Peeta chegou em casa após uma cansativa tarde trancado no escritório de financias do parlamento no centro da cidade. Cavalgou minutos até finalmente chegar em casa carregando uma pilha de livros de contas. Amava números desde que se entendia como ser humano, tivera ótimos tutores quando criança e sabia que seu pai trabalhava com eles. Entretanto, agora em pleno início da vida adulta não conseguia achar tão fascinante quanto antigamente. Quando sua paixão se transforma em obrigação, ela muda diante de seus olhos. Ele pensava que isso se aplicava a matemática, ao trabalho, ao amor. Porém, seu pai confiava em deixar para si o  seu posto quando se fosse, por sua vontade ou não fazia parte da família real e deveria honrar seus compromissos.

Seu Rei confiou em Peeta e em seu pai as finanças de toda Panem, desde dos gastos da nobreza até aos gastos do clero. Odiava pensar em decepcionar o tio, mesmo que o relacionamento de ambos não fossem próximos. Seu pai é filho do falecido rei de Panem em seu segundo casamento, isso fazia Snow seu tio, já que ambos possuiam o mesmo sangue ou meio sangue como dizia seu pai. Peeta estava até mesmo na linha sucessória, assim como seus irmãos.

Enquanto cruzava a porta principal se perguntava o que a esposa teria feito durante o dia. Já era anoitecer, os raios dourados do sol já se foram e o prateado da lua ilumina o céu nesse instante. Ele sentia as costas rígidas e pesadas, mas sentia-se feliz por estar em casa. Era estranho como soava familiar chamar aquele lugar de casa e aquela mulher de esposa.

Katniss havia tomado um espaço em sua vida que não havia sido tão terrível quanto ele imaginou quando soube do casamento. Conviver ao lado de uma estranha tinha se tornado menos doloroso agora que a conhecia como ela mesmo era e não a garota da corte, cuja a família raramente ia aos eventos formais. Lembrou-se de quando soube do acordo que seus pais firmaram, que secretamente confidenciou a Thor sobre seu desgosto com a ideia de tê-la como noiva. A indomável Everdeen, cuja armadura de rebeldia escondia uma doce criatura.

Deixou seus livros no escritório e subiu para o segundo andar. Precisava falar com a dona dos fios ondulados cor de chocolate, perguntar como havia sido seu dia e se ela gostaria de acompanhá-lo no jantar. Parou em frente ao quarto que, supostamente, deveria ser dos dois. Por um instante, um milésimo de segundo, pensou em como seria sua vida de casado, realmente casado, com Katniss Everdeen. Como seria tocar sua pele aveludade e sentir o aroma do seu corpo. Em como seria passar a mão pelas cascatas castanhas de seu cabelo durante a noite e vê-la chamando seu nome enquanto a tomava para si.

— Tolices - mumurrou para si mesmo

Bateu na porta exatas três vezes. Ajeitou a gola da camisa e passou a mão pelos fios loiros, queria estar o menos desajeitado possível. Porém, estranhamente sua resposta foi o silêncio. Olhou para o relógio no final do corredor, os ponteiros marcavam seis e vinte e cinco da noite, muito cedo para a morena está dormindo.

— Rue - gritou pela dama enquanto descia a longa escadaria - Rue

A jovem apareceu caminhando rapidamente e com um semblante preocupado. Por um minuto Mellark pensou que algo de ruim tivesse acontecido com a morena, que tivesse se trancado no quarto como fizera na última vez e que tinha se recusado a comer novamente.

— Aconteceu algo com Katniss? - perguntou assim que tomou coragem

— A senhora teve de ir urgentemente para a residência dos Everdeen, a senhora Mags veio chamá-la. Ao que parece a senhora Everdeen está doente - comentou - Minha senhora estava tão triste.

— Peça a Ryan que arrume Thor para mim - pediu gentilmente

Peeta sabia que por mais discussões Katniss e Clara tivessem pelo gênio astuto da menina ambas eram inseparáveis. Sabia o que a família significava para morena, os Everdeen era o alicerce daquela que havia se tornado mais que sua amiga.

Quando Ryan entregou seu cavalo preferido, Peeta rumou a casa dos Everdeen o mais rápido possível. Foi recebido por uma Mags preocupada que apenas lhe guiou ao andar de cima. A condessa estava deitada na cama enquanto Katniss esperava, sentada, que o médico terminasse de examinar a mãe. Ele lentamente chegou perto da esposa e depositou a mão em seu ombro. Os olhos cinzento encontraram o seu em um misto de preocupação, medo e agradecimento.

