Cassandra se vestia, comportava e agia como uma verdadeira princesa. 

— Ah, ela está realmente  bonita! - comentou Eleven, baixinho. - Ouvi dizer que esse vestido  foi comprado na França. O que acha, Daphne?

Eleven é uma garota adorável, porém adora se meter na vida alheia e comentar o que as pessoas dizem. 

— Está sim. - admitiu Daphne. Pude sentir uma pontada de inveja em sua voz.

Depois do café, fomos direcionadas para o jardim. A rainha Valerie estava a nossa espera, tão radiante e sofisticada quanto Cassandra.

— Olá, garotas. - ela nos cumprimentou.

Cassandra fez uma profunda reverencia, tão exagerada que me deixou levemente incomodada. - Majestade, a senhora está radiante!

Valerie abriu um sorrisinho forçado, algo  dizia em minha cabeça que ela é uma péssima atriz. 

Depois de Cassandra todas as garotas se dirigiram para a rainha com reverencias, até mesmo eu.

— O jardim é realmente agradável! - comentou Cassandra com um ar de empolgação. - A senhora tem muita sorte de ser casada com o rei e usufruir certos luxos.

Valerie  pareceu um pouco incomodada com o comentário de Cassandra.

— E ter um herdeiro lindo como o Nataniel, então... - tornou a loira, percebendo que teve o comentário anterior  ignorado.

— Príncipe Nataniel, você quis dizer. - corrigiu Valerie com ignorância. Vi a careta de Cassandra congelada no ar.

Sentamos em uma mesa e tomamos chá com biscoitos deliciosos, foi um momento bem silencioso, as garotas ficavam olhando uma para as outras, confusas.

— Então, no que seu pai trabalha, Eleven? - perguntou a rainha.

Eleven pareceu surpresa ao ouvir o seu nome ser mencionado. Fiquei ainda mais surpresa porque a rainha Valerie o tinha decorado.

— Ele é agricultor. Trabalha no campo. - respondeu ela, timidamente.

Os lábios de Cassandra tremeram, notei que tentava não rir.

— Nós vivemos no estado mais pobre, mas temos uma vida bem feliz. Tenho cinco irmãos e entre eles sou a mais nova. - continuou Eleven, sem dar ouvidos a Cassandra. - todos trabalhamos no campo. Ganhamos algum dinheiro e isso é muito bom para nos sustentarmos.

Cassandra se remexeu inquieta na cadeira, fiquei tão incomodada com a sua atitude. 

— O que tem de engraçado nisso, Cassandra? - perguntei, bem alto.

A loira pareceu surpresa, mas logo depois respondeu; - todos sabemos que uma filha de agricultor pobre que vive em um estado miserável não tem porte o suficiente para se casar com um príncipe. 

Eleven ficou com os olhos cheios de lágrimas.

— Meu pai, - comecei. - é escritor e a minha falecida mãe era empregada e trabalhava nesse mesmo castelo. Me diga Cassandra, por que uma modelo renomada como você tem mais chance de se casar com o príncipe do que uma garota como eu? Uma garota filha de ex-empregada?

Todas as garotas olhavam para nós, inclusive a rainha Valerie.

Cassandra pareceu fora do ar, incapaz de me responder, mas ainda assim  disse; - Porque eu tenho mais classe e atrativos suficientes para seduzir alguém que nasceu em um castelo. Mais talento, beleza e refinamento do que a filha de uma empregada.

Vi Valerie torcer o nariz e dizer; - Não sei se vocês sabem mas bem antes de me casar com o rei de Camélia, era filha de um grã duque da Áustria. Mas na minha casa, eu tinha que fazer a cama, varrer o chão, acompanhar a colheita de uva e não foi por causa disso que deixei de ser o que sou hoje. Meu filho busca uma parceira para ama-la e não uma mulher para manter status e se exaltar. 

Todas ficaram em silêncio, abri um sorriso satisfeito.

— Você dizia que a sua mãe trabalhava aqui, qual é o nome dela? - Valerie me fitou.

— Seu nome era...

— Rainha, rainha - ouvi uma das empregadas se aproximar com urgência. - o rei está sofrendo um infarto. Precisa me acompanhar.

Valerie se levantou com um baque.