O conselheiro amoroso. escrita por Mical


Capítulo 5
4° dia - Sensual. (Parte 1)




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— Aaaaah! — gritei jogando o objeto em minha mão em Oliver.

Eu tinha acabado de sair do banho quando decidi fazer um café. Eu ainda estava secando o cabelo quando entrei na cozinha e encontrei nada mais nada menos que Oliver Queen encostado de forma sensual — que só ele sabe fazer — no balcão. Óbvio que levei um susto.

— Sério, Felicity? Uma toalha? — Oliver debochou segurando com dois dedos a pequena toalha de rosto que joguei nele.

— Sorte sua eu não estar segurando uma faca. — sibilei pegando o objeto. — Como diabos conseguiu entrar na minha casa?

Ele deu um sorriso de canto.

— Até onde eu me lembro, você dormiu no meu carro e eu tive que te carregar até o seu apartamento. —afirmou. — Eu não queria deixar o apartamento destrancado, então é lógico que eu tranquei e levei a chave.

Virei o rosto para que ele não visse a careta que eu fiz. Lembrava com nitidez de seus braços me carregarem como se eu não pesasse nada e me colocarem na cama. Eu poderia muito bem ter levantado e caminhado até meu apartamento, mas os braços de Oliver em torno de mim me davam uma sensação tão boa que eu simplesmente tive de deixar ele realizar esse trabalho.

— Claro... — murmurei procurando o material para fazer o café.

— Não se preocupe com o café da manhã, eu trouxe, como sempre. — ele passou por mim para sair da cozinha. — E eu sei que você estava acordada quando eu te carreguei. — falou num sussurro quase inaudível.

Olhei atordoada para ele.

— O quê?

— Não se preocupe. — Oliver parou no batente da porta para me encarar, dando uma leve piscada. — Eu sei que sou irresistível.

— Cretino...

Oliver apenas ampliou mais ainda seu sorriso com a minha ofensa, me deixando sozinha no cômodo. Desgraçado filho de uma infeliz... Não mandei ele ser descendente de deus grego.

Era sexta feira e consequentemente eu estava com o dia cheio, isso porque eu estava de folga. Mas o bom andamento do leilão de caridade que a Palmer Tech estava promovendo naquele dia dependia quase que totalmente de mim, já que ele dependia de Ray, e Ray dependia de mim. Então eu ainda teria que acertar alguns poucos detalhes, mas graças ao bom Deus eu poderia fazer tudo isso do meu tablet. Oliver tinha programado muitas coisas para esse dia, a única que eu estava consciente era que iríamos procurar um vestido, o resto ele não se deu ao trabalho de me falar. Então é óbvio que eu também levei um susto quando entrei na minha sala e vi uma figura estilo deusa grega sentada no meu sofá.

— Aaaaah! — gritei jogando a minha toalhinha de rosto na mulher a minha frente.

— Qual é o seu problema? — ela perguntou tirando a toalha da cara.

— Eu me pergunto isso todo dia... — Oliver murmurou para si mesmo, concentrado em algo no seu celular.

— Quem é você e o que está fazendo na minha casa? — questionei ignorando a fala dos dois.

A morena bufou, voltando a sua atenção para o telefone celular em suas mãos.

— Helena Bertinelli. — murmurou após alguns segundos. — Sou secretária do Oliver e atual responsável por cuidar do seu cabelo, maquiagem, etc...

A mulher manteve sua atenção no telefone, como se a pergunta que eu tinha feito fosse a mais fútil do mundo. Ela era secretária do Oliver, então espera aí...

— Você é neta daquela velinha sinistra?! — sentei ao lado dela animada. — Meu Deus! A sua avó é um pé no saco. Já sei de quem você herdou a sua falta de educação.

Apesar da minha legítima animação para saber mais daquela família dos infernos, os lábios de Helena formaram uma linha firme como sinal de irritação.

— Permissão para bater nela. — falou ao me fuzilar com os olhos.

Tem mais gente parecida com a Carolina do que eu pensei.

— Negada. — Oliver murmurou ainda com a cara no celular. Espera, ela estava falando sério quando disse que queria me bater?

— Você dava pra ser parente da minha sobrinha. Ela também é do diabo. — arregalei os olhos, as pessoas com certeza nasceram com os parentes errados.

— Oliver... — ela murmurou.

— Apenas ignore. — ele respondeu indiferente.

— Como você consegue aguentar ela? Mal a conheço e ela já está me dando nos nervos.

Oliver deu um suspiro cansado, me olhando de relance por cima do celular.

— Sinceramente... Eu não sei.

Bufei. Eles falam de mim como se eu não estivesse ali...

