Depois de ter trabalhado a tarde no Dangerous Woman, pedi para Sam deixar eu sair mais cedo. Comecei a me sentir mal quando foi se aproximando das oito da noite. Sam deixou em ir embora. Fui para casa andando e liguei para Chloé dizendo que estava indo para casa e que era pra ela me pegar no apartamento.
Eu não estava me sentindo muito bem e estava deitada na minha cama há mais ou menos uma hora. Era quase dez e meia da noite e eu nem tinha tomado banho ainda.
Escuto a campainha sendo tocada e me levanto da cama com um gemido. Saio do quarto e atravesso a sala. Destranco a porta amarela e a abro. O sorriso de Chloé desaparece quando ela olha para o meu rosto.
–Que cara é essa? Você está horrível.
Dou um sorriso murcho e encosto minha cabeça na porta.
–Eu me sinto péssima. Comecei a passar mal no trabalho.
Chloé entra e eu fecho a porta.
–Não é melhor irmos no médico?
–Mas e a apresentação de Kyle? - pergunto. - Eu quero ver.
Chloé dá de ombros.
–Você que decide. Mas já vou avisando que o bar é super abafado.
–Tudo bem. - digo. - Vamos lá pro quarto.
Atravesso a sala com Chloé me seguindo até o meu quarto. Acho que é uma boa oportunidade de perguntar para ela o que aconteceu ontem na fraternidade e se ela sabe se Kyle e Matt brigaram.
–Então, - digo abrindo a porta do closet. - o que aconteceu ontem?
Ouço-a suspirar.
–O Jacob estava bêbado e começou a falar umas coisas pra irritar o Matt.
–Ah. - falo pegando uma calça jeans preta da arara de roupas. - E por que ele falou aquilo pra mim no corredor?
Olho para Chloé que dá de ombros.
–Como eu disse, ele estava bêbado.
Dou de ombros. Tudo bem então.
–Tem certeza de que você está bem? Você está pálida.
Suspiro.
–Estou me sentindo enjoada. Mas não sei o que é.
–Gravidez?
Olho para ela de cara feia.
–Claro que não.
Ela dá risada e dá de ombros.
–Vai saber, né.
Suspiro e não dou ouvidos para isso. Escolho um suéter preto com linhas finas doudadas e um scarpin preto.
–Vou tomar um banho.
***
Me demoro no banheiro tanto para tomar banho quanto para me arrumar. O enjôo pode ser cansaço, não sei. Não comi nada de manhã já que as panquecas queimaram.
Faço meu rabo de cavalo habitual e passo um batom rosa queimado, um pouco de máscara para cílios e delineador.
Quando saio do banheiro, Chloé está deitada na minha cama com o celular perto do rosto, está digitando frenéticamente. Ela olha para mim e sorri.
–Nossa, que linda!Tudo isso pra falar "Kyle vim te ver".
Reviro os olhos mas dou risada.
–Vamos nessa então. - Chloé levanta da cama.
***
O carro de Chloé é confortável e pequeno e cheira a estofado novo. Está tocando no rádio uma música do Nirvana. Acho que é de família gostar tanto da banda. Faço esse comentário e ela ri.
–Você não faz ideia do quanto Kyle ama. Digo, você tem sim, mas ele é super obcecado.
Sorrio.
–É, acho que percebi.
–Ele vai me matar por contar isso pra você, mas já que ele me chama de fofoqueira pelas minhas costas, vou contar mesmo. - ela sorri e olha pelo retrovisor. - Quando nós tínhamos uns sete ou oito anos, ele chorou como uma garotinha porque o Kurt Cobain não era mais vivo e ele percebeu que nunca ia poder ir no show do Nirvana.
Dou risada.
–Coitado. - meu coração se aquece ao pensar nele criança e chorando por tal coisa.
Chloé continua a rir. Na verdade ela está chorando de rir.
–A mãe dele sentou ele no colo dela e começou a inventar uma história de que o Kurt estava muito emocionado onde quer que ele estivesse e que quando eles se conhecessem, eles seriam melhores amigos.
