Proibida Pra Mim escrita por GabriellySantana


Capítulo 81
79º - “Doses cavalares”.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/694230/chapter/81

Duas semanas.

Já fazem duas malditas semanas e tudo que temos é uma foto borrada que não nos diz nada. Olho a imagem no espelho a minha frente e me concentro no pingente negro sobre meu peito nu. Não sei quantas vezes levei a mão até ele desde que toda essa merda aconteceu e sempre que isso acontece, posso jurar que ela está precisando de mim.

Isso me enlouquece.

Quando o David encontrou a imagem daquela câmera de trânsito despertou uma esperança que me corroeu gradativamente a cada negativa de novas pistas. Nós buscamos em todas as outras câmeras do bairro, da cidade, de todas as cidades circunvizinhas àquela da foto, mas nada. Todos os carros iguais não continham a mesma placa e nem as marcas dos pneus. E isso só nos fez chegar à conclusão de que eles deixaram aquela foto para nos dar uma pista falsa.

 Abandono o reflexo do espelho.

Se isso já não fosse o suficiente, venho enfrentando as cobranças do Alex. Ele está sedento pela cabeça do Barão e cada vez que me recuso a compartilhar com ele as “pistas” que tenho, sou ainda mais pressionado. Sem contar os agentes da equipe que ele me designou. Eles estão ansiosos e posso sentir a descrença deles quando me olham.

Não sei o que fazer.

Confesso que ansiei por um sinal da Alice. Durante todos esses dias esperei que ela, mais uma vez, me mostrasse qual caminho tomar para encontrá-la. E me angustio ainda mais quando ouço meu subconsciente jogar na minha cara o quão completamente improvável essa possibilidade é, já que a equipe do Barão é estratosfericamente superior a aqueles idiotas que a levaram da última vez.

Caminho até a porta me preparando para enfrentar mais um round com Alex, mas paro assim que o telefone em cima do criado mudo vibra forte. Paro abruptamente. O brilho intenso da tela ganha vida e o telefone desliza minimamente sobre a superfície do móvel.

Observo o número atentamente.

Não o conheço.

Já que apesar de não o ter visto tocar nos últimos dias, conheço muito bem os telefones com quem mantive contato nele. E essa chamada com certeza não é do David e nem da Citros. 

 Me aproximo.

Durante algum tempo decido se devo ou não atender a chamada, por que com certeza deve ser um engano. E mesmo tendo uma centelha de esperança de que seja a Alice, aceito de uma vez o fato de que isso é cem por cento impossível.

Alguém deve ter discado o número errado.

Vejo a tela apagar e quando quase me convenço de que a pessoa do outro lado da linha percebeu seu erro, o barulho insistente do telefone vibrando sobre o móvel recomeça. Isso desperta meus instintos e quando do por mim já estou com telefone na orelha.

Mas não digo nada.

O silêncio do outro lado da linha se prolonga durante alguns poucos segundos e eu me sinto um idiota.

Engano.

Mas quando decido desligar, ouço uma respiração ruidosa.

— Isso é loucura. __ a voz rouca e masculina é baixa, mas desconhecida.

 Silêncio.

— Vocês precisam parar. __ o tom é ainda mais baixo e incerto. — Ele vai mata-las. Se vocês não pararem de procurar, ele vai mata-las.

Isso me atinge como um soco. Sinto cada músculo do meu corpo se tencionar e o chão some dos meus pés.

— Onde elas estão? __ ouço minha voz verbalizar a única pergunta que tenho me feito durante todo esse tempo.

Ele não responde.

Seu silêncio me faz sentir ainda mais impotente do que antes e me desperta uma sensação ainda pior do que a que aquela maldita foto borrada tem me causado.

Ele continua em silêncio e isso só desperta ainda mais a minha ira.

— Olha aqui seu filho da puta __ deixo toda raiva que estou sentindo explodir e nesse momento perco o controle. — Não me importa quem o Barão é. Não me importa quem você é. Eu vou acha-las e se você não me disser agora....