— Cala a boca, Oliver. Acredite, você é tão irritante quanto eu. — afirmei de modo firme, mas Oliver não esboçou reação alguma. Apenas voltou a encarar a tela do celular.

Cretino mal educado! Ele também poderia ser parente da peste da Carolina ao invés de mim.

— O que tanto vocês olham nesses celulares? — apontei para os aparelhos.

— A curiosa? — Helena palpitou.

Oliver apenas balançou a cabeca fazendo que sim. Pronto, era só o que me faltava... Como se não bastasse a Carolina para fazer da minha vida um inferno e Oliver para debochar da minha cara, agora eu tinha Helena Bertinelli para apoiar o bonitão.

— Estamos tentando escolher a loja ideal para escolher o seu vestido. — Oliver explicou ainda sem olhar para mim. — Nos poupará tempo.

— Já escolhi. — Helena murmurou levantando o telefone para mostrar à Oliver. — Curiosa, tome café de uma vez para que  eu possa dar um jeito nessa sobrancelha e possamos sair. Não temos o dia todo.

— Curiosa é a sua avó, aquela velinha sinistra parente do diabo...

— Felicity... — Oliver repreendeu com o seu habitual olhar aborrecido.

Resolvi ignorá-lo.

— Nada de conselhos amorosos hoje? — questionei mantendo meu olhar nele. Era possível ver pelo canto do olho Helena soltando fogo pelos olhos pelo meu comentário sobre sua avó e seus parentes malignos.

— Sim, hoje principalmente. — respondeu. — Mas vou deixar nosso treinamento para perto do final da tarde, para que os conselhos ainda estejam frescos em sua mente na hora do leilão.

[...]

— Você está de brincadeira, certo? — soltei uma risada forçada.

Eu segurava na mão o cabide com o vestido que Helena tinha acabado de me dar. Longo, vermelho sangue, costas totalmente nuas e uma abertura lateral até a parte superior da coxa. Parecia o tipo de vestido que a minha mãe usaria, ou no mínimo uma prostituta.

— Eu nunca vou usar isso. — afirmei convicta, estendendo o cabide para que ela levasse aquele vestido de volta, ou até tocasse fogo nele.

Estávamos nessa "brincadeira" há umas duas horas. Geralmente os homens reclamam quando uma mulher passa muito tempo para escolher um vestido. Oliver era diferente. Estávamos todo esse tempo procurando um vestido por culpa dele — ênfase: totalmente dele. Eu já tinha perdido a conta de quantos vestidos eu já tinha experimentado de cores e modelos que eu nem sabia que existiam, mas bastava uma breve olhada de Oliver para mim para ele desaprovar os vestidos que, modéstia a parte, tinham ficado perfeitos em mim. Agora Helena Bertinelli estava tentando me convencer a experimentar um vestido de quenga que foi escolhido a dedo pelo bonitão.

— Ah, você vai sim. — ela retrucou. — Esse foi sem dúvida o vestido que Oiver mais gostou, é a nossa melhor chance de vestido perfeito.

— Porque Oliver que tem que escolher o vestido? — questionei. — Eu gostei de todos os outros. Mas só de pensar em vestir esse pedaço de pano, me sinto uma vadia.

Helena fez uma cara aborrecida. Aprendeu com o Queen cretino.

— Quem é o conselheiro amoroso, é você? — cruzou os braços. — Hoje é dia de sensualidade, de fazer o Ray reparar na sua aparência, de fazer ele te levar pra cama, de...

— Desculpa, acho que não entendi direito... — a interrompida inclinando um ouvido na sua direção. — Como assim me levar pra cama?

— Oliver nunca erra. Ele está procurando um vestido que faça o Palmer querer ver o que tem por baixo do vestido. E acredite quando eu digo que Oliver sempre acerta.

Engoli em seco.

— Então eu vou dormir com o Ray hoje?

— Basicamente. — murmurou me empurrando para o provador. — Mas isso só quando você experimentar esse vestido e vermos se ele é o vestido para a batalha.

— Daqui a pouco vocês vão me mandar andar nua. — murmurei chateada.

— Você está resmungando muito para quem tentou seduzir Ray Palmer com uma saia de um palmo de comprimento.

Estagnei no lugar.

— Como você sabe disso?

— Oliver me falou. É óbvio. — voltou a me empurrar. — Agora pare de conversa e entre nesse provador de uma vez!

Parei de tentar argumentar e entrei no maldito provador. Helena tinha acabado de entrar na minha lista de pessoas que não valia a pena discutir, seja qual for o motivo: ela sempre ganharia. É claro que essa era uma das muitas listas que eu quase nunca respeitava.

