“Não acredito em destino. Não gosto da ideia de não poder controlar minha vida."
— Matrix

***

Katherine teve que admitir: Nikolai Romanov era o único garoto que fazia seu tipo e era alguém muito legal. Alguém que, por exemplo, seus pais aceitariam na boa se ela namorasse.

E o Jake? O loiro está meio longe do seu tipo ideal, além de que a garota o vê como um irmão e isso nunca ia mudar.

E a mesma nem chegou a falar com Nikolai direito, já que a cadeira vazia para o mesmo está do outro lado da sala, e bem na frente de Kidou, o representante de turma da sala, e o menino raramente passa o intervalo com eles, pois o mesmo é um grande amigo de Pavel e bem… Eles são quase inseparáveis.

— Katherine Bell! — disse Morgana batendo palmas em sua frente. — Me escutou ou ainda está vidrada no russo?

Kat olhou Morgana e sorriu, dando um beijo na bochecha da mesma para ver se a garota ia se acalmar com a resposta que estava por vir.Mas não foi preciso dizer nada, já que a morena tinha recebido o recado.

A morena passou as mãos em seus cachos rebeldes e os amarrou em um rabo de cavalo malfeito, olhando Niko conversando com Aoi, Aki, Pavel e Tenma no final do corredor, perto das escadas para o próximo andar do colégio. Kat reparou que Afuro Terumi, o namorado de Morgana, estava chegando por trás da garota para lhe dar um susto. Atrás dele estava Kazemaru, Midorikawa, Nagumo e Suzuno. Provavelmente os dois primeiros vieram ao encontro de Morgie, enquanto Nagumo e Suzuno vieram apenas para acompanhar o mesmo.

— Niko é bonito. — disse Morgie, fazendo o namorado parar no local. A loira não aguentou o riso e começou a rir da posição em que o loiro de cabelos longos parou, fazendo a líder do clube de basquete olhasse para trás e visse o namorado. — O que foi?

— Ele é bonito?

— Sim, e você também é. — disse a morena, fazendo o namorado sair da posição cômica que parou. — Para de ciúmes, ok? Ele é bonito, mas não é você.

O loiro deu um sorriso bobo e beijou o topo da cabeça da garota, dando um abraço por um bom tempo. O de cabelos azuis olhou para o chão por um tempo, e Katherine reparou que ele parecia meio incomodado com algo.

— Bem, mas porque vocês estavam falando do Nikolai? — perguntou Aphodit, abraçado a Morgana.

— É porque a Kat está ficando afim dele. — disse Morgana e Katherine se engasgou com o nada, negando com a cabeça.

— Ele é apenas o meu tipo ideal. — disse a mesma, fazendo Morgana revirar os olhos.

— Então a Morgie é apenas o meu tipo ideal, no caso. — disse o loiro, fazendo Nagumo fazer breve gesto de quem ia vomitar. Afuro, prevendo o que ele fez, se virou e disse: — Fica calado, você não é muito diferente de mim.

— Sério, eu não estou afim dele. — disse Kat percebendo que Nikolai estava a olhando, o que fez a mesma dar um breve aceno.

O moreno sorriu e retribuiu o aceno, que fez Pav olhar para trás e dar um sorriso alegre e acenar também. Nessa virada para trás, o menino quase tropeçou no cadarço desamarrado, o que fez Nikolai dar uma breve segurada no menino e reclamar algo que a mesma não conseguiu escutar. Com o tempo, viu Pav apoiando o pé na perna de Niko, que amarrava com certa força o cadarço, como se não quisesse que soltasse mais.

Após isso, eles se afastaram e subiram as escadas do próximo andar.

— Ih… — disse Midorikawa vendo a cena. — Alguém vai ser trouxa.

— Se já não é… — comentou uma voz masculina e sonolenta atrás deles. Todos pararam e olharam Yuri com a cara de sono de sempre. — Olá.

— Como assim? — perguntou Katherine e Yuri a olhou, cruzando os braços e ajeitando a postura.

— Nikolai gosta do Pavel desde seus catorze anos. — disse o albino. — Mas o Pav não gosta do Nikolai desse modo. E bem, se você gostar dele… Você é tão trouxa quanto ele. Até combina, ambos são um pouco trouxas.

Kat revirou os olhos e deu um puxão de leve na orelha do Morozov, que deu um breve riso e fingiu que doeu. A loira, não satisfeita, subiu em cima das costas do garoto e começou a bater nas costas dele, que a segurava por sua vez.

— Aphodit, o treino já vai começar. — disse Suzuno e o loiro olhou a hora, arregalando os olhos e dando um beijo na namorada, correndo pelo os corredores como louco.  — O que seria dele sem mim?

— Não faria muita diferença — disse Nagumo. — Você é que nem o zero a esquerda na conta: Não serve para nada.

— Você também não faria tanta diferença, Nagumo. — disse Morgana com cara de nojo e a mesma olhou Kazemaru. — Kaze faria, ele é a pessoa mais fofa que existe nesse mundo.

— Todos sabem disso. — disse o de cabelos azuis amarrados em um rabo de cavalo. A morena andou até o mesmo e deu um abraço breve, mas depois o soltou e foi para trás do mesmo, brincar em seu cabelo.

— Ei, a Lorelai sentiria a minha falta.

