As memórias de Astrid Hofferson escrita por Temperana


Capítulo 1
Capítulo Único: Lost Memories and Eternal Love


Notas iniciais do capítulo

Hey meus Docinhos Azuis!
Cheguei com mais uma, me digam como vocês estão? Eu falo mais com vocês nas notas finais, leiam por favor e até lá!



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Nem sempre uma história de amor é a mais perfeita. Acredite, pois eu já li muitas delas, já escrevi algumas e já criei outras. Elas nunca são perfeitas. Elas sempre têm um lado difícil, sempre têm uma provação que faz com que esse casal seja, no final, “feliz para sempre”.

Só que às vezes não percebemos que estamos vivendo esse “final feliz”, mesmo que ele esteja bem na nossa cara. Sinceramente, tudo é sempre tão complicado em nossas vidas que qualquer tipo de felicidade acaba sendo irreal. Mas acredite, há finais felizes mesmo nos relacionamentos que passaram pelas mais difíceis provações. Mesmo quando tudo é improvável.

Eu sei que alguém gritou aí do outro lado da tela: eu não acredito!

Então eu vou lhes dá uma prova de que o amor é real e ele pode ser o mais verídico possível. Quando ainda existe amor, tudo é possível. Leia e então você poderá dizer-me se continua ou não desacreditando nele...

*****

Soluço era um viking da tribo Hooligan, de uma pequena Ilha chamada Berk. Ela localizava-se na zona mais fria da Terra, muitos diriam. Mas os vikings eram fortes. Eles podiam sair de short e regata no meio da neve que não se importariam.

A história de Soluço, de como ele tornou-se o viking que sempre quis, não cabe a eu contar. Na verdade, já contei em algum lugar. Mas vocês realmente não conhecem essa história aqui. De como ele conquistou Astrid Hofferson. Duas vezes.

Duas vezes? Mas Temperana, que eu me lembre...

Não, você não se lembra dessa história aqui. Ela nunca foi contada. Coube a mim essa tarefa. E espero desempenhá-la da melhor forma possível...

*****

Após dois meses de liderança de Soluço, as coisas começavam a tornarem-se cada vez mais normais. E com normal eu quero dizer que os vikings começaram a brigar por causa de espadas e machados, além de encherem a cabeça do líder com coisas simplesmente... Fúteis. Esse é o normal da Tribo Hooligan.

Berk continuava praticamente a mesma coisa de sempre. Fria. Sólida. E cheia de dragões. Ainda mais dragões do que possuía antes da guerra contra Drago. Guerra esta que trouxe perdas incalculáveis. Incluindo Stoico, o Imenso, o pai de Soluço.

Depois de muito esforço Soluço superou a ausência de seu pai. Sua mãe lhe ajudou muito nessa tarefa, afinal, ela sentia a sua dor também. Por isso apoiaram um ao outro da melhor maneira possível. Como mãe e filho.

Mas além de Valka, havia a viking mais amada por Soluço em todo o mundo. Seu nome? Astrid Hofferson. Para Soluço a única mulher que merecia seu olhar, sua atenção e o seu amor. Porque Soluço a amava desde sempre. Desde que olhou em seus olhos pela primeira vez. Desde que tocou seus lábios pela primeira vez. Pois foi com ela que finalmente obteve a paz.

Astrid era uma mulher forte. Tinha 20 anos, um sorriso encantador sempre no rosto e a força de uma verdadeira guerreira de Odin. E se perguntasse a ela quem pensava em cada minuto do seu dia, a resposta era apenas um nome. Soluço.

Mas já enrolei muito vocês até agora, vamos à história que quero contar...

*****

Aquele dia prometia ser o mais feliz da vida de Soluço se desse tudo certo. Ele havia planejado isso já tinha uma semana, ou mais se duvidássemos. Ele pediria Astrid Hofferson em casamento. Finalmente. E se ela aceitasse tudo seria mais perfeito do que a sua vida já era.

Ele havia resolvido todas as suas pendências como líder o mais rápido possível, para que pudesse ajeitar tudo do jeito que planejara. Queria leva-la para clareira e lhe fazer o maior pedido de sua vida. E, por um tempo, tudo pareceu dar certo.

Ele deixou um recado com seus pais, que já sabiam das intenções de Soluço e aprovavam totalmente essa união. Ao final do dia, ele encaminhou-se para a clareira onde havia encontrado Banguela e onde os dois haviam construído uma lembrança muito forte. Parecia que fora há muitas décadas.

Banguela acompanhava seu mestre, como sempre. Soluço estava tão nervoso que não parava de mexer os braços. Excessivamente. Era uma mania dele que Astrid amava imitar. Ela amava tudo nele na realidade.

—Então Banguela, como eu estou? – ele perguntou, abrindo os braços e dando um pequeno giro.

O seu dragão deu um de seus sorrisos mais fofos e encantadores. Soluço sorriu e acariciou sua cabeça.

—Obrigado amigo.

Astrid não demorou a chegar. Recebeu o recado de Soluço com um sorriso e correu o mais rápido possível até a clareira, pois amava as surpresas loucas que Soluço fazia para ela às vezes. Chegando lá, Soluço a viu e sorriu. Sorriu como se tivesse certeza de que era ela quem queria ao seu lado pelo resto de sua vida.

—Olá, menino dos dragões – ela diz com um sorriso.

—Oi milady – ele responde.

Soluço beija Astrid como se fosse a primeira vez em sua vida. Ela sorri em meio ao beijo, como sempre maravilhada por ter alguém como o Soluço, que gostasse tanto dela como ela o amava. Ela acaricia os seus cabelos enquanto ele segura sua cintura de modo carinhoso.

—Senti sua falta – ela diz. – Sempre sinto.

—Você sabe que eu gostaria de ficar na Academia todos os dias – ele beija sua bochecha – todas as horas – ele beija seu nariz enquanto ela sorri – com você – ele a beija novamente.

—Mas você é o líder agora, eu sei. E te amo muito. Sei o quanto está se esforçando para ser o melhor.

Ele a puxa para sentar em frente ao lago. Ela apoia sua cabeça no ombro de Soluço.

—Então Soluço, porque me trouxe até aqui? – ela pergunta.

