Corações Feridos escrita por Tais Oliveira


Capítulo 33
Como tudo devia ser


Notas iniciais do capítulo

Boa noite gurias ♥ Tinha algumas coisas para dizer, mas sei que estão ansiosas... então vou deixar assim, por hoje. Só para oficializar, muitas de vocês, estão perguntando... A fic está terminando, provavelmente chegará até o capítulo 40. :(

Link da chamada: https://www.facebook.com/Minhasfanfics/videos/2089440567948589/

Link da música: https://www.youtube.com/watch?v=QgaTQ5-XfMM

Boa leitura. ♥



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15 de Julho de 2012...

 

 Valerie completava 15 anos, uma idade almejada por tantas meninas. Com o intuito de trazer consigo novas etapas, sonhos... Para esta, remetia a uma decisão.

A partir desta data, teve certeza de que jamais derramaria lágrimas pelos seus pais biológicos, ou nutriria a esperança de encontra-los. Afinal, estes não foram nem um pouco afetuosos ao abandona-la naquela noite.

Em suas mãos, segurava a caixa onde guardava todos os desenhos e cartões feitos para sua mãe, desde os seus quatro anos. Estava prestes a queima-la, até ser interrompida pelo seu pai.

—Valerie? O que você está fazendo?

Robin pergunta, adentrando o quarto da filha.

—Eu não quero mais guardar essas coisas...

—Por que? Você sempre quis preservá-los, para poder entregar aos seus pais quando os conhecesse.

—Esse é o problema, eu não quero mais conhece-los.

—Valerie...

—Não me questione pai, já sou grande o suficiente para saber que eles me rejeitaram, se fizeram isso comigo, por que não posso fazer com eles?

—As coisas não são assim, eu não quero mais discutir esse assunto.

—Tudo bem, mas eu não vou permitir que você destrua essas recordações. (Robin aponta para a caixa de madeira que a menina tinha em mãos.)-Eu vou guarda-la.

—Como você quiser.



                                                    ***

 

 Valerie estava sentada em sua cama. Lágrimas faziam percurso pelo seu rosto. Recordações permeavam em sua mente.

 

—Regina, essa é Valerie! Está estudando direito na universidade.

—Prazer, Valerie!

 

—Obrigada, você foi uma intermediária excelente! Se não estivesse aqui, as coisas seriam bem piores... Foi como uma mãe para mim.

—Querida, você pode contar comigo sempre que precisar.

 

 Seus devaneios são cessados pela chegada de Robin ao seu quarto. Este repara de imediato os objetos quebrados no chão...

—Filha, nós precisamos conversar.

Disse a fitando, percebendo o quão abalada ela estava.

—Eu quero ficar sozinha.

Sussurrou.

—Eu sei que você não quer.

Sentou ao lado dela. Esta, recostou a cabeça nos ombros do pai.

—Eu gostava dela.

Disse, com a voz embargada.

—Você ainda gosta.

—Não, ela me abandonou e...

—Você não devia ter dito aquelas coisas para a Regina.

—O que? Eu não acredito que você vai ficar do lado dela.

—Ela não abandonou você, eu vi a dor no olhar dela, cada vez que nós conversávamos sobre o filho que ela havia perdido. Valerie, ela realmente acreditava que você estava morta. No Domingo em que estávamos na casa do lago...

 

 A chuva lá fora caia com grande intensidade. Regina encontrava-se paralisada diante da janela, observava o percurso da chuva que escorria lentamente na janela, consequentemente, deixando o vidro embaçado.

A sonoridade escutada por ela naquele momento, se resumiam em pingos de chuva, por vezes ouvia trovões, indicando que a tempestade transcorreria durante o dia. Entretanto, seus soluços agudos também se faziam presentes. Tentava esconder sua dor, afinal estava vivendo, ao lado de Robin ,um dos momentos mais felizes de sua vida. Todavia, todo aquele romantismo lhe remetia memórias, estas, dolorosas, por sinal.

—Regina? Você está chorando?

—Robin? (Perguntou, secando suas lágrimas rapidamente.)-Pensei que estivesse dormindo.

Completou.

—Regina, olhe para mim.

Relutante, esta virou-se. O que fez Robin, confirmar suas suspeitas. Depositou sua mão no rosto dela, preocupado, perguntou:

—O que houve? Por que você está chorando? Eu fiz ou disse alguma coisa errada?

