Twin Beach escrita por Metal_Will
Capítulo 124 - Problemas da carne
Thiago saiu calmo e tranquilo de sua última aula. Hora de correr para a próxima tarefa do dia: a cantina do tio Natan no hotel Himura. Embora sua superior ainda fosse uma pessoa que queria matá-lo, seu salário não ser muito alto, seu tempo para estudar as matérias da faculdade que ficavam mais difíceis a cada ano era cada vez mais escasso, bem, ele ainda mantinha o bom humor. Enquanto caminhava para a saída do prédio principal, alguém vem por trás e o abraça.
- Thiago! E aí? - disse a vozinha doce de Talita.
- Ah, você! - gritou ele assustado - Nem te vi.
- Estava caminhando e assobiando tão distraído que nem me viu, né? - falou a garota - E aí? Quer almoçar?
- Vou almoçar no trabalho - respondeu ele - E eu já tô atrasado.
- Ah, tá - disse Talita, um pouco desapontada - E cadê sua namorada? Ela te deixa andando sozinho por aí assim?
- Normalmente ela também vai para o trabalho depois da aula. A menina é esforçada pra caramba.
- Hmm. Entendi. Então ela não está por perto, é?
- Bem, eu disse normalmente. Talvez ela ainda esteja por aqui.
- Será?
- Sim. E estou - disse Mariana, chegando por trás de Talita, que levou um susto ainda maior.
- Ah, oi amor - falou Thiago.
- O-Oi, Mariana. Tudo bom? - disse Talita.
- Olá, Talita - falou a loirinha de forma irônica - Estava falando de mim?
- Eu? Bom, eu só estava comentando com o Thiago onde estaria a namorada tão linda dele..e...
- Passei para dar um oi e...aproveitar para pedir um favor para você, Thiago.
- Favor? - perguntou ele.
- Você passa pelo mercado na volta, não passa? Pode trazer algumas coisinhas...tava a fim de preparar um bolo.
- T-Tá - disse Thiago, após Mariana lhe dar uma lista quilométrica de coisas para comprar após um exaustivo dia de trabalho.
- Que lindo! Vai fazer um bolo para ele! - comentou Talita.
- Para ele? Não, é para todo mundo mesmo. Cozinhar é meu hobby e faz tempo que eu não preparo nada - respondeu Mariana - Tchau, amor.
E Mariana saiu, despedindo-se de Thiago com um selinho e dizendo tchau para Talita discretamente (e ciumentamente).
- Nossa, ela só te deu um selinho? Que namoro mais xoxo...
- Ela devia estar com pressa.
- Bom, se você tá dizendo - disse Talita meio desdenhosa - É que, sei lá, esperava um romance mais apimentado.
- Ah, a Mariana é meio discreta com essas coisas.
- Entendo...o meu primo já falou dela...
- Seu primo? É verdade! Ele foi ex-namorado dela, não é?
- Sim - respondeu Talita - Você ouviu a história. Mas eles não ficaram muito tempo.
- Seu primo era meio grudento, não era?
- Bom, é verdade. Mas talvez tenha sido excesso de romance e falta de pegada.
- Falta de pegada?
- É. Mulher gosta de caras que tenham iniciativa. Você deve ser desse tipo, não é, Thiago?
- Bem, na verdade ela não parece gostar muito que tenham pegada, não - disse Thiago, lembrando-se das poucas vezes que tentou avançar o sinal com Mariana e foi lançado em direção à parede da sala sem dó nem piedade.
- Sério? Então o problema é com ela...você parece ser um cara de iniciativa, disposição, coragem, força
- Ah, imagina. Você que é gentil demais.
- Espero um dia encontrar um cara igual a você, Thiago - disse Talita, pegando na mão dele e deixando o garoto relativamente vermelho - Que seja gentil, mas que também saiba ter pegada.
"Que mão macia..", pensou Thiago, "E hoje ela tá decotada...baixinha e peituda...Uau!"
