Geranium escrita por Oyundine


Capítulo 2
Geranium II: The prettily Fiction of me.


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo! Obrigada por lerem, e pelos reviews! Espero que gostem. Ah, aqui uma dica: Se quiserem um fundo musical procurem pela sonata Moonlight, de Beethoven.

Obrigada novamente!



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Um cozinheiro deve cozinhar, um escritor deve escrever, um desenhista deve desenhar, um matemático deve contar, um jogador deve jogar, um corredor deve correr, um professor deve ensinar, um ladrão deve roubar, um médico deve curar, um bombeiro deve salvar, um músico deve tocar e um mafioso deve matar. Percebe a diferença? As coisas são assim e assim que as coisas devem permanecer. Não somos seres com autoridade ou autonomia suficiente pra mudar isso assim por si só.

Geranium – The prettily Fiction of me.

“Às vezes eu me pego me perguntando: se eu tivesse tido escolha, o que eu seria? Músico? Possivelmente. Eu tinha potencial pra ser o que eu quisesse. Mas as circunstancias nem sempre ajudam. Um garoto que poderia ser desde um famoso pianista a um renomado matemático foi levado a isso. Não que eu ache ruim, era minha única opção no final das contas e eu continuo achando que tenho a honra de poder trabalhar ao lado do décimo. O fato é que eu nunca tive escolha. Sujei minhas mãos com sangue mesmo antes de entender o que aquilo tudo significava. Senti o peso de uma alma humana nas minhas costas quando ainda era criança. Não posso mentir e falar que foi fácil.

  Se houvesse alguém lá por mim, pra me alertar, me avisar, eu seria eternamente grato a essa pessoa. Mas no meio em que eu vivia não havia como fugir. Todos os meus conhecidos já estavam presos até o pescoço nisso. Eu não era diferente. Eu não tinha escolha, o décimo foi uma luz que me tirou do perigo de acabar desmaiado, bêbado, ou quem sabe até morto em algum beco na Itália. Não é a toa que eu me revolte quando alguém que teve escolha tenha jogado fora essa chance de escapar.

Alguém com futuro certo, com habilidades sonhos que jogou tudo isso no lixo pra poder ficar cheio de hematomas e cicatrizes. Aquele idiota não sabia o quão angustiante era para mim ver ele se degradando cada vez mais. Só quando ele desistiu do baseball de vez notei que não havia mais volta. Se eu tivesse dado menos atenção ao décimo e mais em expulsar Yamamoto da Vongola, talvez assim tivesse conseguido deixá-lo fora disso. Mas o que estava feito já estava feito. Mesmo assim prometi a mim mesmo que não deixaria um idiota se estragar até aquele ponto. Não aquele idiota, quer dizer de tantos por ai, precisavam pegar justo ele?

Na mesma época decidi que finalmente encararia minha vida, sem fugir, sem rodeios. Um assassino não deve tocar. Há alguns anos deixei completamente o piano. Poucos notaram isso, eu não era de tocar em publico. Não me atreveria a manchar aquelas teclas brancas e puras com minhas mãos rubras de sangue. O peso de deixar algo que você ama pra trás é muito duro. Senti toda essa abstinência roer minhas veias. Isso por que piano nunca foi minha vida. Baseball era sua vida, não era? Como você foi forte suficiente pra isso? Como você ainda consegue sorrir? Como alguém consegue deixar algo tão importante assim pra enfiar suas mãos na maior sujeira do mundo? Você disse que ia sentir falta de me ouvir tocar, e reclamou. Acha que não sinto falta do sorriso sincero que você dava quando ganhava uma partida? Das suas roupas cheias de lama e os sempais pegando no seu pé? Pois eu sinto, sinto mais falta ainda de te ver satisfeito todos os dias.

Não somos mais os mesmos. Ninguém é. Mesmo assim, eu continuo agüentando suas idiotices, e você continua lidando com meu mau humor. É assim que funcionamos não é? Mas como eu vou agüentar uma estupidez dessas? Como você pode me dizer que já matou alguém? Como você não me contou? Como fez isso com sigo mesmo? Como você espera que eu me segure? Você merecia uma bela surra agora... Eu merecia uma bela surra agora. Se eu realmente olhasse menos pra mim... Já saberia disso.