—Não, não é isso. É que...

Tentou responder, se afastando.

—O que?

—Bom, você sabe... Eu não posso ter filhos (Disse, enxugando suas lágrimas, sentando-se no sofá.) –Eu sei o quanto você resguarda a família, e eu sou uma mulher incompleta, pela metade. Não há milagres para que eu possa gerar um filho. É impossível e...

Robin se ajoelha, deposita a mão esquerda sob a dela, levando a direita até seus lábios.

—Shi! Regina, nunca mais diga essas coisas, eu iria adorar ter um filho com você, a mulher que eu amo. Com milagre, ou sem milagre. Jamais volte a dizer que você é incompleta, pois, para mim, você é perfeita!

Tais palavras a fizeram sorrir, em meio as lágrimas. Contudo, Robin conhecia aquele olhar, sabia que algo ainda lhe incomodava.

—O que está te perturbando?

Regina tinha sensatez o suficiente, para saber que não poderia mentir para Robin.

—Meu filho. (Sussurrou.)- Por diversas vezes me sento assim, vazia, distraída. Pensando, em como as coisas seriam se ele estivesse vivo. Tem dias que eu tenho pressentimentos, como se ele precisasse de mim. (Soluçou.)-Você não sabe o quanto eu lamento não poder ter segurado ele nos braços... Se eu tivesse sido mais forte, talvez ele estivesse aqui. Eu sou uma mulher de posses, admirada por todos, mas a única coisa que eu mais quero, eu não tenho aqui; meu filho. Há alguns meses, você me perguntou o que a vida roubou de mim, agora você já sabe a resposta.

Finalizou, com amargura. Robin sentia o sofrimento dela, em cada palavra proferida.

Sentou-se ao seu lado, abraçaram-se. Por um longo tempo... Robin, era sua principal fonte de refúgio.

—Eu não posso compreende-la, não sei o que sente...

—É uma dor difícil de suportar, que o tempo não cura. Só ameniza.

Respondeu com a cabeça encostada no ombro dele.

—Eu estou com você agora, não quero que sofra sozinha. Você tem a mim, Valerie, e Roland.

—Eu amo os seus filhos.

—Os nossos filhos.

Ambos não sabiam, mas o milagre já havia sido concebido.



—Ela realmente não sabia, passou 19 anos acreditando no seu óbito. E, mesmo assim, ela sentia você, pressentia seus momentos de dificuldade, e sofria por acreditar que estivesse morta. E, ainda se culpava pela sua “morte”. Regina não mentiu quando te disse que te amou, mesmo sem saber que você era filha dela.

Com os olhos banhados em lágrimas, a jovem questiona...

—Mas, então por quê a Marian disse aquelas coisas? Sobre a Regina ter nos usado? Para se aproximar de mim, e...

—Marian te disse isso?

—Sim.

Respondeu, convicta.

—E você acreditou?

—Sim.

Esta resposta fora proferida em um sussurro de arrependimento.

—Eu não acredito que ela usou você dessa maneira, para atingir a Regina. Você vai confiar em quem? Em Marian, que foi indiferente na sua vida, ou na Regina, que sempre mostrou se preocupar com você?

Pensativa, ela responde:

—Talvez eu tenha errado em ter confiado nas coisas que a Marian me disse. Mas, se a Regina não me abandonou, quem fez isso, então?

Antes que Robin pudesse responder, a campainha toca.

—Eu vou atender, pode ser importante.

Ao abrir a porta, depara-se com alguém que jamais imaginou receber em seu apartamento.

—Você? Claro, só podia ser...Foi você que a abandonou não é?

Questionou, encarando Daniel.

—Eu preciso falar com ela, você pode me deixar entrar?

—Não!

Afirmou, estava fechando a porta, mas fora impedido por Daniel que a segurou com força.

—Nós queremos a mesma coisa, Robin.

—O quê? Eu posso saber?

—A felicidade de Regina.

Aquelas palavras convenceram Robin, que acabou deixando Daniel entrar. Este, se manifesta.

—Eu preciso resolver as coisas.

Robin, relutante consente. Guiando Daniel até o quarto da filha.

—Valerie, tem uma pessoa querendo falar com você.

—Quem?

—Eu.

Disse Daniel, entrando no quarto. Valerie, havia ficado tão focada em Regina que sequer pensou quem seria seu pai biológico, até aquele momento.

