Immortal escrita por havilliard


Capítulo 6
Quatro


Notas iniciais do capítulo



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Não acho uma boa ideia vir aqui em casa. Mal nos conhecemos, e não posso passar meu endereço para qualquer estranho.

Alex.

Apertei o "enviar" e me joguei na cama. Não que fosse realmente esse o motivo para eu não deixar Louis vir aqui, eu só me sentia um pouco insegura com ele. Principalmente se ele vir aqui. E minha mãe também não gostaria da ideia de um estranho vir aqui, ainda mais depois da invasão na noite anterior.

Sinto meu celular vibrar. Ele respondeu.

Eu não sou qualquer estranho, eu sou o estranho que é sua dupla em Química e que não leva jeito nenhum na matéria.

Louis.

Não tive com não rir. Aquele garoto era impossível.

— O papo deve estar ótimo para você estar rindo à toa. — a voz da minha mãe soa, através da porta.

— Não, é só... não é nada. — respondi, desligando a tela. Mas a mesma se acendeu, ao mesmo tempo que vibrava. Com certeza, outra mensagem do garoto. — Deve ser a Luce.

Abri a caixa de mensagens. Estava óbvio que não era a Luce. Mamãe – que estava sentada ao meu lado – passou o braço por minhas costas e perguntou:

— Quem é Louis, querida?

Procurei algum pensamento oculto por trás da pergunta, mas não encontrei.

— Meu novo parceiro de Química. — respondi, suspirando. — O conheci ontem. Um dos garotos novos que te falei.

— E já trocam mensagens?

— Mãe...

— Eu só fiz uma pergunta. Pode me responder?

— O professor pediu um trabalho em dupla. Marquei de irmos na biblioteca quinta-feira, mas ele não sabe onde é. Perguntou se estava tudo bem ele vir aqui em casa para, daqui, irmos para lá. — falei, me deitando na cama. — Mais alguma coisa?

— Louis, é? — assenti. — Hm... Eu não me importo dele vir aqui. Se é só para ir na biblioteca... não vejo problema.

Me inclinei para minha mãe e apalpei seu rosto. Depois, segurei o mesmo e o virei de um lado para o outro.

— Quem é você e o que fez com minha mãe?! — brinquei.

— Deixa de ser besta, e vamos almoçar. — ela falou, retirando minha mão de seu rosto e me dando um tapinha leve na perna.

Dei risada.

— Já estou indo. — respondi.

Mamãe saiu do quarto e eu abri a mensagem do menino.

Estou brincando, reconheço que você é uma garota sensata e que não confia em mim. Mas é sério, eu não sei onde fica a biblioteca.

Louis.

Respirei fundo e disquei seu número. Ao terceiro toque, ele atendeu.

— St Memphins, 1588. Duas horas. — falei, rapidamente.

— Sabia que ligaria uma hora ou outra.

— Continua sendo um idiota pra mim. Até quinta. — falei, ríspida.

A última coisa que ouvi foi sua risada fraca, e então, desliguei.

 

 

Escuro. Era como tudo estava: escuro.

— Olá? — chamei, me envolvendo com meus braços. — Onde eu estou?

De repente, uma risada. Alta e maligna. Me apavorei.

— Quem está aí? Quem é você?

— Quem eu sou não interessa, eu te trouxe aqui para brincarmos um pouco. — a voz falou de um jeito malicioso.

Ok, eu tenho certeza que estou tremendo agora.

— Não precisa ter medo, meu bem. É algo bem simples. Mas, como toda brincadeira, essa tem regras.

— Regras?

— Mas não são muitas, na verdade, é só uma. Uma única e simples regra: não vai ter ajuda de ninguém, ok? Não pode gritar por ajuda.

Isso, definitivamente, não é bom.

— O que vai fazer comigo? — pedi, mesmo tendo uma ideia da resposta.

E, antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, uma flecha prateada veio em minha direção. Coloquei meus braços em meu rosto para me proteger, mas percebi que a flecha nem chegou a encostar em mim. A mesma havia caído em minha frente, a um metro de mim.

Me aproximei para tocar na flecha. Ela parecia tão inofensiva, que o máximo que pode fazer é um leve furinho.

Quando eu ia tocar na flecha, uma bola de fogo cai sobre mim. Era o meu fim. Com certeza, eu morreria. Mas, para minha surpresa, a bola de fogo não me atingiu.

— O QUE? — a voz exclamou, irritada, e continuou jogando bolas de fogo em mim, mas nenhuma me atingia. Quando finalmente parou, deu outra risada maligna. — Que amor, ele está te protegendo. Até nos sonhos. Que imbecil.

Sonhos. Isso significa que estou sonhando. Mas espera... quem está me protegendo?