Eu era formada em T.I no M.I.T, consequentemente meu Q.I tinha três dígitos que diziam que eu era uma pessoa muito inteligente. Mas essa inteligência toda não foi suficiente na hora de colocar aquele vestido. Como é que se colocava essa coisa?

— Helena? — chamei em tom de súplica.

Minha cabeça estava engatada no que eu acho que seria o local de um dos braços, enquanto meu braço esquerdo estava onde, olhando no espelho, deveria ficar a costa e o direito estava por debaixo do pano. Com certeza, esse era o vestido perfeito, anrã! Culpa do Oliver!

— O que é? — perguntou mau humorada.

 — Preciso de ajuda.

— Pra colocar um vestido? Quantos você tem?

Bufei de raiva.

— Isso não é um vestido. É a equação dos números primos. — resmunguei.

— Quê?

— Me ajuda logo com essa porcaria!

Não demorou muito para que Helena entrasse no confortável provador junto comigo. Sério, o provador era confortável mesmo, tinha vários locais para colocar os cabides, um enorme espelho e ainda contava com uma pequena poltrona. Eu poderia morar ali.

Ao me ver, Helena assumiu uma feição de desaprovação.

— Como você conseguiu fazer isso?

É sério, Helena?

— Me ajuda logo! — exclamei.

Com um puxão só, a mulher me ajudou a me livrar do vestido, quem sabe para tentar recolocá-lo.

— Isso é da avó? — debochou.

Olhei na sua direção e ela olhava diretamente para minha calcinha. Tapei a visão dela com as mãos automaticamente.

— Porquê você está se cobrindo? A calçola não mostra nada. — cruzou os braços, sarcástica. — Não estou vendo nem um pingo da sua bunda.

— Cretina... — estreitei os olhos. — Eu vim comprar um vestido, não namorar. Não preciso andar por aí de lingerie.

— Acontece que precisa sim, você vai seduzir Ray Palmer — assumiu uma feição séria. — Oh, será muito excitante quando vocês estiverem no quarto e ele descobrir que a sua calcinha tem mais pano que o seu vestido. — ironizou. — Quando sairmos daqui, irei dizer para Oliver que precisaremos passar na seção de lingerie.

— Espera um pouquinho aí... Oliver vai ter que julgar a lingerie que eu vou usar?

— Sim.

— Nem pensar que eu vou experimentar lingerie na frente do Oliver. — afirmei. Ela era doida, certo?

Helena fraziu o cenho.

— Qual o problema?

Qual o problema? — repeti. — Ele é homem, esse é o problema.

— Ele. É. O. Conselheiro. Amoroso. — fragmentou a frase. — Nem eu sou apta o bastante para dizer o tipo de lingerie que excitaria o Palmer. Apenas Oliver é!

Lembre-se, Felicity: Helena está na lista de pessoas que não vale a pena discutir. Dei-me por vencida e voltei a encarar a minha imagem no espelho. Helena entendeu o recado e começou a ajeitar o vestido para poder colocá-lo em mim. Ficamos um bom tempo nesse silêncio constrangedor até que achei um assunto para conversar no momento que ela passava o vestido pela minha cabeça.

— Você não acha isso estranho? — questionei. — Quer dizer, Oliver entende tanto das mulheres e dos homens, ele é uma pessoa inteligente. Mas a profissão que ele escolheu foi ser um conselheiro amoroso...

— Se quer saber o motivo que levou Oliver a ser um conselheiro, você não vai conseguir de mim. Porque eu não sei. — admitiu.

Lancei uma breve olhada para ela, estava sendo sincera.

— Mas você é a secretária dele. — contestei.

— E foi por isso que eu perguntei a mesma coisa à ele. Mas ele não me respondeu.

— Porque ele não te contaria?

— Não sei... — ela pareceu pensativa. — Ninguém sabe os motivos de Oliver para ter escolhido a profissão que tem. Ele é um homem de águas profundas, difíceis de ser puxadas para fora.

Concordei com a cabeça. Oliver sabia muitas coisas sobre mim e minha vida, mas eu sabia poucas coisas sobre ele. Mesmo assim ele era simplesmente... Fascinante.

O vestido caiu melhor no meu corpo do que os outros. Mas eu não podia deixar de me sentir desconfortável nele. Bastava um leve movimento para que a minha coxa direita ficasse à mostra e a minha costa estava praticamente nua. Eu sentia a todo tempo vontade de me cobrir, não sei se aguentaria aparecer na frente de muitas pessoas usando aquilo.

— Ficou... Uau. — Helena passou os olhos pelo meu corpo, num claro sinal de elogio.