—Vou deixa-los sozinhos, qualquer coisa, estarei na sala.

Disse Robin, retirando-se em seguida.

Valerie e Daniel, trocaram olhares durante um tempo.

—Valerie, eu vim aqui com o objetivo de esclarecer a verdade, eu devo isso a você, e a sua mãe. Eu não posso consertar o passado, mas eu posso consertar o futuro.

Diante daquelas palavras, Valerie começou a compreender que a verdade estava além do que imaginava.

—Na noite em que você nasceu, sua mãe teve complicações no parto, ela sempre quis ter acompanhamento médico, mas eu a impedi. Nós éramos jovens, Regina não era essa mulher que você conhece hoje. Ela era insegura, tinha medo, confiava em mim cegamente. (Enquanto, falava seus olhos lacrimejavam.)-Enfim, o que quero dizer é que quando você nasceu, eu aproveitei a fraqueza de sua mãe, dispensei a parteira e... Eu abandonei você naquela noite. (Confidenciou, aos prantos.)-Quando eu voltei, menti para ela que você havia morrido.Disse que era um menino, para que ele nunca suspeitasse, no dia seguinte, levei ela até uma lápide que havia comprado, a qual ela retornou inúmeras vezes por dezenove anos. (Em meio aos soluços, continua.)-Ela confiou em mim. Eu carreguei essa culpa comigo durante todos esses anos. Eu vi o sofrimento dela, todos os dias, ela nunca mais foi a mesma mulher. Várias vezes pensei em contar a verdade, mas eu a amava... Amo... E sabia que quando ela descobrisse eu a perderia...  Para sempre.

Ambos choravam.

—Sua mãe está desesperada. Regina, não merece passar por isso. Você não tem motivos para me chamar de pai, ou acreditar em mim. Mas, tem razões o suficientes para acreditar nela. Regina é tão vítima quanto você nessa história. Ela não merece o seu desprezo, o único culpado sou eu. Me perdoe.

Tentou se aproximar, mas Valerie recuou.

—Eu nunca vou chama-lo de pai, eu já tenho um, só há espaço para ele. Não vou perdoar você, se desfez de mim um dia, agora estou fazendo o mesmo.

Aquelas palavras o feriram, entretanto, não havia nada que pudesse fazer, seu erro foi cometido dezenove anos atrás, não podia repara-lo.

—Eu entendo e respeito sua decisão. Só peço para que não guarde rancor de sua mãe. Ela nunca soube da verdade, para ela, você sempre esteve morta. Não posso permitir que ela pague as consequências pelos meus erros.   

Ao dizer isso, retirou-se.

Robin estava angustiado na sala, ao escutar passos, levantou-se. Daniel retornava, percebeu o quanto este estava abalado.

Abriu a porta para que ele se retirasse, no entanto, Daniel permanecia pensativo.

—Você devia ir vê-la.

Disse, por fim.

—Já vou até o quarto de Valerie...

—Não estou falando dela, me refiro a Regina. Ela chamou por você no caminho do hospital, enquanto delirava.

—Hospital? O que aconteceu? Como ela está?

Questionou, atônito.

—Ela teve uma crise de nervos quando eu lhe contei a verdade...

—Mas, ela está bem?

—Quando eu fui embora, os médicos estavam realizando alguns exames, mas, aparentemente, foi somente uma crise. Ela precisa de você, elas precisam.

Retirou-se, deixando Robin preocupado. Precisava saber como Regina estava.

Antes, voltou ao quarto da filha. Encontrou Valerie pensativa e entrou. Carregava em suas mãos a caixa de madeira.

—Acho que está na hora de entregar isto para alguém.

A filha fitou a caixa, com comoção.

Robin continua:

—Pense em tudo que você descobriu. Eu preciso sair agora.

—Onde você vai?

—Eu vou ver uma pessoa.



                                                    ***

 

O único som audível naquele quarto era dos aparelhos. Robin adentrou o quarto em passos lentos. Analisou as feições abatidas de Regina, a pele dela estava tão alva quanto a neve.

Acariciou as maçãs do rosto de Regina, com delicadeza. Seus olhos marejaram, sentia saudade de afagar a pele suave dela.

—Você não sabe o quanto eu desejei fazer isso, todos os dias. As coisas estão difíceis para mim, para nós. Eu sei que te machuquei, mas, também estou sofrendo. É tão difícil ter que conviver com a tua ausência... (Robin fitou a rosa que segurava na mão esquerda.) –Essa rosa é belíssima, mas ela contém espinhos.

