— Gil, você faz muito mais do que você pode imaginar. Você salvou minha vida, você acha que não tivesse aparecido naquele quarto aquele dia, eu estaria bem? Eu não vou te obrigar a ficar em minha casa, não vou obrigada você a nada em relação a isto, a única coisa que eu vou exigir de você é que nunca se afaste de mim, você me faz melhor que qualquer outra pessoa. – Ela então estendeu a mão por cima da mesa e colocou sobre a minha.

— Nunca vou me afastar de você. – Peguei a mão dela, e apertei sem forças.

— Eu tenho uma proposta para você. – Ela fitou-me com uma carinha única, que somente ela podia fazer. Era um misto de criança travessa com mulher decidida, algo que eu não conseguia entender.

— Fale.

— Você disse que não consegue emprego por que não tem quem fique com Arthur e Alicia durante o dia, e você só poderia pagar uma creche para Arthur depois do segundo mês de trabalho. Certo?

— Certo. – Concordei.

— Então e se por acaso eu me comprometesse a cuidar deles, nesse período de experiência, até que você possa estar firme em uma empresa?

— Sara eu não poderia...

— Você poderia aceitar sim. – Ela me interrompeu. – Não pense que isso é uma esmola, você sabe o quanto gosto de ficar com eles. E será apenas durante o dia, a noite prometo que Alicia e Arthur estarão em sua casa. Não estou tentando roubar seus filhos se é isso que ainda pensa. Eu apenas quero devolver um pouco do que faz por mim.

— Eu não penso mais isto. – Gargalhei ao ver que ela ainda se lembrava da acusação. – Sei que gosta das crianças de verdade, e que eles de alguma forma supriram a falta que Sophia lhe fazia. Mas de qualquer forma não posso aceitar, eu tenho que fazer isso sozinho e...

— Sozinho? Você acha que eu teria conseguido estar como eu estou hoje sozinha? Eu precisei de você, e agora estou retribuindo, não seja cabeça dura. – Ela falou já com um tom mau humorado.

— Tudo bem. – Suspirei. – Mas onde eu conseguiria um emprego? Trabalhando com o que?

— Gil, eu ofereceria um emprego na minha casa, mas sei que é cabeça dura demais para aceitar. Porém você com certeza sabe fazer muita coisa, e poderá achar algo que consiga encaixar seus horários e ainda pagar uma boa creche para o Arthur, e qualquer coisa eu ajudo com a mensalidade, afinal, já sou a mãe dele, não sou.

Ambos rimos. Arthur continuava a insistir em chamar Sar de mãe, no início tentamos cortar isto, mas no fim ele nos venceu. A proposta de Sara era boa, iria me ajudar muito, mas de qualquer forma ainda me sentia um estorvo na vida dela. Ela tinha Sophia para cuidar, e agora ela precisava de Sara mais do que nunca. Linda adorava Arthur, todos da casa gostavam, mas aquele ainda não parecia ser o meu lugar, e tinha medo de acostumar as crianças a uma vida que provavelmente não teriam dentro de alguns meses quando voltassem para casa.

— Me deixe fazer as coisas por mim Sara. – Segurei suas duas mãos entre as minhas neste momento. – Eu agradeço muito sua ajuda e vou aceita-la de início, mas eu quero muito oferecer as coisas do meu jeito a eles. Tudo bem? – Percebi que ela assentiu tudo muito contra gosto.