Acho que não é só amizade escrita por Nenda


Capítulo 2
Capítulo 2




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Uma coisa muito importante que eu vou passar para os meus sobrinhos no futuro será que a maldade não compensa. Eu até terei um exemplo disso para dar: o dia que não levei, de propósito, o livro de Matemática de uma menina para a escola e acabei tendo que dividir o meu com ela.

Pois é.

Ninguém descobriu que eu estava com ele, Natsu não abriu a boca para me dedurar nem nada, eu simplesmente estava no lugar certo, mas na hora errada, tinha ido à sala do diretor porque ele havia me chamado, e a Lockser fora em seguida se explicar por estar sem seu livro na aula de Matemática.

Agora, eu estava sentado junto dela, compartilhando a sua mesa ao lado da janela, meu livro sobre a mesma. Ambos calados. A forma como os minutos se arrastavam me fazia crer que no fim das aulas eu gastaria todo o meu intervalo me entupindo de pudins para me livrar da depressão que eu acumulava com a situação. O que mais me deixava mal era a Lockser agir como se estivesse sozinha ali.

Movi os olhos em direção à sua cabeça, a caneta enfiada no meio do coque que ela em momento algum ajeitou e estava prestes a cair.

Será errado se eu, um ser desesperado por um mínimo de divertimento possível, arrancar aquela caneta e liberar os fios azuis que a Lockser não parece querer mostrar? Não, a culpa é dela, que poderia pelo menos olhar pra mim.

Aproximei meus dedos dali, lentamente. Estava prestes a encostar no meu alvo, quando algo inesperado aconteceu: um tapa na minha mão. O que eu senti foi revolta e alegria juntos. Revolta por aquela megera ter batido com força em mim e impedido minha diversão, e alegria por ter conseguido arrancar dela alguma reação. Com isso eu tive uma ideia, e pelos próximos minutos eu pelejei para roubar aquela caneta, tendo aquele mesmo comportamento defensivo dela, mas tudo sem sequer me olhar.

Infelizmente, minha brincadeira começou tarde, e a aula acabou um pouco depois, sem que eu pudesse continuar me divertindo - e sem que as íris dela me mirassem, o que me deixou irritadíssimo.

Eu corri com o Natsu para a mesa da cantina em que a Kinana-san sentou ontem, e nós compramos dez pudins cada um, antes de irmos à mesa próxima à saída para o jardim, onde duas moças nos esperavam.

— Pode começar a se explicar, Gray. — Erza, a minha vizinha de carteira, enunciou antes mesmo de eu terminar de me sentar. Ela vasculhou entre os potinhos que eu segurava até encontrar um contendo pudim de morango. — Obrigada.

— De nada. — Abri o potinho do pudim de chocolate e passei a comê-lo.

— Explique-se. — ela murmurou, expirando em seguida, os olhos revirando com o aroma do morango.

— Foi o Makarov quem mandou eu dividir o livro de Matemática. É que a novata não levou o dela. — falei, mirando o meu pudim, e senti o olhar do Natsu pesando sobre mim. — Ela na verdade perdeu o livro dela.

— Entendo... — outro murmúrio da Erza, um tanto indiferente. — Então em todas as aulas de Matemática vocês vão sentar juntos?

Eu parei o que fazia aquele momento, vagando meus olhos pela mesa em que estávamos, pensando nesse fato novo. Ouvi uma risada do Natsu. Mesmo que deixar a Lockser irritada fosse interessante, não queria dizer que eu gostaria de ficar novamente com ela, naquele silêncio todo, sendo um ser invisível ao lado dela. Suspirei, mandando um olhar breve ao olhos puxados, que me fitava divertido.

— Ela perdeu o livro sabe-se lá onde... — ele ergueu os ombros, sorrindo de canto como se sentisse muito, o que não era verdade. — A Erza deve tá certa.

— Alguém sabe o nome dela? — Lucy se empolgou e se inclinou sobre a mesa.

— Lo... — Natsu franziu o cenho, fitando o teto. — Lock... Como é mesmo, Gray?

— Lockser. — fuzilei-o com os olhos, independentemente de saber que não era por maldade que ele o fazia, só para me mostrar que o que fiz foi errado.

— Você vai criar um triângulo amoroso, Lu-chan? — a voz infantil da Levy entrou nos meus ouvidos, e eu então notei-a atrás de mim, se debruçando por cima do meu ombro e pegando um dos meus potinhos de pudim. — Depois te dou outro, Gray. — ela sentou ao meu lado, já abrindo o potinho.

— Tá. — por garantia eu me apressei a comer, antes que assaltassem mais da minha primeira refeição do dia.

— Acho melhor descobrir primeiro o nome dela... — disse a Lucy, pensativa. — Ou pode serLockserxFullbusterxScarlet.