- O que foi, Thiago? Ficou meio sem jeito de repente.. - reparou Talita.
- N-Nada, não. Preciso ir trabalhar. Até.
- Até - disse Talita sorridente. Que tipo de intenções ela teria? Bem, Thiago tentava afastar os maus pensamentos no caminho. Logo ele chegou ao hotel, onde vê Júlio e Renata terminando de servir algumas mesas.
- Ufa! Cheguei! - disse Thiago, ofegante e colocando sua mochila em um canto.
- Ótimo! Lave as mãos, pegue o avental e começa a trabalhar que em semana de feriado prolongado o movimento aumenta! - disse Natan, mostrando seu lado chefe chato.
- Aqui está seu avental - disse Renata - E boa sorte.
- O que foi? Tá saindo? - perguntou Thiago.
- É. Tenho dentista hoje - disse ela - Já está na época de fazer minha limpeza semestral.
- Ah, por isso seus dentes sempre são perfeitos - falou Thiago.
- E além disso, o dentista sempre vários kits dentais de presente. Tenho várias escovas de dente em casa que nem uso. Ele adora quando vou lá.
- Eu também adoraria - comentou Júlio.
- Bem, estou indo. Até mais, gente.
- Ai, ai - suspirou Júlio - Imagina ficar perto daquela boquinha linda...que inveja do dentista dela
- Pois é - concordou Thiago, para reprovação de Júlio.
- Você cala essa boca! Pelo menos tem a irmã gêmea dela pra pegar! Imagina tudo que vocês fizeram...ou fazem e...
Todos os clientes olham para a gritaria.
- Ops - Júlio fechou a boca.
- Quer me matar de vergonha? E além disso, a Mariana não é fácil, você sabe..
- É. Eu sei. Ela é chata até o caroço. Por isso que prefiro mil vezes a Renatinha...
- Não fala assim da Mariana...ela é gente boa, é só...só meio exigente. Estou tendo sorte sendo namorado com ela por mais de um ano.
- Eu sei que ela é gostosa, mas vale tanto assim a pena aguentar uma mina tão marrenta? Se vocês ainda não fizeram nada em mais de um ano, eu já teria desistido.
- Não fale assim...- disse Thiago, mantendo a paciência de sempre - Apesar de tudo, eu gosto de ficar perto dela. Eu...eu...eu sou apaixonado pela Mariana
- Oh, que lindo - disse Tio Natan, entrando no meio da conversa - Agora que já declarou ao mundo o seu amor...PODE COMEÇAR A TRABALHAR?!
- Sim, sim, eu já vou!
Júlio apenas suspira novamente.
"Eu falo, falo, mas a verdade é que desde que mudei meu estilo de vida não pego mais ninguém. Só estou nessa para ter uma chance com a Renatinha e ela nem tchum. Minha vontade é largar tudo, voltar a ter meus dias livres e sair pegando todas. Aí sim eu estaria feito. Mas eu já falei para o meu pai que vou ficar aqui até o fim do ano e no fim das contas até fiquei amigo desse nerdão do Thiago e do tio Natan...mas eu tô na seca"
Enquanto Júlio lamentava sua falta de sorte, uma nova cliente entra no restaurante.
- Olá?
- Olá - falou Júlio que demorou um pouco para colocar os olhos na cliente e perceber que era uma linda morena, de calça indiana, cabelos lisos e um tipo de tiara feita artesanalmente. Hippie, para simplificar tudo. Ainda assim, a cara do ex-playboy já mudou bastante após vê-la.
- Err...vocês vendem comida vegetariana aqui? - perguntou ela.
"A Renatinha saiu...eu tô na seca...gostosa dando sopa. Finalmente! É a minha chance!", pensou ele.
- Vendem? - repetiu a moça.
- Se vendemos? Claro que sim! - disse ele - Aqui está o cardápio.
- Hmm...deixa eu ver - disse ela, sentando-se em uma das mesas.
- Sabe, para falar a verdade, eu também sou vegetariano.