Uma coisa sobre Astrid Hofferson? Ela tinha um sexto sentido para tudo. Exatamente. Você não sabia o que iria fazer, mas ela já. E se você cogitasse a ideia de esconder algo dela, ela não deixaria nem você pensar em fazer isso. Essa é Astrid Hofferson...

—Ora, eu não posso passar um tempinho com a minha namorada? – ela sorriu ao ouvir isso.

—Sei – ela diz.

Soluço balança a cabeça negativamente enquanto sorri e beija o topo da cabeça de Astrid.

—Senti saudade disso. De ficar apenas assim com você – ele diz. – Mas sinto que cada vez mais o meu tempo... Diminui.

—Tenho certeza que já irá acostumar-se com isso. Afinal, foram apenas dois meses. Longos, eu sei, mas você vai ver que tudo vai se normalizar com o tempo. E você sabe que toda a ajuda que precisar eu vou estar aqui – ela encara os seus olhos e sorri. – Sempre.

—Eu sei que vai. E por isso que eu te amo. Por isso que toda vez que vou dormir eu penso que quero você do meu lado todos os dias. É com você que eu quero acordar todos os dias da minha vida. Porque pra mim, Astrid, você é única.

Ela sorri e acaricia o seu rosto.

—Eu te amo muito Soluço.

—Astrid – ele diz e acaricia seu rosto delicadamente. Seus rostos aproximam-se automaticamente. – Você quer casar comigo?

Astrid parecia ter levado um susto. Seus olhos arregalaram e ela ficou um bom tempo encarando Soluço. E então ela apenas deu-se conta do que ele estava dizendo. Ele queria casar-se com ela. Ela sorriu e uma lágrima solitária escorreu de seus olhos.

—Você ainda pergunta? – ela diz.

—Bom, não quero correr o risco de você não querer se casar comigo, sei lá, eu...

Astrid interrompe o que ele iria falar e beija Soluço. Apenas isso. Ela não queria que aquela sensação terminasse nunca. As suas palavras ecoavam em sua mente, parecia que ela nunca se esqueceria delas. Bom, ela não sabia do que aconteceria em sua vida...

Soluço a puxa para o seu colo e quando se separaram Astrid sorriu.

—Sim – ela diz.

Soluço levantou-se e a puxou junto, girando ela no ar. Eles riram como se fossem apenas crianças outra vez. Pois na verdade eles sentiam-se como adolescentes que se preocupavam apenas com a próxima aventura. Nunca deixaram de ser assim.

Mas eu lhe disse que nem tudo sairia perfeito. Nem sempre as coisas simplesmente... Dão certo.

Eles escutaram os gritos vindos da vila. Ou eles simplesmente sentiram essa intuição, não saberiam explicar. Eles encararam-se sérios. Banguela estava alerta e grunhiu para Soluço, como se quisesse avisar que tinha algo muito errado acontecendo.

—Vem Banguela, sobe Astrid – ele diz rapidamente, correndo.

Eles foram imediatamente para a Vila e enxergaram de longe uma luz estranha. Soluço prendeu a respiração.

Fogo! Fogo!

—Por Odin! Está pegando fogo! – Astrid exclamou e pôs as mãos na boca.

—Mais rápido Banguela! – Soluço gritou.

Eles aterrissaram na praça. As pessoas corriam com baldes de água para todos os lados. Os dragões usavam suas asas para tentar apagar o fogo. Normalmente era improvável acontecerem incêndios na vila devido ao sistema de combate a incêndio. Mas ele deveria ter falhado.

—O que aconteceu?- Soluço gritou, tentando ser ouvido.

—Foi um acidente – Valka surgiu. – Alguns Zíper Arrepiantes estavam doentes e não conseguiam controlar a sua fumaça e... Tudo começou a pegar fogo. Os sistemas não deram conta de todo o fogo – Valka encarava tudo com uma expressão de desespero.

Soluço tentou acalmar sua mãe enquanto pensava em um jeito de contornar a situação.

—Oh meus deuses! – Astrid exclamou ao lado dele. – Não!

Ela saiu correndo e Soluço correu atrás dela. A sua casa estava pegando fogo. Soluço segurou seu braço, antes que ela fizesse algo sem pensar.

—Meus pais estão lá dentro, eu preciso entrar – ela diz desesperada.

—Não, espere, vamos tirá-los daí logo. Não pode simplesmente entrar em meio ao fogo Astrid.

—Eu preciso entrar – ela diz determinada, embora seus olhos a entregasse com a iminência das lágrimas.

—Não vou te perder também. Se acalme, vamos tirá-los de lá – ele diz sério e a solta. – Vamos reunir água o mais rápido possível, vamos reabastecer os sistemas contra incêndios, temos que ser eficientes – ele diz aos vikings.

Soluço virou-se para ajudar uma criança que chorava e Astrid usou esse tempo de distração dele para entrar na casa. Ela escutou Soluço gritar o seu nome, mas apenas pensava em tirar seus pais de dentro da casa em chamas.

Tudo era fogo. Fogo, destruição e fumaça. Ela não conseguia enxergar direito, mas avançou e subiu as escadas o mais rápido que pôde. A porta do quarto dos seus pais estava trancada.  Ela usou toda a sua força para abrir a porta e não conseguira. Ela começou a tossir por ter inspirado muita fumaça, mas continuou tentando.

Astrid usou um machado caído no corredor e finalmente conseguiu abrir a porta. Seus pais estavam deitados na cama. Provavelmente estavam dormindo quando o fogo começou. Astrid subiu na cama e tentou acordá-los de toda a forma possível e impossível. Eles não deram um mínimo sinal de vida.

Astrid começou a chorar, enquanto chamava por seus pais. Ela sentia-se cada vez mais fraca e em meio às lágrimas deu um último beijo neles, despedindo-se. Ela tossia muito e começou a tentar ir embora. O fogo havia aumentado e ela caiu antes de chegar à porta.

—Astrid! – ela escutou alguém lhe chamando.

—Eu estou aqui – ela murmurou. – Aqui em cima – ela gritou com suas únicas forças.

Ela voltou a levantar-se e tentou chegar até a escada. Ela então viu Soluço na beira dela. Soluço tentava chegar até ela. Astrid tentou avançar, mas ela não conseguia respirar direito. Ela chegou até a beirada da escada. E então tropeçou e caiu dela. O coração de Soluço parecia ter parado, ele não conseguia acreditar no que via.