 Em seus próprios pensamentos, a mente de Regina sonhava, a mistura de ficção e realidade contínua que o presente proporciona a ela, enquanto estava adormecida.

Valerie, venha logo! Vamos alimentar os patos!

Afirmava Roland, enquanto corria na doca, em frente à casa do lago.

—Estou indo Roland, se acalme. Me deixe curtir essa linda paisagem.

Dizia a jovem, com um sorriso estampado no rosto.

Regina adentrava o jardim. Este, cujas flores lhe cobriam até a cintura. Usava um vestido branco, seus cabelos negros balançavam por conta da brisa quente de verão.

Percebeu Robin mais à frente. Estagnado, fitando o lago, com as mãos em seus bolsos.

—Robin.

O chamou, com sua voz doce.

O mesmo a encarou com ternura, apreciando sua mulher. Logo, aproximou-se. Com um sorriso radiante, a apanhou pela cintura lhe depositou um beijo descomedido, que só fora cessado quando o ar foi escasso.

Logo em seguida, arrancou uma rosa vermelha que constava no jardim. Perfurou seu dedo da mão esquerda, por conta dos espinhos que a flor carregava.

Seu sorriso, repentinamente desapareceu. Seus oceanos azuis, não exalavam mais felicidade no olhar, pelo contrário, continham um sentimento que ela conhecia; dor

—Essa rosa, é belíssima, mas ela contém espinhos, como tudo na vida. Nada é perfeito, um exemplo disso, meu amor, é a nossa história. Vivemos dias maravilhosos juntos, como um casal e uma família. Infelizmente, pessoas ruins nos prejudicaram. Fui obrigado a fazer uma escolha, como agora. Optei por esta rosa, com espinhos. Me machuquei, e consequentemente feri você também. Ainda não sei se escolhi o caminho mais fácil, ou o mais difícil. No meio de tudo isso, nos perdemos. Me sinto fraco, devia ter lutado por ele, por nós. Eu amo vocês dois tanto. Apesar de separados, só vai existir uma mulher na minha vida, você. Gostaria de te dizer o quanto te amo, fitando os seus olhos, enquanto não estivesse dormindo, mas eu não posso.

Quanto a Valerie, não se preocupe. Acredito, que consegui resolver as coisas. Fico feliz que seja você, ela não poderia ter uma mãe melhor. Será bom saber que conseguirei lhe proporcionar momentos alegres ao lado da nossa filha, quão irônico, não é? A vida nos compartilhou essa dadiva, dividimos uma filha, agora. Estávamos juntos, e nem sequer sabíamos que os laços familiares eram... São... Muito mais extensos do que pensávamos. Sei que vocês duas vão se acertar em breve, eu sinto. Serão felizes. Mesmo sabendo que, de certo modo, colaborei para que isso acontecesse. Eu sei, que qualquer atitude minha, jamais será o suficiente para aliviar minha consciência das promessas que eu não cumpri.




Robin encarou o relógio, percebeu que já estava tarde.

—Eu preciso ir agora. Eu te amo.

Confidenciou. Uma de suas lágrimas caíram sob o rosto dela, o qual ele afagou uma última vez.

Deixou a rosa no criado-mudo e retirou-se.

Assim que fechou a porta, esbarrou em Sr. Henry, este exaltado, perguntou:

—Você? O que está fazendo aqui? Não devia ter vindo perturbar a minha filha, eu não quero vê-la sofrendo ainda mais.

—Me desculpe senhor, eu precisava saber como a Regina estava, mas ela não sabe que eu estive aqui, está dormindo.

—Claro! Você deve estar com remorso. Me sinto tão culpado, durante tanto tempo torci por vocês dois, para que surgisse um relacionamento... Você parecia ser um homem tão bom, íntegro, cuidadoso, que prezava a família.

—O senhor pode não acreditar, mas é exatamente por isso, pela família, que eu a perdi.

Mesmo confuso com aquela resposta, senhor Henry prosseguiu:

—Regina merecia uma amor inteiro, e você não pode proporcionar isso para ela.

Aquelas palavras o machucaram ainda mais.

—Me desculpe por decepciona-lo, senhor. Talvez um dia possa compreender minha escolha.

Retirou-se, com os olhos marejados, sua frustração era evidente.