— Ela ia achar outra pessoa para namorar. Afinal, existem muitos garotos na fila da Lori. — comentou Midorikawa e Nagumo o olhou surpreso.

— Como quem? — perguntou cruzando os braços.

Midorikawa riu da pergunta, mas logo reparou que a pergunta era séria. Katherine olhou Morgana, que fez sinal que o ruivo era muito lerdo. A mesma desceu e olhou Yuri, que foi até Nagumo e disse um breve “É muito lerdo.” e foi embora, indo falar com uma garota que vivia com Mayumi no clube de teatro. Se não estivesse enganada, se chamava Sayori.

— Bem, você sabe… — ele cruzou os braços. — Shirou, Kidou, acho que o Shigeto e talvez até a Hasuike. E você sabe que a Lori é de gostar das duas frutas.

Nagumo pensou um pouco e viu Lorelai saindo da sala com Dimitri e Yasmin ao lado dela, meio que sobrando na conversa enquanto ambos riam de alguma coisa somente deles. O ruivo ficou mais vermelho que seus próprios cabelos e saiu em passos fortes até a mesma, tentando suavizar a cara que dizia na lata que o mesmo estava com ciúmes.

Suzuno olhou a hora e decidiu ir para o clube de música primeiro sem Nagumo, que provavelmente ia esperar Lorelai. Assim que o mesmo virou no corredor, Kat cruzou os braços e olhou o amigo esverdeado.

— Ryuuji Midorikawa…  — disse Kat. — Me chama de trouxa, mas olha só quem realmente é.

O de cabelos verdes cruzou os braços.

— Para início de conversa, eu estou namorando alguém, ok? Meus sentimentos já foram embora.  — disse o mesmo, segurando o sorriso bobo nos lábios ao falar “namorando alguém”. Morgana e Kat arregalaram os olhos como se tivessem visto uma raridade e tocaram nos lábios dele, fazendo Kazemaru cair na risada.

Midorikawa era alguém que não dava muitos sorrisos bobos, apenas sorria em sarcasmo ou algo parecido. Era difícil ver um sorriso verdadeiramente dele. O mesmo parou de sorrir e emburrou o rosto.

— Ok, fala quem é. — disse Kat sorrindo e dando pulinhos, curiosa.

— Não vou dizer quem é.

Kat e Morgana deram pulinhos de animação como duas patricinhas, mas logo pararam ao perceber o que o mesmo falou.

— Como assim não vai? — gritou Morgie. — Nós não contamos para ninguém quando você disse que era bissexual e que gostava da Lorelai, e Nagumo nem sonha com o fato de você ter gostado dele também. — ela comentou baixo para ninguém escutar, apenas os quatro.

Kazemaru deu um riso e mordeu o lábio. Logo Kat percebeu que ele não estava eufórico para saber, então arregalou os olhos.

— Kazemaru sabe.

— Há muito tempo. A fofoca de ele ser bissexual e já ter gostado do casal mais lerdo e cheio de glicose no buraco praticamente ao mesmo tempo é bem ultrapassada. — disse o azulado cruzando os braços.

Midorikawa respirou fundo.

— Não era para ele saber. — ele suspirou. — É que nós decidimos ficar em segredo por um tempo. Ele apenas entrou no meu quarto na hora errada.

— Mas nós sabemos que você namora! Não podemos saber quem é? — perguntou Morgana. —Que loucura.

— É que eu acho que as pessoas não vão aceitar muito bem. — disse Midorikawa.

Katherine pensou um pouco sobre várias possibilidades e se lembrou de Yuri dizendo que tinha um namorado, mas ele não dizia o nome nem para os pais. De acordo com ele, o albino disse que ia revelar no momento certo.

— É o Yuri?

Midorikawa a olhou, negando com a cabeça.

— Não. Vocês sabem que, se eu pudesse namorar um Morozov, eu namoraria a Irene, depois de muito calmante para aturar ela sem querer me suicidar, ou o Ivan. — disse o mesmo. — Pena que nenhum dos dois é possível, talvez seja mais fácil eu namorar o Ivan, que é heterossexual, do que a Irene.

Ele olhou para o lado, depois olhando a hora.

— Eu preciso ir ao clube de música. Não temos nenhuma reunião na hora do recreio, mas eu prometi a uma amiga minha que iria a ajudar a treinar.  — disse o mesmo, começando a andar para longe deles. — Kaze, você não deveria ir ao clube de futebol?

— Eu estou de licença hoje, vou aproveitar e resolver umas coisas na secretaria. — disse sorrindo ao mesmo, que fez sinal que tinha entendido e saiu do local. — Aproveitando que ele vai sair, eu também vou indo.

O mesmo disse, bagunçando o cabelo das duas meninas e indo em direção a escadaria do colégio. Morgana olhou Katherine por um tempo e as duas riram, começando a mexer em seus armários escolares.

Assim que Kat fechou o seu armário, ela deu de cara com Natsumi Raimon, a filha do diretor, que aparentava não estar muito feliz em alguns armários de distância. Morgana fechou o armário e olhou para onde Katherine tinha olhado e deu um suspiro.

Natsumi era amiga de Morgana desde que a mesma se mudou de Joanesburgo, na África do Sul, para Inazuma e se matriculou no colégio. Mas desde o meio do ano passado, a filha do diretor começou a se afastar de Morgana a ponto delas perderem muito o contato. O que era quatro horas falando no telefone depois de chegar em casa do colégio, onde sentavam uma do lado da outra e conversavam bastante, foi para um simples “Olá” ou um aceno quando se cruzam no corredor. Quando tem, se não Morgana acena e Natsumi apenas da um sorriso leve e volta a falar com os outros.