—Astrid – Soluço gritou desesperado.

Ele conseguiu chegar até ela no fim da escada e a pegou no colo. Sua cabeça tinha sangue e ela estava coberta de fuligem. Soluço a tirou dali o mais rápido possível, com o coração acelerado. Ele saiu da casa e ajoelhou em meio à vila.

—Astrid – ele chamou e balançou seu corpo – Astrid!

Ela tinha os olhos meio abertos, piscando levemente. Sua respiração era lenta.

—Eu... Estou bem – ela diz fracamente.

—Não fala, não fale nada meu amor – ele disse, limpando um pouco da fuligem de seu rosto.

Ela tentou levar sua mão até o rosto de Soluço. Ele pegou suas mãos e as beijou, deixando suas lágrimas caírem.

—Você vai ficar bem, eu não vou deixar você ir embora. Eu não vou suportar Astrid, por favor, fique comigo.

—Me escuta... – ela tossiu novamente. - Eu te amo está bem.

—Não fala assim, Astrid. Não fale...

—Eu te amo... Muito.

—Eu também te amo.

 Astrid sorriu ternamente e deu o seu último suspiro.

*

*

Tecnicamente...

 

******

Astrid acordou em um lugar totalmente inusitado. Havia um cheiro de terra molhada, como se estivesse na Floresta de Berk. Ao seu redor tudo estava branco, devido à névoa densa do local.

Hei, lille viking*— a mulher em sua frente falou.

Uma voz lhe dava boas vindas. Uma voz lhe chamava de pequena viking.

Onde estou? Astrid perguntou-se.

Ela por um instante confundiu-se e pensou que estivesse perdida na floresta de Berk, mas agora não tinha mais tanta certeza. Observou mais atentamente a névoa ao seu redor. Parecia que estava nas nuvens. Em sua frente uma mulher com aparência divina encarava seus olhos.

—Senhora? Onde... Onde eu estou? – ela perguntou.

—Eu sou Frigga, a amada e rainha dos céus – Astrid curvou-se em respeito à deusa em sua frente. - Não se preocupe, levante-se minha querida guerreira – Astrid levanta-se. - Respondendo a sua pergunta, você está em uma... Zona de Transição.

—Transição? Do que?

—Entre a vida e a morte – Astrid arregalou os olhos como se a ideia a assustasse. Na verdade assustaria qualquer um. – Eu ainda não teci o seu destino Astrid. Estou aqui para lhe dar... Uma opção de destino, eu diria. Como irá querer seguir sua vida. Ou a sua... Não vida.

Astrid raciocinava tão rapidamente que sua cabeça parecia quase explodir. Isso se ela ainda estivesse viva para que ela fizesse tal ato. Ela pensava no que havia acontecido e nada era claro em sua mente.

—Você sofreu um acidente – Frigga respondeu suas perguntas como se pudesse ler a sua mente. E talvez ela pudesse mesmo. – Você caiu da escada em meio a um incêndio.

—Soluço, ele está bem?

Astrid. Não. Astrid, não vá.

O sofrimento da voz atingiu-lhe como uma espada. Astrid envergou seu corpo, como se a dor fosse impossível de suportar. Era ele. Era Soluço. Ele estava sofrendo. Ela estava ligada a ele. Tudo o que ele sofresse ela sofreria junto. Foi uma das escolhas que ela fez em sua vida quando se apaixonou.

—Ele está me chamando, eu tenho que voltar – ela disse em um sussurro.

—Ainda não terminamos lille viking, escute-me.

Astrid levantou-se e encarou a mulher loira e linda em sua frente. A deusa do casamento, que tecia o destino dos homens, a rainha dos deuses.

—Que opções eu tenho minha senhora? – ela pergunta.

—Você pode retornar. Ou pode seguir.

—Eu quero voltar, eu preciso...

—Escute – a deusa diz, interrompendo Astrid. – Se você voltar terá um preço. Você perderá a sua memória. Não se lembrará de Soluço, nem de nada de sua vida. Poderá eventualmente recuperá-la, mas será um longo caminho até que isso ocorra. E se quiser apenas seguir, permanecerá com as suas lembranças, mas deixará Soluço para trás.

Astrid tinha vontade de chorar. Pois nenhuma opção era favorável para ela. Ela poderia ter pensando durante uma eternidade.

Astrid, por favor. Eu te amo, por favor.

—Você deve escolher – a deusa encarou os olhos de Astrid, enquanto a voz de Soluço ainda ecoava nos ouvidos dela.

Por um momento, só por um breve instante, ela pensou que poderia seguir em frente. Afinal, ela o faria sofrer de qualquer modo. Mas o sofrimento real de Soluço falou mais alto. Porque se voltasse, eles teriam mais uma chance, e ela acreditava que poderia lembrar-se de tudo. Afinal, nada é mais forte do que o amor. Se ela apenas seguisse, já teria desistido dele.

Astrid, por favor, não vá.

Ela olhou em direção a terra com um olhar decidido. Frigga sorriu minimamente, como se soubesse sua decisão.

—Eu vou voltar.

A voz de Astrid ecoou, como se pudesse fazer isso, em meio à névoa. A mulher a sua frente estendeu sua mão sobre a cabeça de Astrid. Ela começou a brilhar fortemente, obrigando a viking a fechar os olhos. Ela sentiu-se fraca repentinamente e seu corpo desmoronou.

Glemme*— a deusa entoou em norueguês. Esqueça.

E, de fato, Astrid Hofferson esqueceu.

*****

Quando Astrid acordou novamente, ela estava deitada em uma cama. Ela olhou para os lados e não viu ninguém. Tinha a sensação que conhecia aquele lugar. Levantou-se devagar e sentou-se. Uma dor de cabeça invadia suas sensações. Ela estava desorientada e não sabia onde estava.

—Graças a Thor, você acordou, estava preocupado – ela escutou uma voz e virou-se em sua direção.

Um menino ruivo e sorridente a encarava. Ela tinha a impressão de que o conhecia de algum lugar, mas de algum modo inexplicável não conseguia acessar as suas memórias. Era Soluço. E como Frigga havia prometido, ela não se lembrava dele.

