a troca de farpas e Kurt mordia o lábio inferior, preocupado. Porém, nenhum deles parecia querer intrometer-se. Quinn e Rachel continuaram a se olhar intensamente até o momento que escutaram uma voz feminina totalmente extasiada, gritar:

— Rachel? É você mesma?

A dona de voz era uma mulher, mais velha do que Quinn e Rachel, na verdade, ela parecia ter quase 40 anos. Loira, bronzeada e com um corpo escultural. Ela usava um maiô negro, com uma saída de praia em tricô da mesma cor e um chapéu também preto, elegante e o desprezo de quem tinha muito comparado aos outros. Ela se aproximou e Quinn, com a decepção evidente em seus olhos e suas feições, se afastou. Rachel olhou de uma para outra sem saber o que fazer, as palavras lhe fugiram assim como a coragem. Quinn observava, incrédula, a falta de atitude de Rachel em relação àquela mulher que, com certeza, era mais uma de suas ex-conquistas. A loira, entediada, disse:

— Eu acho que os seus lugares especiais jamais sairão de sua mente, você nunca está sozinha, não é, Rachel?

As palavras de Quinn foram piores do que um tapa na cara. Rachel continuou paralisada no meio do calçadão enquanto uma das mulheres de seu passado se aproximava enquanto a mulher de seu presente se afastava. A morena observou as costas de Quinn se afastarem e seus olhos, momentaneamente, cruzaram com os de Sam. Seu amigo tirara o chapéu e arrepiara os cabelos, um gesto que denotava o seu nervosismo e, ao seu lado, Kurt agitava a cabeça negativamente e logo se adiantara para recepcionar Quinn em um abraço, arrastando-a em direção ao píer e para longe de Rachel.

A morena, então, sentindo-se derrotada e, principalmente, desanimada, virou-se para recepcionar sua ex. Rachel tentou armar-se do melhor de seus sorrisos, mas, ele pareceu subitamente falso diante dos sentimentos tão contraditórios em seu interior. Ela respirou fundo e manteve os óculos de sol no rosto, escondendo os seus olhos furiosos da mesma forma e, tentando permanecer educada em sua falha tentativa de parecer animada, cumprimentou:

— Olá, Cassandra... Já faz algum tempo e eu achei que você não tivesse planejado voltar a Santa Monica.

— Ora, Rachel... Isso é forma de me cumprimentar depois de tudo que vivemos no ano passado? - Cassandra ignorara a distância que Rachel tentara impor entre elas e se jogara nos braços da morena, abraçando-a enquanto deslizava uma mão lenta e perigosamente pelas costas da menor. Rachel segurou essa mão de forma delicada e sorriu sem graça, podia sentir que os olhos verdes e frios de Quinn acompanharam todo o trajeto daquela mão, porém, Cassandra manteve-se perto, a respiração quente em seu ouvido e o perfume doce (e caro) entorpecendo seu olfato. - Além do mais, eu tenho um bom motivo para voltar todo o ano.

— Eu realmente espero que seja a cidade ou a praia e, até mesmo, a gente de Santa Monica... - Rachel respondeu entre dentes, afastando-se bruscamente de Cassandra e colocando uma distância segura entre elas ao dar um passo para trás. A mulher sorriu maldosa para o seu comportamento, não se deixando abalar pela recusa porque a confiança que tinha em si mesma era absurda. Rachel revirou os olhos, bem que Puck a avisara que aquela mulher era maluca. - Porque eu não quero ter nada a ver com isso... Uma mulher não se deita duas vezes comigo, esqueceu?

— Sim e você também se esqueceu que deitamos mais de uma vez, na mesma cama, em um carro e até mesmo na praia. - Cassandra tinha o veneno em sua voz e Rachel sentiu-se envergonhada com cada palavra dela, as lembranças do verão anterior a assombraram e ela bufou, irritada com a sua memória. Cassandra inclinou o corpo, observando por cima do ombro moreno e riu sarcástica, Rachel se virou e encontrou Quinn numa ferrenha e corajosa troca de olhares com a mulher mais velha. Cassandra voltou a se aproximar e a olhou, excitada. - Bem, você sabe onde me encontrar e sabe que o meu marido nunca me acompanha nesse tipo de viagem... Quando se cansar de brincar com as inocentes, venha ver quem sabe como lhe satisfazer.

Rachel não se conteve e bateu na própria testa ao observar Cassandra se afastar, também não deixou de xingar-se mentalmente. Não deveria ter se envolvido com uma mulher mais velha, casada e, aparentemente, ninfomaníaca. A morena deveria saber que alguém tão arrogante como Cassandra July não aceitaria ser o caso de um Verão. Ainda mais abalada do que antes do encontro inesperado, Rachel voltou para o grupo que já estava no píer. Mal chegara quando, nervosa, começou a dizer:

— Desculpas por isso, era alguém que eu tinha que cumprimentar.