Morgana não sabe o que ela fez para Nat se afastar da mesma, ou se Natsumi se afastou porque quis. A mesma até tentou falar com Natsumi, mas a garota sempre a tratava como se estivesse sendo obrigada a falar com ela. Morgie até tentou perguntar o motivo, mas a Raimon não falou nada.

— Eu vou falar com ela. — disse Morgana. — Me espera um pouco?

— Sim, claro. Afinal, é você que vai me pagar o lanche, esqueceu? — disse. Kat tinha saído tão rápido de casa por conta de Jake que até esqueceu o dinheiro para o seu lanche.

Morgana saiu andando até a direção de Natsumi, se apoiando no armário e começando a falar com ela. Kat abriu a porta do armário apenas para não ficar espionando a conversa descaradamente, então fingiu que começou a mexer em milhares de coisas.

Olhando brevemente, podia ver que as duas estavam até conversando normalmente, por mais que Natsumi parecia estar falando pouco, enquanto Morgana tentava puxar assunto. Uma coisa é certa: Morgana Sivan não sabe puxar assuntos.

Foi então que Natsumi bateu a porta do armário e Kat, por impulso de sua curiosidade, olhou para ambas.

— Porque você está falando comigo? Você me irrita, não reparou nisso? — perguntou Natsumi.

— Natsumi, eu apenas fiquei preo... — Morgana foi interrompida por Natsumi na hora que ela ia terminar a frase.

— Pare de me irritar e volta para a selva, gorila. — disse Natsumi empurrando com um dedo a cabeça de Morgana de leve.

Katherine arregalou os olhos com a fala da mesma e foi até a garota, ficando na frente de Morgana que estava raciocinando o que ela disse provavelmente surpresa com o que a menina falou.

— O que você a chamou? — perguntou Katherine. Natsumi revirou os olhos e começou a passar batom, usando a câmera do celular como espelho.

— Gorila. — disse Natsumi, terminando de passar o batom e abrindo o armário, o guardando.

Antes que Morgana pudesse falar algo após sair do choque, Katherine perdeu a cabeça e ficou com certa fúria enorme em sua mente. E quando todos aqueles que olhavam menos esperavam, Katherine começou a socar Natsumi.

***

“As cicatrizes não têm personalidade. Não são como a pele da gente: não mostram a idade ou alguma doença, a palidez ou o bronzeado. Não têm poros, pelos ou rugas. São uma espécie de fronha, que protege e esconde o que houver por baixo. Por isso as criamos. Porque temos algo a esconder.”
— Garota, Interrompida.

***

Nikolai estava sentado no chão da sala de música ao lado de Pavel, que mexia em seu celular vendo as fotos da Rússia em que ele tinha no celular, de mãos dadas com o mesmo. Afinal, o albino sentia falta da Rússia mesmo que fosse todo final de ano para lá. Para uma pessoa que nasceu e viveu o ano todo naquele país, um simples final de ano é quase nada.

Ele sorriu brevemente olhando Pav vendo as fotos e comentando um pouco de quando elas foram tiradas, vendo o albino prestar uma enorme atenção nele.

— Niko, pode se apresentar agora. — disse Yuri, se sentado numa cadeira que tinha no meio da sala no meio da sala e ninguém sabiam como ela foi parar ali. — Acho que já tem pessoa o suficiente na sala para ver você tocar.

O moreno olhou Pavel, que o entregou o celular e deu dois tapas em suas costas.

— Você vai conseguir. — disse o albino. — Você é bom, já tocou várias vezes para mim.

Nikolai ficou em silêncio por um tempo e sorriu, bagunçando novamente o cabelo do mais novo e soltando a mão dele. Gostava de ficar de mãos dadas com Pav, mesmo que não tivesse sentimento algum além de amizade dentro do Morozov pelo o Niko.

Eles andavam de mãos dadas porque Niko tem pânico de andar em locais cheios e apertados, como multidões. Por isso ele sempre dá a mão a alguém quando passa por esses locais. E quando conheceu Pavel, o garoto não se importou de dar as mãos para ele ou riu. A única coisa que o Morozov fez foi apertar a mão dele levemente e dizer que não se importava, já que gostava de andar de mãos dadas.

E acabou que virou costume eles andarem de mãos dadas, além deles darem as mãos até mesmo quando Niko não pede. Tem vezes que até dão as mãos sem nenhum motivo, como agora. O local não está tão cheio a ponto de Niko entrar em um nervosismo.

Ele gostava de Pavel por isso e por mais milhões de motivos que ia demorar um ano para listar todos. O albino ficou o olhando confuso e Nikolai reparou que estava encarando por muito tempo, o fazendo sair de seus devaneios e sorrir levemente.

Era uma droga gostar de alguém que provavelmente nunca vai retribuir do mesmo modo. Ele sabia que esperar alguém que não o ama retribuir é a coisa mais idiota que alguém pode fazer, mas Niko simplesmente não sabia como parar de gostar do garoto. Admite que estava tentando apenas o ver como amigo, mas depois de um tempo ele era pego novamente pensando no mesmo.