—Você está bem? – ele aproximou-se e sentou-se ao seu lado, em um banco. Verificou a sua temperatura. – Pelo menos não está com febre – ele murmurou.

—Eu... – ela falou, mas calou-se. Nem ao menos lembrava que aquela era a sua voz.

—Está tudo bem, você me preocupou muito, mas você está segura agora – Soluço sorriu. Ela olhou atentamente as suas olheiras. Ela tentava lembrar-se dele e não conseguia.

—Eu não consigo – ela disse, com os olhos arregalados. – Eu não sei.

—O que houve? O que você não consegue?

—Eu não me lembro de você. Mas tenho a sensação de que já te conhecia. Não lembro quem eu sou. Não me lembro desse lugar. Quem é você e onde eu estou? O que aconteceu?

Soluço arregalou os olhos e levantou-se, andando de um lado para o outro do quarto enquanto tentava digerir tudo. Ele voltou a encará-la.

—Você... Não se lembra de mim?

—Desculpe, eu deveria? – ela responde e encolhe-se. Pôs as mãos na cabeça e várias imagens percorrem a sua mente, mas nenhuma pareceu ficar. – Eu estou confusa.

—Hey, não se preocupe – ele conseguiu sorrir. – Durma, descanse. Tudo vai ficar bem.

Ele acariciou sua cabeça e Astrid relaxou os ombros. Sentiu que podia confiar nele.

—Obrigada, eu... Não sei... Não me lembro do seu nome – ela corrigiu-se.

—Soluço, sou Soluço – ele sorri tristemente. Ela assente com a cabeça e rapidamente volta a dormir.

Soluço saí do quarto e quase tropeça. Ele apoia-se na parede e põe as mãos sobre a cabeça. Suas lágrimas escorrem sem que perceba.

—Isso não está acontecendo. Não com a gente.

Soluço sentou-se, encostado na parede, enquanto libertava as lágrimas guardadas em seu coração. Ele havia segurado o corpo de Astrid em seu colo, enquanto a assistiu morrer. Quando a Anciã lhe dissera que ela ainda estava lutando pela vida, ele permitiu-se ter esperanças.

Uma semana de total desespero em que pensara que Astrid iria morrer. E agora, ela estava viva, mas não se lembrava dele. Não lembrava que iriam casar-se. Que eles amavam-se. Não sabia a mulher incrível que era, nem ao menos seu nome, se duvidasse. A que preço os deuses lhe devolveram o seu amor?

Ele desceu as escadas, onde sua mãe esperava por ele. Ela encarou seu rosto, em busca de algum sinal.

—Ela acordou – ele diz.

—Ah meu filho, finalmente – ela diz e lhe abraça. Soluço a abraça mais forte, ainda lutando contra as lágrimas. – Por que está chorando meu querido, o que houve? – ela enxuga suas lágrimas.

—Ela perdeu a memória. Ela não se lembra de nada – Valka abriu a boca e balançou negativamente a cabeça. – Ela não se lembra de mim. De nós.

—Não. Ah não – ela o abraçou. – Eu sinto muito.

            -Eu também.

*****

Valka prontamente se voluntariou a cuidar de Astrid. Ela faria o papel da mãe que Astrid havia perdido. Concordaram em não lhe contar nada sobre o acidente. Quando Astrid acordou novamente, Valka foi lhe ajudar a tomar um banho.

—Olá, minha querida – ela lhe cumprimentou. Astrid olhou em sua direção, completamente confusa. – Sou Valka, a mãe de Soluço. Eu vou ajudar a cuidar de você. Por hora, vou ajudar-lhe a tomar um bom banho.

Astrid sorriu e agradeceu a mulher em sua frente. A sensação de que ela a conhecia era mais fraca, mas sentia um sentimento bom ao estar perto dela. Valka lhe ajudou a alimentar-se, tomar banho e se fortalecer. Ela relacionava a figura dela ao seu nome, obrigando-se a lembrar dela para sempre.

—Meu nome – ela diz para Valka, após o banho.

—O que foi querida?

—Meu nome é Astrid? Astrid Hofferson? – ela pergunta receosa.

—Sim – Valka sorri. – Esse é o seu nome. Como se lembra dele?

—Eu não sei. Parece ser a única memória que consigo acessar agora – ela põe as mãos na cabeça. – Eu preciso lembrar-me senhora. Eu preciso.

—Não – Valka enxuga suas lágrimas. – Não minha querida, se acalme. Tudo dará certo. Você lembrará tudo no momento certo. Os deuses não mantiveram a sua vida para você ser infeliz – Astrid sorriu. – E não me chame de senhora, ficarei super brava.

—Tudo bem, Valka.

—Isso mesmo – a mulher ruiva sorri. – Vou trazer algo para você comer.

Soluço observava as duas mulheres em seu quarto. Pareciam tão bem uma com a outra, como se fossem nora e sogra, como sempre foram. Mas Astrid não se lembrava de nada.

Ele entrou no quarto quando sua mãe foi embora. Astrid encarou-o novamente. Ela tinha que se lembrar dele. Era uma obrigação para ela. Mas por mais que tentasse, não conseguia.

—Está sentindo-se melhor? – ele pergunta.

—Eu estou bem, e você? – a sua pergunta faz Soluço sorrir.

—Eu... Estou bem – ele dá de ombros. – Não é como se tudo estivesse perfeito, mas tudo estará.

Astrid desvia o olhar. O que era aquilo que sentia? Que sentimento forte era aquele? Por que a certeza de que o conhecia?

—Vai ficar tudo bem Astrid – ele coloca sua mão sobre a dela. – Pode parecer que não, mas sempre há uma luz em meio a tanta tristeza.

—Eu... Só queria saber quem eu sou.

—Você é Astrid Hofferson. E acredite, o seu nome é o que basta para causar uma boa impressão – ela ri. – Você é uma guerreira, supera qualquer homem em uma luta e é mais forte do que qualquer um seria frente a situações ruins... Como essa – ela sorri para ele e aperta sua mão. – Mas é uma pessoa incrivelmente doce, carinhosa e que faria de tudo para proteger aqueles que ama.

Soluço solta a sua mão. As lágrimas ameaçavam cair.

—Eu tenho que ir, me desculpa – ele diz.