— Vamos mostrar ao Oliver. — pedi já saindo do provador, torcendo para que reprovasse o vestido.

Mas eu esqueci apenas de um detalhe: o universo não gosta de mim.

— É esse. — Oliver afirmou assim que me viu indo em sua direção. — Ficou perfeito. Se o Palmer não ficar apaixonado depois de te ver vestida assim, ele sem duvida é gay.

Revirei os olhos.

— Não gostei muito desse vestido. — esclareci.

— É esse e ponto final. Ou você quer passar mais duas horas escolhendo o vestido perfeito?

Não, obrigada. Oliver é o primeiro da minha lista de pessoas que não vale a pena discutir. Ah, mas aí eu lembrei que eu quase nunca dou importância a essa lista.

— A minha opinião não importa? — cruzei os braços com raiva.

— Não. — falou simplesmente. — Se a sua opinião conquistasse Ray Palmer você não precisaria de mim.

Tive vontade de bater nele, mas haviam muitas testemunhas. A loja inteira parecia interessada na minha pequena e nada discreta discussão com o Oliver, ou talvez estivessem interessadas no escândalo de vestido que eu estava usando. Eu daria a qualquer uma delas se me pedissem. Só que havia um porém (sempre há um porém), Oliver era contra as minhas tentativas de escolher um vestido diferente. Por isso afungentei a ideia e fui trocar de roupa, com a ajuda de Helena. Alguns minutos depois fomos direto para o caixa, e só aí eu lembrei de verificar o preço daquele pedaço de pano.

— Eu não posso pagar isso. — afirmei animada. Bingo! Eu tinha uma desculpa para não usar aquilo.

— Você não vai pagar. Considere um presente meu. — Oliver murmurou pegando o cartão de crédito.

— Como é que é?

— Não seja mesquinha, Felicity. — Helena repreendeu. — Oliver sempre dá um vestido de presente para as suas clientes. Isso me faz lembrar... — olhou para Oliver. — Precisamos encontrar uma lingerie para ela.

— Eu já comprei. — falou indiferente, entregando o cartão para a atendente.

— Como é que é?! — repeti.

— Pode parar com as perguntas repetitivas? — ele falou aborrecido na minha direção. — Tomei a liberdade de te comprar uma lingerie, é óbvio que você não usa roupas íntimas desse século.

Pisquei atônita.

— E como você sabe disso, Sr. Sabe tudo?

Oliver me olhou de cima a baixo, com um sorriso debochado no rosto.

— E você ainda me pergunta? — questionou. — A única vez que você usou uma saia acima do joelho provavelmente foi quando tentou conquistar o Ray com a míni saia. Você nunca usa uma roupa que mostre o que não deveria. Não seria surpresa que suas roupas íntimas seguissem o mesmo tabu.

— Você não pode ter tanta certeza. — agitei as mãos. — Só porque uso roupas comportadas quando estou com você não significa que todas as minhas roupas são assim. Você não pode sair tirando conclusões erradas e me comprando lingeries!

— Uma lingerie. — corrigiu. — E eu vi suas roupas íntimas.

— Como é que é?!

— Droga, Felicity! Pare de fazer essa pergunta. — ordenou. — Você estava dormindo e eu tomei a liberdade de dar uma olhada nas suas coisas, para saber no que eu deveria focar hoje.

— Permissão para fuçar as minhas coisas não estava no contrato. — sibilei entre dentes.

— Não acho que você vá me processar por isso.

Bufei de raiva e desviei os olhos dele, como uma criança malcriada. Minhas bochechas borbulhavam de vergonha só de pensar em Oliver olhando minhas gavetas de calcinhas. Nesse momento que eu queria ter uma coleção das roupas íntimas mais minúsculas possíveis. Espera, não era pra eu sentir vergonha caso ele encontrasse uma coleção de calcinhas fio dental? Eu estava confusa, maldito bonitão que eu não tinha coragem de processar! Como se não bastasse eu querer um buraco para me enterrar, olhei de relance para a atendente e lembrei que ela escutou toda a conversa, a julgar pelo sorrisinho que ela tentava conter.

Desgraçado, amigo da Carolina, madito e cretino Oliver Queen!

Peguei a sacola com o vestido de cima do balcão e andei a passos largos para o carro onde Diggle estava nos esperando, querendo demonstrar raiva com todos osmovimentos. Se eu não me conhecesse, diria que fiquei magoada pelo tom de deboche de Oliver e a humilhação por outras pessoas terem escutado sua pequena fala contra mim. Mas eu me conhecia e eu não estava magoada, eu estava com raiva. Muita raiva. Uma parte da minha mente gritava que eu deveria mostrar a Oliver quem era a "menina antiquada". Mas a outra me lembrava que eu não devo explicações nenhuma ao bonitão, e que não havia nada de errado em me vestir de modo modesto.

