— Que bom, espero que não seja nada grave. – Disse tomando um gole de café, vi Sara soltar um sorriso travesso ao ver a forma que eu segurava a xícara, mas logo ela se conteve.

— A senhora quer que eu fique preparado para leva-los? – Fábio disse levantando-se da mesa e colocando sua louça dentro da pia.

— Não, quero que fique a disposição das crianças. Deise deve chegar ainda pela manhã e seria bom busca-la no aeroporto. Se o senhor Grissom não se importar, Ana Paula pode ir junto. Linda pode tomar conta das duas.

— Por mim não há problema. – Interferi.

— Com certeza não vão dar trabalho algum. – Completou Linda.

— Então ficamos assim. Eu vou ir com o meu carro, e o da Deise fica a disposição para usarem. – Apenas ouvia Sara, quieto terminando meu café e ansioso por ver Arthur.

No carro conversamos pouco e sobre coisas fúteis, até que Sara disse algo que não sabia como encarar: Surpresa ou elogio?

— Você fala muito bem apesar de um pouco rustico. Terminou o segundo grau? – Ela perguntou enquanto dirigia.

— Terminei somente o primeiro, depois tive de ajudar meu pai em casa. Mas sempre gostei de ler, então por mais que te impressione, tenho um bom vocabulário e um ótimo repertório. – Fui mais irônico do que eu queria. Mas ela achava o que? Que todos erámos burros? Só por que era pobre não poderia falar direito? Respirei fundo, sabia que estava exagerando, era uma realidade que ela não conhecia.

— Desculpe, não quis ofender.

— Não ofendeu. – Que grande mentiroso. – Talvez se tivesse o segundo grau completo poderia conseguir um emprego que pagasse uma creche para Arthur e conciliaria tudo, mas é complicado. Por isto quero que Alicia e Arthur estudem muito e não passem mais necessidades quando maiores.

Sara ficou pensativa por um tempo. Logo chegamos no hospital e ela estacionou, mas não desceu do carro.

— Algum problema.

— Você ficaria ofendido se eu ajudasse de alguma forma nos estudos dos seus filhos?

— E por que faria isto.

— Se ofenderia ou não? – Ela foi direta.

— Não quero seu dinheiro.

— Eu não estou falando de dinheiro. Estou falando de material escolar, livros. Tenho influencias e conseguiria colocar Arthur em uma creche pública. Existem muitas maneiras as quais eu posso ajudar.

— Que tal falarmos sobre isso depois? – Talvez a enrolando ela se esquecesse dessa loucura.

— Vamos ver Arthur. – Finalmente desceu do carro, e eu também. Se ela achava que eu iria ficar deslumbrado com casas grandes, carros e toda aquela riqueza, estava completamente enganada.