— Q-quem está me protegendo? — perguntei, um pouco temerosa.

— Vai descobrir mais cedo ou mais tarde.

Isso é um sonho. Eu preciso acordar. Vamos, Alex, acorde.

Acorde, querida. Por mim, acorde. Alguém estava falando na minha cabeça. Eu sabia quem era. Por que eu sabia quem era?

— VOCÊ ESTÁ AQUI? Ah... veio proteger sua namoradinha. Qual a necessidade? Ela vai morrer de qualquer jeito.

Morrer?

Alex, se concentre em acordar. Ignore tudo o que ele diz.

— Louis, o que está acontecendo? Onde você está? — sussurrei, na esperança dele me ouvir.

Não da pra explicar agora, vou apagar esse sonho da sua memória.

— O quê? Louis, não... — mal terminei de falar e me senti sugada de volta à realidade.  

 

 

Dois dias depois, New Orleans.

O som da campainha é ouvido por toda casa. Logo depois, o som da porta. Dei uma última olhada no espelho e peguei minha bolsa com os livros.

— Alex, seu amigo chegou. — ouço minha mãe falar.

— Estou indo. — respondi.

Saí do meu quarto e desci as escadas até a sala. Louis estava em pé, na sala, com as mãos nos bolsos e uma pasta transpassada pelo corpo. Ele usava uma calça jeans preta, uma camiseta cinza e uma camisa por cima. Seus cabelos estavam arrumados de um jeito meio rebelde e seus olhos, mais azuis do que nunca. Os olhos que vem me atormentando em sonhos há dias. Os olhos que eu não conhecia até quatro dias atrás.

— Olá, Louis. — falei, forçando um sorriso.

— Alexandra! — ele responde, com um sorriso no canto dos lábios, sem parecer nem um pouco irônico.

— Mãe? Nós já vamos. — avisei, já indo para a porta.

— Ah-ah, espere aí. — suspirei. Sabia que ela me pararia. Voltei para a sala, onde ela já estava.

— Mãe, esse é o Louis, meu colega em Química. Louis, essa é minha mãe, Margareth. — os apresentei. Os dois deram um aperto de mão. O olhar de minha mãe sobre Louis era sério. — Vamos, Louis.

Mas minha mãe não soltou a mão do garoto.

— Cuide bem dela, ok? Proteja-a de tudo. Não deixe nada, eu disse nada, acontecer com a Alex. — ela falou. Rolei os olhos. Não acredito que ela estava realmente falando isso pro garoto que mal me conhece.

Mas o rosto dela estava tão sério, e Louis parecia saber do que ela estava falando, como se os dois compartilhassem uma conversa onde só eles participavam e pareciam saber o assunto.

— Mãe, Nós vamos na biblioteca e não em um assalto a banco. — tentei soar repreensiva, mas eu estava com um pouco de medo.

Mamãe me olhou e sorriu.

— Perdão, meu amor. Mas depois do que aconteceu há alguns dias, eu me preocupo com sua segurança. — ela explicou.

Louis me olhou surpreso. Respirei fundo e o puxei do aperto de mão até a porta.

— Até mais tarde, mãe. Te amo.

E enfim saímos.

 

 

Estávamos sentados um de frente para o outro, fazendo algumas anotações. Ambos concentrados, quer dizer, pelo menos, ele estava.

Hora ou outra eu desviava minha atenção a ele. Era legal ver a ruga de concentração que se formava em sua testa, enquanto ele escrevia. Era fofo.

Em um desses momentos, Louis percebe que eu o estou observando e desvia sua atenção à mim.

— O que foi? — ele perguntou, sorrindo.

— Nada, só estou pensando. — falei, tentando disfarçar a vergonha.

— Ah, claro. — ele respondeu e o silêncio pairou entre nós

Alguns minutos depois, me peguei o olhando novamente. Então, resolvi falar alguma coisa.

— Me desculpe pela minha mãe, as vezes ela é meio paranóica. — ele deu uma risada fraca.

— Tudo bem, ela tem razão. — falou, sorrindo fraco. — Se me permite perguntar, o que aconteceu que ela falou aquilo?

— Dois caras invadiram lá em casa, mas não levaram nada. — falei, dando de ombros.

— E vocês sabem quem foi? — ele perguntou. Neguei.

— Estavam usando máscaras de esqui.

— E você? Como se sente?

— Ah, sei lá. Eu não sei o que eles procuravam... tenho medo que voltem. — suspirei. — Ultimamente tem acontecido tantas coisas, que sinto como se eu estivesse enlouquecendo. — falei, rabiscando qualquer coisa em cima das anotações, só para não ter que olhá-lo.

