Rue caminhou até Katniss, preocupada. Observou que a patroa tinha passado boa parte do dia pensativa, no mundo da lua como sua mãe costumava dizer.

— Katniss, está tudo bem?- perguntou Rue tirando a menina de seus pensamentos.

— Claro Rue, eu só estava pensando na minha família - respondeu olhando para as mãos.

— Sente saudades?- perguntou

— Sim, muita na verdade. Faz algumas semanas que não os vejo e isso está murchando meu coração - comenta sentindo uma lágrima escorrer por seu rosto.

— Por que não pede a Peeta para visita-los? Aposto que o patrão deixaria - sugeriu na tentativa de animar a amiga.

— Falando em Peeta, quero que me diga somente a verdade Rue - pediu - Peeta pediu perdão pelo episódio da cozinha?

— Sim, ele pediu e parecia sincero, Katniss. Vi que embora ele tentasse parecer firme, estava envergonhado...

— Que bom. Eu preciso caminhar um pouco, ar puro, poderia me acompanhar?

— Claro Katniss.

As duas saíram do quarto a caminho dos jardins, que eram extensos e tinham uma grande variedade de flores. Rue comentava sobre as novidades da cidade e ate mesmo sobre sua vida pessoal. Katniss gostava da agitação da menina, a fazia lembrar de quando era menor e brincava com Madge pelos corredores da casa dos pais. Pensando na amiga que a dias não via, Katniss pediu para que mandassem um convite a Madge, para que a mesma viesse passar o dia consigo amanhã. Sua dama de companhia logo atendeu deu pedido, sorrindo feliz pela patroa também sorrir.

No fundo Rue gostava de Peeta, via que o mesmo era um bom homem apesar de toda formalidade e rigidez, torcia também que sua amiga seja feliz e realizada com esse casamento, mesmo sabendo que não era como os outros. Afinal estavam um mês casados e nem sequer encostaram os lábios a não ser no dia do casamento. Greasy comentou a Rue que a patroa era tímida e que esse seja o motivo do casal não demonstrar carinho em público, mas Rue sabia a verdade. Sabia que a amiga ainda não o amava, nem que Peeta a amava também e temia que os mesmos não encontrasse a felicidade na vida a dois.

No lado de fora da casa, enquanto caminhavam Katniss pensava em como ainda queira voltar no tempo. Peeta havia se desculpando, mas ele não mudaria, sempre seria o arrogante orgulhoso que ela desgosta. Ela não o tinha mais visto desde a conversa que os dois tiveram seu quarto, ela nem sequer sabia se ele encontrava-se na residência. Quando estavam caminhando próximas ao pequeno centro de treinamento particular de Peeta, ela conseguiu vê-lo.

Ele estava sem camisa, deixando visível seus músculos que sempre ficavam escondidos pelo tecido. Tinha os ombros largos, braços grandes e abdômen trincado. Lembrava o físico de seu irmão mais velho. Então sentiu que as bochechas estavam quentes, provavelmente estava corada, sua dama havia a pego olhando para o marido de uma maneira diferente do normal. Ela não o olhava com deboche, raiva ou até mesmo ódio, ela o olhava com uma ânsia de proximidade e algo que ela não sabia bem como nomear.

Rue riu quando viu sua amiga corar diante dela, somente porque ela havia a visto olhando para o marido sem ser com raiva ou deboche. Sua risada querendo ou não acabou chamado a atenção de Peeta, que acenou para as duas antes de retornar ao seu treinamento.

— Katniss vai lá – insistiu Rue e ela balançou a cabeça envergonhada, olhando para a grama aparado do chão.

— Não Rue, ele está treinando. Também não motivos para eu ir até ele – negou

— Pois vá avisa-lo que sua amiga, a senhorita Undersse virá para amanhã à convite da senhora.

— Não é uma boa ideia.

— É uma ótima ideia, vá até lá.

— Não Rue, aliás não tenho que avisar nem mesmo pedir permissão para nada. Esta também é minha casa, sendo assim trago quem quiser e na outra que eu desejar.

— És tão teimosa.

— Oh não, não diga isso como ele!

— Tudo bem, deixo seu apelido particular para o patrão, afinal a senhora deixa somente ele usa-lo.

— Rue!

— Está vermelha como um tomate, Katniss.

— Você me deixou desse jeito falando o que não deve.

— Olha, não querendo deixa-la mais corada, mas Peeta esta alguns passos de distância.

— O quê?!

Katniss virou-se rapidamente, essa pequena e rápida ação a fez bater de frente com Peeta. Os dois estavam apenas centímetros de distância, as bocas quase se encontravam e Katniss tinha o busto colado ao dele. Isso fez com que o sangue torna-se cada vez mais visível em suas bochechas.