-... Hayato?

Não chame meu nome. Cale a boca. Também não vá embora, apenas fique sentado ai, em silencio. Preciso pensar. É claro que preciso pensar. Não... Preciso... Parar de chorar. Odeio o que você faz comigo. Não entende que destruindo sua vida acaba destruindo a minha também? Não é nada justo.

-... Eu sei que devia ter te contado.

Devia.

- Desculpe.

Nem em sonhos.

- Hayato, por favor... Olhe pra mim...

Não deu pra notar que estou tentando parar de chorar e não começar a soluçar de novo? Idiota.

- Não precisa chorar... Eu... Não me arrependo...!

...O que?

- Ah, achei que nunca mais fosse olhar pra mim. Que alivio... Hayato, eu já matei há bastante tempo. O bebê já sabia disso, aposto que ele só me mandou nessa missão pra eu finalmente ser obrigado a contar isso. Desculpe.

... Já disse que não.

- Eu já te disse por que fiz essa escolha não?

Como se aquele motivo fosse relevante. Seus argumentos são horríveis. Você sabe que nunca vou aceitar ele.

- Eu não conseguiria lidar com isso, saber que você corre risco de vida... E não estar perto pra te proteger. Quer dizer eu sei que você é tão forte quanto qualquer um aqui... Mas eu morreria de preocupação. Precisamos fazer escolhas na vida, entre baseball, saúde, felicidade. Eu escolhi você.

Eu me pergunto se eu tivesse tido escolha. Ficaria me remoendo e me perguntando se tivera feito a escolha certa? Quer dizer, como uma simples escolha que pode ser influenciada pelos sentimentos, consegue alterar todas nossas vidas? Não entendo como as pessoas podem seguir tão seguras de si, mesmo sabendo que suas vidas poderiam ser completamente diferentes por uma ou duas escolhas. Eu sei que não conseguiria viver com esse pensamento na cabeça. Talvez, as pessoas sejam só muito idiotas pra conseguir não pensar nisso.

Nesse caso você seria a mais idiotas delas. Não entendo como você consegue sorrir e continuar andando? Sabendo que fez a escolha errada, eu definitivamente não era sequer uma opção, mesmo assim você conseguiu falar isso até o fim. Insistir nessa estupidez, com esse sorriso ainda mais estúpido no rosto. Você não consegue imaginar a raiva que eu sinto por você nesse exato momento. Acho que nunca te odiei tanto. Por que no fundo, a culpa é sua. Se você não fosse desse jeito eu nunca teria me apaixonado, meu peito não doeria tanto, eu não ficaria tão dependente de alguém. E o mais irritante, é que esse alguém tem que ser você.

Percebe? Você podia ao mínimo se cuidar melhor. Essa cicatriz no seu queixo. Sabe como machuca ver ela todos os dias em seu rosto? Por mais que você ria e diga que é um detalhe sexy, eu não consigo olhar pra ela sem sentir remorso. Sei que você não sabe, mas o cara que fez isso com você já esta morto. Eu consigo matar, eu devo. Você nunca deveria ter enfiado suas mãos gentis nisso. Eu achava que essa era a chance pra te tirar daqui de vez, vi que falhei.

-- Desculpe...

- Não se desculpe Hayato, se você não estivesse aqui, mesmo que eu jogasse baseball, minha vida não teria graça. Heh, você é divertido Hayato, é especial.

Meu coração vai explodir, devíamos estar brigando agora, não nos amando. Idiota, eu devia te matar. Nunca deixei alguém me dominar tanto, nunca deixei ninguém ver meu rosto... Desse jeito. Isso te faz único? Talvez você seja só azarado. De fato, você é um grande azarado. Se azar for contagioso e juro que te mato.  Na verdade, devia ter acabado com você logo no início, não devia ter deixado que você se enfiasse nisso. Não desse jeito irresponsável. Mas contrariar você se tornou algo impossível, não consigo mais te odiar. Isso é revoltante sabia? Você é revoltante. Não me olhe com esses olhos, não, esses não...  Você não tem idéia de como esse olhar... Sabe o que é pior? Eu ando precisado desesperadamente de uma dose de você. Não é como se fosse um cigarro ou algo do tipo... Seria... Saudades?

