Acho que não é só amizade escrita por Nenda


Capítulo 4
Capítulo 4




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O frio essa manhã era extremamente gostoso, me fez ir sorrindo para a escola, mantendo o braço do Natsu longe do meu pescoço, pois queria poder sentir todo o geladinho sem a interferência do calor ridículo do meu querido amigo. Mas não era só a temperatura a causa do meu sorriso: a Erza convidaria toda a classe para ir à confeitaria/lanchonete da Mirajane depois das aulas – e por ser um convite dela ninguém recusaria. Meu coração acelerava apenas com a imagem do meu amado bolinho de duas camadas recheado com coco e coberto com chocolate e brigadeiro.

Atravessei os portões do colégio aos pulinhos, excitado para que as horas corressem. Num olhar rápido ao redor, além de perceber que muitos estudantes me encaravam com algo como estranheza e divertimento, notei o Gajeel cochilando debaixo de uma árvore solitária no fundo do jardim. Lembrei de imediato das palavras dele noite passada e corri para lá – ainda sorridente – e acordei o grandão, sem me importar com sua careta de revolta.

— O que você queria falar comigo? — perguntei, me sentando ao seu lado, podendo ouvir o som pesado que fluía dos fones de ouvidos dele.

Gajeel demorou um pouco para entender do que se tratava, mas logo me contou uma história. Era sobre uma menina que mudou de escola e foi tratada com grosseria por cara idiota mal educado logo no segundo dia de aulas. Ela se sentiu tão ofendida com aquilo que pôs na cabeça que todos os outros estudantes também eram daquele jeito e não a aceitariam ali. Aí decidiu que não queria mais fazer amizades.

Só que eu não entendi o que o Gajeel quis me dizendo aquilo, não vi em que parte a história tinha a ver comigo.

— Você foi o cara mal da história, entendeu, retardado? — ele explicou, calmamente.

— Ah... — balancei a cabeça de cima a baixo, pouco a pouco compreendendo. — Mas quem é a tal menina?

Gajeel arrastou a mão na própria cara, parecendo cansado. — A Juvia, magrelo.

Sua resposta não me deu nada além de dúvida. — Quem é Juvia?

Ele me olhou irritadíssimo, o que não era para acontecer, eu estava fazendo perguntas sinceras, inocentemente.

— A novata é a Juvia!

Eu o encarei por longos segundos silenciosos enquanto processava a informação. Ao que parecia, eu estava com defeito, o loading ultimamente andando devagar demais. Pisquei os olhos repentinamente quando me dei conta de quem estávamos falando, e o grandão, que me fitava com curiosidade até ali, saltou para longe, como se aquele simples gesto meu o tivesse assustado.

— Juvia Lockser? — não consegui impedir que um sorrisinho alegre tomasse meus lábios e o pensamento adeus “não interessa” invadisse minha mente. Uma pequena ansiedade surgiu de forma abrupta: eu queria correr para a sala de aula, pular na mesa da Azuladinha e contar a ela que seu segredo havia sido descoberto.

— Se você não sabia o nome, como é que sabe o sobrenome? — Gajeel ficou confuso, mas não lhe respondi.

Levantei da grama e bati as palmas das mãos contra a parte da frente da calça, me preparando para sair dali e realizar minha vontade de sorrir malvadamente para aquela moça ao contar a ela a minha descoberta. Por algum motivo, deixá-la brava me era muito interessante.

— Ei — ele me parou antes que eu desse o primeiro passo, sua mão contornando meu tornozelo como aqueles monstros de filme de terror que querem puxar seu pé. Eu o mirei pelo canto do olho. — Você vai pedir desculpa a ela, não vai?

Dei um meio sorriso, assentindo. Claro que eu ia, e, depois que fosse perdoado, aporrinharia a senhorita Lockser. Juvia.

E de repente o meu dia pareceu perfeito. Propício. Nós íamos a uma confeitaria, não seria legal se eu oferecesse minhas desculpas a ela juntamente com um bolinho de chocolate? Se alguém que tivesse me tratado muito mal me oferecesse um bolinho, eu perdoaria na hora.

No intervalo, quando me aproximei da mesa dela, prendi com tachinhas num mural em minha mente um cartaz imenso onde estava escrito “Não mencionar o nome dela”. Com certeza seria mais divertido anunciar isso num outro momento.

