Após ser devidamente paga, Rose pensou em dar uma volta, esperar até que o telefone estivesse desocupado.

—Scorpius, pode me dizer onde fica o Mercado?

— Próximo ao campus da faculdade de Arte. Há um anel viário por lá, pegue ele na direção oposta do Museu de Arte. Se não encontrar, pergunte a alguém. Saiba que haverá uma grande quantidade de tráfego agora.

—Deixa comigo, obrigada. – com um sorrisinho, afastou-se do rapaz, cada um indo em uma direção oposta.

Não podia dar nem dez passos que já arranjava uma confusão. Rose andava tranquilamente quando um homem um pouco mais velho que ela se aproximou, vindo em sua direção. Ele seria apenas mais um transeunte se não tivesse a olhado dos pés a cabeça e se aproximando para se esbarrar “acidentalmente” nela, seguida de um olhar profundo em seu bumbum.

Esquentada como era, a garota simplesmente surtou. E surtada como estava, deu-lhe um tapa em sua cara.

—VOCÊ ENLOUQUECEU GAROTA?

—OLHE BEM ONDE VOCÊ COLOCA SUAS MÃOS!

—EU NÃO ESBARREI EM VOCÊ DE PROPÓSITO. VOCÊ QUE NÃO OLHA POR ONDE ANDA.

Uma multidão se formou em torno da dupla, loucos por uma briga física.

—TA QUERENDO LEVAR OUTRO TAPA, É?

Apenas ameaçou, já que Scorpius a agarrou por trás, impedindo que cometesse uma loucura. Quando ouviu seus gritos veio correndo em sua direção, não acreditando que já havia arranjado confusão.

Quando viu que o homem levantava a mão para Rose, imediatamente largou seus braços e empurrou ele, tentando conter a briga.

—Senhor, controle-se, CONTROLE-SE!

—ELE TENTOU ME TOCAR, SCORPIUS!

—SHHHIU, FICA QUIETS RUIVA. Não piore a situação. – o coitado já estava desesperado.

—O que você está fazendo, Malfoy? – e ela indignada.

—Controle essa louca! Você me conhece, sabe que não considero se é garota ou não. – o homem já ameaça bater novamente.

—O QUÊ? VÁ PROVOCAR A SUA MÃE!

—Ruiva, por favor, fique quieta! – Scorpius colocou-se protetoramente a sua frente, de modo que a mesma não pudesse avançar para cima do homem.

—O QUÊ?

—Esqueça isso cara, pode ir que eu a controlo.

—ME TOQUE DE NOVO QUE EU...

—Me desculpe senhor, eu peço desculpas, agora vá!- Scorpius desculpava-se pela garota, tentando acabar o clima. –PODEM IR TODOS VOCÊS, O SHOW JÁ ACABOU!

Rose respirava devagar, tentando se acalmar.

—Você está louca?! Aqui é a Califórnia. –Sussurrou agressivamente para a Weasley.

—E daí? Por acaso as meninas são propriedades públicas aqui? – ainda estava alterada.

—É só não arrumar essa confusão toda. E não, isso não acontece aqui.

—Escute só... Mulheres da sua família são molestadas por ficarem de boca fechada, ficam difamadas. Todos os dias saem notícias como essas no jornal e vocês não dizem nada para o molestador, sequer para alguém como ele! São considerados heróis na sua opinião, mas na nossa? Não vou deixar isto acontecer comigo, ouviu bem Scorpius?

Ele apenas ouvia calado, merecendo aquele discurso.

—Agora, desapareça da minha frente.

—Ruiva...

—EU DISSE DESAPAREÇA!

Ofegante, sai e deixou o rapaz plantado no mesmo lugar, que ainda olhava sério para ela, entretido com suas palavras. Ele ainda a observava andar totalmente perdido em pensamentos. Tinha levado uma bela bronca e agora refletia sobre isso.

***

1:30 PM

MERCADO

Rose refletia sobre o que havia acabado de acontecer enquanto passeava pelo mercadinho a céu aberto. Havia tomado um ônibus para chegar até ali. Olhava as bolsas e saias expostas completamente encantada com tamanha beleza. Caminhava sorridente por sentir-se mais relaxada e não percebeu um certo loiro a seguindo. Ao menos tentando encontra-la. Scorpius sentiu o quanto estava errado e queria protege-la de possíveis assediadores.

Porém era burro, já que a garota estava parada em sua frente vendo um bolsa, e o mesmo não a viu. Distanciou-se e deu a volta em pelo menos três barraquinhas até encontra-la. Quer dizer, ela encontrar ele, já que o loiro estava completamente perdido.

Quando percebeu que ele havia desistido e estava cabisbaixo em um canto, passou em sua frente chamando sua atenção. Quando ele finalmente percebeu sua presença, a ruiva já havia saído de perto, fingindo não escutar quando ele a chamou.

***

—O que faz aqui? – não dava muita confiança para o rapaz.

—Estava de procurando.

—Jura? O que é isso na sua mão?

Scorpius carregava um bastão um sua mão, o rodando pra lá e pra cá.

—Pra bater em alguém.

—Bater em alguém? Em quem você vai bater? – perguntou com um ar risonho.

—Em todos aqueles que molestarem meninas.

Surpresa, Rose continuou andando, dessa vez com um sorriso no rosto. O garoto continuava em seu encalço.

—E porque decidiu isso tão de repente?

—Por sua causa.

—Sério?

—Não podemos ignorar esses casos como temos feito, estão se tornando mais ousados.

—Isso não se chama coragem, é falta de educação. –parou a sua frente.

