" Eu perco o sono e choro,sei que quase desespero,

Mas não sei por quê;

A noite é muito longa,eu sou capaz de certas coisas

Que eu não quis fazer..."

Lágrimas e chuva

Kid Abelha

Apartamento de Connor e Sarah

Noite de sexta

Narrador 

—Honestamente, não sei se teria todo esse sangue frio que teve,meu amigo- admite Ethan,tomando um gole de cerveja,sentado na varanda do apartamento do casal.

—Alguns meses atrás eu faria o mesmo. Hoje, já não sei - pondera Will - É difícil se manter fiel ao seu juramento quando tem na na frente,no caso nas mãos, o homem que quase te matou e a mulher que você ama- olha Nat, sentada na sala ao lado de Vik e Sarah com as crianças- Realmente não sei.

—Ouvir isto do cara que colocou a carreira em risco por desobedecer uma ordem de não ressuscitação é meio assustador!- Connor exclama, olhando-o - Mas compreendo. Não foi tão fácil assim. A vontade que tinha era de deixá-lo sangrar até morrer. Era só questão de reduzir o esforço, ninguém ia perceber- diz, dando de ombros - E como ele está?

—Estável - Ethan informa - Como dizia meu pai, vaso ruim não quebra.

—Depende. Se a pancada for bem forte e acertar o lugar certo.._sugere Will, gesticulando, chamando a atenção de Nat, que se levanta,indo até onde estão.

—Estão falando sobre o quê?- questiona, sentando na perna do noivo.

—A forma certa de quebrar um vaso- Connor fala, rindo ao ser acertado por um amendoin arremessado pelo amigo.

—Sei - olha-os, desconfiada- E por acaso esse vaso atende pelo de Paul Salinsk?-pergunta , o noivo abrindo os braços, sorridente.

—Viu. Nem precisei falaraaaaaaiiiiiiii!!...- para ao sentir o beliscão dado por Nat.

—Esqueça esse assunto Will. Connor agiu certo e por mais que digam que não- faz um gesto indicando ele e Ethan - Fariam o mesmo. É este o diferencial de profissões como a nossa: agir racionalmente mesmo quando nossas emoção pede o contrario. Pelo menos dos bons profissionais. Como você,meu amor- elogia, segurando seu rosto com as mãos,beijando-o.

—Hummm, com uma recompensa assim, vou ser o cara mais correto do planeta!- exagera,fazendo-os rir.

— Connor, você e Sarah estão  famosos - escutam Vik dizer,aproximando-se deles,Sarah ao lado, uma expressão de espanto no rosto.

—Como assim?-pergunta e ela lhe estende o celular. 

O aparelho exibe um vídeo,divulgado no youtube onde ele aparece,ao lado de Sarah, realizando os primeiros socorros ao homem do pier  mais cedo.

—Tinha alguém filmando- Sarah comenta,incomodada.

—Sempre tem alguém filmando- Will diz, recebendo o celular das mãos de Connor, assistindo-o junto com Nat e Erhan- No meio de tanta gente era pedir demais não ter. Olha, até que você é fotogênico! Já pensou em ser ator ou modelo?- brinca Will,provocando-o.

—Ha,ha,ha, engraçado!- ironiza, segurando a mão da esposa- O que foi? Te incomoda ter sido filmada?- quer saber.

—Não..E sim.- diz,confusa fazendo-o franzir o cenho- É que não gostei de termos sido expostos junto com nossa filha.-revela, desgostosa -Pode parecer bobagem,mas...-reflete um tempo antes de falar- Gostando ou não,sua família é muito rica e conhecida na cidade. E minha mãe é dona de uma das grandes firmas de advocacia. -para,suspirando - Não gosto da ideia de alguém ligado a qualquer um dos dois vê-lo e nos reconhecer.

—Uma antiga namorada ciumenta do Connor que não aceitou o fim do relacionamento,por exemplo?- brinca Will,tentando tranquiliza-la.

—Alguém já lhe disse que tem uma imaginação fértil?-provoca-o Connor - Devia tentar criar roteiros pra cinema!

—Ou pra novelas mexicanas -Ethan fala - Non,non,Connor mi amor! nuestro amor es imposible! Tu es um hombre casado!!- dramatiza, afinando a voz,imitando uma mulher.

—Quem tem a mente fértil agora?- questiona Will, olhando,boquiaberto enquanto os demais riem- Tenho que te dar uma certa razão,Sarah. Hoje em dia ficamos expostos demais  e nunca se sabe quando um Salinsk da vida pode surgir- diz,mais sério - Mas não surta com isso. Pelo menos não por antecipação -pede - O que pode acontecer ? Uma legião de fãs aparecer no hospital atrás do seu marido bonitão?- sorri, voltando ao tom descontraído.