— Ah... Bem, eu vou dar o meu melhor. — disse Niko.

— Você travou por um momento, foi engraçado.

Ele pegou a sua guitarra que estava dentro de sua capa e foi até um banco que tinha no meio da sala, vendo as pessoas o olhando. Ele acenou e começou a retirar a sua guitarra da sua mochila, recebendo ajuda de um garoto ruivo, no qual se lembrava de ter o nome de Nagumo Haruya, o ajudar a arrumar as suas coisas para ir mais rápido. Ele conectou o cabo da guitarra no amplificador e ajeitou as coisas para Nikolai, enquanto o mesmo apenas arrumava o seu baixo.

— Bem... Meu nome é Nikolai Romanov. — disse Niko calmamente.

— Nós sabemos. — disse Midorikawa. — Pavel falou bem de você.

Niko ficou mais vermelho que o cabelo do ruivo que tinha o ajudado, fazendo alguns rirem. Ele olhou Pav, que apenas sorriu e acenou ao mesmo.

— Vou começar, então. — disse Nikolai.

Ele colocou fones de ouvidos e suspirou, esperando o momento certo para começar a tocar.  Fechou os olhos e começou a tocar normalmente, depois olhando para a guitarra e se lembrando de como toca a música, entrando em seu mundo onde apenas era ele e a sua guitarra, colocando a sua alma naquele performance.

Não sabe exatamente a reação das pessoas com o que ele tocava, mas sabia que talvez Irene, que estava sentada no chão e apoiando as costas na parede, estivesse reparado a música na hora. Afinal, quem não repara em uma das músicas da sua banda favorita.

Após terminar, ele retirou os olhos da guitarra e olhou a todos em sua frente. Todos estavam com uma cara de surpresos, enquanto Irene deu apenas um sorriso de canto quase imperceptível, e o mesmo olhou Pavel, que formou um sorriso no rosto e fez sinal que tinha ido muito bem.

— Tomorrow Never Dies, do The GazettE. — disse Irene. — Minha música favorita do álbum Toxic.

— É a minha música favorita do álbum também... — disse Nikolai sorrindo levemente. Por dentro, estava mais que surpreso dele ter algo em comum com a Morozov.

— Até que você não foi tão ruim. — disse Irene e todos da sala ficaram petrificados por um momento. Comparado a tudo que Irei faz, até que Irene não foi tão má.

— Foi bem. — disse Yuri. — Você foi muito bem, como Pavel disse. Parece que ele não estava fazendo propaganda enganosa.

— Bem? Ele foi excelente! Deu até inveja, admito. — disse Nagumo aumentando o tom de voz e uma garota de cabelos negros fez massagem em seu ombro para ele parar de falar tão alto. — Sério mesmo, garoto! Você não pode ser o Uruha ou o Aoi, mas tocou a música perfeitamente.

— Não compara com o Uruha ou o Aoi, Irene vai falar tanto que o garoto vai acabar se sentindo um bosta. — disse Lorelai e a albina confirmou.

— Até porque, é o Aoi e o Uruha. Nunca vão tocar essa música melhor que eles. — disse Nikolai sorrindo.  — Bem, então o resultado sai quando?

— Até o final de semana. — disse Yuri e Nikolai sorriu, tirando a alça da guitarra de si e começando a arrumar as suas coisas.

Pavel se levantou e começou a arrumar as coisas junto com o garoto. Assim que terminou, Nikolai se despediu de todos e olhou Pav, que disse que ia ficar no clube por mais um tempo para resolver outras coisas. Ele se despediu do mesmo com uma afirmação com a cabeça e com um aceno, saindo da sala.

Ele olhou o corredor e viu Sakuma, um colega que fez enquanto estava no banheiro. É uma longa história, mas o menino moreno de cabelos cinza é alguém bem legal de se conversar, mesmo que o tampa olho o incomode um pouco. Dá vontade de perguntar o motivo do tampa olho, mas isso parece ser meio pessoal.

— Arrasou a cara das inimigas? — perguntou Sakuma colocando um dos braços em seu pescoço.

Nikolai afirmou com a cabeça.

— Bem, eles elogiaram bastante e a Irene até disse que não fui tão ruim assim... — ele comentou e Sakuma pareceu bem surpreso.

— Irene Morozova? A naja? — perguntou Sakuma e Niko concordou. — Ela não fala isso nem do irmão dançando, e vamos concordar que o Yuri arrasa.

Niko riu de leve.

— Você não arrasou a cara das inimigas. Você as destruiu mesmo. — disse Sakuma e o moreno riu mais do mesmo.

Eles desceram a escada conversando sobre a apresentação de Nikolai, até que eles veem uma multidão de pessoas em volta de alguma coisa e alguns gritavam algo, mas como era todos juntos, Nikolai não conseguiu entender nada.

— Acho que é briga. Vamos lá. — disse Sakuma e Nikolai travou. — O que foi?

— Eu tenho medo de multidões. Fico sufocado e entro em pânico quando estou dentro de uma, sozinho. — Nikolai disse e Sakuma revirou os olhos, o pegando pelo o braço.

— Vamos.

