Twin Beach escrita por Metal_Will


Capítulo 5
Capítulo 05




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Capítulo 05 - Tatuagem

     Thiago ouvia atentamente o sujeito que lhe chamou a atenção. Então realmente tem como diferenciar as gêmeas? Não importa o quanto se olhava elas eram idênticas! De qualquer modo, ele estava curioso para saber.


     - Na verdade... - diz o cara - É só olhar num local estratégico


     - Que lugar? 


      - Na...tatuagem


    Tatuagem? Thiago observa as duas irmãs ali, trabalhando, mas por mais que olhasse não conseguia enxergar tatuagem nenhuma.


     - Que tatuagem?


     - Ali! Você nunca reparou que a Mariana tem um tribal tatuado...err...na parte de trás da cintura?


     Thiago ainda não tinha reparado, mas quando ela vira de costas realmente. Era um símbolo tribal pequeno, mas dava para ver. O rapaz se aproxima mais, mais, mais. Só que acaba se aproximando demais


     - Hmm? - repara Mariana, se sentindo incomodada com alguma coisa - Ei! O que você tá fazendo? - diz ela, já nervosa


     - Hã? Não! Nada! Eu..eu...só queria ver mais de perto


     - Ora, seu! - diz ela, já enchendo o pobre Thiago de tapas - E ainda admite que quer ficar secando minha bunda mais de perto! Seu tarado!


     - Sua bunda? Não, não...eu queria ver...sua tatuagem e... 


      - Minha tatuagem?


     Ela se acalma um pouco e acaba engolindo a justificativa dele. Que mal teria em mostrar a tatuagem, não é?


     - Ah, essa tatuagem? - diz ela, se virando - Eu fiz há algum tempo atrás. Foi só de brincadeira


     - Ah, dá para ver - diz Thiago, aproveitando para dar uma espiadinha mais para baixo

     - Chega! Já viu demais! Vai atendar as mesas, vai

     - T-Tudo bem...não quis incomodar

     - Sei...mas para que tanta insistência só para ver uma tatuagenzinha? Você nunca tinha reparado?   

      - Não tinha. É que me falaram que esse é o jeito de diferenciar você da sua irmã

     - É? Quem te disse isso?

     - Foi aquele cliente - diz Thiago, olhando para a mesa do tal cara, que estava rindo e se divertindo com outros amigos

     - Ah! Aqule cara

     - Você conhece?

     - Júlio Lopes. É um playboyzinho. Não faz nada da vida além de vir para a praia e ficar cantando todas as meninas que passam por aqui.

     - Ah

     - Duvida? Dá uma olhada agora

     Renata estava passando por aquela mesa, naquele instante. Oportunidade perfeita para o tal Júlio.

     - Renatinha...há quanto tempo!

     - Oi. Tudo bem? - ela responde de forma educada. Embora soubesse da fama do mulherengo, ela conseguia manter um diálogo com ele de forma calma e paciente.
     - E aí? Quando você tira uma folguinha para a gente dar umas voltas por aí? - diz ele em um tom conquistador.

     - Quem sabe algum dia, né? Agora dá licença que eu preciso trabalhar, tá bom? - diz ela sorridente e gentil.   

      Os amigos só dão risada. Júlio também ri e já tenta uma investida em outra menina que acabara de chegar e procurava uma mesa. Renata passa por perto de Mariana e Thiago com um sorriso.

     - É...bem direto esse cara, não é?

     - Do tipo de pessoa que não faz a menor questão de esconder o quanto é galinha. Esse aí troca de mulher como quem troca de camisa. Cada semana tá com uma diferente e ainda é capaz de dar em cima das outras mesmo com uma do lado.

     - Wow...uma por semana? Que inveja e eu aqui totalmente encalhado

     Mariana dá mais um tapa no braço de Thiago. Dessa vez doeu bem.

     - O que eu fiz?

     - Nasceu homem. Só isso já é ruim o suficiente!

     - Ah, qual é? Eu só queria fazer sucesso como ele faz

     - Ai, seu tonto! - reclama Mariana, que sai dali para recolher alguns pratos deixados em outra mesa. Thiago pega o pedido de outra mesa, mas continua ouvindo o que Mari contava.

     - Para vocês homens, mulher não passam de brinquedo para colecionador, não é? - diz ela, enquanto servia a mesa, alternando entre um sorriso para os clientes e uma face rígida para dar sermão - Vocês só param quando se apaixonam de verdade. Daí só falta vocês virarem escravos da gente

     - Ei, calma. Você não deve ser uma pessoa muito fácil de conquistar, não é?

