Sara Sidle

— Tudo bem. – Concordei contra minha vontade, mas tinha de ser sincera, era raro um homem como Gil, que poderia ganhar tudo nas mãos e ainda sim preferir conquistar com seu próprio esforço. – Mas isso não quer dizer que esqueci a promessa que me fez.

— Qual?

— De ir à festa beneficente comigo.

— Sério mesmo? – Ele me olhou atônito.

— Se você não quer ir tudo bem, mas eu realmente gostaria de ter alguém para sofrer junto comigo. – Sorri.

— Sofrer?

— Você não tem noção como essas festas são chatas. Como eu disse você não sobreviveria àquela festa inteira, mas sei quanto consigo.

— Então temos um acordo?

— Acordo? – Agora com certeza era eu que estava atônita.

— Eu vou a festa, e você passa uma noite lá na minha casa, nas condições que vivemos. A noite inteira.

— Você, Arthur, Alicia e eu? Só há uma cama, duvido que caibamos todos lá.

— Vamos Sar, não está com medo, está?

— Vou poder levar ao menos uma mochila com roupas minhas? – O que eu estava dizendo? Aquilo era uma loucura, era obvio que eu não deveria aceitar.

— Isto é um sim.

— Não. – Disse apressadamente.  – Isto é um “vou pensar no assunto”.  – Falei tão rápido que nem respirei.

— Então também vou pensar quanto a festa. – Fitei-o e ele ria, era obvio que percebia que ele agia como uma criança. Seu sorriso era lindo.

— Gil... – O repreendi.

— Está certo, eu vou à festa contigo, mas pense sobre o assunto. É sua chance de me provar que sobreviveria uma noite lá.

Voltamos a comer. As conversas com Gil sempre me eram muito agradáveis, as vezes assuntos aleatórios, brincadeiras, coisas sem sentido que apenas me arrancavam sorrisos. Outras vezes abordávamos assuntos mais sérios, como política, e incrivelmente Gil tinha uma visão extremamente elaborada sobre política, não que concordasse com ele em todos os aspectos, mas tinha de ser sincera que toda vez que o subestimava por suas condições financeiras ou de vida, acabava por ser surpreendida.

Será que todos os mendigos eram assim? Gil era uma exceção a regra?