 Na manhã seguinte, Regina acordou assustada, percebendo onde estava. Porém, logo lembrou-se de todos os ocorridos do dia anterior... Seus olhos, já marejados, percorreram o quarto, estagnou ao encarar o criado-mudo, percebendo a rosa que constava ali.

Hesitou em pega-la, mas cedeu ao seu desejo. A afagou com desvelo, como sempre fazia. Recordou-se do seu sonho, questionando-se até que ponto ele foi real, ou ficcional.

Teve seus devaneios interrompidos pela chegada de Cora em seu quarto.

—Como você está?

Perguntou, percebendo que a filha já estava acordada.

—Estou bem, não sei o que faço aqui.

—Como não? Você passou mal ontem, precisa de acompanhamento médico.

—Tenho muitas coisas para resolver, eu quero voltar para casa.

—Regina...

—Chame a Zelena e o Dr.Whale, eu quero falar com eles.

Cora estava prestes a sair, até ser chamada por Regina.

—Mãe, espere! (Cora a encara.) –Você sabe quem a trouxe?

Pergunta, com a rosa ainda em mãos.

—Não sei, foi seu pai que ficou aqui durante a noite, deve ter sido ele.

Cora mente, havia conversado com o marido sobre o ocorrido da noite anterior, sabia que Robin tinha visitado Regina, deduziu que só poderia ter sido ele a ter deixado a flor, como fazia de costume, para presentear a filha. Todavia, resolveu ocultar a verdade desta, não queria que ela se machucasse ainda mais.

—Vou chamar sua irmã.

Completou.

Regina não conseguiu esconder seu descontentamento, por um momento, pensou que Robin houvesse a visitado na noite anterior...

 Minutos depois, adentram em seu quarto: Zelena, Cora e Whale.

—Regina, você está bem? Sente algo?

Perguntou sua irmã, preocupada.

—Eu quero voltar para casa. Não gosto de hospitais, não vejo necessidade de estar aqui, estou bem.

—Nós precisamos te manter aqui, até os resultados dos exames ficarem prontos.

Justifica Zelena.

—Você pode levar na minha casa.

Dr.Whale e Zelena se encaram.

—Esse lugar não me traz boas lembranças.

Disse, com a voz embargada, e, após uma pausa, sua irmã responde:

—Tudo bem, mas você tem que prometer se cuidar, não se estressar, se alimentar direito, e ficar de repouso até o fim do dia.

—Ok.

 

 Retornou para casa acompanhada pela sua mãe. Tomou um banho e se deitou. Lágrimas faziam percurso pelo seu rosto ainda pálido. Recordava-se, das palavras de sua filha:

 

“-Você já sabe tudo que eu penso a seu respeito.”

“-Até hoje eu não consigo entender o que eu poderia ter feito de errado para minha mãe me abandonar, me rejeitaram, entregando na casa de uma pessoa que nem sequer conheciam.” 

“-Durante tanto tempo eu quis saber quem eram meus pais biológicos, mas agora, a única coisa que eu sinto é desprezo. Principalmente da minha mãe, foi ela que me gerou, sentiu cada movimento meu em seu ventre, acompanhou meu crescimento dentro dela, a maternidade é um elo tão lindo, criado entre mãe e filho, e ela simplesmente o ignorou.”

“-Se ela soubesse o que eu já sofri pela ausência de uma figura materna...”

“-A cada cartão feito dedicado as mães na escola... Era triste chegar em casa e não ter a quem entregar.” 

“-Eu jamais irei perdoa-la. Já sofri tanto, ela me abandonou e não merece que eu perca meu tempo falando dela, afinal, nem deve se importar comigo, e, sinceramente, eu também não me importo com ela, se estivesse morta não faria diferença, já vivi dezenove anos sem ela.”

“-Eu não preciso de você na minha vida, não tem ideia o quanto eu te desprezo, a dor que causou em mim não vai passar nunca. Mas, sabe de uma coisa? Eu não me importo, sabe por que? Eu já vivi dezenove anos sozinha, sem uma mãe, e não preciso de uma agora. Eu odei...”

 

Regina soluçava, sabia exatamente tudo que a filha pensava a seu respeito; o rancor... Afinal, Valerie havia confidenciado seu sofrimento para ela.

—Filha, você precisa se acalmar.

Disse Cora, entrando com um copo de suco. Logo, sentou-se ao lado da filha. Regina recostou sua cabeça no ombro da mãe.