Ela está sorrindo com isso, mas meus olhos enchem de lágrimas e eu tento piscar várias vezes antes que elas caiam. Me emociono muito fácil com as coisas.
–Ela era ótima. As vezes eu é que queria ter ela como mãe. - Chloé diz olhando a frente. Está sorrindo e parece estar mergulhando em lembranças - Mas ela era uma ótima tia também.
–Ela era irmã da sua mãe?
–Não,meu tio é irmão da minha mãe.
–Ah.
–Acho que todo mundo sofreu muito com a morte dela. O Kyle principalmente, mas todos nós.
Concordo com a cabeça e nós ficamos em silêncio.
***
Quando Chloé estaciona do outro lado da rua de um bar com apenas uma luzinha vermelha na porta e um segurança sério e distraído, me pergunto o porquê de eles sempre frequentarem lugares apertados e esquisitos. Claro que não vou comentar nada porque é a banda de Kyle que está tocando.
Saímos do carro e uma brisa forte e gelada atinge meu corpo.
–Você está melhor? - Chloé pergunta.
–Mais ou menos. - olho para ela. - Vou ficar bem, vai passar.
Atravessamos a rua sem tráfego e paramos em frente ao segurança negro e sério. Ele sorri para Chloé.
–E aí Billy, como você está?
–Estou bem docinho e você?
–Ótima. Os meninos já estão tocando?
Ele concorda com a cabeça e olha para mim.
– E essa bonitinha, quem é?
Chloé ri.
–Tira o olho que ela é do Kyle.
Ele suspira.
–Não sei como esse cabelo de fogo consegue tanta garota.
Franzo o cenho e Chloé olha para mim e força um sorriso.
–Podem entrar, acho que já começou faz meia hora. Te vejo outro dia, Chloé? - ele pisca para ela e ela sorri.
–Claro.
Ele abre a porta pesada de ferro e nós entramos. Sou surpreendida com uma multidão pulando e se divertindo. No palco pequeno com holofotes roxo e azul posso ver Kyle tocando uma guitarra preta e cantando. Sorrio. Então ele canta. Ele não me viu ainda. Está vestindo sua blusa xadrez vermelha com preto.
–E então, o que está achando da banda do seu namorado? - ela pergunta gritando perto do meu ouvido.
Olho para ela e grito de volta.
–Ótima. Qual é o nome da banda?
– 5 Seconds of Summer. O Kyle que teve a ideia do nome.
Olho para o palco sorrindo e bato palma quando a música acaba e uma nova começa.
–Essa música é linda. - Chloé diz. - Se chama Jet Black Heart. O Kyle se entrega demais nela. Vamos lá pra frente.
Vamos atravessando a multidão até chegar a uma grade pequena praticamente encostada no palco.
Olho para Kyle que ainda não me notou. Ele está cantando de olhos fechados enquanto seus dedos tocam a guitarra.
Olho para o outro integrante da banda e franzo levemente o cenho ao ver que é Matt. Decido não perguntar nada para Chloé já que estou vendo que ele toca sim na banda. Chloé está olhando para outro lado e Matt olhando para mim. Desvio o olhar e olho para o baterista que está sorrindo e concentrado em sua tarefa. Chloé tem razão, ali é muito abafado e a quantidade de pessoas não ajuda.
***
Quando eles terminam de tocar a música, estou escorada na grade olhando para Kyle. Estou me sentindo pior, minha cabeça parece que vai explodir a qualquer momento e meu enjôo não passa.
O pessoal começa a aplaudir e os olhos de Kyle me encontram. Seu sorriso se alarga tanto que é impossível não sorrir junto, mesmo que eu não esteja me sentindo bem.
Os meninos vão saindo do palco e Chloé me puxa para sairmos dali e irmos encontrar com eles do lado de fora.
Atravessamos a multidão que está dançando uma música eletrônica que começou a tocar. Quando chegamos a porta de saída é um alívio para mim, ainda mais porque vejo Kyle olhando para mim, me esperando.
Sorrio quando me aproximo.
–Então você veio mesmo. - ele diz e me abraça.
–Falei que ia vir. - dou um beijo rápido nele pois ouço uns assobios.
