Sophia me parecia muito bem, conseguimos fazê-la comer um pouco de canja e gelatina, também notamos que o intervalo entre as dores estava se espaçando, e comparado a alguns dias atrás que ela ficava no máximo três horas podia acordada, ela já ficava quase o dobro, um quarto de dia acordada. Ela se deu muito bem com Gil, e ele realmente levava muito jeito com crianças.

Logo ouvi um bocejo vindo da boquinha de Sophia. E me emocionei, era a primeira vez que ela sentia sono antes de sentir dor. Tentamos mantê-la mais um pouco acordada já que logo seria sedada novamente.

Já havia falado com a psicóloga que já passava atividades de desenho e pintura mais complexos para ela desenvolver melhor sua coordenação.

— Também seria bom que ela tivesse brinquedos que estimulassem sua coordenação, sons se o hospital permitir, cadernos que tivesse algumas palavras e sílabas, e algumas músicas que estimulassem a fala. – Fora uma das milhares de coisas que a psicóloga havia falado, e completou. – O ideal seria que assim que possível fosse introduzida aos poucos uma fonoaudióloga, e assim que ela tiver autorização médica que ela possa ir a um ambiente comum conviver com outras crianças.

Tudo estava anotado em minha cabeça, e iria aproveitar o fim de tarde no Shopping para comprar a roupa de Gil e claro, alguns brinquedos no estilo que a psicóloga havia dito. Musicas e livrinhos eu já tinha alguns, mas claro que iria comprar mais. Tudo que minha princesa precisava.

Quando consegui, a caro custo, arrastar Gil para dentro de um shopping, eu acredito que ele – mesmo negando – sentiu medo daquilo. Era muita gente, muita loja, muita luz. Ele chegou a ficar zonzo.

— Está tudo bem?

— Sabia que nunca tinha entrado em um desses?

— Nem dá para notar. – Falei irônica.

— Vem, vamos embora daqui. – Ele disse puxando-me pelo braço.

— Não mesmo. – Bati o pé.  – Vem...

Neste momento o segurança do Shopping, um homem “quatro por quatro” provavelmente com tração nas quatro rodas, se aproximou, e eu já com minha baixa estatura me senti uma formiga perto daquele armário.

— Senhorita, - ele disse gentil – este homem está de amolando?

Fitei Gil e entendi tudo. Era obvio que as roupas de Fábio estavam sujas e ele estava com uma roupa mais simples, seu jeans surrado, sua blusa rasgada no alto da manga, seu tênis velho, a barba mal feita, exceto pelo cabelo bem penteado ele estava um legítimo mendigo. De alguma forma eu não havia notado isso até agora, desta mesma forma que isto não importava mais para mim.

— Desculpe, eu não entendi. – Fitei o segurança com olhar maliciosamente malvado.