— Estás corada – falou Peeta um pouco surpreso e admirado.

Ela afastou-se rapidamente e respirou profundamente antes de lhe direcionar o olhar. Ergue o queixo e com as mãos espalhou alguma sujeira que se encontrava no tecido.

Por dentro estava um misto de vergonha e um sentimento não identificado. Novamente desejava proximidade, mas ela não se permitia atender tal desejo. Ele ainda era Peeta Mellark que ela tanto detestava, já que não tem mais certeza se detesta. Mesmo que o pequeno acordo entre os dois estivesse ainda em pé, ela ainda teria um pé atrás em relação a Peeta Mellark.

— Você ainda está vermelha, Katniss – comentou Peeta

— O que há demais nisto? – perguntou. Por incrível que pareça, ela não estava irritada com o comentário, pelo contrário. De certo modo isso a surpreendeu.

— Nada, mas eu gostaria de saber o motivo por qual minha esposa está corada – falou olhando para as duas a sua frente. Rue riu cúmplice para Katniss, que baixo a cabeça envergonhada.

— Não foi nada demais, apenas o susto – falou Katniss

— Jura, eu não acredito. Rue conte-me a verdade, por qual motivo minha esposa está corada?– perguntou ignorando a resposta que Katniss havia dado segundos antes.

Ela olhou para Peeta e para Rue, especialmente Rue, de uma maneira que pedia para que ela não contasse o real motivo. Mas também para Peeta, que diferente das demais vezes, a chamou de esposa duas vezes seguida. Por que o espanto, afinal é exatamente isso que sou, pensou.

— Foi somente o susto mesmo, Senhor Mellark – responder Rue, fazendo Katniss soltar um suspiro aliviado.

— Tudo bem, fingirei que acredito em ambas. Somente espero que não estejam formando um complô contra minha pessoa – diz brincando.

— Isso nunca, senhor – respondeu Rue

— Vocês mulheres já nascem vingativas. Meu pai sempre me dizia para não irritar demais uma mulher, pois ela se vingará. E ele estava certo, afinal hoje quase fui morto com uma flechada na cabeça – contou e riu

— Eu já lhe disse que a culpa foi completamente sua – lembrou Katniss

— E eu estou dizendo de quem foi a culpa querida? – perguntou

— Não me chame de querida, eu tenho nome – disse ja sentindo a irritação crescer.

— Tudo bem querida, não lhe chamarei mais assim – falou deixando claro o querida. Seu objetivo era irrita-la e isso ele consegui em poucos segundos, o que o fez gargalhar em seguida.

...

— Você não irá acreditar quando eu lhe contar quem retornou a cidade nesta manhã – comentou Gale a Primrose, enquanto observavam as rosas.

— Quem?– perguntou curiosa.

— Marie Green, junto de seu marido – contou

— Mas...mas eles não passariam seis anos na província dois? Por que adiantaria o retorno?

— Não faço a mínima ideia. Eu os vi descer da carruagem enquanto fui pegar uma encomenda para mamãe. Acredite ou não, ela ainda não perdeu aquela pose superior.

— Consigo imaginar, pelo pouco que recordo, ela sempre se achava superior aos demais. Algo completamente ridículo na minha opinião.

— Como acha que Peeta lidará com a notícia?

— Sinceramente? Temo que não seja de uma maneira muito boa, afinal você sabe como ele ficou.

— Acha que...

— Iremos esperar que não. Podemos por favor mudar de assunto? Eu preciso de coisas boas, não más.

— Chega de assuntos ruins hoje.

— Gale, por que não chama Madge para dançar no baile da semana que vem? – pergunta Prim, surpreendendo o irmão de tal maneira que o fez parar.

— Eu não tenho certeza de que será uma boa ideia – diz envergonhado

— Por que não? – pergunta

— Acho que ela não aceitaria – confessou

— Pois eu tenho certeza que sim, tente Gale, arrisque-se – disse antes de abrir a porta de sua casa.

— Quero que saibas, que sou uma pessoa que arrisca bastante – afirmou Gale fazendo Prim rir brevemente.

— Sim, arrisca qual cor será o cachecol do dia – brinca

— Está muito engraçadinha para meu gosto, irmã.

— Anos de convivência com uma pessoa como você, querido.

— Desisto!

— Seja discreto sobre o assunto que falávamos antes, será melhor se Peeta não souber.

— Quem deve manter a boca calada é você irmãzinha, tem uma deselegante mania de falar sem pensar.

— Não contaremos nada, então.