— Pode ter um threesome, né? — a mocinha ao meu lado perguntou normalmente, e enquanto eu sentia a quentura se espalhar pelas minhas bochechas, Natsu deixava uma risada escapar.

— D- Dá licença, tá? — me levantei, pegando apenas o pudim de leite condensado e saindo dali rapidamente, querendo me isentar da conversa pervertida a quem meu personagem estava metido.

Eu ainda não havia falado com o diretor, pois ele me enxotou para a classe por causa da Lockser e seu livro sumido, então decidi aproveitar o momento e ir ver o que ele queria comigo. Passeei pelos corredores abertos para o jardim e no fim me deparei com a sala dele. Abri a porta sem bater, vendo um encapuzado sentado relaxadamente em uma das poltronas em frente à mesa onde o velhinho sentava, os dois estavam calados.

— Mira... — eu cochichei, olhando ao redor, sem saber se saía de lá ou podia ir me sentar ao lado do sujeito estranho.

— Espere um pouco lá fora... — senti o hálito dela na minha orelha direita e a espiei pelo canto do olho, contemplando seu sorriso meigo.

— Ah, não precisa, Gray! — Makarov berrou e me chamou com um gesto. — O senhor e eu já nos resolvemos, não foi? — ele deu um sorrisinho para o cara à sua frente, que bufou e pegou uma mochila largada ao lado da poltrona onde estava e se levantou, andando rápido e passando por mim tão revoltado que pensei que seria agredido. — Entre logo, Gray.

Apressei-me para uma poltrona — O que você queria falar de manhã?

— Gildarts disse que você foi muito bem nas suas provas de recuperação, ano passado. — comentou pondo um cachimbo na boca depois.

— Eu passei uma semana estudando incessantemente, acho que até perdi peso de tão pouco que eu comi. Minha mãe não ia gostar se eu repetisse igual a Ultear e o Lyon, você sabe. — meus dois irmãos mais velhos já foram reprovados duas vezes.

— Sei... — ele deu risadas fracas. — Sabe esse rapaz que saiu?

Assenti.

— Ele é da sua classe, mas só vai começar a assistir aula a partir de amanhã. — soltou fumaça. — A antiga escola dele não ensinou exatamente o que nós ensinamos aos primeiros anos... Ele não está muito bem inteirado nos assuntos...

— Sim, mas o que você queria falar comigo? — interrompi, um pouco ansioso, esperando uma boa notícia, talvez que as minhas férias tinham sido prolongadas e eu poderia ir para casa naquele instante, dormir.

— Ele precisa de ajuda pra acompanhar o ritmo do segundo ano, e eu estou te encarregando de ajudá-lo com Física e Matemática.

Isso foi o oposto de menos tempo na escola, e não me agradou.

— Mas eu fui o único que ficou de recuperação nessas matérias ano passado! Como é que eu vou ajudar com isso?

E o meu descanso à tarde?

— Sua nota da recuperação foi maior que a dos outros nas outras provas, então...

— Eu colei!

— Você estava sozinho. — suspirou, e eu me encolhi na poltrona, irritado. — Só nos intervalos, Gray. Vocês sentam juntos e estudam, é isso. Quanto mais rápido eles aprenderem, mais rápido você termina.

Analisei a situação por um segundo — Tá... — eu acabaria aceitando de qualquer forma mesmo. — Mas como assim eles?

— Ah, esqueci de te falar! — ele riu. — São os dois novatos da sua classe.

Eu estagnei. Não tive reação alguma durante um longo período, só olhei nos olhos do diretor, em silêncio, enquanto meu cérebro estava num estado de loading demorado acerca da informação recebida.

— O que acontece se eu negar? — questionei apaticamente.

— Você já disse "tá", não pode voltar atrás se for homem! — a Mira disse, me olhando rigorosamente, seu dedo indicador direito erguido perto da minha cara.

Eu não sou homem, apenas um adolescente de dezessete anos.

Mas não refutei. Expirei e assenti, aceitando minha pena por ter passado as férias trancado em um quarto jogando repetidas vezes os mesmos jogos e assistindo séries. Eu saí de lá nos segundos seguintes, quando o sinal do fim do intervalo tocou, e arrastei meus pés de volta ao segundo andar da escola, o andar das classes do segundo ano. Eu caminhei tão lentamente que os corredores já estavam vazios quando cheguei ali. Então fui entrar na minha sala, e foi no exato momento em que alguém saía: esbarramos.

Lockser e seus olhos enormes. Eles finalmente estavam em mim, mas era como se eu fosse um ser horrendo, estavam assustados.

Franzi o cenho, o mal humor começando a aparecer — Dá licença?

Ela não saiu a princípio; antes disso me deu uma última expressão, a mesma de ontem, o jeito frio que eu detestei.

— Megera.


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