Não demorou muito para que Oliver aparecesse acompanhado da sua secretária que compartilha dos mesmos genes gregos. Será que eles eram parentes? Abri a boca para perguntar, mas só seria mais um motivo para Oliver debochar de mim, então resolvi apenas admirar o pequeno chuvisco que preenchia a paisagem de Starling City pela janela do carro, e assim continuei por todo o trajeto até o meu apartamento.

Só Oliver e eu descemos do carro quando chegamos ao nosso destino. Helena viria três horas antes do horário que Ray marcou para me buscar, para arrumar meu cabelo e maquiagem. Por hora, eu tinha em torno de três horas e meia para ensaiar com Oliver, por que a "qualidade do dia" envolve muitas coisas e precisaria de tempo para me ensinar todas elas, de acordo com o próprio.

Joguei minha bolsa em cima do sofá e dei dois passos em direção a cozinha para buscar a cadeira de ensaio, mas Oliver segurou meu braço.

— Hoje a cadeira não será necessária. — falou. — Vamos ensaiar no quarto.

— No... No quarto? — perguntei ligeiramente confusa.

— Vou precisar de você deitada. — explicou indiferente, já seguindo para o meu quarto.

— Como assim deitada?

Oliver me lançou seu olhar aborrecido por cima dos ombros, sem deixar de andar.

— Você verá.

Oliver parecia familiarizado com o meu quarto lilás quando entrou. Não ficou encarando cada canto nem pegando os porta retratos para ver melhor as fotos. É claro, ele já até fuçou suas calcinhas, Felicity!

Ele parou perto da cabeceira de cama e fez sinal para que eu deitasse e, mesmo desconfiada, obedeci prontamente. Oliver analisou meu corpo deitado por alguns segundos antes de falar alguma coisa:

— A qualidade do dia é sensualidade.

— Isso já está óbvio. — comentei.

— Seus comentários sarcásticos não são nada sensuais. — retrucou repreensivo. — Essa é uma das qualidades mais importantes porque, como eu já te disse, os homens são 75% virilha. Então eu preciso que você preste muita atenção.

— Ela é toda sua... — falei lentamente. Arregalei os olhos quando percebi o que ele poderia entender. — A minha atenção. Eu estava falando que a minha atenção é toda sua. Não outra coisa...

— Felicity. — chamou para me interromper. — Essas palavras de duplo sentido são até sensuais, mas você não pode corrigí-las.

Fiz que sim com a cabeça ao mesmo tempo que encarei o teto. "Não me corrigir quando falar palavras de duplo sentido", fiz a nota mental.

— Eu pedi que você fique deitada por que a sensualidade está diretamente relacionada com o sexo. — explicou ao começar a andar em volta da cama. — Seu corpo tem que reagir ao de Ray como se estivessem na cama. Os seus movimentos farão com que o Palmer deseje ter você na cama.

Remexi no colchão, incomodada com aquela conversa. Saber que no final da noite eu estaria num quarto com o Ray me deixava nervosa, afinal, fazia quase dois anos que eu não tinha estado com um homem. E eu e o Ray não tínhamos tido nenhum encontro, certo? Eu tinha aquela regra de não dormir com um homem antes do terceiro encontro, mas eu faria essa exceção para Ray. De qualquer forma, era Oliver que estava mandando, e ele era o conselheiro amoroso.

— Agora feche os olhos. — ordenou. Obedeci prontamente. — Não os abra em hipótese alguma. Quero que use a sua imaginação ao máximo...

Concordei com a cabeça.

— ...Eu vou falar coisas sensuais, e você vai fingir que é a voz de Ray em seu ouvido. — continuou. — Não fale nada, não abra os olhos. Eu vou tocar levemente em você durante o processo, e você vai fingir que é a mão de Ray passeando pelo seu corpo.

Abri um olho para encará-lo.

— Você não vai tocar onde não deve, não é? — perguntei desconfiada.

— É claro que não, Felicity! — exclamou horrorizado. — A excitação não depende dos toques íntimos, pelo contrário, até um leve roçar nos cabelos pode excitar uma pessoa. A vulgaridade usa toques sexuais. A sensualidade é mais que isso, ela desperta paixão, e não apenas desejos. Agora volte a fechar os olhos.

Obedeci ao que ele falou, agora mais tranquila por aquela experiência, posso dizer que até mesmo a voz grave de Oliver mencionando sensualidade me deixava excitada. "É tudo pelo Ray", falei para mim mesma em pensamento. "Mas você não parece mais tão animada em conquistá-lo quanto no início", a outra parte da minha mente comentou.