— Você estava falando sobre o píer, Sam... Continue, eu sempre achei esse local lindo, mas, não sabia que a história dele era tão sensacional! - Quinn sequer deu chance para Kurt demonstrar o desagrado que estava em sua expressão, o tom dela saiu depreciativo, como se o que Rachel fizesse ou deixasse de fazer não a importasse. Sam pareceu desconcertado ao retomar a sua narrativa falando que o píer era o marco do fim da Rota 66.

Era quase meio-dia, o sol estava a pino, mas, tudo que Rachel sentia era frio. Olhou para Quinn e ela continuava a ignorá-la, sorrindo para Sam e fechando-se para o resto. Nesse resto, sobretudo, Rachel sabia que estava inclusa.

 

Ruby estava realmente chateada com o seu carro, de uma forma como ela nunca estivera antes, nem mesmo quando ele estragara no meio de uma tempestade em Santa Monica e ela tivera passar a noite sozinha, parada na rua deserta, à espera de sinal no celular para ligar para o resgate.

O Mustang parecia morto em suas mãos sujas de graxa. Ela entendia muito de mecânica automobilística, ainda mais porque ajudara o pai a reformar o carro que estava na família há anos, só que tudo o que sabia era bem básico e, ultimamente, o Mustang estava se tornando muito complicado. Ao seu lado, Marley tentava ajudar da melhor forma - passando-lhe ferramentas e até sugerindo algumas coisas - entretanto, a nova-iorquina era ainda mais ingênua do que ela tratando-se de carro.

A californiana até estaria mais calma se não sentisse os olhos de Jake Puckerman queimarem sua nuca. Ela sabia muito bem que estava sendo observada e que o irmão caçula de Puck estava até mesmo agourando suas tentativas para voltar a se oferecer, ela já se candidatara a ajudar por três vezes, e aquela petulância do moleque estava irritando-a ainda mais. Ruby agachou-se em seus joelhos e apoiou a testa na lataria do Mustang, o cheiro de metal e de graxa significara boas lembranças até aquele dia, ela voltou a bufar impaciente e Marley, sem jeito, sussurrou:

— Ele está se oferecendo de novo, não acha melhor nós aceit...!

— Claro que não! - Ruby respondeu irritada e colocou-se em pé tão rápido que poderia jurar que todos os seus ossos, no trajeto de seus tornozelos que impulsionaram o movimento ao pescoço que balancearam o seu levantar, se estalaram. Ela fez uma careta para dor e encontrou Marley a observando, um pouco preocupada e bastante inquieta. Afinal, já eram quase três horas paradas em Venice Beach e a hora do almoço se aproximava. - É o meu carro e você é a minha convidada, ele não vai tocar em nenhum dos dois.

— Meu Deus! Você consegue ser mais teimosa do que a Rachel! Não tem nada de errado em deixar o orgulho de lado e aceitar ajuda! - Marley finalmente explodiu e Ruby silenciosamente esperava por aquilo, mas, não esperava que a nova-iorquina conseguisse ser delicada até quando era tirada de sério. A californiana bufou e abaixou a cabeça, sabia que Marley estava certa, mas, não daria o braço a ceder.

Jake Puckerman não merecia sequer olhar para Marley Rose.

Ruby voltou a olhar para o motor, pensativa e tentando ignorar a energia agressiva que emanava de Marley, ao seu lado. Distraída, a californiana levou uma das mãos sujas de graça ao queixo e acabou se sujando nessa atitude. Marley percebeu e, mesmo contrariada, cansada e com fome, sussurrou gentil:

— Você se sujou.

— Onde? - Ruby perguntou preocupada, os olhos azuis voltaram à calmaria, o tom escuro e familiar a Marley não tinha mais um brilho violento dentro deles. A nova-iorquina, mais tranqüila, fez sinais apontando para o próprio queixo, mas, tudo que conseguiu foi que Ruby se sujasse ainda mais. Marley acabou rindo dela, esquecendo-se completamente da pequena tensão entre elas e Ruby a acompanhou. Quando a californiana conseguiu parar de rir, o sorriso charmoso voltara aos lábios dela, assim como os olhos voltaram ao brilho sedutor e inebriante. Marley engoliu em seco quando Ruby deu um passo em sua direção e inclinou o rosto em direção a ela. - Talvez, você devesse me ajudar a limpar.

