"Eu só preciso de um pouco de tempo"

Um tempo... O que ela queria dizer com um tempo? Já faz duas semanas que eu a vi, e uma semana que ela saiu do hospital. Sei disso porque eu subornei o Espo para me contar. Três semanas com minha Ferrari. Podia ter sido pior, ele poderia ter pedido por um mês, dois, quantos fosse. Eu aceitaria qualquer coisa que ele pedisse só pra saber como ela estava. Lanie não quis me contar nada, nem se ela estava bem. Parece que existe um certo 'código de ética da amizade' que ela prometeu respeitar, e não importa o que eu dissesse, ela nunca iria me contar. 

Duas semanas sem ver a Kate e eu já morro de saudades. Já passei mais tempo sem qualquer contato com ela, mas era diferente. Era diferente porque eu nunca tinha admitido meus sentimentos. Era diferente porque eu nunca tinha quase perdido ela. Era diferente porque eu nunca disse que a amava. 

Foi ridículo só conseguir assumir esse sentimento assim, vendo ela quase morrer na minha frente. Eu tive tantas chances de contar, de falar como o sorriso dela é lindo, de como aqueles olhos verdes fazem eu me perder em uma imensidão de sentimentos, de como meu coração dispara toda vez que ela sorrir pra mim. De como eu amo quando ela revira os olhos por causa de teorias malucas criadas por mim. Ela não sabe, mas eu comecei a ficar bom em teorias para irritar ela, eu não sei porque, mas eu adoro irrita-la. Eu tive tempo, eu tive chances, eu poderia ter dito 'Eu te amo, Kate' várias vezes, mas não, eu nunca consegui dizer. E quando eu disse, ela não se lembra. 

Ela não lembrar quase partiu meu coração, mas assim que eu sai daquele quarto de hospital eu decidi que nunca mais iria perder uma oportunidade de dizer o que eu sinto por ela. 

E eu já dei o tempo que ela precisava. Ela não ia me manter longe por mais de duas semanas. Ela não vai conseguir se livrar de mim tão fácil. De repente eu me lembro de um caso em que nós trabalhamos juntos, um enfermeiro fazendo de tudo pelo seu amor.. Eles trocavam cartas, e numa dessas cartas ele disse tudo o que eu deveria ter dito quando ela me pediu um tempo. Então vem em minha cabeça exatamente a cena 

"Não acredito em muita coisa, mas acredito em nós. E não importa os obstáculos, não importa o quanto você tente, nunca vai se livrar de mim. Eu te amo! – os meus olhos se cruzaram com os de Kate, me perdi naqueles olhos verdes, e como eu queria que ela não tivesse desviado o olhar. Nós estávamos próximos, muito próximos, eu podia ouvir a respiração acelerada dela quando ela notou que eu queria realmente dizer aquilo. Mas então ela se afastou..." 

E me vem mais uma vez o arrependimento. Eu poderia ter dito alguma coisa, eu poderia ter feito alguma coisa.. Mas será que era a hora certa? Será que tudo o que nós vivemos até agora, todo o sentimento que eu guardei, o desabafo que fiz quando ela estava em meus braços, será que tudo não serviu pra alguma coisa? Sim, serviu. Serviu para me deixar mais forte, para ter mais certeza do que eu sinto, do que eu quero, e de que não vou desistir tão fácil assim dessa mulher. 

Eu acabei de sair do necrotério onde a Lanie trabalha. Onde eu e Kate já fomos tantas e tantas vezes atrás de pistas, de respostas para algum crime. Ela e a Lanie sempre tiveram uma amizade forte, e eu sei que no fundo, a Lanie sabe que a Kate sente alguma coisa por mim. Já escutei algumas indiretas entre as duas. A Lanie ama a Kate, e eu acho linda a amizade delas. E ao contrário do Espo, não foi preciso subornar a Lanie por informações. Porque segundo ela, acima de tudo, o 'código de ética da amizade' está em fazer a amiga feliz. E ela disse que a uma visita minha faria bem a Kate. Mas isso não quer dizer que eu não precisei implorar um pouco para ela me dizer alguma coisa sobre a Kate. 