—Tanto faz. Hoje eu percebi que um tapa é o suficiente para fazê-los parar. Eu juro por Deus que se alguém tentar te atacar vou arrancar a vida dele. – dito isso Scorpius começou a girar o bastão freneticamente, olhando para os lados a procura de uma vítima.

—Posso saber o porque?- Rose estava totalmente séria e desconfiada.

—Quero dizer, só se brincarem...

—Tanto faz...

Enquanto se virava para ir embora, uma mão segurou seu ombro, a virando de frente.

—Espere, aceite minhas desculpas.

—Está se desculpando por quê? Está tudo bem.

—Estou me desculpando em nome da Califórnia.

Sorrindo bobamente, apenas implicou com ele.

—O emocional filho da Califórnia espera resolver a cidade em um dia?

Não houve resposta, apenas olharam um para o outro e riram bobamente.

***

—Amiga, você é um furacão.

Haviam tomado um taxi depois da conversa. Estavam um ao lado do outro, com o braço do garoto perto demais das suas costas.

—Por que?

 -Do jeito que você deu aquele tapa nele.... Tenho certza que nunca vai esquecer. Aposto que você já estapeou seu namorado.

Em choque, perguntou com a voz baixa:

—Como você sabe que eu tenho um namorado?

—É fácil perceber isso. Você é do Arizona, lá as pessoas se unem mais facilmente.

—Como?

—Há mais liberdade.

—Quê?

—Quero dizer, as pessoas vão para a faculdade depois da escola, saem para discotecas com garotos e se vestem sem qualquer tabu.

—Ah, sério? –seu tom era irônico.

—Sim. Lá é bem mais moderno. As coisas feitas antes do tempo. Muita liberdade.

—Muita liberdade é?

—É.

—Sua pesquisa é muito bem detalhada.

—Obrigado!

—Por isso que acho que você não tem uma namorada.

—Por quê?

—Scorpius, olhe só para você!

—O quê? Motorista, por favor pare aqui.

Enquanto pagava a corrida rose aproveitou para ganhar distância.

—EI! VOLTE AQUI! Por que é evidente? Estou falando com você!

—É evidente que não conseguiu qualquer liberdade na faculdade, não vai a discotecas com meninas e não tem liberdade de usar o que quer. É como se você não tivesse a liberdade que temos no Arizona. – ela estava caçoando dele. – É evidente que o povo da Califórnia fica frustrado, e pessoas frustradas não se unem, certo?

Scorpius apenas ficou parado a olhando, tentando entende-la.

—Para sua informação, eu não consigo nem contar quantas namoradas eu tenho.

E com essa atitude infantil Rose saiu gargalhando de sua cara.

—É mesmo? Por acaso já se olhou no espelho?

—Acha que estou mentindo?

—Nããão... Nem um pouco. Se diz tão esperto mas não sabe contar nem quantas namoradas tem.

—EXATO!

Após uns segundos de silêncio, Rose finalmente perguntou o que tanto lhe mordia.

—Você é virgem, Scorpius?

Chocado com sua audácia, apenas começou a rir de nervoso, olhando para todos os lados.

—Está louca?

—Por quê?

—Você pergunta cada coisa.

—Vai dizer que está tímido agora?

Ainda em choque, tentava fugir do assunto.

—Você nem mesmo corou!

—E por que eu coraria, Scorpius? Sou uma garota do Arizona, certo? Você mesmo disse que somos ultra modernas, as coisas acontecem antes do tempo, liberdade completa, não é? Agora me diga, você é virgem? –Rose tinha um sorriso vitorioso em seus lábios.

—E se eu te perguntar a mesma coisa?

—Te perguntei primeiro.

Carrancudo e envergonhado, o loiro disse baixinho:

—Sim, teve um encontro. E... eu tentei.

—E então? – a garota o olhava fofamente, totalmente compreensiva.

—Então o quê?

— o que aconteceu?

—Ela ficou com medo e... fugiu.

Rose jura que tentou não rir dele, mas a situação era engraçada. Scorpius apenas continuava carrancudo.

—FICOU COM MEDO E FUGIU? – e voltou a cair a gargalhada.

—Ela não ficou com medo e fugiu. Ela ficou com medo de que pudesse... – e começou a fazer gestos simbolizando uma gravidez.

—E então?

—Então o quê? Se ela não queria, eu não ia força-la! Somos decentes.

—Com certeza você é decente.- e riu ainda mais.

—Ah é? E você fica aí debochando como se tivesse um diploma nessas matérias.

Ignorou seu comentário.

—Escute, e se a menina não tivesse medo de ficar grávida?

Apenas fez uma cara de choque.

—Seja sincero agora.

Ria como se fosse um adolescente.

—Ah, aí então...

—E onde estão os seus valores caseiros agora, hein?

—Como?

—Mulheres tem que se manter virgens, mas os homens não?

—Você parece veterana nesses assuntos... – disse completamente desconcertado.

Rose ainda ignorava as investidas dele.

—Por acaso já beijou uma garota, Scorpius?

Dessa vez o escândalo foi bem maior.

—SE EU JÁ BEIJEI UMA GAROTA? – risadas.- Mas é claro que já! Vamos apenas esquecer isso, sim?

***

Rose havia salvo Scorpius de outra multa, por ter parado em local proibido desta vez. Cada vez mais o jovem olhava bobamente para a menina, surpreso com suas atitudes.

—Quer ir a lugar comigo, ruiva? – ao perceber que poderia ser mal interpretado, correu atrás. –Não pensei que estou flertando com você!

Ela apenas sorriu para ele, que sorriu de volta ao receber a confirmação do convite.