Ele saí apressado do quarto e nem escuta Astrid chamar o seu nome. Ele não suportava aquilo, doía mais do que mil espadas perfurando seu corpo. Era como se estivesse afogando-se na própria tristeza. Ele não conseguia suportar.

Astrid encarou sua mão após a saída de Soluço, como se estivesse maravilhada por instantes antes segurar a mão dele. Afinal, quem era Soluço para ela?

*****

Astrid Hofferson foi recuperando-se e, em uma semana, ela já estava bem melhor. Havia perdido muito sangue, além do fato de ter respirado muita fumaça. Ainda estava um pouco fraca e o principal: sua memória não havia retornado. Soluço evitou conversar com ela durante aqueles dias. Não suportava fazer aquilo sem desmoronar.

Astrid agradecia sempre a Valka pelos cuidados. Ela havia sido como uma mãe para ela, embora não lembrasse se possuía uma. Ela resolveu guardar essas perguntas para quando Valka viesse falar com ela a noite.

Ela resolveu aventurar-se e sair de sua cama sozinha. Queria ver onde estava, saber se lembraria de algo quando saísse daquela casa. Ela precisava disso.

Sem muitas dificuldades ela levantou-se. Sentiu uma leve tontura, mas logo se equilibrou novamente. Ela estava com um dos vestidos alegres de Valka, que gentilmente a emprestara.

Ela desceu calmamente as escadas e tentou avançar até a porta, mas novamente a tontura a atingiu. Ela quase caíra no chão, mas Soluço a segurara, antes que isso ocorresse.

—O que pensa que está fazendo senhorita? – ele pergunta.

“-Boa tarde senhorita, por onde andou?

—Ganhando algumas corridas. A pergunta certa é por onde você andou.”

Astrid assustou-se. Ela se recompôs e respondeu a Soluço.

—Eu... Queria ir lá fora.

—Vem, vamos sentar ali – Soluço a leva para o sofá.

—Estou bem, obrigada – ela diz. – Só queria ver como era lá fora.

—Entendo, mas você ainda está fraca para andar por aí. Se eu não estivesse chegado, você poderia ter se machucado – Astrid encarou seus olhos.

—Senhorita? – ela deixou escapar a pergunta.

—O que?

—Você já me chamou de senhorita antes. Eu... Acho que já ouvi você me chamar assim antes – ela diz. – Não sei explicar. Foi como se fosse uma lembrança, mas não vi o seu rosto.

—E o que mais você lembra?

—Alguma coisa sobre corridas – Soluço sorriu. – Não me lembro de mais nada. Eu quero lembrar mais, mas... Eu não consigo.

—Já te disse, vai ficar tudo bem – ele repete. – Está sentindo-se melhor?

—Acho que sim – Astrid estranha a pergunta.

—Qualquer coisa segure-se em mim, agora venha.

Soluço a guiou até o lado de fora de sua casa. Astrid pareceu olhar pela primeira vez o mundo. Ela olhou maravilhada os dragões voando pelo céu e a neve cobrindo as rochas de Berk. Ela sorriu.

—Eu me lembro – ela diz. – Lembro-me desse lugar.

—Esta é Berk – Soluço diz. – O melhor lugar para se viver no mundo. Aqui faz frio o ano inteiro, os vikings treinam dragões e brigam por machados e espadas. Os dragões iluminam as nossas vidas e completam os nossos corações. Mas o que é o mais importante dessa Ilha – ele encara os olhos de Astrid. – É que ela é a sua casa. O seu lar.

—Berk – Astrid sorriu.

Banguela veio até Soluço e o viu com Astrid. Ele veio correndo, provavelmente para pular em cima de seu mestre ou dela, como sempre fez. Talvez fosse mais difícil para ele entender que ela não se lembrava dele, embora fosse um dragão esperto até demais.

—Não Banguela! – ele exclamou e se pôs na frente de Astrid.

Soluço caiu no chão com o peso de Banguela. Soluço riu.

—E esse é o Banguela – ele informou. – Um dragão desobediente e muito fofo.

Soluço levantou-se e encontrou Astrid um pouco assustada encostada na porta fechada. Ela encarava Banguela.

—Hey, está tudo bem – ele diz. – O Banguela é um dragão muito carinhoso, mas como ele é um pouco grande... O carinho dele também é.

Astrid aproxima-se vagarosamente. Banguela encara a viking, feliz por vê-la bem. Ela estica a sua mão e Banguela encosta sua cabeça nela. Ele a rodeia e brinca um pouco com ela.

—Ele gostou de você, quer dizer, ele tecnicamente sempre gostou de você... – Soluço enrola-se nas palavras e balança um pouco os braços.

—Eu entendi, deveria conhecê-lo – Astrid sorri tristemente. – Eu... Vou entrar.

Astrid entra na casa e sobe as escadas devagar, com Soluço em seu encalço. Ela senta-se na cama e observa Soluço sentar-se em sua frente.

—Tudo bem? – ele perguntou.

—Sim, eu estou bem – ela sorriu. – Só quero lembrar-me de tudo.

—Você irá. Eu prometo.

*****

Passou-se três meses desde a perda de memória de Astrid. Ela lembrava-se de algumas coisas da sua vida, como de Tempestade, as lutas, os treinamentos. Mas as lembranças que mais importavam e as que ela mais queria que retornassem... Não voltaram.

Ela conheceu novamente os gêmeos, Melequento e Perna de Peixe. Melequento, é claro, não deixou passar em branco a oportunidade. Mas na primeira cantada ele foi parar no chão. Então... A Astrid ainda lembrava como lutar.

 Se você perguntar-me o porquê de Astrid ter... Dispensado Melequento sem pensar duas vezes, acho que não saberia responder direito. Ela mesma não saberia responder por quê. Ela só sabia que não devia e não podia. Além de Melequento ser bem chato na maioria das vezes, ela sentia que pertencia a alguém. Não como se fosse uma obrigação, mas sim uma escolha.

Soluço fez de tudo por Astrid. E ele continuaria a fazer. Ele decidiu que ajudaria Astrid a recuperar as suas lembranças. Nem que se lembrasse dele apenas como amigo ele queria que ela se sentisse completa. Queria a sua felicidade. Amar é isso. Querer a felicidade do outro mesmo que não seja a nossa.

Eles novamente tornaram-se amigos.