— Você gosta de chocolate, Azuladinha? — fitei-a com atenção e me encostei à sua mesa, sem intenção de me sentar nela. Para a minha felicidade, ela não fez toda a chatice de me ignorar olhando pela janela.

— Por que você quer saber? — perguntou, impassivelmente.

— Depois das aulas, a turma toda vai pra uma confeitaria aqui perto. Tá vendo isso? — apontei uma gota de suor deslizando pela minha têmpora. — Passei o intervalo correndo pelo colégio pra chamar todo mundo.

— E daí?

— Seria muita maldade sua recusar o meu convite. — sorri, meigo, entusiasmado, alegre. — Então, eu vou te esperar na saída!

— E por quê?

— Eu tenho uma coisa pra te falar!

Ela franziu as sobrancelhas, olhando com curiosidade e estranheza. Fiquei feliz com a nova expressão da moça e sorri.

— Não se iluda. — murmurou, fazendo beicinho e virando a cara.

Meu sorriso parecia muito incômodo para ela, e eu dei um risinho só para chateá-la. Depois saí dali. Fiquei na cantina, comendo pudim e esperando o tempo passar. A Erza conversava com a Lucy e a Levy sobre um tal ritual de qualquer coisa desinteressante, e o Natsu prestava atenção com os olhinhos brilhando em direção à loira.

Quando recomeçaram as aulas, o primeiro professor já foi logo copiando um texto imenso na lousa. Eu apostei comigo mesmo que seria o primeiro da classe a terminá-lo e apressei o punho ao máximo, fazendo garranchos no caderno, porém acompanhando o professor e, às vezes, parando para esperar que ele escrevesse algo. Estava sendo divertido, e quando o momento é divertido ele passa mais rápido. Eu olhei o caderno da Erza e prendi uma risada triunfante ao ver que ela ainda estava longe de onde eu estava. Então voltei a escrever algumas palavras novas riscadas na lousa. Joguei a caneta de lado e me estiquei, relaxando na minha cadeira à espera de mais o que fazer – o professor foi tomar água e massagear a mão. Ouvi passos estalando pela sala e, como não tinha mais o que fazer, procurei o foco dos sons. Foi bem no momento em que ela passava por mim. A novata, com sua mochila nas costas, me olhou de canto enquanto seguia para a porta. Por um breve instante eu vi o sorrisinho debochado dela para mim. E ela saiu da sala. Ela saiu da escola.

 

A porta fez um leve ranger ao ser entreaberta, e o frio da rua invadiu a minha casa. Já era de noite, fazia uns quarenta minutos que eu tinha saído da confeitaria. Ao ser fechada, a porta novamente fez barulho, e eu durei alguns segundos parado na entrada, olhando a escuridão da sala, que aparentemente se espalhava pelo resto do lugar. Minha voz ecoou num chamado pela minha mãe, e ela não respondeu. Ninguém respondeu. Qualquer sobra de empolgação que houvesse no meu ser foi-se embora naquele instante, e eu dei uma risada melancólica. Não teria com quem conversar, o Lyon voltaria mais tarde com alguém, muito provavelmente, e eu passaria uma noite depressiva. Ok.

Fiz um biquinho desconsolado e me arrastei para o meu quarto, lembrando de acender a luz dessa vez. Pus a mochila numa cadeira e fui procurar alguma roupa para me esquentar um pouquinho, o frio se intensificou agora, mas eu ainda queria senti-lo.

Meus passos, mesmo que pesados pela minha preguiça, pouco fizeram barulho durante o meu caminho para a cozinha: eu estava de meias, umas coisas quentinhas, coloridas e não usáveis em público. Infelizmente. Não havia panelas sobre o fogão ou a mesa, a cozinha quase cintilava de tão limpa e organizada, e eu olhei aquilo tudo com medo. Eu fui até o armário onde geralmente ficavam os meus Doritos e lanches e o abri, a seguir tapando a boca para evitar um grito de pavor e dando um saltinho para trás. Não estavam ali. Cambaleei para trás até ter o balcão contra minhas costas e olhei aquilo sem saber como reagir, depois mirei o fruteiro ao meu lado: banana, maçã e outras cujos nomes eu não sabia. Nem uma do meu interesse. Segurei o choro e pensei um pouco. O que eu poderia fazer pra não ficar com fome? Depois de uns quatro segundos eu já tinha a minha doce resposta: chocolate. Dali eu já me alegrei. Caminhei para a porta da frente e a tranquei, em seguida fechei as janelas e voltei para a cozinha. Eu coloquei os ingredientes numa dessas panelas de um cabo só, parecidas com frigideiras só que fundas, e passei uns cansativos minutos parado próximo ao calor que emanava do fogão, mexendo e mexendo o chocolate até ele ficar de um jeito perfeito que fez os meus olhos umedecerem pela emoção do momento.