Sem dizer nada, o garoto começou a andar até a multidão e a abrir passagem, enquanto Nikolai apenas o seguia sendo puxado pelo o de cabelos longos. Assim que chegaram à frente da multidão, eles olharam uma garota de cabelos loiros batendo, ou melhor, nocauteando, a filha do diretor, Natsumi Raimon. Perto delas estava Morgana com um machucado leve no braço direito, uma das primeiras pessoas que falou assim que chegou na Raimon e sem ser apresentado pelo o Pavel. Ela estava tentando segurar a de cabelos loiros, mas isso fazia ela ser a que mais estava machucada, já que estava no meio das duas e empurrando Katherine.

Logo Niko reparou que essa menina de cabelos loiros era Katherine, ou Kat. Ele olhou Sakuma, que deu um grito alto para todos pararem e ambos foram até as duas tentar parar a briga junto a Morgana.

Sakuma segurou os dois braços de Natsumi com força e dizendo para ela parar, enquanto Nikolai se colocou atrás de Kat e a segurou pelo os ombros, encaixando seus braços embaixo de sua axila e a erguendo enquanto a puxava. Morgana o ajudou a puxá-la e, quando a mesma se afastou, ela chutou a perna de Nikolai com força, por mais que o mesmo ignorou a leve dor que estava sentindo.

— Isso mesmo, vai cuidar da sua dona, macaca! — gritou Natsumi. Morgana virou rapidamente e correu na direção de Natsumi, mas na hora que ela ia chegar perto e derrubar Sakuma e começar a bater na garota, um garoto de cabelos azuis saiu do meio da multidão e a segurou com uma grande dificuldade.

Pelo o que Pavel disse após ele dizer sobre Morgana, o que a menina não tem de altura ela tem de força. Mas essa força só era liberada quando ela perdia a cabeça e queria bater em alguém.

Assim que conseguiu a segurar, ele a encostou no armário dos corredores e a olhou nos olhos.

— Se acalma! O que ela mais quer é ver você irritada.

Nikolai, segurando Katherine que aos poucos se acalmava em seus braços, respirou fundo de alívio e ajeitou uma mecha do cabelo da mesma, enquanto a garota ainda olhava Natsumi com ódio.

— Eu quero muito bater nela.

— Mesmo que não a conheça muito bem, eu devo dizer que ela não merece a sua raiva. — disse Niko no ouvido da mesma. — Se acalma.

Ele sentiu Katherine se acalmar com a fala dele, mas não deixou a guarda abaixar. Ela encostou a cabeça em seu ombro e tentando se acalmar, não o olhando no rosto e talvez nem tivesse reparado quem era ele.

— O que está acontecendo aqui? Uma briga? — perguntou o coordenador do colégio. — Os seis para a diretoria, e o resto... Saiam! Se mexam!

Ele engoliu em seco e olhou Kat, que o olhou pela a primeira vez e arregalou os olhos surpresa, mas nada disse. E assim como mandado, os dois foram na direção da diretoria junto aos outros quatro, sendo seguidos pelo o coordenador velho e barrigudo.

***

Os seis entraram na sala normalmente e Katherine percebeu que Nikolai mancava um pouco, mas ficou em silêncio. O coordenador disse que eles estavam brigando no meio do corredor e saiu, dizendo para o diretor fazer as suas punições devidamente corretas.

Assim que o coordenador saiu da sala e fechou a porta atrás de si, Kat sentiu o cheiro de quem ia ter que brigar muito com a sua avó quando chegasse a casa. Ela viu o diretor fazer o gesto para os seis se sentarem em um sofá.

— O que houve? — disse o diretor, pegando uma cadeira e se sentando na frente dos seis.

— Elas começaram a me bater do nada, pai. — disse Natsumi.

— O que? — falou Kat não acreditando como Natsumi estava agindo. — Você a chamou de gorila e depois de macaca!

— E daí? — perguntou Natsumi. — O que tem?   Queria que eu falasse do cabelo afro estranho dela também?

— Ai, eu vou... — disse Kat pegando impulso para se levantar, mas Morgana a puxou para sentar.

— Ok, calma. — disse o diretor. — O que esses três têm a ver com o assunto, só para me situar?

Sakuma, Kazemaru e Nikolai se entreolharam.

— Eles dois me ajudaram a parar a briga delas. — disse Morgana apontando a Sakuma e Nikolai. — E ele me segurou quando eu ia bater na Natsumi. — disse apontando a Kazemaru, que estava do seu lado mexendo no pulso várias vezes. — Eles não estavam envolvidos na confusão.

— Então os três estão liberados. — disse o diretor fazendo sinal para os garotos irem embora. Sakuma se levantou e deu um tapa de leve no ombro de Nikolai, enquanto Kazemaru se levantava após Morgana dar um tapa em suas costas.

Nikolai deu uma última olhada a Kat e a menina deu um breve sorriso a ele, e então o garoto se virou e saiu de sala assim como os outros dois, fechando a porta. O diretor as olhou.

— Então, o que a minha filha fez? — perguntou.

— Chamou a Morgana de macaco e gorila.  Além de agora dizer que o cabelo afro dela é estranho. — disse Kat. — Ela está sendo racista.

— Não estou. — disse Natsumi. — Agora chamar o outro de macaco ou gorila é racismo? E eu acho cabelo dela estranho, não posso?

— Eu não vejo problema dela chamar a Morgana de macaco ou gorila. É idiotice você ter se ofendido, caso se ofendeu. — disse o diretor a Morgana, que engoliu em seco e fechou o punho fortemente. Kat ainda estava raciocinando o que ele disse. — E afinal, o que você tem a ver com a história, Kat? A conversa não era entre Morgana e Natsumi?

