Estamos Bem Sem Você escrita por Eponine


Capítulo 5
Capítulo 05




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Ron arrependeu-se de ter citado os acontecidos na Mansão Malfoy em 1996 na frente de seus filhos, que nunca souberam o que tinha acontecido. Infelizmente teve que explicar assim que teve a oportunidade de Hermione estar longe. Hugo parecia estar imersos em imagens construídas por sua mente, mas Rose estava apavorada.

— Mas eles são melhores amigos! – gaguejou ela, confusa. Ron também não fazia ideia de como Hermione conseguia confiar naquele traste, mas teve que manter a compostura.

— Bem, o Malfoy... Não teve... Culpa. – a frase quase não saia. – A família dele era ruim, não ele.

— Ele maltratava a nossa mãe. E você e... Todo mundo. – apontou Hugo.

— Como eu disse, ele foi ensinado a ser daquele jeito. E isso tudo foi há muito tempo, as pessoas mudam. E bem... O Draco nunca foi uma pessoa ruim no fim das contas, tanto que a mãe de vocês o perdoou.

— Mas você não. – afirmou Rose. Ron não respondeu a filha e levantou-se, pronto para preparar o almoço. Após a conversa, as crianças ficaram tão quietas e imersas em pensamento que Ron pensou em dar um obliviate nelas e apagar tudo que explicara. Hermione chegou pouco depois e não estranhou o silêncio, já que Rose a ignorava como sempre e Hugo estava muito ocupado e entretido analisando peças de uma CPU antiga.

A campainha fora tocada e Rose abriu a porta, fechando em seguida.

— Quem era? – indagou Ron, chegando na sala.

— Ninguém. – Rose voltou para o sofá, focando-se na televisão. Hugo tirou seus óculos e soltou sua chave de fenda.

— É James. – disse ele.

— Rose! – estrilou Ron, abrindo a porta para que o garoto entrasse. – Ei! Como vai?

Ron e James se abraçaram, risonhos. Hugo recolocou seus óculos e voltou para as suas pecinhas, tentando não transparecer incomodado. De fato, Ron tinha uma amizade incrível com James, ele admirava o garoto por seu talento em Quadribol. Mas a admiração ia bem além disso, o filho mais velho de Harry era o típico sonho de qualquer pai, exalava testosterona, apaixonado por esportes, filmes de ação e garotas.

A frustração de Ron com Hugo era apaziguada pela existência de James.

O filho infelizmente nasceu com um problema nas pernas e dos cinco aos sete teve que usar um aparelho corretor mecânico que além de fazê-lo andar estranho, o impossibilitava de montar em uma vassoura. Se não fosse o suficiente, Hugo tem astigmatismo alto (Na verdade, eles só descobriram isso quando Hugo fora para Hogwarts, porque ele não sabia que as pessoas conseguiam enxergar de longe, então ele achava normal não ver nada), o que faz ele ter quase três graus de grossura em seus óculos. Ronald desistiu do garoto quando ficou clara a preferência dele por livros e tecnologia em vez de jogos de Quadribol.

 – E ai, quatro olhos? Está fazendo o que? – cumprimentou James, aproximando-se do primo. Hugo levantou o rosto, incomodado com James, não queria ele o zoasse na frente do pai.

— Desm... Desmontando uma CPU.

— Pra que?

— M... M-mudar o disco rígido. – James riu, com as mãos em sua jaqueta.

— Sei lá que porra é essa. – Hugo uniu as sobrancelhas. Como ele não sabia o que era um disco rígido?

— Claro que não, seu cérebro não comporta muita informação. – retrucou Rose, trocando de canal, ignorando o primo.

— Rosie, Rosie, como foi o aniversário do viadinho do Malfoy?

— Pai! – gritou Rose, irritada. – Olha o que ele está falando!

— Parem de brigar. – riu Ronald, fechando a porta.

— Não posso fazer nada se Rosinha me detesta, tio. – brincou James, pulando no sofá. Rose o empurrou, violenta, ameaçando jogar o controle na cara dele. – Calma!

— Sai de perto de mim, caralho!