— Você...? - A pergunta se perdeu nos lábios de Marley porque ela se viu, mais uma vez, envolvida no perfume de Ruby e nos olhos azuis que esperavam, ansiosos, pela sua reação. O flerte estava evidente, mas, existia algo mais ali. Ruby a esperava, como sempre esperara, só que dessa vez, ela realmente esperava por algo. Marley mordeu o lábio inferior, seu coração acelerou em seu peito e quase arrebentou suas costelas quando ela viu os olhos azuis de Ruby seguirem o seu movimento. A nova-iorquina até ergueu a toalha para limpar o queixo perfeitamente desenhado de Ruby, contudo, seu movimento se perdeu na metade do caminho, sua mão caiu e ela inclinou sua testa, encostando-a com a de Ruby. - Droga, Clearwood.

Ruby se impressionara com as palavras de Marley, mas, surpreendeu-se ainda mais com a atitude dela. A nova-iorquina acabou com a distância entre elas, tocando os lábios sobre os seus, de forma inocente antes de envolvê-la completamente. Ruby sentiu seu lábio inferior ser puxado com uma mordida e, finalmente acordou. Seu corpo impulsionou de encontro ao de Marley, o seu calor fez morada no dela e as duas se beijaram.

E, enquanto a beijava, Ruby sentia a mesma adrenalina de surfar uma onda perigosa pela primeira vez. Só que, ali, não existia a preocupação de tomar um caldo ou de se afogar... Ali, Ruby deixava ser arrastada completamente às profundezas de Marley, em direção ao carinho, à atração... Ao desconhecido.

Marley riu de encontro aos lábios de Ruby, sentindo-se a garota mais afortunada do mundo somente por ter aquela beleza californiana em seus braços. A mais velha se impôs no beijo e se Ruby era naturalmente sedutora, quando beijava, ela era irresistível. Marley se viu pedindo por mais, desejando por mais e só parou porque o ar faltou em seus pulmões. A nova-iorquina encontrava-se encostada à lataria do Mustang, com Ruby a sua frente, as mãos sujas de graxa apoiadas aos lados de seu corpo.

Existia algo incompreensivamente certo ali. Não estavam em Santa Monica, mas, Venice Beach parecia ser perfeita para o que as duas dividiram.

As duas se olharam após o beijo, ofegantes. Os sorrisos eram iguais em ambos os lábios assim como os olhos azuis tinham o mesmo brilho saciado. Entretanto, para Marley, parecia que ela tinha verdadeiramente enxergado Ruby pela primeira vez. Conseguia discernir o tom exato da pele perolada porque estava próxima, assim como podia perceber os rachados nos lábios dela - provocados pela exposição ao sol - porque os tocara com os próprios. Também pode notar que ela tinha uma pequena cicatriz na sobrancelha, que provocava uma discreta falha na sobrancelha dourada.

Marley a via pela primeira vez porque realmente penetrara na superfície de Ruby Clearwood e encontrara algo ainda mais apaixonante, cheio de imperfeições, mas, ainda assim, perfeito aos seus olhos... Como se tivesse sido feito na medida exata para que ela admirasse.

Esses pensamentos provocaram um súbito surto de vergonha em Marley, ela abaixou a cabeça e, por puro instinto, se encolheu e escondeu-se no pescoço de Ruby. A californiana riu rouca de seu comportamento, seus olhos entregavam toda a paixão que ela ainda não estava pronta para admitir, ela beijou o topo da cabeça da mais nova e sussurrou:

— Tudo bem, você venceu, mais uma vez. Vamos pedir ajuda, mas, não será a de Jake.

Marley deixou que ela se afastasse e Ruby limpou as mãos antes de apanhar o celular e ligar. Enquanto esperava a ligação ser completada, a californiana voltou a olhar para trás e, diretamente, para Marley.

Os azuis se encontraram novamente e os sorrisos brotaram iguais. As ondas chegavam à praia e aquela era a melodia perfeita para o que acabara de acontecer, os cabelos de Ruby voltaram a ricochetear no vento e Marley voltou a suspirar. Assim como não tirou os olhos enquanto ela caminhava de um lado para o outro e seu corpo entregava uma postura muito mais relaxada do que antes.

Não existia mais Jake Puckerman naquele momento. Só existia o sol, as ondas, a Califórnia e Ruby Clearwood a sua frente.

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Notas finais do capítulo

RUBY E MARLEY, QUEM MAIS TÁ SURTANDO?
HAHAHAHAHA

Enfim, assim como "Summer" da Cassadee Pope é o tema Faberry dessa fanfic, "19 You + Me" do duo Dan + Shay é o tema Ruby / Marley dessa fic.

E aí? Gostaram? Eu fui a única que ficou com muita pena da Rachel? E Cassandra July? Rachel não serve nem para arrumar ex menos louca Hahahahaha

Espero que tenham gostado, deixem seu feedback, por favooooooor *-*

Nos vemos na próxima, beijos!
(@redfieldfer)