—Ela me despreza, vai me odiar para sempre.

—Não diga isso. As coisas são recentes para ela também...

—Mas, ela acha que eu a abandonei. Um dia, enquanto conversávamos, Valerie me falou o quanto desprezava a mãe, e que...(Em um sussurro, completa)-se estivesse morta, não faria diferença. Ela nunca vai me aceitar.

Sua voz saia baixa, por conta do choro.

—Regina, me escute. Valerie vai descobrir a verdade, vai compreender que você não teve culpa...

—Eu sei o que ela sentiu, mãe. Um vazio dentro do peito, como se faltasse algo. Já passei pela dor da rejeição, é insuportável! Te corrói por dentro, machuca tanto. (Fungou.) -Nós devíamos estar felizes, unidas. Aliás, nem devíamos ter sido separadas.

—Daniel, não devia ter feito isso.

—Ele abandonou a nossa filha, foi desumano. Só ele sabe o quanto eu sofri, presenciou cada lágrima derramada durante todos esses anos, em silêncio. Nunca, sequer, disse uma palavra sobre esse assunto, agora, eu entendo o porquê.

—Eu sei que está sendo difícil, mas, tenha fé que as coisas vão melhorar, Regina. Você tem a mim, ao seu pai, seus irmãos, todos nós estamos com você agora. Não será como antes, eu prometo. (Beijou a testa da filha.) -Sabemos que é tarde, mas, estamos tentando consertar os erros do passado. Jamais te deixaremos sozinha, se antes, você. com a ausência de apoio, se levantou, agora, conosco, não será diferente. Ela vai aceitar você, eu sei.

Regina se emocionou com as palavras da mãe. Já havia perdido as esperanças que esta se torna-se sua confidente. Algo que ela evidentemente, precisava naquele momento.



                                                     ***

Valerie permanecia pensativa no sofá da sala, enquanto tentava tomar goles de seu café. O que era impossível, a caneca servia apenas para que esta a segurasse, e a bebida esfriasse. Estava perdida, em seus próprios pensamentos...

“Quando o bebê nasceu, ela desmaiou, ao acordar, descobriu que o filho dela havia... Havia morrido.”

 

“Um dia vou fazer um pedido pra uma estrela

E acordar bem além das nuvens

Onde problemas derretem como gotas de limão

Acima das chaminés

É lá que você vai me encontrar...”

“-Eu costumava cantar essa música para o meu bebê...”

“-Eu achei que você havia morrido. Eu fui na sua lápide, eu te levei flores.”

 

Tomou uma decisão, pegou sua bolsa e saiu.

 

                                                  ***

 

 Regina observava as folhas secas que caíam de uma das suas árvores do quintal. Por diversas vezes durante a tarde, teve o impulso de pegar seu carro e dirigir até o apartamento de Robin, a procura de Valerie. No entanto, sabia que seria uma péssima ideia. Queria lutar pela confiança da filha, mas, compreendia que aquele não era o momento, não só pela jovem, mas, por ela também. Conhecia a si, seus limites. Apesar de ser uma pessoa forte, sabia que algo estava errado. Seu corpo não era o mesmo de antes, suas náuseas aumentavam, sentia-se desgastada ás vezes. Por mais que afirmasse estar sentindo-se bem, tinha certeza que havia algo de errado em todos aqueles sintomas.

 Ao descer do táxi, Valerie encantou-se com a exuberância daquela casa. Suspirou, estava nervosa. Logo que bateu na porta, foi atendida por uma mulher, deduziu que pelas vestes fosse a empregada.

—Pois, não?

—Eu gostaria de falar com a Regina.

—A patroa não está se sentindo muito bem para receber visitas. Ela voltou do hospital há algumas horas.

—Hospital?

—Sim, ela passou a noite internada. Ontem teve uma crise de nervos. Ela encontrou a filha.Ela não quer receber ninguém que não seja da família.

—Bom, é que... (Valerie, não sabia como dizer.)-Sou eu, a...

Theresa, entendeu de imediato o que a jovem queria dizer.

—Ai, meu Deus! Claro! Entre. (Cruzou a porta.)-Basta subir as escadas, o quarto da dona Regina é na terceira porta à esquerda.

Valerie consente.

 

A Thousand Years - Instrumental

A inquietude predominava a cada degrau que subia. Caminhou no corredor em passos lentos, pensou em desistir.

