Destinos Cruzados escrita por SmileForSpanic


Capítulo 2
Filho de peixe, peixinho é.




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O homem então soltou as mãos e abriu o galpão que fez toda a poeira ali mantida subir pelo ar. Jorge tampou o nariz com o braço e Guille que estava com a boca aberta não conteve sua crise de espirros.

—Façam silêncio. -Disse Marcos.

Guille assentiu esfregando o nariz e ajeitando a postura. Jorge se aproximou de uma mesa gigante e suja que havia no local e colocou as malas. Marcos se aproximou da mesa e assobiou fazendo outros comparsas aparecerem dos fundos do galpão.

—Aqui está tudo o que vocês precisam. -Disse Jorge sério.

—Como o rapaz conseguiu passar com isso pelo aeroporto? -Perguntou Jaques, outro comparsa.

—Tenho minhas técnicas. -Disse ele sorrindo. -Infelizmente o provérbio diz "Filho de peixinho, peixinho é".Alguma coisa aprendi com meu pai.

Os comparsas o elogiaram por conseguir passar com tantas coisas pelo aeroporto. Marcos pegou uma mala escondida por entres as paredes do galpão e entregou firmemente nas mãos de Jorge, que abriu e viu os montes de dinheiro.

—Fique à vontade se quiser contar. -Sugeriu Marcos.

—Eu confio em vocês, assim como vocês confiaram em mim a tarefa de trazer as encomendas. -Respondeu Jorge.

—Bom então agora nós iremos fazer? -Perguntou Guille.

—Vocês podem ficar no sobrado aqui da frente e descansem bastante. Amanhã temos missões a ser cumpridas. -Respondeu Jaques.

—Podemos pelo menos dar uma volta? -Perguntou Jorge.

—Sim, mas continuem com seus disfarces, não podem ser identificados! -Respondeu Marcos.

Os dois se retiraram com a mala de dinheiro e foram até o sobrado. Guille abriu sua mala e retirou alguns pacotes de salgadinhos e começou a comê-los enquanto se acostava na cama.

Jorge foi até a varanda e pegou sua mala, entre suas roupas tirou uma foto sua com uma garota. Sim era ela, sua melhor amiga. O que estaria fazendo agora? Será que seus sonhos se realizaram? Será que já era mãe, estava casada? Eram perguntas que ele gostaria de saber. O sentimento por ela nunca mudava, porém agora longes um do outro tudo era mais difícil de se manter, ainda mais sem contato algum.

—Será que ela se lembra de mim? -Ele se perguntava quando a primeira lágrima caiu ao se lembrar da infância ao lado dela.

 

I wish I found some better sounds no one's ever heard

I wish I had a better voice that sang some better words

I wish I found some chords in an order that is new

I wish I didn't have to rhyme every time I sang

 

Gostaria de achar sons melhores, que ninguém conhece

Gostaria de ter uma voz melhor, de cantar coisas melhores

Gostaria de achar acordes numa ordem nova

Gostaria de não precisar rimar toda vez que canto

 

Ele pegou um pequeno álbum de fotos bem velho, que trazia consigo para todos os lugares. Olhava pras fotos de sua infância. Ela, estava em todas as fotos. Sim, ela o acompanhava em qualquer aventura.

I was told when I get older all my fears would shrink

But now I'm insecure and I care what people think

My name's 'blurryface' and I care what you think

 

Diziam que, quando crescesse, meus medos encolheriam

Mas agora sou inseguro, e ligo para o que pensam

Meu nome é 'Blurryface', e eu ligo para o que você pensa

 

Em meio as fotos apareceu a foto do aniversário dela de 9 anos, um dos últimos momentos dos dois. Aquilo o fez lembrar de quando fora embora.

 

Wish we could turn back time, to the good ol' days

When our momma sang us to sleep

But now we're stressed out

 

Gostaria de poder voltar no tempo, para dias melhores

Quando nossas mães cantavam para a gente dormir

Mas agora estamos estressados

 

—Eu nunca vou te esquecer Gaby. -Disse ele em voz baixa limpando as lágrimas.

México, DF

Gaby estava em sua casa deitada no sofá comendo sorvete. Era um sábado a tarde e como ela não tinha nada pra fazer essa era sua melhor opção. Seu cão Thor, estava deitado estarrecido de tanto correr atrás de uma bolinha. O celular dela vibrou, ela se esticou até alcançá-lo na outra ponta do sofá.

Bernardo H. : Olá Dr. Gabriela, estava pensando se por acaso, não gostaria de sair comigo nesse exato instante. Estou em frente ao seu prédio, esperando caso a resposta seja afirmativa.