— Lanie - disse entrando no necrotério a assustando. Ela ia começar a abrir um corpo. Será que ela me deixaria ver? Ela nunca me deixou ver.  Uma esperança cresce em mim.

— Caste! Você quer me matar. Eu só trabalho com gente morta aqui, chegar de fininho enquanto eu estou com um corpo aqui não é bom. -ela me olha de casa feia- o que você quer aqui? Você ainda anda acompanhando os casos ?

— Não.. Eu até tentei continuar, não pelos casos, mas pra descobrir o atirador. -só de lembrar aqueles momentos me arrepio todo, não gosto de pensar nisso.. Tudo foi culpa minha

— Castle não foi culpa sua, você sabe. E ela está bem, está viva.  -vejo sinceridade em seu olhar

— Como posso saber que ela está bem mesmo? Eu nem posso vê-la -minha voz sai embargada. Dói não poder vê-la, dói não poder cuidar dela.. Dói muito

— Eu estou dizendo pra você que ela está bem. Pelo menos em termos médicos -ela fala baixo a última parte

— Eu não quero só saber notícias, Lanie. Eu quero está lá, ver como meus olhos, conversar com ela. Poder dizer.. -não consigo falar- poder dizer que eu estou feliz por ela ter sobrevivido. Que ainda temos muitos crimes para resolver.

— Eu realmente queria poder te ajudar Castle

— E você pode. Me diz onde ela está, Lanie. Eu sei que ela não está na casa dela porque eu já fui lá várias vezes e o porteiro me disse que ela não voltou. 

— Castle ela me fez prometer que não contaria nada

— Por favor Lanie -faço minha cara de cachorro pidão e sei que estou conseguindo convencê-la. Até que uma coisa passa por minha cabeça, e eu realmente espero que isso seja só minha imaginação- a não ser que.. Lanie ela foi para a casa do Josh? 

— Que?! Não, né Castle. Até parece que você não conhece a Kate

— Pra você tá me enrolando assim, pensei no pior.. Me conta Lanie -ela me olha- eu pago um fim de semana no spa. Trago café todos os dias para você... O que você quiser

— Eu nem bebo café Castle. -ela diz rindo- eu já te falei do nosso código da amizade..

— Sim. Você não vai quebrar esse maldito código -digo um pouco frustado

— Mas, eu também acho que deve seguir a regra principal de 'Sempre fazer o que for melhor para sua amiga'. E nesse momento, o melhor para ela é te ver..

— Serio? Você vai me contar onde ela se escondeu? -eu me animo, até beijaria a Lanie se não estivesse guardando todos os meus beijos para Kate. 

— Vou. Mas você NUNCA, em hipótese alguma, vai dizer a ela que fui eu que te dei o endereço -ela diz já escrevendo no papel

— Minha boca é um túmulo -eu digo é ela sorri me entregando o papel- obrigada Lanie

— Ela tá precisando de você. Pode não saber, pode não querer aceitar, mas você vai fazer bem pra ela. 

— Ela não vai ter paz agora. Não vou sair do lado dela. 

Eu a abraço e saiu da sala mais sorridente que nunca. Vou atrás do meu amor

E agora eu estou na frente da cabana do pai dela, criando coragem para entrar. Será que ela vai gostar de me ver? Será que ela está sozinha? E se o Josh estiver lá? E se ela me expulsar? Bom.. Se ela me expulsar hoje, eu volto amanhã, e depois, e depois, e depois, até ela aprender a gostar de me ter por perto de novo, que nem eu fiz a três anos atrás quando comecei a segui-la. 

Com um sorriso que rasga meu rosto inteiro, saio do carro e vou em direção a cabana. Está de noite, mas as luzes amarelas acesas dentro da casa me faz ter certeza de que tem gente lá dentro. Me aproximo devagar e dou três batidas na porta. Coloco as mãos nos bolsos ansioso e sinto meu coração disparar.