- Sério? - disse a moça - Eu vim para Marinário e me hospedei nesse hotel justamente para um encontro regional de veganismo que vai ter nesse feriado. Eu sou nutricionista e defendo que uma dieta vegana é a opção mais saudável para o ser humano.
- É. É o que eu sempre digo.
- E..ué? Você disse que havia uma opção vegetariana no cardápio, não disse?
- E temos! Olha só todos esses frutos do mar!
- Lagostas e camarões...são carne! - retrucou a moça.
- Mas aqui está escrito frutos do mar! - disse Júlio, tentando emendar uma desculpa.
- Você não é vegetariano coisa nenhuma, pode falar.
- Bem, não, mas...gosto muito da filosofia vegana. Err...será que você não poderia me falar mais a respeito? Em algum jantar com comida vegetariana de verdade? Heim? Posso te mostrar outras qualidades minhas e..
- Você tá é me cantando - retrucou a garota - Eu vou é embora. Um restaurante que serve cadáveres do mar e um garçom atrevido não merece respeito!
- Não, espera, eu juro que sou uma boa pessoa e...
- O que foi, Júlio? Perdeu uma cliente? - perguntou Thiago, chegando na hora que a moça saiu.
- Thiago...você também é homem...deve saber o que estou sentindo.
- O quê?
- Estou há dias sem beijar nenhuma garota! Desde que entrei nesse emprego e me tornei humilde para impressionar a Renata, é como se eu tivesse me transformado em um perdedor!
- Não diga isso! Você tá ganhando seu dinheiro honestamente! Ninguém mais pode te chamar de um vagabundo sustentado pelos pais.
- Prefiro ser um vagabundo sustentado e pegar mulher do que um pobre honrado e na seca.
- Para de dizer besteira. Se quiser, posso falar de suas qualidades para a Renata. Quem sabe ajude?
- Sério?
- Sim. Posso dizer que você é...é...bem, você é uma pessoa insistente e que não desiste.
- Chuif. Deixa pra lá. O que eu não faço pela Renata?
- Eu sei que ela é gostosa, mas...vale tanto a pena assim se sacrificar em um emprego que não gosta só para ter alguma chance com ela?
- Já ouvi algo parecido antes...
- Bem, sei lá, talvez você tenha mais chances com a Renata sendo você mesmo - disse Thiago.
- É isso. Sim. É verdade. Eu não preciso fingir ser o que não sou. Eu preciso fazê-la me aceitar como sou.
- Viu? É assim que o mundo funciona...
- Sim. É verdade. Ela precisa me aceitar como sou. Rico, bonitão, bem apessoado e amigo de todas as mulheres. Vou agora mesmo pegar meu carro de volta e..
- Não tão rápido - chamou tio Natan, que chegara na conversa naquele instante - Na verdade, você assinou um contrato quando o quiosque se mudou para o hotel...e ele é válido até o fim do ano. A multa por quebrá-lo é muito maior do que a sua mesada, riquinho!
- Glup - Júlio engoliu seco - Isso quer dizer que..
- Sim - confirmou Natan - Você é nosso até o fim do ano. Agora para de reclamar e vai enxugar a louça.
- Tá bom...
- Haha, esse Júlio é um figura. Até parece que ele ia sair daqui. Eu sei que ele ama a gente. Hehehe!
- Com licença - chamou uma voz grossa, logo atrás de Thiago. O rapaz já ficou apreensivo, afinal, voz de homem atrás de você nunca é bom sinal.
- Hã? P-Pois não? Posso ajudar? - perguntou Thiago, virando-se para trás e vendo um cara musculoso e não muito feliz.
- Então você é o garçom desse restaurante assassino de animais que ficou dando em cima da minha noiva?
- O quê?! D-Do que está falando?
- Não se faz de cínico...vem cá!
Essa era aquela hora de Thiago sair correndo por conta de mais um mal-entendido. Um dia sem confusões é pedir muito?
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