     - Claro que não. Quer dizer... - ela continuava falando, enquanto anotava outro pedido e levava para o tio - Na verdade, agora eu ainda estou mais esperta do que antes. Eu já tive uns três namorados, mas todos eram babacas demais. Quando eu achava que tinha encontrado um interessante, era só conviver por uns três meses que já começava a desmoronar todos os meus sonhos. Tô bem melhor agora se você quer saber

     - Você deve ser exigente demais - diz Thiago - Aliás, a maioria das mulheres é exigente demais

     - Claro que não! - diz a garota, já nervosa - Eu, por exemplo, só quero alguém interessante, que não seja um crianção! Alguém que saiba conversar sobre outras coisas além de futebol, carro e cerveja! Mas tá difícil, viu?

     Thiago fica mais algum tempo ouvindo os desabafos da garota. De fato, ela era uma moça bem esforçada e trabalhadora. Não bastasse isso, era uma primeira colocada no vestibular. Devia ser alguém difícil de conquistar mesmo. Não que Thiago estivesse apaixonado, mas passou a admirar Mariana cada vez mais. Depois do almoço, o movimento diminui um pouco, mas ainda tinha bastante coisa para limpar e arrumar. Agora, Thiago estava trabalhando mais perto de Renata, que esfregava as mesas com um pano úmido, enquanto cantarolava.

      - Renata. Precisa de ajuda? - pergunta Thiago

      - Não, não. Obrigada

      - Hmm

      Ele observa a garota, trabalhando e limpando tudo com boa vontade. Ela parecia ser mais tranquila e despreocupada do que a irmã. Embora fosse possível distinguir as duas pela tatuagem, um pouco de observação no gesto e no semblante das duas também permitia diferenciá-las.

      - E aí, Thiago? Está gostando do quiosque? - pergunta Renata, ao perceber o garoto ali por perto.

      - Sim, sim. Achei que fosse demorar mais para me acostumar

      - Imagina. Você é bem inteligente. Consegue pegar fácil as coisas

      - Obrigado

      Fica um breve silêncio entre os dois. Até Thiago retomar o diálogo  

       - Faz muito tempo que vocês trabalham aqui?

      - Desde dos catorze anos, mais ou menos. A gente nunca gostou de ficar pedindo dinheiro para nossos pais.

      - Entendo. Vocês parecem ser bem independentes mesmo

      - Hahhahua. Mas acho que a Mari é mais independente do que eu

      - Por que?

      - Ela tem bastante visão de futuro. Ela quer se formar engenheira, fazer pós e crescer bastante. É bem mais esforçada do que eu   

       - E você?

      - Bem, ainda não sei o que quero da vida. Terminei o Ensino Médio e sequer decidi o que fazer. Por enquanto só estou trabalhando aqui no quiosque, ajudando na pensão e deixando a vida me levar

      A garota fala isso de forma extremamente tranquila. Era como se ela ignorasse qualquer tipo de problema e dificuldade. Era mesmo muito mais sossegada que a irmã

      - Talvez você devesse fazer algo voltado à Administração
   
      - Talvez...mas não tenho muita paciência para estudar

      - Sério?

      - Se bem que minhas notas nunca eram lá muito diferentes da minha irmã. Mas ela estudava mais para aprender, eu simplesmente fazia as lições e provas.

      Ela fala isso de um jeito ainda mais tranquilo. Se a irmã dela foi a primeira colocada no vestibular e as notas de Renata eram parecidas, era sinal de que Renata era tão inteligente quanto à irmã. A humildade dela era indescritível.

      - Bem - ela continua - Talvez eu me enquadre mais como dona de casa, né?

      - Está pensando em se casar?

      - Quem sabe...se aparecer alguém

      Thiago começa a ficar mais corado. Normalmente essas conversas sempre dão boas oportunidades. Ele começa a imaginar como seria a vida de casado...Renata seria uma linda esposa, sempre com um sorriso no rosto, fazendo uma boa comida, deixando a casa limpinha. Talvez com filhos...e a parte de fazer os filhos também não seria nada mal

       - Você tá bem, Thiago? - ela pergunta

       - Hã? Ah, sim...claro, claro - ele acorda, vermelho - Estava ouvindo

       - Ficou meio corado...é o calor?

       - Mais ou menos.

       - Então. Talvez eu consiga alguém para me casar - ela continua - Mas por alguma razão meus namorados sempre terminavam comigo

       - Você...já teve muitos?

       - Mais ou menos uns quatro

       Thiago fica espantado. Imaginava que Renata fosse mais tímida que a irmã, mas já parecia ser bem experiente.

       - Wow! Quatro? 
 
        - Calma, calma...eu não sou dessas garotas que saem com todo mundo. É que os primeiros foram desistindo, mas a fila anda, né?

       "Queria tanto entrar nessa fila", pensa Thiago tristemente.

       - Sei lá. Eles sempre desistiam dizendo a mesma coisa. Que não se sentiam bons o bastante para ficar comigo

       - Hã? Como assim?

       - Eu também não entendia. Eu sempre agi tão gentilmente, com cuidado, cozinhava, até ajudava as mães deles com o lanche e para lavar roupa. Nunca entendi.