— Rose! – estrilou Ron. Hermione desceu as escadas, curiosa com a barulheira. Assim que viu James, deu um sorriso, indo até o sobrinho.

— Meu amor! – ela abraçou James, bagunçando seu cabelo. – O que faz aqui?

— Veio perturbar, o que mais ele sabe fazer? – irritou-se Rose, saindo da sala, subindo as escadas bruscamente. James ainda estava rindo quando a prima bateu a porta com brutalidade, quase quebrando a casa.

— Na verdade, eu vim jogar um pouco. – Ron sorriu enormemente, pronto para pegar sua vassoura. Ele amava incondicionalmente as tarde e tardes que perdera jogando Quadribol com James, lhe dando dicas e referências de grandes jogadores da história.

A mulher decidiu ficar na sala, fazendo companhia para seu filho, até Molly chegar e subir para o quarto de Rose. Segundo Hugo, elas se tornaram melhores amigas já que são as únicas da família na Corvinal.

Hermione os observou no jardim, sentindo-se profundamente mal por Hugo olhá-los quando uma gargalhada era muito alta. Sabia que Ron sentia-se decepcionado por Hugo não ser da forma que ele gostaria, mas também sabia que ele era incapaz de trata-lo mal por conta disso. Fechou seu livro e observou o filho remontar a CPU.

— Hugo, você pediu para ir para a Grifinória? – questionou Hermione. O garoto a olhou, assustado, balançando a cabeça negativamente.

— Não! Não, claro que não... Por que?

— Bem, porque assim como Rose, você se adequaria a Corvinal. – ele desviou o olhar, fingindo concentrar-se na pecinha em suas mãos.

— Talvez eu mereça estar na Grifinória, por mais que não pareça.

— Filho, eu não quis dizer isso. – Hermione sentou-se no chão, acariciando a nuca de Hugo. – Corvinal é a casa dos inteligentes, e você é um gênio.

Ele deu um sorrisinho falho.

— Bem, a maioria das pessoas da minha casa são... Idiotas... Como James... Mas você também foi da Grifinória, não? Então está tudo bem.

— Sim, está. – sorriu ela. Ela o ajudou a  terminar a CPU e fechá-la. Hugo tirou os óculos, limpando o suor de seu rosto, aparentemente satisfeito. Hermione não podia mentir, ela tinha sim um favoritismo para com Hugo, afinal, ele nunca a tratou mal, e o fato de ser tão gentil e sensato a encantava. Sabia que ele seria um homem adorável. O garoto olhou a mãe, recolocando seus óculos, ignorando os risos de Ron e James no jardim.

— O chapéu queria me colocar na Lufa Lufa. – confessou ele, baixinho. – Mas eu não podia deixar. Papai ficou triste por Rose ter ido para a Corvinal... Não queria que ele se decepcionasse de novo.

Hermione beijou a bochecha do filho.

— Você é um verdadeiro grifinório. – ela levantou-se rapidamente, para que ele não visse suas lágrimas. Subiu as escadas, indo para o quarto de hospedes e trancando-se. Deitou na cama, chorosa. Não queria que seu filho se sentisse estranho e deslocado como ela se sentia naquela idade. Quis morrer só de pensar no que se passava na cabeça dele por não gostar do que as pessoas esperavam que ele gostasse.

...

— Então eu peguei o livro do Scorpius pra ver se ele realmente... – Molly parou no meio da escada e virou-se para a prima.

— Rosie, será que você não pode esperar lá em cima? – a garota pareceu sentida.

— Ok... – Molly terminou de descer as escadas e Rose a seguiu. – Você está com raiva de mim?

— Não, Rose...

Ron ficou congelado onde estava, com medo de ver mais uma confusão adolescente. Tentou limpar a cozinha o mais rápido que conseguia.

— Você parece brava.

— Eu só quero tomar uma água sem ouvir você falando do seu namorado. – esclareceu Molly, enchendo seu copo de água.

— Uau...

— Porque às vezes as pessoas não querem falar o tempo todo sobre você. – ela tomou sua água em segundos enquanto Ron queria enfiar seu rosto dentro da geladeira. Conhecendo sua filha, aquilo não terminaria ali. Molly foi até a sala, onde Hermione estava vendo TV e sentou-se, enquanto Rose ficou de pé, ainda indignada com a prima. – Sabe, eu estou cansada em vir dormir aqui apenas para ouvir seus monólogos. E nem tem como fugir, porque você faz tudo virar sobre você.