— Vossa Graça poderia falar com o senhor?- pergunta o médico

— Venha Katniss, vamos conversar com o médico - chamou lhe estendendo a mão

Katniss segurou a mão do Mellark como se dependesse disso para sobreviver. Foram para o lado de fora do quarto, no longo corredor. O Senhor Franklin retirou os óculos, o colocou rapidamente no bolso do paletó . Seus dedos apertaram mais a maleta onde carregava seus instrumentos e alguns medicamentos. Estava temeroso em falar o diagnóstico, via os olhos esperançosos da marquesa e a preocupação do marquês, acima de tudo entendia que a condessa era mãe da jovem a sua frente e que a notícia tiraria seu chão por alguns dias.

— Quero que entenda que a condessa precisa da família antes de qualquer coisa, estar em um ambiente harmonioso é fundamental em qualquer tratamento - começou um pouco nervoso, mas manteve a voz firme - É um tratamento um pouco complicado, rigoroso, mas que se aplicado corretamente é eficiente.

— O que minha mãe tem doutor? Alguma doença grave - questionou Katniss impaciente. Queria saber o que sua mãe tinha, queria saber o que poderia fazer para ajudá-la.

— A Condessa tem uma espécie de infecção nos pulmões, algo que agravou de um resfriado. Já vi casos parecidos, espalhou-se na Rússia como fumaça no inverno passado - contou - Seus pulmões estão tendo dificuldade em trabalhar, provavelmente estão com algum tipo de secreção, isso é a razão do cansaço constante. A tosse com sangue é um sinal que a doença está se agravando.

— Existe uma cura doutor? - pergunta Peeta

— Algumas ervas que ajudem na infecção. Chás  diários dessas ervas vão ajudar, evitar lugares sujos e empoeirados, comidas leves, repouso. O nome das ervas estão aqui - disse entregando um papel  a Peeta - Faça chás três vezes ao dia, todos os dias até que a tosse melhore.

— É grave?- pergunta Katniss quase em um sussurro

— Sinto muito vossa Graças, tudo depende apenas da vontade do altissímo - responde e foi embora.

Antes sentiu as pernas sederem ao peso inexistente sobre si. Peeta a segurou antes que a mesma vinhesse ao chão e a puxou para um abraço. A jovem apenas queria que isso foi um sonho ruim, que Mags batesse na porta de seu quarto e a acordasse em seguida. Seu pai estava distante e isso também estava a matando por dentro. Não queria perder sua mãe, não queria ficar sozinha sem sua mãe.  Ela voltaria no tempo, iria desfazer todas as brigas, aceitar qualquer coisa para que ela não adoecesse.

O primeiro soluço escapou de seus lábios, logo em seguida outros iriam vir. Peeta sentia seu coração despedaçar ao ouvir o choro da sua esposa. Quem diria que o jogo consolaria a mulher que acreditava odiar. Albert ficava devastado quando chegasse da viragem de negócios, quando soubesse que sua esposa está com uma doença cujo os médicos não possuem propriedade. Uma que atingiu até o Império Russo, com sua medicina evoluida e suas descobertas.

Katniss pensava com que força contaria a Annie e Cato, com que força escreveria para seu irmão e pai. Que força ela teria para tratar sua mãe sem desabafar na frente dela. Katniss se sentia fraca, incapaz de fazer o que a vida exigia que ela fizesse.

Por que o Senhor estaria fazendo isso? Por que mandar uma doença estranha para sua mãe? Por que logo agora que as coisas estavam finalmente melhorando em sua vida?

Era tantas perguntavas que rodava sua cabeça. Era um tornado de sentimentos que inundava sua mente. Apertou-se ainda mais nos braços de Peeta e permitiu compartilhar naquele momento sua fraqueza, seu medo, seu desespero. Partilhou os cacos da sua mente em meio a palavras enroladas aos soluços que saia de sua boca. Peeta apenas ouvia aquele desabafo em silêncio, sentindo o coração murchar a cada soluço que saia da boca de Katniss. Ele deveria proteger aquela pequena mulher dos temores e horrores da vida, poupa-la tristeza e sempre manter o sorriso em seu rosto. Entretanto, nem isso mesmo era capaz de fazer. Restava-lhe apenas consolar a morena, acalmar seu pranto e dar-lhe a força necessária para qualquer coisa que acontecesse nos próximos dias.