Olho para o lado e vejo os meninos da banda olhando para nós. Todos eles seguram uma garrafa de cerveja, inclusive Kyle.
–Por que não nos apresenta Kyle?
Kyle suspira e diz:
–Pessoal, essa é a Alice. Alice, esses são Clarck e Ash. - ele aponta para os dois meninos que sorriem para mim.
Ash tem os cabelos num tom loiro mais escuro que o de Matt, cabelo um pouco grande e a pele clara. Clarck tem olhos e cabelos negros e sua pele é mais morena. Ambos têm sorrisos bonitos.
–Prazer conhecer vocês. - digo.
–O prazer é nosso. - Ash levanta o copo em minha direção como se fosse fazer um brinde.
–Então, vamos indo nessa? - Clarck diz e depois dá um empurrão no braço de Matt. - O que foi cara, você está bem?
–Ótimo. - ele diz mau humorado. - Encontro vocês lá.
Franzo o cenho e olho para Kyle que está olhando para Matt. Quando ele vê que estou olhando para ele, sorri e me dá um beijo no nariz.
–Nós vamos lá pra fraternidade. Hoje o Jacob não vai estar lá.
–Para nossa alegria. - Clarck diz.
Olho para ele e pergunto:
–Vocês também não gostam dele?
–Ninguém gosta dele. -Ash responde e ri levando o copo descartável de cerveja até a boca.
–Não é melhor você ir no médico? -Chloé pergunta para mim.
–Ir no médio por que? - Kyle indaga e eu olho para seu rosto.
–Ela estava passando mal antes de vir para cá, mas não queria perder seu showzinho.
Sinto minhas bochechas queimarem quando os meninos começam a falar "Awwn" e assobiar.
–Vão se foder. -Kyle diz e joga o resto da sua cerveja neles.
Dou uma risadinha e eles entram em um carro prateado. Kyle torna a olhar para mim e acaricia meu rosto com as costas da mão.
–O que você tá sentindo boneca?
Suspiro e quase viro gelatina com o seu toque.
–Estou um pouco enjoada e com dor de cabeça. Deve ser só o cansaço ou o fato de eu não ter me alimentado direito hoje.
–Se quiser ir no médico eu te levo.
–Acho que não vai precisar.
–É? - ele pergunta e me dá um beijo perto da boca.
Sorrio e concordo com a cabeça.
–É.
Levo um susto quando uma buzina alta é tocada. Olhamos para o carro prateado. Clarck e Ash estão olhando para nós e Chloé também no banco de trás.
–Parem de namorar na rua e vão pro motel.
Kyle mostra o dedo do meio e eu dou risada.
–Nossa o Kyle tá todo bravinho. -Clarck diz.
–Pelo menos eu tenho alguém pra levar pro motel. - Kyle grita e eu bato no seu ombro.
Ele sorri mas não olha para mim.
–Eu também tenho, seu otário. -Clarck grita e diz. - A gente se vê lá na fraternidade.
Ash acelera cantando os pneus e Chloé solta uma gargalhada escandalosa. Kyle e eu ficamos na calçada olhando o carro se afastar.
Olho para seu rosto e sorrio murchamente.
–Se você quiser ir pra casa, nós vamos. Podemos ir pro meu apartamento que é mais perto.
–Não, está tudo bem. Vamos pra fraternidade. Vocês têm que comemorar o show de vocês. Eu adorei.
Ele sorri e nós começamos a andar em direção ao seu carro há uns metros adiante.
–Que bom. Achei que você não ia comseguir vir.
–Bom, eu saí mais cedo hoje porque passei mal. Pedi pra Chloé passar lá em casa.
Ele assente.
–O que está acontecendo com o Matt?
Kyle olha para seus pés enquanto andamos.
–Eu não sei. Ele está estranho o dia inteiro. Nenhum de nós podia falar nada que ele tinha uma patada pronta para nos dar.
Arqueio as sobrancelhas de leve.
Paro em frente a porta do carona e olho para Kyle.
–Chloé me contou uma coisa sobre você que me fez rir bastante.
Cruzo os braços em frente ao meu peito. Kyle faz careta e eu dou risada.
–O que a fofoqueira contou dessa vez?