— Não posso defendê-la? Ela ficou pasma com o que Natsumi disse, eu apenas tomei uma atitude mais rápido que ela. — disse Katherine.

— Ela é crescida o bastante e sabe se defender sozinha. — disse o diretor. — E além do mais, violência não é a melhor resposta.

Kat mordeu o lábio. Sabia que não era, mas no momento ela tinha perdido o controle de sua calma e fez aquilo.

— Ok, eu errei nessa parte de usar a violência, mas isso não tira o fato dela ter sido racista.

— Uma brincadeira agora é racismo? — perguntou Natsumi, olhando-a como se dissesse “Eu sou a filha do diretor, quem você acha que vai sair como vítima?”. Kat teve que se segurar para não socar a cara da menina naquele momento.

— Eu concordo com ela. Não vejo maldade nela ter chamado de macaco ou gorila. É uma brincadeira. — disse o mesmo cruzando os braços.

— Mas eu vejo! — disse Morgana. — E é claro que não era uma brincadeira, ela sabia muito bem o que estava falando e a intenção dela era realmente me ofender.

— Morgana, você está sendo infantil. Você vai fazer dezesseis em breve, não é mais uma criança de seis anos para vir na diretoria porque o colega a chamou de idiota.  — disse o diretor. —Eu vou encerrar esse assunto por aqui.

O diretor foi até a sua mesa e pegou vários papéis. Naquele momento, Kat perdeu a conta de quantos palavrões passaram em sua mente.

***

— Não acredito que você levou uma suspensão. — disse Morgana. — Você estava me defendendo.

— Deixa para lá. — disse Kat. — Se continuássemos discutindo com ele, não ia dar em nada e seria a mesma situação. Pessoas como ele não são de mudar de opinião.

O resultado foi uma verdadeira droga: Kat levou uma suspensão por uma semana devido a ter criado briga na escola, enquanto Morgana levou uma advertência por estar no meio da briga, além de ter que limpar os quadros depois das aulas por um mês. Enquanto Natsumi absolutamente nada para casa, nem ao menos uma advertência.

A aula já tinha acabado e eles estavam do lado de fora da escola. Yuri estava ao lado delas, bebendo um suco de uva de caixinha enquanto olhava o papel de suspensão da garota.

 — Isso não me surpreende. — disse Yuri. — Vocês se lembram de quando a Hasuike Na namorava a Touch Ai, a “pintora de rodapé” do ano passado?

Kat afirmou com a cabeça.

Hasuike e Touch namoraram por nove meses, até o final do ano quando Touch e a família se mudaram para o outro lado do arquipélago. Aparentemente o namoro à distância não funcionou para as duas, já que Touch se interessou por outra garota, tinha até dormido com ela e decidiu terminar com Hasuike.

Na última vez que falou com a Hasuike sobre esse assunto, ela tinha dito que já tinha chorado demais, comido chocolate demais, visto quase todos os filmes dramáticos que tinha na Netflix e agora já tinha superado, mas pretendia ficar um tempo sendo o único interesse amoroso dela.

— O que têm elas? — perguntou Morgana.

— Elas sempre andavam de mãos dadas pelo os corredores, sem falar que algumas raras vezes elas davam um selinho mais sem graça que protagonista de animes com harém invertido. Acho que a única vez que as vi dando um selinho foi no dia dos namorados e no último dia de aula. — disse Yuri. — Enquanto isso, Endou e Natsumi quase sempre se engoliam nos corredores.

Ele fez uma breve pausa.

— Um dia, adivinha qual casal levou advertência por esse tipo de afeição? Hasuike e Touch. Elas até falaram de Natsumi e Endou, mas o diretor disse que nunca viu ou ouviu reclamações da sua filha beijando o namorado no corredor. Sendo que... Todos aqui já viram que, quando o Endou beijava a Natsumi, ele apertava a bunda dela.

E era verdade. De tanto os veem se beijar, Kat tinha reparado até que a Natsumi sempre inclinava a cabeça para a esquerda e o Endou apertava a bunda dela. Era meio nojento ver eles sempre se pegando daquele modo, mas quando eles terminaram a vida pareceu estranha sem a vontade de vomitar quando os dois se beijavam nos corredores e de modo que todos vissem.

— Ou seja, eu já suspeitava que o resultado fosse assim. — disse Yuri. — Eu acho errado e proponho que peço que alguém venha reclamar. Afinal, Natsumi foi racista e se era uma brincadeira... Foi uma brincadeira bem racista. E ela deveria perceber o que fez caso não tenha reparado o que fez, mas pelo o que me parece ela estava querendo ofender.

Ele bebeu mais um gole.

— Natsumi pode até não ser racista, mas ela tem que perceber que o que ela disse foi racista. — disse Kat.  — Esses tipos de brincadeira machucam mesmo não querendo.

— E eu estou triste. Ela mudou tanto, nem parece àquela garota com quem eu cresci sendo amiga. — disse a pequena garota abaixando a cabeça e desamarrando o cabelo, os ajeitando com a mão.

— Você não está triste porque ela mudou. Está triste por olhar para ela mudada e se lembrar de que tudo que mudou nela era o motivo de você ainda gostar dela. — disse Yuri calmo.