Pulei no sofá com cuidado para não derramar nada da panela, seria péssimo sujar o sofá da dona Ur – muito, muito péssimo. Eu coloquei uma almofada sobre as pernas e pus a panela sobre ela, então liguei a tevê, direto num canal onde passava um jornal. Eu assisti aquilo por simples preguiça de passar minutos mudando de canal, e também porque com o chocolate eu aguentava as notícias chatas, que logo acabaram. Em seguida veio um programa das sete.

Sete!

Um pensamento veio inconscientemente à minha cabeça: E se ela também fosse hoje ao lugar de ontem? Eram umas sete horas mais ou menos...

Corri para a porta, me desesperando ao encontrá-la trancada e me xingando por ter feito isso. Depois de finalmente abri-la, desci os dois degraus para a calçada e olhei para os lados ansiosamente, por instantes nem lembrando do meu chocolate, que estava em minhas mãos.

Uma moça se aproximava de passar em frente à minha casa. Uma moça branquela, usando uma saia meio longa e uma blusa de mangas até os cotovelos; os cabelos estavam sob um chapéu enorme e branco, com um indiscreto laço rosa. Eu fiquei imóvel, vendo-a. Ela passou pela minha frente puxando o chapéu para que cobrisse seu rosto, como se aquilo me impedisse de descobrir quem era.

Eu soltei uma risada zombeteira, andando para ela calmamente. — Boa noite?

Ela choramingou e parou de repente, virando a cara o bastante para me mandar um olhar zangado. — Não se aproxime!

— Você é muito má, sabia? Fazendo aquilo... — meti o indicador na minha panela e em seguida chupei-o. Ela olhava aquilo com certo interesse. — Então você gosta de chocolate, Juvia?

Os olhos dela arregalaram, e eu ri com isso. Ela virou a cara, ficando meio rígida, os dedos tamborilando na lateral da coxa esquerda, me fazendo perceber, ao observar melhor, que a saia era aberta ali.

— Não tá frio? — arqueei uma sobrancelha, observando um pouco mais.

— Quem te disse? — o rosto virou novamente na minha direção, sua expressão descontente.

— O Gajeel.

Ela expirou com raiva, o olhar retornando à frente.

— Ne, você vai pro colégio amanhã, estou certo? — questione, aproximando da cara dela meu indicador coberto de chocolate.

— Hum. — se esquivou, fazendo careta e me repreendendo com os olhos.

— Vou levar isso como um sim. — coloquei o dedo na boca e suguei-o. — O que você acha de nós irmos pro colégio juntos?

— Não. — abraçou a si mesma, as mãos tremendo.

— Você pode me dizer onde você mora, aí eu te espero; ou pode vir na minha casa! — dobramos a esquina e entramos num lugar mal iluminado. De dia, ali era um lugar lindo. — Ou você, já que sempre chega no colégio antes de mim, pode me esperar aqui nessa praça! — sorri, satisfeito com a ideia.

Ela fixou seus olhos escurecidos nos meus, parecendo pensar. Eu nem sequer pisquei, comendo o chocolate lentamente para não me desconcentrar.

Um sorriso gentil foi riscado na cara dela.

— Tudo bem!

Eu, sorrindo, comemorei mentalmente por isso.

— Agora, pare de seguir a Juvia, ok?

Eu assenti rapidamente, parando de andar. — Tchau! — acenei, entusiasmado.

Ela soltou uma risadinha esquisita e seguiu, quase saltitando de felicidade por não me ter no seu pé.


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Notas finais do capítulo

Sinto muito por qualquer erro que haja aqui.



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