Recordou-se de todos os motivos que a fizeram procurar por Regina... Prosseguiu.

A porta do quarto estava entreaberta, sendo assim, foi possível vislumbrar Regina, paralisada diante da janela, parecia estar distraída o suficiente para nem sequer perceber a sua presença. Tudo mudou com o ranger da porta.

—Mãe, você voltou rápi...

Disse, virando-se, suas palavras ficaram pela metade, ao perceber a presença de Valerie.

Encontraram conexão uma no olhar da outra, benevolência. Ambas perceberam as feições abaladas que exalavam. Demonstrando os vestígios da descoberta do dia anterior. Os corações batiam descompassados.

Regina a fitava emocionada, passou anos acreditando que a filha estivesse morta, e, agora, esta estava diante dela, tão comovida quanto. Seus olhos estavam perdidos, pareciam procurar por respostas.

—Valerie...

Com a voz embargada, em passos lentos, Regina faz menção de correr até a filha, abraça-la, depositar seu afeto, entretanto, se conteve. Tinha medo que a filha não estivesse apta para tal aproximação. Sendo assim, estagnou no meio do caminho.

—Eu sinto muito... Por não ter estado ao seu lado quando precisou. Você pode não acreditar, mas eu sentia você aqui. (Lágrimas escorriam pela sua face, colocou a mão sob o peito.) –Sabia que, em algum lugar, precisavam de mim, eu devia ter averiguado, fui tão estúpida! Eu acreditei no seu pai e ele tirou você de mim... Não teve um dia que eu não tenha pensado em você, o quanto a vida tinha sido injusta ao me negar meu próprio bebê, eu lamentei, não foi só você que sentiu falta, eu também. Para mim, a vida não passou de um retrato em preto e branco, um coração que carregou o luto durante tanto tempo; me tornei vazia, solitária, eu mudei. Porque eu não admitia o que o destino havia planejado para mim, eu senti você aqui no meu ventre. (Depositou a mão na barriga.) –Eu cantei melodias para você, (As lágrimas, eram demasiadas.)-senti seus movimentos... E, acreditar na sua morte, foi a minha decadência como ser humano. Morri naquela noite, uma parte de mim esqueceu o que era vida, e a que permaneceu, sofreu. Cada dia que eu encontrava uma mãe na praça com seus filhos, fazendo compras, almoçando, algo que para tantos era rotineiro, para mim, seria um privilégio. Ainda mais, sabendo que eu nunca poderia gerar outro bebê, as complicações daquela noite me impediram de ser mãe novamente... Eu gostaria de pedir perdão; perdão por não ter percebido que tudo não havia passado de uma mentira, perdão por não ter notado as nossas semelhanças antes, perdão por ter sido fraca... Se eu não tivesse desmaiado naquela noite, as coisas poderiam ter sido tão diferentes. Você precisa saber que eu não usei você, nem seu pai, ou seu irmão, com o objetivo de corrigir erros, eu descobri toda a verdade ontem, junto com você. Eu amei vocês, eu amo independente de qualquer descoberta. Eu não sabia, eu juro. Nós já fomos impedidas de ficar juntas uma vez, não me impeça novamente, por favor. Espero que você encontre motivos para acreditar em mim.

Valerie percebia a sinceridade nas palavras proferidas pela mãe. Estava tão sensibilizada quanto. Eu um sussurro, respondeu:

—Eu... Acredito.

O olhar de ambas resplandecia esperança, afeto.

—Eu posso?

Regina perguntou, com a voz afagada por conta do choro.

Valerie consente.

—Sim.

Foi o que conseguiu dizer.

Uma foi ao encontro da outra, a distância que parecia tão pouca, tornou-se colossal. Quando, enfim se abraçaram, lágrimas se faziam presentes nas feições de Valerie, afinal, o contato com sua mãe era o que ela mais havia almejado com grande voracidade, por um vasto tempo. Algo que o tempo havia apagado em determinado momento, mas a vida trouxe à tona na noite anterior, quando possuiu conhecimento da verdade, escutar as palavras de Regina só contribuíram para desejar ainda mais aquele afeto.

Valerie sorriu em meio as lágrimas. Recostou a cabeça no ombro da mãe, sentindo a maciez de seu robe. Sentir o abraço da mãe, era algo tão gostoso, protetor, envolvente.