Kat olhou Yuri por um tempo e confirmou com a cabeça, vendo que Morgana fez o mesmo ato depois de um tempo.

— Está filosófico hoje, viu? — disse Morgana. — Namorado lhe surpreendeu hoje?

Yuri revirou os olhos e deu um sorriso suspeito no rosto.

— Sempre. — disse o mesmo, ainda com um sorriso levando o suco até a boca e bebendo.

— Você por acaso está namorando o Midorikawa? — perguntou Kat. Talvez o de cabelos verdes tivesse mentido para elas, e ela sabia que Yuri não era o melhor para ocultar algo quando a pessoa falava algo certo.

Ele era bom em mentiras, mas quando a pessoa dizia algo que era verdade e ele tivesse que fingir que não era, como quando a aniversariante descobre a sua festa surpresa, ele não conseguia.

Yuri fez uma breve cara de nojo.

— Eu namoro uma pessoa e não uma planta ambulante. E honestamente, se fosse o Midorikawa eu já teria falado. — disse Yuri ajeitando a mochila nas costas. Kat e Morgana tiveram que rir. — Midorikawa está namorando a Haruna, eu acho. Bem, foi o que o portal de fofocas chamado Hamano me disse.

Kat e Morgana arregalaram os olhos e repetiram o que o mesmo disse surpresas. Entreolharam-se e caíram na risada, por mais que no fundo a vontade de ambas era de gritar o Midorikawa naquele momento e perguntar os detalhes. Afinal, o que deu na cabeça dele de namorar a irmã mais nova do representante de classe? Era como pedir para morrer.

— Vou fazer um protesto. — disse Morgana. — Você não pode ser punida desse jeito, estava apenas me defendendo.

— Você o que? — disse Kat se metendo na frente de Morgana. — Não, você não vai fazer uma coisa dessas.

— Pode ser que funcione. — disse Yuri a Morgana, que sorriu afirmando. — Estou dentro.

— Não! — disse Katherine. — Eu não quero um protesto, gente. Vamos deixar esse assunto terminar por aqui, ok?

Morgana afirmou, olhando Yuri que fez cara de tanto faz. Ela se virou, olhando em sua volta e vendo que Jake ainda não tinha ido falar com ela. Afinal, onde diabos ele estava?

— Vocês viram Jake?

Yuri a olhou e negou, e Morgana disse que a última vez que o viu no dia foi quando ele foi para a educação física, no qual é mista e junta com o primeiro ano. Ele perguntou muito de Kat e até tentou a ligar, mas o telefone dava como desligado. A loira sussurrou um “Ele não vive sem mim” e pegou o telefone, vendo que a bateria tinha acabado. Assim que olhou para frente, viu Jake da escola ao lado de Pavel.

— Ah sim! — disse Morgana, assim que os viu juntos. — Ele e Pav ficaram no mesmo time na educação física hoje e, além disso, a aula foi livre. Foi lindo ver o Niko e o Jake quase se matando no queimado.

— Ele e Niko? — perguntou Katherine. — Por quê?

— Bem... Nós jogamos aquela versão de quem fosse queimado iria sair do jogo. — disse Morgana olhando os dois. — Eles ficaram por último e começaram a jogar muito sério e com muita força. Não sei se queriam impressionar o Pavel ou algo assim, mas creio que não era apenas vontade de ganhar.

Kat caiu na gargalhada.

— Sério?

— Foi quase uma disputa pelo o Pavel, sério. — disse Morgana. — Quando Pavel abraçou o Nikolai no início da aula, eu só vi o Jake com um olhar como se quisesse matar o Niko. E depois, na hora do aquecimento, o Pavel caiu em cima do Jake após Tenma tropeçar no Hamano, que empurrou ele e o fez cair em cima do Jake.

— Porque essas coisas só acontecem sem a minha presença? Eu teria empurrado mais a cabeça do Pav para rolar beijo logo. — disse a mesma. — Eu adoro o Nikolai, ele é uma boa pessoa, mas... Jake é meu melhor amigo.

Kat olhou Nikolai chegando perto de ambos. Jake olhou Kat como se pedisse para ela salvar o dia, mas a garota não o fez. Viu Pavel sorrindo e acenando a Nikolai, indo o abraçar. Afinal, Pav não perde a oportunidade de um abraço.

— KAT! — gritou Jake, mandando com o olhar para ela vir até eles.

Nikolai a olhou com seus olhos de orbes azuis e sorriu a mesma, soltando Pav. Kat olhou para o lado na intenção de ver Morgana e Yuri, mas viu que os mesmos aproveitaram e saíram correndo da situação. Ela foi andando calmamente até ele, o fuzilando pelo o olhar.

— Oi Kat, como vai? — perguntou Pavel e Katherine sorriu.

— Bem. Meio irritada com a coisa da suspensão, mas bem. — disse Katherine. — Mas não vamos falar disso, pois sei que você vai abrir a boca e falar muito, pois você sempre faz isso. — o menino riu. — O Jake já o chamou para ir ver aquele filme antigo que voltou para o cinema?

Pavel inclinou a cabeça.

— Psicose? — perguntou e ele olhou Jake. — Não, ele não me chamou.

— É que eu estava esperando um momento mais apropriado. — disse o loiro. — É que a Kat não gosta de Psicose e eu estava com vontade de ver, então eu lembrei que você gosta e queria saber se você queria ir.