— Vou te mostrar uma coisa. — ele diz e abre sua pasta, retirando da mesma um pano todo embrulhado. Ele abre o pano, revelando um pedaço do que parecia ser carvão. — Isso é carvão. Um pedaço pequeno e bem preto de carvão. Aparentemente... hm... feio. Mas se ele for enterrado no mais profundo da terra, perto do núcleo, esse carvão vai ser aquecido e esmagado até se transformar...

Ele fechou o pano novamente e espremeu, até o som de algo crocante ser ouvido. Louis abriu o pano, revelando o carvão quebrado e uma pequena pedrinha suja de preto. Um diamante.

— Nós o encontramos assim. Sujo. Mas aí, ele é lapidado... — ele pega o diamante e limpa. — Até se tornar precioso.

Levou um tempo até eu dizer alguma coisa.

— O que isso significa? — perguntei, por fim.

— O carvão é você agora. O diamante é você no ápice da sua loucura, mas sem deixar de ser linda. — ele respondeu, rindo juntamente comigo. Mas não deixei de notar o elogio no final da brincadeira.

— Então, se eu dissesse que eu mal te conheço, mas sinto como se já te conhecesse bem antes? Em que estágio do diamante minha loucura estaria?

— Diamante bruto, talvez. Não da pra saber o quão louco isso é, porque isso é impossível. — ele respondeu, parecendo estar nervoso. — Melhor terminarmos logo, não quero que volte muito tarde.

Suspirei e não respondi nada. Apenas continuei com as anotações, até que me peguei o observando novamente. Ele sorria. Acabei sorrindo também.

 

 

Já era tarde quando terminamos. Saímos da biblioteca e o Sol estava se pondo. Louis não estava de carro, o que nos obrigou a voltar à pé, assim como viemos.

O silêncio pairava entre Nós. Não tínhamos muito o que conversar, já que mal nos conhecíamos. Mas acabou que eu rompi o silêncio.

— O que sabe sobre mim? — perguntei. Ele mesmo disse que sabia coisas sobre mim, mas “o quê”, eu não sei.

— Ainda está preocupada com isso? — ele riu fraco.

— É preocupante saber que um estranho sabe coisas sobre você. —  rebati. Ele riu.

— Descubra você mesma.

Pensei um pouco.

— Meu aniversário?

— Treze de março.

— Cor favorita?

— Dourado e verde. — ele fez uma pausa. — Seu maior sonho é entrar em Yale, mas também quer tentar a Stanford. Seu segundo maior sonho é morar em Paris. Ama correr e... toca teclado.

Eu estava pasma. Como ele sabe tudo isso?

— C-como...

— Você tem problemas com sua mãe, porque ela não consegue te controlar. O perigo te fascina. Acho que isso é o suficiente.

Eu me afastei lentamente,  boquiaberta.

— Como sabe tudo isso? — perguntei em um sussurro. — Q-quem é você?

Percebi que estava tremendo. Por que eu estava tremendo?

— Você está tremendo, Alexandra. — Louis fala, tentando segurar minha mão, mas não deixei.

— Não me toque. — gritei. — Você... você tem me espionado? Como tem me espionado? Você só está na cidade há duas semanas. Nem me conhece... Você... — ele segurou meus braços e me olhou nos olhos.

Ah, aqueles olhos. Olhos que vêm tomando meus sonhos.

— Alex, se acalme. Essa é a menor das suas preocupações, acredite. — ele informou. O seu olhar era sério.

— O que sabe sobre minhas minhas preocupações? Ah claro, você andou me espionando! — rebati, com raiva.

— Eu não espionei você, Alexandra. E acredite quando digo que isso não é o mais importante.

— E o que é mais importante do que um estranho saber coisas que ninguém mais sabe sobre você?

— Com o tempo você vai entender, por enquanto, preciso que confie em mim.

Revirei os olhos. Confiar nele. Haha.

— Não tem nem uma semana que nos conhecemos e já quer confiança? — perguntei, irônica. — Me solta. Eu vou para casa. — falei, me soltando dele.

— Antes, ouça o que vou te falar. — ele pediu, com a voz soando séria. Revirei os olhos e olhei para ele, impaciente. — Tome muito, muito cuidado. Você disse que invadiram sua casa, então peço que tranque tudo. Tudo. E, por favor, não ignore o que estou dizendo, pois é muito sério. — ele assegurou. Eu prestava atenção em cada palavra. — Sinto muito não poder te dizer mais do que isso. Juro que queria, mas não posso.

— E por que não? Se quer que eu confie em você, preciso saber o que está me escondendo.

Louis suspirou. Ele me olhou nos olhos e, de repente, tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

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