Gabriela S. : Seu bobo, já disse que as formalidades ficam apenas no tribunal. Mas como não tenho nada a fazer, eu aceito sair com você se esperar a dama aqui, se arrumar.

Bernardo H. : Espero com todo o prazer.

 

Ela se levantou rindo e bloqueou o celular o jogando em cima do sofá novamente. Ela e Bernardo se conheciam a um certo tempo. Ele era promotor de justiça, e trabalhava justamente nos mesmos dias que ela. Ele era educado, e galanteador além de ter um ótimo senso de humor. Gaby gostava de sair com ele, e foi prontamente se arrumar. Como já havia tomado banho, somente escolheu uma roupa leve e descolada. Ao abrir o guarda-roupas e ir passando cabide por cabide, avistou a foto no fundo dele, a dedicatória com a letra inconfundível. 

"Gaby e Jorge melhores amigos para todo o sempre! 

5 de Agosto de 1982 - Até o Infinito"

As lágrimas vieram à tona. Como ela sentia sua falta, ela pensava em onde ele estaria, como viveria? Seu pai, quem desgraçou sua vida, estaria impune até hoje?

Suas perguntas foram interrompidas com a buzina do carro de Bernardo. Ela terminou de vestir um belo vestido florido, calçou uma sapatilha amarela que combinava e pegou sua bolsinha também amarela entrando em sintonia com todo o look. Gaby se despediu de Thor que continuava morgado no chão, pegou seu celular e trancou a porta. Pegou o elevador junto com seu vizinho da frente que a olhou de cima a baixo e sorrindo elogiou:

—Como eu tenho uma vizinha bonita!

Gaby sorriu e colocou os cabelos atrás da orelha, ao chegar na portaria cumprimentou o porteiro como de costume e saiu. Bernardo abriu a porta do carro pra ela, como um legítimo cavalheiro e os dois seguiram ao destino dele.

 

****

 

—Bom como sei que não liga pra coisas chiques demais, resolvi te trazer nessa sorveteria. Escolhi obviamente o último andar dela para que observemos toda a imensidão dessa cidade. -Disse ele.

—Essa sorveteria é muito bonita, vim na inauguração e achei o máximo ter todos estes andares. -Disse Gaby sorrindo.

—Sabe que fica linda quando sorri.

—Sei, eu sou linda de qualquer jeito. -Respondeu ela rindo.

A garçonete veio trazendo os sundaes dos dois, e Gaby agradeceu. Ele observava sua educação, como ela era culta. Gaby olhava por entre os olhos claros dele e enxergava uma bela mulher nela mesma. Ela havia crescido tanto, e se sentia mais linda do que nunca.

—Que tanto olha em meus olhos? 

—Eles são como espelhos que refletem a alma. -Disse ela sorrindo.

—Ficam ainda mais reluzentes quando refletem algo tão lindo em sua frente. -Respondeu ele segurando em suas mãos.

Gaby sorriu, e já sabia o que viria pela frente. Os dois se ajeitaram e foram chegando perto um do outro até que seus lábios selaram-se. Um beijo calmo e com movimentos leves, no qual Gaby aproveitou o máximo.

—Esperei tanto por esse momento. -Confessou Bernardo sorrindo.

—Você é guerreiro mesmo pra esperar 3 meses, um beijo de uma mulher tão enrolada. -Disse ela sorrindo.

—Eu esperaria até um ano, porque sempre tive a plena certeza que seria o melhor da minha vida.

—Isso tudo é amor platônico? -Perguntou ela travessa.

—O amor dos mais sinceros. Você é muito madura, enxerga a vida de uma bela e simples forma, além de ser muito reponsável.

—É como minha mãe dizia, "Filho de peixe, peixinho é."

A tarde dos dois foi entre brincadeiras e alguns beijos. Gaby estava se divertindo, coisa que não fazia havia tempos. Ela era uma jovem exuberante, mas se dedicava muito a seu trabalho.

 

 

 

México, Guadalajara.

Luna, a esposa de Guille estava em casa lavando as louças do almoço. As crianças assistiam desenhos na televisão e estava tudo calmo, até que a campainha tocou. Ela secou as mãos no pano de prato e foi até a porta atender.

—Olá?

Foi surpreendida por um homem a segurando pelo braço fortemente.

—Está me machucando, quem é você? -Perguntou ela nervosa.

—Seu marido está me devendo uma grana... se não me pagar o que deve, a minha dívida será paga com seu corpo! -Anunciou ele.

Luna estremeceu dos pés a cabeça. Júnior, o filho mais novo do casal foi até a porta e puxou a barra da calça dela, a chamando.

—Mamãe, algum problema? -Perguntou ele.

—Não meu amor, nenhum! -Disse ela limpando as lágrimas.

—Porque chora? 