        "Será que começaram a te enxergar mais como mãe do que como namorada? Estranho isso", pensa Thiago

       - Sem contar que... - ela continua - ...Ah, deixa pra lá

       - Não, pode contar. Se você quiser..

       - Não é que...bem... - ela fica vermelha - Eles também diziam que se sentiam meio esquisitos quando a gente dormia junto

       Thiago arregala os olhos. E também acabara de ser atingido pela flecha "Eu sou virgem!". Por que ele teve que perguntar isso? Podia ir dormir naquela noite sem essa.

        - É que... - ela continuava vermelha - ...Quando a gente mora longe dos pais esse tipo de coisa acaba acontecendo...mas a gente sempre se prevenia! - ela diz, de forma bem fofa.   

         - Ah, sim....entendo   

         - Imagino. Você deve ter mais experiência com essas coisas, né?

        - Hã? Eu? - diz Thiago, já com o rosto corado - Bem, eu...na verdade...

        - Ops...desculpe - ela interrompe, já concluindo a verdade - Você ainda é virgem, né?

        - Bem...sim - ele responde, timidamente.

        - Oooooh! Você está se guardando para alguém especial! Que fofo! - ela diz, com voz meiga e singela - É que para mim essas coisas são tão naturais que, se previnindo e tendo consciência, é só curtir

        "Acontece que eu não estou me guardando...", pensa Thiago, quase chorando de revolta.

        - Mas cada um é cada um. Nem esquenta com isso. A Mari também é virgem

        Isso chama a atenção de Thiago. Era muito estranho que a irmã mais meiguinha fosse tão mais experiente do que a mais nervosa. Como isso era possível? Eram coisas bem contraditórias.

        Nisso, Mariana chega no local, mas os dois já haviam parado de conversar

        - E aí, gente? Qual é o assunto?  

        - N-Nada - responde Thiago. "Mas as duas são muito parecidas mesmo...o detalhe é na tatuagem", ele pensa enquanto repara na parte de trás da cintura de Renata. É. Ela não tinha uma tatuagem lá. Só que Thiago não tem muito tempo de ficar olhando até levar um outro tapão no braço.

        - Você não tem vergonha de ficar olhando assim? - bronqueia Mariana, achando de novo que ele estava era secando a bunda da irmãzinha.

        - O que foi agora? Eu só queria... - ele dá uma pause e depois continua em voz baixa - Ver se realmente ela não tem uma tatuagem na cintura

        - Sei. Tô de olho em você

        Mariana era mesmo desconfiada. Devia aprender a relaxar mais com a irmã. Apesar de tudo, o primeiro dia de trabalho de Thiago correu bem. No fim da tarde, tio Natan e as meninas fecham o caixa e cada um recebe sua diária.

        - Obrigada, tio - agradecem as meninas, já trocadas de roupa.

        - De nada - ele diz - E você trabalhou muito bem, Thiago. Aproveite para trabalhar bem de manhã, porque quando as aulas começarem você e a Mariana só poderão vir aqui à tarde

        - É verdade. Semana que vem já começam as aulas

        - Mas isso quer dizer que vocês pegam meu turno nos fins de semana - completa Renata

        - Uhum. Eu sei. Mas nós damos um jeito - responde Thiago, de bom humor

        - Bem. É isso. Valeu pelo trabalho e até mais

        - O senhor não vai para casa?

        Natan pensa um pouco na bagunça do seu apartamento e responde:

        - Acho que hoje vou dormir aqui...só para variar. Hehe. Até mais

        "Preguiça de arrumar a casa. Sabia", pensa Mariana.

        - Ah, sim, tomem cuidado para voltar. Thiago..

        - Não se preocupe, seu Natan. Eu protejo as meninas. Hehehe!

        - Não. Na verdade, eu ia pedir para você, em especial, tomar cuidado e qualquer coisa podia contar com as meninas que elas te protegem. Mas, enfim, boa noite

       - Boa noite - responde Thiago, meio sem graça com o último comentário, mas, apesar de tudo, gostou do seu primeiro dia. Agora ele estava ali, só com as gêmeas, já era uma boa hora para fazer uma média com elas, não?

       - E agora? O que a gente faz? - pergunta Thiago - A gente podia aproveitar o happy hour e sair para algum lugar e..  
    
       - Nem pensar - já responde Mariana - Tô morta! Só quero ir para casa, tomar banho e dormir!

       - Também estou cansada. Mas quarta-feira o quiosque não abre. Poderíamos ir nadar na praia, que tal?

       - É. Acho que seria legal
  
        "Nadar?", pensa Thiago, "Então eu vou poder ver as duas só de biquini...ai, Senhor...isso vai ser maravilhoso. Só de imaginar"

       - Thiago? Vai ficar parado aí? - grita uma das garotas, já a uns bons metros de distância.

       - Ops. Ah, já tô indo, já tô indo... - ele grita de volta. "Quarta-feira...mal posso esperar!", ele pensa.


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