Regina acariciava os cabelos da filha com zelo. Sentiu-se viva novamente, toda a dor que havia lhe consumido por anos, fora deixado de lado, sua vida deixou ganhou cores, amor.

—Você não sabe o quanto eu te quis assim, envolta em meus braços. Eu prezei tanto por um momento como esse...

Confidenciou, aos prantos.

—Me desculpe pelas coisas que eu disse ontem... Eu achei que você havia me abandonado, desculpe por não ter acreditado em você, deixado o ressentimento vir antes da lucidez.

—Nada disso importa agora, devemos recuperar o tempo perdido... Minha filha.

Concluiu, comovida.

“Minha filha.”  Achou que jamais proferia essas palavras, até aquele momento.

Valerie a abraçou com virtude. Tentavam suprir as necessidades uma da outra. Como Regina havia acabado de pronunciar, recuperar o tempo perdido. Palavras, não eram suficientes, para expressar o que sentiam. Afinal, foram anos de carência.

Regina sentiu suas pernas enfraquecerem, foi atingida por uma náusea.

—Você está bem?

Valerie perguntou, preocupada.

—Estou tonta.

Respondeu, dirigindo-se até a sua cama. Sentou-se.

—Você quer que eu chame alguém?

—Não precisa. Já vai passar.

—Tem certeza? A sua empregada disse que passou a noite no hospital...

—Sim. Foi apenas um susto, eles exageraram um pouco.

Regina não esconde sua felicidade, ao perceber que a filha estava preocupada.

—Eu tenho uma coisa para te entregar.

—O que?

Perguntou, com curiosidade.

A jovem tira de sua bolsa a caixa de madeira com seus desenhos.

—Lembra uma vez que eu falei que tinha guardado uma caixa com todas as coisas que havia feito para minha mãe?

Regina consentiu.

—Então, ela pertence a você agora.

Emocionada, passou a mão pelo objeto, antes de abri-lo.

Haviam diversos desenhos, e cartões com dedicatórias. Regina analisava cada um atentamente, sem deixar passar os detalhes. Valerie contava a história de cada um...

—Esse é o meu favorito, eu fiz quando tinha seis anos.(Um desenho simples, retratando uma refeição entre mãe e filha.)-Sabe, aquilo que você falou, sobre as coisas rotineiras, eu também senti falta.

Regina acariciou o rosto da filha, comovida. Valerie fechou os olhos e se permitiu sentir o toque suave da mãe. A partir daquele momento, estavam recomeçando suas vidas.

São interrompidas pelo celular da jovem.

“-Alô? Estou bem.

—Tudo bem, estou a caminho.”

—Era o meu pai, eu preciso voltar para casa.

—Que pena, eu posso busca-la amanhã, para almoçarmos juntas?

—Eu vou adorar.

—Você quer que eu te leve?

—Não, obrigada. Você precisa descansar.

Abraçaram-se mais uma vez.

—Até amanhã.

—Até.

Regina beijou a testa da filha, completou:

—Se cuide.

Com um sorriso radiante, Valerie atravessou a porta. Retornava para casa levando consigo a verdadeira história de sua vida.



                                                      ***

 

 Regina apreciava cada desenho feito pela filha. Estava sorridente.

Zelena e Cora adentraram seu quarto, percebendo a felicidade que predominava nas feições dela.

—Ela me aceitou. Olhem esses desenhos que ela me entregou, todos eles, são tão lindos! Tem tanto sentimento aqui, esses pedaços de papel valem mais do que qualquer coisa.

Cora, abraçou a filha.

—Ficamos tão felizes por vocês, filha, eu nem acredito que tenho uma neta! Em breve, terei mais um. (Encarou Zelena.)

—Dois.

Respondeu a ruiva, também exalava um sorriso.

—Eu não sabia que você estava grávida de gêmeos.

Disse Regina.

—E não estou.

Regina e Cora franziram o cenho.

—Você está grávida, Regina!









 


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Notas finais do capítulo

E aí o que acharam? Tivemos de tudo nesse capítulo hein... Robin e Regina ♥ Cora e Regina ♥ E o principal a relação de mãe e filha, que seguirá sendo abordada.
Sobre o bebê, embora não tenha aparecido nesse capítulo, será marca registrada para o próximo "Despedidas de Outono" ♥ Muitas de vocês adoraram :)
Estou respondendo os comentários, até amanhã prevejo estar em dia com vocês.
Um grande beijo! ♥ :)