Logo fui até o banheiro do seu quarto, era ainda maior e mais espaçoso do que havia no quarto de hospedes. Creio que minha casa inteira caberia ali dentro.

— Ajoelhe-se. – Ela ordenou.

Franzi o cenho, e virei meu rosto para ela.

— Como?

— Sim, você acha que vou conseguir lavar seu cabelo com você de pé? – Sara respirou pesadamente. – Vou tentar ser mais educada certo? Por favor, Gilzinho gatinho gostosinho, você poderia ajoelhar-se para que eu pudesse lavar o seu cabelo. – Falou irônica e ambos rimos.

— Depois de me chamar de “gatinho gostosinho” – fiz aspas com os dedos – você poderia me pedir qualquer coisa. – Pisquei.

— Deixe de ser idiota. Vamos, não tenho a noite toda.

— Certo.

Então me ajoelhei de costas para ela, ela pegou a mangueira do chuveiro, e ligou fraca em minha cabeça molhando meus cabelos. Ou melhor, o que restou deles. Logo ela me alcançou a mangueira e passou shampoo no meu cabelo, massageou na volta e eu confesso que aproveitei o carinho, até que ela resolveu limpar o machucado.

— Ai... – Gritei.

— Espere um pouco. – Ela nem ligou para meu gemido de dor e me deixou ali.

Logo ela voltou.

— Sabonete de glicerina. – Falou. – Sempre tenho um.  – E então ela passou em volta dos pontos, limpando.  – Ainda bem que está de cabelos curtos, você ia ficar com o cabelo todo duro depois de passar esse sabonete.

— Tem outra coisa que está dura. – Resmunguei baixo.

— Gil! – Deu-me um tapa nas costas.

— O que foi? – Dissimulei.

— Esquece. – Pegou a mangueira da minha mão, e começou a limpar. Doía muito, mas cansado de ser chamado de mulherzinha, aguentei a dor sem soltar um gemido se quer, embora quisesse gritar. – Está pronto. – Disse finalmente.

— Agora você pode tirar a roupa e tomar um banho comigo? – Me levantei virando-me para ela.

— É uma proposta tentadora, mas termine seu banho. Se esses pontos abrirem ficará a noite toda na cama do hospital e não na cama do meu quarto. – Fitou-me, enquanto pegava algo no armário debaixo da pia. – Agora vista isso. – E me alcançou uma toca, imagino que seja uma toca de banho.

— Para que isso?

— Com certeza doerá menos do que deixar as gotas do chuveiro caírem em cima do machucado. Depois refaço seu curativo e tomo meu banho, certo?

Respirei pesadamente, me conformando em tomar banho sozinho.

— Pelo menos vou poder te assistir tomando banho?