Kat observou Nikolai sorrindo levemente e se soltando de Pav, mexendo a perna esquerda como se estivesse com dor nela. Era a mesma perna que ele estava mancando hoje de manhã.

— Claro. É o meu filme favorito. — disse o albino sorrindo.

 Ele olhou Dimitri o chamando junto a Irene e a Yasmin, que provavelmente ia pelo o caminho mais longo apenas para ir conversando com o garoto. Do nada os dois ficaram muito amigos e ela não sabia exatamente o motivo.

— Eu preciso ir. — disse Pavel sorrindo e acenando, enquanto corria até eles assim que Dimitri o chamou pela a terceira vez e com a voz de que ia o matar se não fosse. — Eu falo com você depois para marcarmos.

Assim que Pavel foi embora, Jake olhou a garota.

— Vamos? — perguntou. — Aproveitamos e colocamos o papo em dia, precisamos.

Katherine afirmou e eles começaram a andar, acenando para Nikolai que engolia em seco e ligava para alguém. A menina olhou para trás várias vezes enquanto andava ao lado do melhor amigo, e logo olhou para trás.

Ela olhou Nikolai reclamar algo e mexer no celular, ligando para alguém novamente. Ela percebeu um pouco de felicidade misturada com certa raiva no rosto dele, o que a fez parar e voltar para falar com o mesmo, deixando Jake andar.

***

Nikolai olhou a garota voltando para falar com ele e deu um breve sorriso que saiu um tanto forçado. Ele desligou o celular, que tentava ligar para o tio, passou a mão no cabelo e a olhou.

— Oi novamente... — disse Kat sorrindo. — Você está chateado por o Jake sair com o Pav? — perguntou à loira. — Meio que eu sei que você gosta dele, pode se reparar pelo o jeito que você age com o mesmo.

Nikolai a olhou por um tempo. Estava? Sim, óbvio. Mas também estava feliz, porque talvez assim ele pudesse começar a esquecer do menino. E afinal, Jake parecia gostar do Pav do modo mais inocente, além do albino já ter comentado brevemente algumas coisas que deixaram um pouco na cara que o Morozov pudesse sentir a mesma coisa que Jake.

Ao ouvir aquela pergunta, pareceu que ele estava falando com a sua consciência, já que ela se perguntava a mesma coisa. Mas como ele tinha que responder Kat, ele apenas parou de pensar muito e disse, olhando para a mesma.

— Acho que sim, assim como acho que não. — falou o moreno. — Eu acho que quero apenas ver o Pav feliz, e se esse feliz dele não for comigo... Não tem muita coisa que posso fazer. E eu quero apenas que esses sentimentos por ele vão embora. Esperar por alguém que não vai o amar é como esperar um navio em um aeroporto.

Katherine abaixou o olhar.

— Você deveria lutar por ele.  — ela disse o olhando. — Você é mais bonito que o Jake, só para deixar claro.

Niko a olhou com o comentário e a garota tampou a boca na hora, provavelmente se xingando em pensamentos. Ele sorriu com o elogio, mas não comentou nada, pois poderia a constranger.

— É o que todos dizem, mas... Eu já lutei demais por ele. — disse Nikolai. — Sabe já gostou tanto de alguém a ponto de querer trancar no seu quarto, ouvir música triste e chorar?

Ele tinha recitado uma frase de Glee, apenas para ver a reação dela sobre a situação. Talvez, no fundo, aquela pergunta tivesse uma verdade, mas isso não vem ao caso. Ao ver que a mesma parecia meio triste por ele, Niko riu.

— Frase de Glee, não se preocupe. — disse sorrindo. — Bem, mudando de assunto... Acho que você foi muito corajosa hoje.

— E eu acho que machuquei a sua perna. — ela falou fazendo cara de cachorro que destruiu o sapato do dono. 

Mas você machucou, além de ter deixado um hematoma maravilhoso nela. Ele bem poderia dizer isso, mas algo dentro dele sabia que a garota ia sentir mais culpada do que provavelmente estava e isso pareceu importar um pouco dentro dele. Então, Nikolai apenas a olhou e disse:

— Não machucou não. Eu dei um jeito nela hoje de manhã. — disse o mesmo. — Na educação física foi difícil de aturar, mas eu consegui. Era o meu esporte favorito.

Ela suspirou de alívio e sorriu alegremente. O garoto mexeu na alça da capa da guitarra e a segurou com mais força.

— Você não parece uma pessoa esportiva.

— Todos falam isso. — ele disse. E então pode escutar Jake a gritando, o que o fez olhar o loiro com um breve sorriso. — Vou ligar para o meu tio, vai lá com o Jake.

A garota afirmou e sorriu, dando um abraço de leve no mesmo antes de ir. Niko se surpreendeu com o abraço, mas retribuiu e a viu dar as costas e começar a chamar o Jake de “idiota” enquanto ia até ele, que já estava quase na esquina da rua.

Ele sorriu levemente e voltou a procurar o número de seu tio, o ligando. Assim que o mesmo atendeu e ele viu que Katherine não estava mais lá, ele se se encostou à parede e se sentou no chão. Sua perna doía descontroladamente e já estava cansado de fingir e andar como se ela estivesse normal.

— Tio, pode vir me buscar? — perguntou. — Eu machuquei a minha perna hoje de manhã e a forcei para jogar educação física, e agora ela está doendo demais.