— Deixe seu corpo reagir automaticamente a medida que a excitação percorre o seu corpo. — Oliver interrompeu meus pensamentos. — Você pode tocar minhas mãos. Não se contenha. Você apenas não pode falar.

— Qual o objetivo de tudo isso? — questionei.

— Seu corpo deve reagir ao de Ray no leilão de hoje. Ele não ficará nem por um segundo alheio aos movimentos sensuais que o seu corpo faz em prol do dele, e vai ficar ansioso para que o leilão acabe para poder te levar para cama, isso se ele não decidir te levar para um local mais reservado e te tomar ali mesmo. — falou como se já tivesse visto essa cena várias vezes. — Esse treinamento é para que você aprenda a fazer esses movimentos. Mas eles precisam ser espontâneos para surtir efeito, e não ensaiados. Por isso vamos fazer isso, para que você aprenda a reagir automaticamente ao corpo dele.

Fiz que sim com a cabeça, afundando ainda mais meu corpo na cama.

— Isso, relaxe. — Oliver incentivou.

Alguns minutos silenciosos se seguiram, mas eu não fiquei incomodada nem constrangida com o silêncio. Minha mente vagava enquanto isso e eu cada vez mais me sentia a vontade. Até que senti a mão forte de Oliver espalhando um rastro de fogo pelo meu braço.

— Sua pele é macia... — ele sussurrou calmamente, quase surpreso. — Tão macia... — seus dedos fizeram o contorno do meu braço, pairando acima de meus dedos. — Eu gosto de tocar você...

Minhas bochechas coraram com a duplicidade de sentido daquelas palavras, mas ao mesmo tempo produziram um arrepio em meu ventre.

— É incrível como você provoca essas sensações em mim. — ele falou com a voz entrecortada. — A única coisa que consigo pensar é qual é a sensação dos seus lábios nos meus...

Meu coração falhou uma batida.

— ...Eu gosto do seu cheiro. — houve uma pausa. — Eu gosto de sentí-lo. — sua respiração bateu contra o meu pescoço, me deixando em alerta.

Automaticamente virei a cabeca para que meu pescoço ficasse exposto à ele. Suas mãos ágeis subiram para o meu cabelo, acariciando de modo leve e respeitoso. Mas minha mente em alerta queria que ele os puxasse com força, e colasse seus lábios nos meus. Como eu havia passado da água pro vinho em tão pouco tempo? Há alguns segundos eu estava totalmente normal.

— Você gosta do meu toque. — ele comentou descendo seus dedos pelo meu pescoço e pelo meio dos meus seios, enrijecendo os bicos.

Eu queria sussurrar que sim, mas já estava totalmente em transe pela sua voz doce soando próximo ao meu ouvido e pelos seus dedos escorregando pelo meu ventre. Sim, eu já estava completamente excitada apenas com algumas palavras de Oliver Queen.

— Eu também gosto do seu toque... — ele falou enquanto afastava seu rosto de mim. Quis reclamar, mas eu não consegui. — Apenas essa saia me impede de realizar o que tenho em mente.

Apertei as coxas, levantando o joelho levemente para conseguir fazer isso, tentando apaziguar a excitação que queimava em meu centro.

— Você quer meu toque, não quer? — sua voz rouca só me fazia levantar meu tronco para apertar ainda mais minhas pernas.

Sim, por favor...

Minhas pernas se afastaram para dar passagem as mãos de Oliver quando ele tocou meu joelho e começou a subir as mão pelo interior da minha coxa, levantando a minha saia. Meu centro latejava de desejo pelo seu toque, eu estava totalmente alheia aos movimentos que meu corpo fazia, eu estava totalmente focada no toque dele na parte superior da minha coxa, em que ele parou antes de chegar ao seu destino.

Minha garganta soltou um gemido involuntário, implorando que ele continuasse o seu trajeto, mas a sua mão continuou parada no mesmo lugar como que me provocando. Afastei ainda mais minhas pernas, eu podia sentir minha calcinha totalmente molhada, ansiosa por aquele toque, mas ele não aconteceu.

— O que você quer, Felicity? — ele perguntou.

Abri minha boca para dizer que o queria, mas ele a tapou com a outra mão.

— Use o seu corpo para me dizer o que quer.

Meu corpo obedeceu instantaneamente a seu pedido. Inclinei meu centro em direção a sua mão, voltei a apertar as pernas apenas para abrí-las novamente, implorando que ele atendesse a meu pedido silencioso e me tocasse. Mas a mão dele ainda continuava firme na parte superior da minha coxa, a poucos centímetros do local que eu queria tanto que os seus dedos estivessem.