— Eu não falo só sobre mim!

Hermione olhou para os lados, confusa. Deveria sair da sala?

— Fala sim! O tempo inteiro! Tudo é sobre você, sobre seu cabelo, o quanto você odeia James ou qualquer pessoa que não beije seus pés, sobre a perseguição da professora, sobre sua mãe, sobre seu namorado e o fantástico mundo de Rose! – gesticulou Molly, exaltada.

— Nós só falamos sobre os seus problemas! – apontou Rose. – Eu tive que ouvir por meses o quanto você queria ficar com aquele porco do James!

— Rose! – estrilou Molly, constrangida, olhando para Hermione desesperada. A mulher fez menção de se levantar do sofá e ir para seu quarto, mas não conseguia se mover. – Eu não quero falar sobre isso!

— Bem, eu quero!

— Merlin, você é tão egoísta! Eu não aguento mais você ser tão narcisista e auto depreciativa ao mesmo tempo, você faria Freud escrever sete livros em menos de um mês!

— Bem, Scorpius disse que você só quer James porque ele gosta da sua irmã e não de você e você não consegue aceitar perder nada! Ainda mais para uma garota gorda!

— Você fala de mim pra ele? – exclamou Molly, chocada.

— Meninas...? Tudo bem? – indagou Hermione, desconfortável. Ron apareceu no corredor e fez um sinal de ‘shh’ para que ela ficasse quieta.

— Talvez você só esteja com inveja porque eu tenho um namorado e você não, simples assim! – Molly levantou-se do sofá, chocada. – E você está ficando bitolada por conta disso!

— Quem é bitolada é você e desde sempre! Porque você que tinha que lavar suas mãos oito vezes pra pode limpar suas genitais e livrá-las de “germes e bactérias do colégio mais sujo da Inglaterra”

— Eu não ACREDITO que você disse o meu segredo mais humilhante e vergonhoso em voz alta, Molly, você é a pior amiga do mundo!

— Argh! – Molly subiu as escadas quase quebrando os degraus.

— ARGH! – Rose foi atrás dela, também quase quebrando a escada.

Hermione continuou dura no sofá até seu olhar encontrar o de Ron. Antes de começar de rir, ele correu para a varanda, gargalhando. A mulher levantou-se risonha, assustada pelo que tinha acabado de presenciar e o seguiu, fechando a porta de vidro. Ron ainda estava rindo enquanto acendia um cigarro, apoiando-se na base da varanda, observando a rua silenciosa.

— O que foi isso? – riu ela.

— Mais uma briga de nossa filha com qualquer coisa que se mova. – Ron soltou a fumaça pelo ar, rindo.

— Merlin, e pior que Molly não falou nenhuma mentira.

— Não. – concordou Ron, os dois riram, confidentes. – Semana passada, minha unha encravou e ela estava preocupada com as possibilidades dela ter alguma unha encrava por hereditariedade.

Hermione gargalhou, chocada.

— Ela é muito... Auto centrada.— os dois riram.

David Bowie - Letter to Hermione

Ele olhou as marcas de expressão no rosto de sua ex esposa, sorrindo. Seus frios grisalhos lhe dava um charme, mesmo com o destaque no cabelo escuro. Sentiu seu coração amolecer-se e sentiu-se triste em notar que não era a mesma coisa que sentira por ela quando, por exemplo, se mudaram para aquela casa. Não conseguia se imaginar com ela novamente... Mas também não se imaginava com mais ninguém.

Os dois observaram o céu iluminado, ouvindo Rose e Molly se matarem no andar de cima enquanto Hugo aumentava cada vez mais o volume de seu vídeo-game.


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Notas finais do capítulo

Antes do meu PC quebrar, eu tinha uma song fic prontinha baseada nessa música do Bowie ;(

Finalmente abordei mais sobre o Hugo e isso é só o começo porque ele não é o favorito só da Mione não hahah


O que estão achando?

Beijos ;)