—Me conte como eu te conheci – ela perguntou.

Eles estavam na casa dele, deitados no chão do quarto de Soluço. Eles passaram a fazer isso, pois Soluço tinha uma janela no teto, que quando estava aberta dava para ver as estrelas de noite. Claro, quando não fazia muito frio.

—Deixe-me pensar agora – ele diz. – A primeira vez que eu te vi, foi quando tínhamos 5 anos. Ou seja, faz muito tempo.

—Nossa. A gente se conhece há tanto tempo assim?

—Não éramos muito amigos. Só começamos a conversar melhor quando conheci o Banguela. Ou melhor, você descobriu que eu escondia o Banguela. Foi... No mínimo engraçado.

—Quero me lembrar de todos os detalhes – ela diz com um sorriso. – Deve ter sido incrível.

—No mínimo diferente – ele riu. Astrid lhe deu um leve tapa.

—Como você é bobo – ela encara seus olhos. – Obrigada.

—Pelo o que senhorita? – ela sorri.

—Por me fazer sorrir.

*****

Já fazia seis meses desde que Astrid sofrera o acidente. Ela estava cada vez melhor consigo mesma. Lembrava às vezes de coisas nítidas e às vezes de coisas não tão nítidas. Mas aos poucos ia retomando o seu jeito de ser.

Ela ainda não conseguia acessar memórias sobre Soluço. Lembrou-se de quando o ignorava e vagamente de quando conhecera Banguela. Ela tinha a sensação de que havia ficado presa em uma árvore naquela ocasião.

Astrid passava muito tempo nas florestas de Berk. Ela gostava delas, o cheiro lhe dava uma sensação boa. De nova chance para recomeçar. Ela morava sozinha agora, sabia do que acontecera com seus pais. Ela sabia do acidente que lhe tirou suas memórias e matara seus pais, sofrendo muito quando descobriu que eles haviam morrido. Que ela não havia conseguido salvá-los.

Soluço não conseguiu contar isso para ela. Quando perguntou para ele onde estavam os seus pais, ele não conseguiu encarar seus olhos. Coube a Valka o papel de contar-lhe. Lembrar-se da morte dos pais de Astrid fazia Soluço lembrar que Astrid perdera a memória naquele dia, que ela quase morrera e que havia aceitado casar-se com ele.

Ele aparentava estar bem sempre que conversava com ela. Entretanto só eles conheciam o que realmente passavam. Está aí uma coisa que eles faziam às vezes e intensificou-se com esses episódios: escondiam-se dentro de si. Dentro de uma máscara de sentimentos.

Soluço sempre fora um grande líder. Mas naqueles meses que sua angústia era tanta que não conseguia suportar, ele trabalhava duro nos problemas da vila. Tentava solucioná-los com todo o seu empenho. E se lhe sobrava tempo ia fazer equipamentos para aprimorar ainda mais o voo de Banguela.

Todos os dias, entretanto, ia visitar Astrid, e antes de entrar em sua casa respirava fundo e sorria. Sorria ao lembrar o quanto a amava. E valia a pena tudo aquilo. Mas a dor ainda ela grande. E, mesmo decidido a fazer o melhor por ela, ainda não suportava aquela dor dentro de si. Que mostrava que talvez ele estivesse a perdendo aos poucos.

Mas ele não sabia dos sentimentos de Astrid Hofferson. Na realidade, quem saberia? A viking estava cada vez mais confusa. Ela tentava entender esses sentimentos que sentia perto de Soluço. Arriscou-se em falar com Valka, mas ela não lhe esclareceu muito. Ela tinha que resolvê-los sozinhos.

Caminhando pela floresta, Astrid acabou achando a Clareira onde encontrara Banguela pela primeira vez. Por que Soluço nunca a levou lá? Talvez porque ele não tivesse coragem de retornar lá.

—Eu lembro-me desse lugar – ela diz pra si mesma.

“-Isso é por me sequestrar. E isso é por todo o resto.”

Astrid apoiou-se na pedra ao seu lado. Ela lembrou-se do seu primeiro beijo. Este que fora com Soluço, naquele lugar. Ela olhou para cada detalhe dali.

—Não éramos apenas amigos Soluço. Sei disso – ela diz. – Mas por que não conta para mim tudo? Por que não me ajuda a lembrar?

 

“-Isso é por me assustar.

—Mas vai ser sempre assim, porque...

—E isso é por todo o resto.”

 

Mais um beijo lembrado. Astrid pôs a mão no coração. Ele doía. Ela colocou-se no lugar de Soluço. De como ele sentia-se, vendo que ela não se lembrava de nada e tendo que ajuda-la a recuperar-se. Obviamente ele não contaria isso para ela. A obrigação dela era lembrar. Só ela poderia.

—O que nós éramos? O que nós somos Soluço?

*****

Astrid resolveu não falar sobre aquelas últimas lembranças. Comprometeu-se consigo mesmo a lembrar-se de tudo. Era o que ela faria. Nem que fosse a última coisa em sua vida.

Soluço a esperava na porta de sua casa, como todos os dias. Ela voltava da floresta com seus pensamentos. Ela olhou em seus olhos e ele dirigiu-lhe um sorriso. Ela retribuiu.

 

“-Eu vi o que você fez.

—Ah, eu perdi.

—Não. Você escolheu não vencer. “

Astrid apagou o sorriso do rosto. Quando a sua própria cabeça pararia de tortura-la?

—Hey, tudo bem, ficou séria de repente? – Soluço perguntou quando ela chegou mais perto.

—Estou bem Soluço, apenas com uma dor de cabeça leve – ela diz e sorri. – Achei a clareira, por que nunca me levou lá?

—Eu... Não achei que poderia voltar lá – ele diz.

—Aconteceu alguma coisa que lhe traz lembranças ruins de lá? – ela pergunta, preocupada.

—Não, pelo contrário. Coisas boas.

—Então por que... – ela parou de falar. Lembrou que talvez ela fosse a causadora disso tudo. Ela lhe dirigiu um sorriso terno. – Então, o que você está fazendo aqui?

—Eu queria te levar até uma ilha, mas acho que você não está sentindo-se bem, então...

—Não mesmo, vamos agora – ela diz animada. Soluço ri. – Eu não posso perder uma boa aventura meu caro Strondus.