—Estava cortando as cebolas pro jantar! -Mentiu ela enquanto o homem descia as escadas.

Ela fechou a porta assustada  e trancou as três fechaduras. Colocou Júnior de volta no sofá e voltou a lavar as louças. Teria que ligar para Guille o mais rápido possível antes de algo terrível acontecer.

Ela não aguentava mais essa vida, sempre que algo dava errado em meio as bandidagens, ela era quem pagava o pato. Pegou o celular e discou rapidamente o número de Guille, foi para o banheiro onde as crianças não a escutariam.

—Guille, pelo amor de Deus. Tem um homem vindo aqui semanalmente, dizendo que você o deve e se não pagar a dívida será paga com meu corpo. Eu estou com medo.

—Ele disse o que? -Disse Guille nervoso.

—Isso mesmo que você ouviu! Você tem que dar um jeito, as crianças não podem mais conviver com isso.

—Eu vou arrumar logo o dinheiro eu prometo! -Disse Guille com lágrimas nos olhos.

Ele desligou chorando, não suportava ver as condições em que a mulher ficava por conta de seus vacilos, mas não podia nem sonhar em acabar com tudo aquilo.

Cuba,DF

Jorge estava se arrumando para sair e conhecer o centro da cidade. Queria beber um pouco e ver como era aquele país. Gostava muito dos agitos da noite. Ao entrar no quarto e se deparar com Guille chorando ele se preocupou.

—Que houve cara?

—Os caras a quem estou devendo, estão ameaçando a Luna. Eu não aguento mais isso!

—Calma, quanto você os deve? -Perguntou Jorge.

—Acho que uns dez mil. -Respondeu Guille.

—Como você conseguiu dever tudo isso? -Perguntou Jorge espantado.

—Foi tudo para as crianças, elas estavam sem nada, sem escola, sem brinquedos, sem uma televisão para se distrair dos problemas familiares. Foi tudo investido nelas. -Confessou ele.

—Entendo, e vou tentar te ajudar nessa irmão! -Respondeu Jorge sorrindo. -Agora levanta dessa cama e vamos conhecer Cuba!

Guille se levantou melhor, e foi tomar um banho e se ajeitar. Os dois se arrumaram bem, e saíram. Todas as mulheres que os viam pelo caminho ficavam doidas. Afinal eles eram muito bonitos. Jorge tomou um táxi e pediu que os levasse até uma boate animada, o taxista prontamente atendeu o pedido e os levou até uma chamada CocoLoco. Jorge riu e saiu do táxi, Guille pagou e os dois observaram a fachada do local, era bem iluminada e bonita. Os dois entraram e viram o local por dentro. Era escuro, iluminado somente pelos globos espelhados, luzes neon espalhadas pelos cantos. Haviam muitas mulheres bonitas por lá, as quais Jorge observou muito bem. Os dois foram até o Bar onde pediram duas doses de tequilla para cada um.

—Arriba, abajo al cientro... -Disse Jorge olhando para Guille.

—Y PARA DIENTRO! -Gritou ele completando a frase, e tomando as duas doses em seguida.

Jorge riu, e tomou sua segunda dose. Depois eles foram pro meio da pista dançar e observar as garotas, Guille era fiel a sua esposa mas seguia a regra de que "Olhar não arranca pedaço".

Jorge dançava olhando para as mulheres que sensualizavam para ele abundantemente. Ele observava cada uma atentamente, as feições parecidas o confundia bastante. Logo as três chegaram perto dele e disseram:

—Prazer, Juliana, Mariana e Cristiana. Somos trigêmeas. -Disseram juntas rindo.

—Por isso eu estava tão confuso. -Respondeu Jorge rindo. -Eu pensei que a tequilla já estava fazendo efeito.

Jorge riu e foi pegar mais algumas bebidas, quando observou uns caras os olhando de longe.

Ele pegou seu celular e viu uma mensagem de Marcos.

"Fique de olho se uns caras estiverem te observando, eles são perigosos e podem acabar com nossos planos. Fiquei sabendo neste exato momento sobre a vigilância. Cuidado e preste atenção."

Jorge guardou o celular e puxou Guille dizendo no ouvido dele o que sucedia. Os dois começaram a correr entre as pessoas e os tais caras perceberam e andavam atrás deles sendo atrapalhados por quem dançava. Quando Jorge olhou rapidamente pra trás viu um rosto que conhecia bem, seu coração palpitou mais forte no momento, ele foi atrás.

—Onde vai cara? É PERIGOSO. -Gritou Guille.

Jorge nem deu ouvidos e saiu atrás da mulher.

—Gaby, eu tenho certeza de que é ela.

Ele passava se espremendo entre as pessoas até que agarrou o braço dela, e disse:

—GABY É VOCÊ? 


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