- Hoje não Hayato, vou acabar te machucando de novo.

Não diga... Isso. Não com esse sorriso estúpido no rosto. Se ficar afagando meu cabelo desse jeito, sendo gentil dessa maneira... Como ainda pede pra que eu me controle?

- Eu não ligo.

- Mas eu sim.

...É um grande idiota, como consegue ficar culpado a algo que eu me submeto a passar? Você não presta sabia?

- Vai pro inferno.

- Entendi, Entendi... Bom, acho que por hoje foi isso. Desculpe dar tanto trabalho Hayato.

“Não jogue toda a culpa e si mesmo, não precisamos fazer nada... Apenas fique aqui”. Eu gostaria de dizer algo assim, mas tenho esse muro feito em orgulho que me cerca. Mesmo depois de tanto tempo... Não me permitiria falar algo tão vergonhoso. Tudo que consigo fazer é me lamentar internamente por seus braços me soltarem, seus lábios se afastarem e seu calor sumir.

- Eu preciso me preparar, prometo que depois de amanhã vou estar aqui. Então vamos poder nos divertir juntos, ok?

Que malicia foi essa na ultima frase? Idiota. Às vezes eu sinto que você consegue me ler como se eu fosse um gibi simples, que qualquer criança compreende. Já eu não consigo sequer imaginar o que se passa atrás desse seu sorriso melancólico, é como um enigma que faltam pistas pra poder solucionar. Seu hipócrita, você vive com essa cara de idiota, vive falando coisas lindas. Você não pensa só nisso não é? Você sofre também, mais do que qualquer um. Eu gostaria de poder ser a alavanca pra se salvar.

- Até mais Hayato.

Ver essa porta se fechar doeu mais do que eu imaginava que doeria. Você é um retardado mesmo. Se quiser fingir que está realmente bem, haja normalmente. Onde você enfiou o meu beijo de despedida? Não vou conseguir dormir. Normalmente ando dormindo tão mal que não entendo como me agüento em pé pela manhã. Ontem mesmo fui dormir apenas uma hora antes do horário que deveria acordar e levantei antes mesmo do despertador tocar. Entende? Se você não esta aqui junto com seu sorriso quando me deito, mesmo que seja falso. Não consigo pregar um olho.

Isso é ridículo. Eu me tornei uma pessoa completamente dependente de você, e eu odeio esse sentimento de estar preso a algo. Fico irritado, e decido que vou acabar com essa dependência de uma vez por todas. Mas esses pensamentos somem assim que eu me encontro com você novamente. Eu aprendi a gostar dessa necessidade. Eu amo precisar de você. Essas palavras não combinam comigo, talvez por isso nunca as diga em voz alta. Mesmo assim, você sabe não é? Você sabe tudo sobre mim, ao ponto que eu notei que... Não sei praticamente nada sobre você.

O que aconteceu com sua mãe? Por que começou a jogar baseball? Qual sua cor favorita? Que tipo de filmes você prefere? Por que matou alguém? Como ficou tão próximo da máfia sem eu saber? 

São perguntas estúpidas, custo em admitir, porém eu ficaria feliz em saber as respostas. Você ficaria feliz em respondê-las?  Conhecendo você, riria alto, desviaria as perguntas sérias respondendo apenas as inúteis. Mesmo assim, você ficaria feliz? Quero ser capaz de ver seu sorriso bobo no rosto outra vez, não esse sorriso amargo que você marca a ferro nos seus lábios, e uma tentativa desesperara de fingir que está tudo bem. Não esta tudo bem, há muito tempo... Nada anda bem.

“Se não fosse pelo Juudaime, eu já teria te explodido vivo, eu te assustaria de uma maneira que você nunca mais teria a coragem de olhar nos meus olhos. Talvez assim quem sabe, você conseguisse sair daqui. E dar sorrisos bobos por ai. Nem que fossem para outra pessoa”... Talvez esteja sendo tão hipócrita quanto você. Gostaria de poder pensar desse jeito, mas infelizmente essas coisas de “me sacrificarei pelo seu bem” não são comigo. Pode me chamar de egoísta, mas inutilmente prefiro você infeliz ao meu lado a feliz e longe. Por isso não me de ouvidos, ignore-me quando eu fraquejar.