— Ainda não sei o que você quer... — ele provocou.

Não aguentei mais a excitação. Minhas mãos foram ao encontro da dele sem a minha permissão, guiando-a a seu destino. Eu agi puramente por instinto, algo que eu nunca havia feito com tanta ânsia antes. Meu lábios deixaram escapar outro gemido quando seus dedos, guiados pelos meus, tocaram o meu centro. Cheguei a acreditar que só com aquele leve toque eu chegaria ao orgasmo, mas eu ainda precisava de um estímulo, mesmo que pouco.

Retirei as minhas mãos, deixando somente às de Oliver ali, que estavam totalmente paradas. Quis olhar para ele e saber o que tinha acontecido, mas sua mãos entrou pela minha calcinha antes que eu tivesse a chance.

Um único movimento. Um de seus dedos andentrou pelos lábios vaginais, acariciando o clitóris, esse único movimento foi o suficiente para fazer meu corpo explodir em um misto de fortes sensações. Eu arfava compulsivamente quando quando afundei ainda mais minha cabeça no travesseiro, tentando me recuperar do orgasmo. Os dedos de Oliver saíram imediatamente de dentro da minha calcinha e ouvi seus passos se afastando de mim.

Abri os olhos a tempo de ver que seu membro ereto estava sugestivo em sua calça de terno. Oliver andou apressado para a porta do banheiro do meu quarto.

— Vou tomar um banho gelado, se não se importa. — murmurou frio antes de fechar a porta atrás de si.

Levei algum tempo para assimilar o que tinha acontecido. Oliver havia me tocado, intimamente, coisa que ele disse que não faria. Mas ele apenas fez isso por que as minhas mãos fizeram ele me tocar. As minhas mãos levaram a de Oliver a minha intimidade. E eu queria mais que tudo aquele toque. Aquele foi o primeiro orgasmo que tive em quase dois anos. Mas, por Deus! Eu fiz o meu conselheiro amoroso me tocar intimamente quando ele só estava me ensinando a ser mais sensual. E eu gostei... eu gostei e faria de novo se tivesse a oportunidade. Virei e enterrei a minha cara no travesseiro, o que eu fiz? Eu nunca mais conseguiria olhar para Oliver na minha vida! Eu tinha um dom de me fazer passar por situações vergonhosas, mas aquilo? Aquilo era o cúmulo, era o pior dia da minha vida.

Passei tanto tempo me martirizando e cogitando a possibilidade de me enforcar com a minha corda de pular ou quem sabe cortar os meus pulsos com a gilete, que nem percebi quando Oliver saiu do banheiro secando seu cabelo com uma toalhinha de rosto, completamente vestido com a mesma roupa. Claro que é com a mesma roupa, Felicity! Acha que ele anda por aí levando mudas de roupas numa sacolinha? Apenas seu terno estava pendurado em um dos ombros, dando a ele um visual mais sensual do que o anterior. Mas porque eu estava reparando nisso? "Será por que os dedos dele estavam brincando no seu centro alguns minutos antes?", minha mente respondeu. Minhas bochechas assumiram o tom vermelho em questão de segundos.

— Pare de agir como se fosse virgem, Felicity. — ouvi Oliver repreender. Levantei meus olhos para os dele. — Qual o problema de eu ter de dado um orgasmo? As coisas não saíram como planejadas, mas aposto que você gostou. — ele deu uma piscadela.

Ele estava fazendo piada da situação? Ele estava totalmente relaxado, como se o que tínhamos acabado de fazer fosse a coisa mais natural do mundo e não houvesse motivos para que eu me sentisse envergonhada.

— Tenho que admitir que você foi a primeira cliente que as coisas saíram um pouco do controle, que se entregou totalmente. — falou ao se aproximar. — Você realmente levou a sério o conselho de imaginar que a minha voz e meu toque eram os do Palmer. — elogiou. — Faça com ele o que fez comigo um dia, se tiver a oportunidade. Foi muito excitante.

Fiquei imóvel como uma pedra. Eu tinha me esquecido totalmente que eu deveria ter imaginado Oliver como se fosse Ray. Eu tinha me entregado, totalmente, mas em nenhum momento eu me entreguei aos toques de Oliver pensando em Ray. Senti minhas bochechas borbulharem ainda mais ao descobrir isso.

Oliver soltou uma risada musical.

— Você fica meiga quando está vermelha. — comentou. — Mas não temos tempo para isso, ainda temos muita coisa pra ensaiar.