—É claro né... Estou falando com Astrid Hofferson.

—E só o meu nome basta.

Eles riram e montaram em Banguela. E foram juntos rumo a próxima aventura...

*****

Já fazia nove meses. Astrid não conseguia mais. Ela havia se isolado fazia poucas semanas. Ela estava desanimada, não conseguia lembrar-se de mais nada importante para ela. Não saía de casa, comia apenas por que Soluço vinha trazer-lhe comida e nada parecia conseguir animá-la. Valka ia vê-la e só conseguia trocar poucas palavras com ela.

Ver Soluço cuidando dela causava mais desgosto ainda. Ela não conseguia mais conviver com isso. Ela não conseguia fazer os outros sofrerem. Ela tinha uma filosofia de vida, que não saíra dela. Guardar tudo pra si. Atingir o mínimo de pessoas possíveis com seus problemas.

Soluço estava olhando Astrid, enquanto ela encarava o prato de comida a sua frente. Ela deixou uma lágrima solitária escapar de seus olhos e logo a enxugou. Soluço não aguentava mais vê-la definhar por dentro e também por fora. Astrid queria fazê-lo parar de sofrer, mas não via que aquilo causava o contrário com ele.

—Chega – Soluço diz. – Você tem que me dizer o que está acontecendo Astrid – ele senta-se em sua frente, em sua cama e tira o prato intocado de suas mãos. – Eu quero te ajudar.

—Você não se cansa? – ela encarou os olhos dele. Ele segurou suas mãos.

—Não me canso de que Astrid? – ele diz calmamente.

—De tentar me ajudar. Você não se cansa, não vê que eu não tenho mais solução?

—Não fale assim Astrid, por favor. Eu sei que tudo vai dar certo um dia. E não importa pra mim se será agora ou daqui a dez anos. Eu... Gosto muito de você pra desistir de te ajudar.

—Por favor, me conte a verdade. Por que quando acordei e te vi senti que te conhecia há muito tempo, mesmo sem lembrar-me de nada? Por que senti que você era a razão de eu estar viva? Por que até hoje eu sinto que te devo a minha vida? Por que eu sinto que não suportaria te ver sofrer? Nem te perder? Por que Soluço? Conte-me o que eu não consigo me lembrar. Eu não consigo mais te ver sofrer.

Ele sorri e acaricia os cabelos de Astrid. Ele não podia responder o que ele desejava. Não queria obriga-la a sentir por ele o que sentia por ela. Não sem suas memórias. Astrid segura sua mão em seu rosto.

—Eu não posso Astrid. Não me peça para fazer isso.

—Por que não pode? – ela se desespera. – Por favor, eu não consigo mais viver assim, parece que existe um buraco dentro de mim. Quando eu estou com você esse buraco diminui, mas parece que ele aumenta em você – ela não consegue conter as lágrimas. – Você mentiu pra mim. Disse que eu era forte, que eu conseguiria suportar. Mas eu não posso, entende. Eu não vou conseguir.

—Você é a menina mais forte do mundo. Mais doce e a mais carinhosa também. É a pessoa que eu escolhi cuidar sempre que eu pudesse. Escolhi como melhor amiga, escolhi... Eu escolhi você... Para me apaixonar – ele diz e uma lágrima escorre. – Eu escolhi te amar e vou te amar até o meu último suspiro. E não importa nada Astrid, desde que você esteja feliz. Então, por favor, sorria, seja feliz. Você é quem me mantém são. Eu não posso fazer isso mais.

Soluço levantou-se e soltou a mão de Astrid. Ele tentou ir embora, mas Astrid não o deixou ir.

—Não vai embora. Por favor, não me deixe.

—Eu não queria te dizer isso tudo, não queria confundir você ainda mais.

—Você não me confundiu, confirmou minhas suspeitas. Eu... Me lembrei dos nossos beijos. Ou melhor, de alguns – ela corou. – Eu me senti como se pudesse completar parte das minhas memórias. Eu não sei explicar, foi como se eu pudesse finalmente entender o que eu sinto. Mas eu preciso lembrar-me de tudo, eu devo isso a você. A nós.

—Você não deve nada a mim Astrid.

—Eu devo sim. Eu me apaixonei novamente por você, tenho certeza de que já fui uma vez. E quero que seja tudo perfeito como fora antes. Eu quero encontrar as minhas memórias. Mas não quero te fazer sofrer. Não mais.

—Acredite – ele afastou os fios do seu cabelo que cobriam deu rosto e encarou seus olhos. – Você nunca me faria sofrer. Eu te amo milady.

Devo dizer que ele a beijou ou posso pular essa parte? Claro que não né...

Então Soluço a beijou. Foi como se por muito tempo tudo estivesse escuro. Como se tudo estivesse fora do lugar. Mas ali tudo encontrou a luz. Astrid processava suas memórias, embora tudo ainda estivesse confuso. Soluço ainda tentava acreditar que havia se apaixonado novamente por ela. E vice versa.

Soluço e Astrid tinham uma ligação de amor que nem os deuses poderiam retirar. Nem eles fariam Astrid esquecer como era amar Soluço. Porque era muito mais forte do que qualquer outra força do mundo. Influência divina ou não. Eles sempre iriam se apaixonar de novo. Três, quatro, cinco vezes. Eles foram feitos um para o outro.

Quando se separaram, Astrid sorriu e encarou seus olhos.

—Eu... Gostei dessa sensação – ela diz.

Ele sorri e lhe abraça. Astrid sentiu seu cheiro, como se fosse sua primeira vez. Mas não era e ela sabia.

—Eu também.

Astrid encarou novamente seus olhos. Um turbilhão de lembranças a atingiu. Ela sentiu uma dor, como se tivesse levado um golpe de espada. Ela encurvou seu corpo. Soluço a pegou no colo e a deitou na cama.

Imagine todas as lembranças voltarem de uma só vez. Uma dor de cabeça normal que todos sentimos multiplicado por 100. Era como levar uma facada. Doía esquecer. Doía lembrar também.

—Hey, está tudo bem, eu estou aqui com você – ele dizia.

Ela pôs as mãos na cabeça, iria enlouquecer. Soluço acariciou seus cabelos e segurou suas mãos. E sem conseguir mais, ela desmaiou.

