Eu já havia planejado minha noite: Assim que Alicia chegasse todos jantaríamos, em seguida iria para o hospital parando no meio do caminho para tomar a pílula do dia seguinte. Nada de filhos, não estava preparada para isto agora, não poderia cuidar de Sophia, e outra criança, além de que isso me ligaria a Gilbert para sempre.

Isso não estava nos meus planos.

Logo que meu pai chegou com Alicia, convidei-o para jantar conosco. Ele prontamente aceitou, creio que só para me ver comer. Fazia muito tempo que ele não me via colocar algo na boca. E nem precisei pedir para que Gil guardasse segredo sobre o que aconteceu, creio que isso estava implícito. Gil, apesar de tudo sabia ser discreto.

— Desculpe Sara. – Gil fitou-me sem jeito. – Não me recordo mais como se utiliza esses talheres.

Eu ri.

— Não necessita. – Meu pai intrometeu-se antes que eu pudesse responder. Pegou o garfo e a faca principal e colocou o resto de lado. – Se você souber a diferença do garfo e da faca está ótimo. – Ele riu. – Isto é tudo uma grande baboseira que inventam para confundir a nossa cabeça.

— Papai só usava isto por que minha mãe insistia muito, agora ele só usa garfo e faca normalmente.

— Foda-se a sociedade. – Falou convicto.

Pude perceber a inquietação de Gil passar, e junto com meu pai abriu mão dos demais talheres e começou atacar a comida. Sinceramente, não sabia de que lado vinha a maior deseducação. Porém do outro lado da mesa, Linda dava de comer a Arthur, e Alicia demonstrando tamanha inteligência me observava escolher os talheres e imitava-me para fazer do modo correto. Cheia de elegância.

Fitei Alicia por alguns segundos. Pouco mais velha que Sophia e em um poço de esperteza. Mesmo que Sophia acordasse, provavelmente teria um retardo grande de aprendizado por perder as principais fases de seu desenvolvimento.

— A comida estava deliciosa. – Alicia disse quando terminou de comer, utilizando o guardanapo corretamente o acomodou em seguida ao lado do prato.

— Aprendam. – Vire-me primeiro fitando meu pai e depois Grissom. – Alicia é um poço de educação e é apenas uma criança.

Conseguindo constranger dois adultos sobre as atitudes de uma criança, logo acabamos todos rindo, os risos terminaram assim que meu pai atendeu ao telefone. Pegando o celular do bolso, percebi sua expressão alegre, ir ficando séria pouco a pouco. E algo me dizia que tinha haver com Sophia.

— Sim... Mas vocês tem certeza? Estou indo para aí imediatamente. – Cada vez mais meu pai ficava mais alterado, quando ele desligou o telefone pude perceber que a veia de seu pescoço estava saltada, e isto só acontecia quando ele estava extremamente tenso.

— O que houve?

— Sara, eu preciso que venha comigo.

— Vou me arrumar e...

— Não temos tempo, vamos agora. – Disse seco, já se levantando e procurando suas coisas para sair.