Olhei atordoada para ele. Ele iria mesmo agir como se nada tivesse acontecido? Tenho uma pergunta melhor: ele realmente não se importava com o que aconteceu? Era um conceito imoral que eu não compartilhava, de que era melhor satisfazer os desejos sexuais sem ter nenhum sentimento envolvido. Oliver achava que tinha feito isso por mim, que tinha satisfeito os meus desejos apenas por que eu precisava. Mas eu tinha algum sentimento por ele? Era uma resposta que eu não sabia dizer, já que as sensações que eu tinha perto de Oliver não eram as mesmas que eu tinha perto de Ray.

Oliver jogou o terno em cima de uma das cadeiras de meu quarto antes de se voltar para mim.

— Felicity? — chamou.

— Vamos ensaiar. 

Revisamos os truques para parecer mais atraente que Oliver havia me ensinado nos últimos dias. Fora isso, ele me ensinou pelo menos mais cinco truques, como aproveitar o decote do vestido para parecer mais sensual. A todo momento a minha mente voltava para a cena vivenciada na cama, mas Oliver continuava agindo como se tudo estivesse completamente normal, e isso me irritava. Houve pelo menos dez vezes que eu o chamei de cretino e outras dez que eu o acusei de ser parente da Carolina. E ele me devolvia as ofensas com os seus olhares aborrecidos e sua habitual repreensão pela minha língua sem travas.

O tempo passou rápido e eu mal percebi quando já estava quase na hora de Oliver ir embora.

— Um último truque. — Oliver falou, me arrastando para perto da escrivaninha. — Pelo menos uma vez na noite, faça o Palmer ver você encostada em alguma mesa ou balcão. — ele me encostou de costas na escrivaninha. — E apoie seus braços para trás.

— Por que eu tenho que fazer isso?

— Assim ele terá a oportunidade de imaginar levantar você e te sentar no que você estiver encostada. Homens gostam de sexo nessa posição.

As mãos de Oliver pegaram as minhas e colocaram atrás de mim, apoiadas na escrivaninha, com ele queria que eu fizesse. Mas por causa desse movimento eu pude admirar melhor seus olhos azuis, que assumiam gradativamente um tom negro por causa de suas pupilas. Os olhos de Oliver encontraram os meus por alguns segundos.

— Essa posição é sensual. — elogiou sem se afastar. — É excitante, use isso com o Palmer.

— E você está com vontade de me carregar e fazer sexo comigo na posição que você tanto gosta, Oliver? — eu queria soar segura, mas a minha voz rouca não permitiu

— Muita. — ele respondeu no mesmo tom. Pude sentir sua respiração falhar contra o meu rosto.

— Então o que está esperando?

Meu Deus! De onde eu havia tirado toda aquela coragem?

— Não me provoque, Felicity... — Oliver alertou ao encostar seu corpo contra o meu, deixando nossos rostos numa posição nada segura.

— Por que você ainda está se contendo? — não tive forças para falar mais alto que um sussurro.

Os olhos de Oliver olharam fundo nos meus, provocando uma pontada incomum no meu peito, mas era uma sensação que eu gostava. Ele procurava algo em mim, eu não sabia dizer ao certo o que era, talvez sinceridade? Ou dúvida? Eu não sei. Minha mente estava a todo vapor, mesmo estando embriagada pela proximidade dele. Eu procurava, dentre as muitas memórias desses últimos quatro dias, o exato momento que eu havia me apaixonado pelo meu conselheiro amoroso.


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Notas finais do capítulo

O próximo capítulo promete muitas tensões.

Me digam se eu exagerei em alguma parte ou se eu fugi da classificação. Eu não sei exatamente o que é permitido e o que não é em cada classificação. Confesso que o capítulo não saiu como eu planejei, eu fui escrevendo e a escrita foi fluindo, acabou que o capítulo ficou assim. Se não gostarem, por favor avisem para que eu posso reescrever.

Perceberam que a fanfic recebeu mais uma recomendação essa semana? A responsável pelas palavras lindas escritas para "O Conselheiro Amoroso" foi a querida leitora Bella Blake! Muito obrigada querida!

Como eu já tinha avisado: a fanfic terá apenas sete capítulos (contando com o prólogo. Isso significa que faltam apenas dois capítulos para acabar a fanfic (aaaaa).

Algumas leitoras me pediram um P.O.V do Oliver, então surpresa! Semana que vem teremos um trecho do capítulo narrado pelo nosso conselheiro bonitão. Saberemos um pouco sobre o que ele pensa desses últimos acontecimentos.

Eu quero aproveitar a oportunidade para agradecer os favoritos e os comentários do capítulo passado. Eu recebi muitos comentários lindos e divertidos que eu amo ler e responder a cada um. Vocês são as melhores leitoras que uma autora pode ter!



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