*****

“-Astrid, eu preciso de você...”

“-Você pegou ela amigão?

—Boa sorte Soluço.”

“-Sei que é ruim ver todo mundo com o seu dragão e você não. Mas isso que você fez foi incrível Soluço, obrigada.”

“-E eu te amo como nunca amei ninguém na vida Astrid. Você quer namorar comigo?”

“-Eu te amo, desde sempre. Soluço, você a razão do meu viver, é o ar que eu respiro. Sem você nada faz sentido.”

“-O que você está procurando não está lá fora Soluço. Está aqui. Talvez ainda não tenha visto.”

“-Porque pra mim, Astrid, você é única.

—Eu te amo muito Soluço.

—Astrid. – Você quer casar comigo?”

Astrid acordou em um lugar que você deve lembrar-se. Sim. Nas nuvens. Ela tinha uma leve noção do que estava acontecendo. Frigga estava em sua frente novamente.

“-Você deve escolher.”

Mais lembranças. Astrid fechou os olhos e levantou-se. Quando os abriu encarou a deusa em sua frente. Lembrava-se dela. Lembrava-se de tudo.

—Lady Frigga – ela curvou-se.

Hei, lille viking.

Astrid sorriu. Frigga pegou suas mãos e encarou profundamente seus olhos.

—Você cumpriu seu lado da promessa. Mesmo que não tenha percebido que cumpriu. Eu esperava uma história de amor verdadeira. E foi isso que você me deu minha querida. Você provou-me que vocês são capazes de amar.

—Eu tinha certeza que não me esqueceria dele.

—E vai ter suas lembranças de volta Astrid Hofferson. Todas elas na devida ordem.

—Até as desses 9 meses que passei?

—Por que você iria querer lembrar de todo esse sofrimento Astrid?

—Não posso esquecer-me. Durante esses meses eu aprendi a amar novamente. Foi quando eu tive mais do que certeza de que amor verdadeiro existe minha senhora. Não poderia esquecer.

—E não irá minha querida. Será como você desejar. Vá em paz. E um dia, você e Soluço, terão um lugar reservado no exército de Odin.

Astrid sorriu. A deusa novamente pôs suas mãos sobre a cabeça de Astrid.

—*Husk, lille Astrid.

E ela lembrou-se.

*****

Astrid acordou assustada. Soluço ainda segurava a sua mão e suspirou aliviado ao encarar seus olhos azuis. Ela olhou para os lados, reconhecendo a sua nova casa. Sentiu os braços do seu menino dos dragões em torno de si. Ela sorriu.

—Você se lembra de mim? – ele pergunta inseguro.

Astrid encara seus olhos e acaricia a sua bochecha.

—Como eu poderia esquecer-me de quem eu mais amo no mundo? De quem não desistiu de mim durante todo esse tempo. Eu nunca poderia esquecer-me de como é amar você.

—Eu te amo muito – Soluço diz.

Soluço beijou Astrid como se pudesse tirar o peso do mundo de suas costas. Como Astrid diria, o buraco dentro de si acabou. Não existia mais sofrimento em seu coração. Eles se amavam. Só isso bastava. Sempre bastou.

Astrid se separou de Soluço, sorriu e encarou seus olhos.

—Você sabe que eu aceito certo? – ela perguntou.

—O que milady?

—Casar-me com você. Ainda está de pé o pedido senhor Strondus?

—Oh Thor.

Astrid pulou nos braços de Soluço e o abraçou. Abraçou com todas as suas lembranças, com cada uma guardada em seu coração. Cada promessa. Cada “eu te amo”. Cada beijo e cada abraço.

—Eu te amo muito Soluço. Eu te amo e fico honrada por ter a oportunidade de me apaixonar duas vezes por você.

—A honra é toda minha milady. Porque eu te amo mais do que tudo.

E quando ele a beijou novamente, sua noiva, nada mais precisava ser dito...

*****

Você ainda está aí? Teve a sua prova de amor verdadeiro?

Sei que alguns ainda não acreditam nele. Mas ele existe. Pode não ser por mim que descobrirá isso, mas pela pessoa certa. Todo mundo vai encontra-la um dia. Todos têm direito de amar.

Astrid e Soluço tiveram a oportunidade dobrada. Mas apenas para demonstrar que o amor é a coisa mais complicada do mundo. E a mais linda de se encontrar.

*

*

Não se esqueça. Saiba amar.


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Notas finais do capítulo

*Expressões em norueguês:
*Hey, pequena viking.
*Esqueça.
*Lembre.
Então gostaram? Quiseram me matar ao longo da fanfic? Eu também amo vocês...
Então vamos as novidades!
Eu infelizmente estou parada com a terceira temporada da fanfic, mas porque estou participando de um projeto muito legal com a April Brooke (linda e diva), para a elaboração de uma comics de Miraculous Dragons. Pra quem conhece, prazer estou no projeto, pra quem não conhece a fanfic, vai lá ler por favor!
Link: https://fanfiction.com.br/historia/688220/Miraculous_Dragons
Então vou pedir para vocês curtirem a página do Estúdio no Facebook (em português) e Tumblr (em inglês), onde postaremos curiosidades e vários materiais legais do projeto!
Link (Tumblr): http://bubbitlife.tumblr.com/
Link (Facebook): https://www.facebook.com/Bubbit-Life-274560976222321/?fref=ts
Eu vou continuar fazendo minhas ones, tem mais uma de hiccstrid em andamento e vou voltar a escrever as de Percabeth. Vou tentar dar continuidade a Soluço o líder de Berk: O fim e também ao meu livro... Se você ainda não conferiu a one que apresenta o meu livro, dê uma conferida por favor!
Link:https://fanfiction.com.br/historia/692919/As_Cronicas_do_Tempo/
E por fim, curtam a minha página no Facebook!
Link:https://www.facebook.com/temperananyah
Eu nunca poderia agradecer por todo o apoio que vocês já me deram na minha vida. Vocês são a minha razão para continuar. Muito obrigada por cada gesto de carinho, porque podem ter certeza, eu amo muito vocês. Agradeço aos Docinhos Azuis que comentarem, favoritarem e recomendarem essa one aqui. Vocês são demais!
Mil beijos e até a próxima meus queridos! Temp ♥