Sara Sidle

— Ainda acho que não deveríamos contar para Sara que ela perdeu um filho no dia do atropelamento.

Isso não saia da minha cabeça. Como os dois homens que eu mais confiava no mundo poderiam me esconder algo como isto? Toda confiança que eu tinha em meu pai ou em Gil se dissipou em poucos segundos. Não os conseguiria ver em minha frente, talvez nunca mais.

Fui para casa sozinha com Sophia e Fabio. As lágrimas que estavam em meu rosto eu fiz questão de secar ainda no carro, não valia apena chorar. Esse era para ser o dia mais feliz da minha vida, o dia em que levava minha filha para casa, e assim seria.

Pelo menos fingiria. Ou tentaria. Ou não conseguiria.

Como era possível ser feliz sabendo que no mesmo dia que ganhei uma filha eu perdi o outro? Por que era como se houvesse perdido a criança naquele momento. Eu ainda não sabia exatamente o que tinha acontecido, mas alguém iria me contar. 

Nesse momento, com tremor em minhas mãos eu comecei a pensar: Será que Deise sabia? Será que Hank sabia? Será que Linda sabia? Quem mais sabia dessa história e havia me escondido de maneira tão cruel?

Quando cheguei em casa foi a maior festa, Alicia, Arthur e Aninha receberam Sophia muito bem. Deise também. Todos eles eram delicados com minha filha que ainda estava frágil e Sophia parecia interagir muito bem com eles. Tentar fingir que nada havia acontecido fora algo totalmente em vão, Deise logo percebeu que havia algo errado e me puxou para um canto da sala.

— O que houve? Por que Grissom não veio?

— Deise, eu quero que seja sincera comigo. Você sabia que eu tinha perdido um bebê?

— Um bebê? Você? – A surpresa na sua face era iminente. – Como assim Sara?

— Então você não sabia?

— Tenho cara de quem sabia? – Respondeu obvia.

— Gil e papai esconderam isso de mim por seis meses. Por mais de seis meses. – Suspirou. – Nunca mais conseguirei encarar eles.

— Mas como aconteceu? O que aconteceu?

— Não sei ainda, não tenho certeza do que aconteceu. Mas eu vou descobrir. Alguém terá de me contar essa história. – Completei irritada. – Porém no momento só quero curtir minha filha, aproveitar que ela está em casa. – Então olhei para ela e por um segundo pareceu que toda a tristeza e raiva haviam sumido. – Ela está tão linda. – Murmurei com os olhos fixos em minha fadinha, em seguida coloquei a mão sobre meu ventre e me doeu pensar que meu filho havia sido perdido e nem tive a oportunidade de cuidá-lo.

A campainha então tocou, e antes que pudesse dizer qualquer coisa, Linda que estava na sala abriu a porta, do outro lado estava o dono dos olhos azuis. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, Alicia e Arthur correram para ele o abraçando. Eu não queria colocar as crianças em uma situação desgastante, mas de alguma forma precisava falar com ele. Mesmo sem saber como encará-lo.