— Você não está entendendo.... __ seu tom de voz se torna vacilante e agora posso ouvir um barulho de água corrente ao fundo. — Ele é perigoso e se você não parar...

— Onde elas estão? __ o interrompo. — Ou eu juro por Deus que vou....

Ouço a ligação ser cortada e quando olho a tela vejo que ele desligou. Aperto forte o aparelho na mão e mal percebo o movimento abrupto do meu braço até o ver o celular alcançar a parede e se despedaçar.

Ando em círculo enquanto sinto o garoto dentro de mim vir à tona. Ele está gritando, implorando, exigindo que eu faça alguma coisa. Qualquer coisa. Mas que a traga de volta. Paro em frente a parede ao lado da cama, apoio minhas mãos nela e fecho os olhos com força. Me obrigo a respirar fundo enquanto controlo o furacão de ódio dentro de mim. Me concentro na imagem dela, sorrindo para mim e isso é tudo o que preciso. Lembro de uma cartada que o David lançou e peço mentalmente a Deus que eu esteja certo.

Levo a mão ao bolso e tiro o aparelho novo que comprei. Redisco para última chamada que fiz e ouço o toque do outro lado da linha ser interrompido pela voz do Felipe.

— Eu ouvi. __ ele diz e isso é tudo o que eu precisava ouvir.

— Você rastreou? __ sinto meu coração saltar ainda mais forte no peito e o cansaço dos últimos dias é afastado de imediato.

— A ligação partiu do meio do nada, cara. __ sorrio e levo a mão ao pingente. — Mas sim, eu rastreei.

ALICE

 

Não consigo pensar.

Meus pensamentos estão tão confusos.

Minhas pálpebras estão pesadas e quase não tenho força para abrir os olhos. As imagens ao meu redor são apenas borrões de cores que eu nunca vi e eu não consigo sequer mover minhas pernas. Com muito esforço consigo mover a cabeça para outro lado e posso sentir meus olhos encherem de lágrimas quando vejo a imagem borrada da Paloma deitada ao meu lado, inconsciente. A imagem dela trás de volta as lembranças dos últimos dias e quando as lágrimas escorrem pelo meu rosto, ouço a porta ser aberta.

Tento, sem sucesso, encolher o meu corpo quando vejo o segurança do Barão entrar acompanhado de um velho. Ele tem uma maleta pequena na mão e seu olhar de pena me faz ter ainda mais medo. Ele se aproxima lentamente, senta na cama e seus dedos prendem o meu pulso durante um pequeno tempo.

— Eu insisto. __ ele diz para o capanga. — Preciso falar com o Barão antes de aplicar mais um ml sequer de sedativo nela.

— Eu já disse. __ o tom dele é autoritário. —  A ordem dele é para que você as mantenha no mundo dos sonhos.

— Você não entende. __ ele levanta meu braço na direção do segurança. — O pulso dela está fraco. Já são quase duas semanas de sedação contínua em doses cavalares. Em um indivíduo grande como você já seria demais, mas em um corpo pequeno como o dela.... o coração dela não vai aguentar se continuarmos a aplicar....

— Já chega Doutor! __ Ele grita e o velho se encolhe. — Faça essa merda de uma vez.

O homem sentado ao meu lado coloca meu braço na cama com cuidado. De forma cuidadosa ele prende firme um garrote acima do meu cotovelo. Sinto levemente seus dedos palparem um local dolorido em meu braço e seus olhos encontram brevemente os meus. Ele desvia o olhar e retira algo de sua maleta.

Tenho medo.

Seus olhos estão penosos e antes que eu tente dizer qualquer coisa, sinto a agulha penetrar fundo a minha pele. Uma sensação de dormência se espalha a partir do ponto em que agulha penetrou em meu braço e lentamente a dormência toma conta de todo meu corpo. Gradativamente perco até a força necessária para manter os olhos aberto e no escuro da minha mente quase posso ouvir a voz do Gustavo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Proibida Pra Mim" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.