Por mais que eu tenha te culpado durante todo esse tempo, talvez, toda a culpa seja minha. Não por não te expulsar da Vongola. E sim por me sentir tão dependente de você. E você sabe disso não? Você sente que se for embora, eu vou me perder. E é verdade. Há muito tempo você sustenta meu bem estar. O Juudaime é importante, mais que importante, ele é vital, mas não suficiente. Você, passa do termo suficiente. Yamamoto... Você sabe que se tornou algo necessário. Eu vivo fugindo de escolhas, odeio mudanças. Gostaria que os dias tranqüilos de anos atrás voltassem, entre todos aqui, o único que permaneceu calmo foi você. Como o esperado do guardião da chuva, mesmo tendo assassinado alguém... Eu nunca percebi mudança de espírito nenhuma. Nesse seu jeito masoquista e fechado de lidar com as coisas você se revelou realmente incrível. ”

O guardião da tempestade arrancou o terno, e gravata que tanto lhe apertava o pescoço. Havia se habituado a usar aqueles trajes. Era o que o protocolo dizia, afinal. Mesmo assim, uma sensação de claustrofobia lhe apertava a garganta. Só após retirar a gravata notou que não era culpa de sua roupa. Engoliu a seco, não pregaria um olho aquela noite. Sentiu um impulso de abrir a porta do quarto e ir atrás do guardião da chuva, mas se ele queria um tempo sozinho devia dar esse direito a ele, por mais que tivesse mil perguntas a fazer. Olhou a caixa de cigarros caída no chão com desdém, não tinha a menor vontade de fumar. Queria... Tocar piano. Cerrou os punhos, aquela abstinência o corroia por dentro. Atirou-se na cama e tentou adormecer em vão, melodias ficavam martelando em sua cabeça, e passeando pela sua mente. Melodias calmas, que traziam de volta a sua memória o japonês que ele tanto necessitava.

Rangia os dentes, nervoso. Estava sendo torturado por si mesmo.

Aquilo era chegar ao cumulo do masoquismo, manter Yamamoto e o piano em sua mente. Porem preferia se machucar daquela maneira a esquecer-se de ambos, sabia que se sentiria extremante sozinho.  E pela primeira vez em muito tempo Gokudera se lembrou do cabeça-de-grama. O guardião do sol gostava de emoções extremas, ele não. Preferia as coisas simples, por mais que ele soubesse que era ótimo para complicá-las. Vivia criando tempestades em copo d’água. Era assustador pensar como os anéis estavam bem distribuídos. Notou só então, como havia sido esnobe com os outros guardiões, por mais que fosse o braço direito do chefe, e se achasse superior. Não era. Prometeu a si mesmo que voltaria a tratá-los como sempre, talvez assim as coisas se ajeitassem sozinhas. E talvez assim, ele poderia ver um sorriso no rosto do chefe e não sobrancelhas arqueadas. 

  Outra melodia voltou a passear por sua mente, aquela ele lembrava-se exatamente de cada tecla que era tocada. Sabia que nunca mais teria o piano de volta. O piano em sua vida estava morto, e sentia uma depressão ao pensar daquela maneira, mas era verdade... Uma das coisas mais importantes e amadas pra si estava morta. O estomago do guardião da tempestade embrulhou. Um calafrio subiu rapidamente por sua espinha. O medo lhe domou a mente, arrependeu-se de repente, por comparar Takeshi e o piano tantas vezes.

 

Geranium – The prettily Fiction of me. End.

 

Como agir quando todas as pistas estão aparecendo, todas as peças se encaixando e todos os fios se ligando, e você permanece de costas para tudo isso, para apenas voltar-se para o problema quando o vencedor já foi escolhido? 

 

Continua...


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Notas finais do capítulo

Espero poder postar o terceiro capítulo em breve... Desculpem a demora, ando meio ocupada com escola e Etc. Obrigada por lerem!



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