—Ou atrás de você.- pondera Ethan, sacudindo os ombros- De qualquer forma, daqui a pouco surge um outro vídeo que chame atenção do pessoal e este é deixado de lado. Acontece todo dia. Que mal pode haver nisso?- questiona.

Infelizmente,iriam descobrir que muita coisa poderia acontecer por conta do vídeo. Nem todas, boas.

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Chicago Med    

segunda a tarde

Miss Goodwin

—Não, não ele não está de plantão hoje. Está de licença- informa Sharon Goodwin, ficando impaciente com a insistência do homem do outro lado da linha - Não tenho como lhe dizer. Isso só ele poderia responder. Não,não posso lhe dá o número pessoal dele,muito menos o nome sem a devida permissão-bufa,fazendo sinal para Charles e Downey entrarem - Agora,se me dá licença, tenho um hospital para administrar. Boa tarde.- desliga, sentando-se atrás de sua mesa.

—Dia difícil?- Downey pergunta, sentando-se no sofá,Charles do lado.

— Muito. Demais- revela- Sei que não fez por mal, mas esse vídeo do doutor Rhodes está me dando uma enorme dor de cabeça.-passa  a mão na testa, enxugando o suor - Sei que não quer saber de entrevistas, fotos ou qualquer tipo de auto promoção. Conversei com ele assim que as ligações começaram- diz - Por outro lado, a direção do hospital, em particular a equipe de marketing, está encantada com a propaganda positiva para nós.

—Não é pra menos - Charles começa- Já viu o vídeo?-pergunta e ela acena afirmativamente - Além de ter ficado muito bom,mérito de quem filmou, doutor Rhodes deu um show de habilidade e competência. Se não o conhecesse diria que era uma montagem,tipo, melhores momentos,mostrando só o que deu certo -continua - E ninguém sabe do envolvimento pessoal..

—E espero que não descubram ou as coisas vão ficar ainda mais  dificeis. Já é estranho terem descoberto que o médico do vídeo trabalha aqui.- comenta miss Goodwin,intrigada, massageando o pescoço.

—"Jovem e brilhante cirurgião salva a vida do homem que quase matou a ele e a esposa!"- enuncia Downey, sério - Não consigo decidir o que mais irritaria Andrew  e a diretoria:saber que mentimos quanto ao relacionamento dos dois na época, porque fatalmente Sarah será envolvida; Ou a tremenda falha na segurança quando do atentado.- enumera, suspirando - De uma forma ou de outra, também não estou gostando dessa atenção toda sobre Rhodes

—Por que não doutor Downey?- escutam Andrew questionar, entrando na sala sem bater - Algum motivo especial?

—Falando no diabo..-Charles sussurra.

—Além do fato de um dos herdeiros da maior fortuna da cidade trabalhar conosco, podendo atrair toda sorte de malucos?- questiona, erguendo a sobrancelha - Sem falar nas mocinhas casadoras,visto que, apesar de ela aparecer também, em nenhum momento se fez menção ao fato de ele ser casado, virem procurá-lo, lotando nossa recepção, com segundas intenções...

—Nem brinque com isso!-miss Goodwin pede - Não gosto nem de pensar nessa hipótese.

—Mas deveria.- Charles começa - Não tinha atentado para isto,David. De fato, a conta bancária dos Rhodes deve exercer um grande atrativo para o público em geral. De várias maneiras. Acredito que isto só não aconteceu ainda porque não teve seu nome divulgado- diz,voltando-se para Andrew, Sharon e David fazendo o mesmo, ao ouvir sua expressão,  um misto de espanto e medo.

—Por favor, me diga que não fizeram isto?- Sharon questiona,levantando-se, aflita.

—Pensamos que já era público, que todos sabiam- tenta justificar-se- Um jornalista ligou querendo saber detalhes,  se ele trabalhava conosco e...- David o interrompe

—Eis sua resposta Sharon!-  diz fazendo um gesto amplo coma as mãos- Eles devem ter ligado para vários hospitais querendo saber o mesmo, Andrew, já que não créditos no vídeo nem Rhodes usa jaleco ou qualquer outro tipo de identificação que o ligasse a qualquer  hospital.-lembra-o - E nossos sábios e ansiosos membros da diretoria preencheram as lacunas. Bravo Andrew,bravo!- ironiza batendo palmas- Quando Rhodes retorna?

—Dentro de seis semanas- comunica, entendendo o que Downey sugeria- Se ,até lá, este vídeo não tiver sido esquecido completamente, vou ter que reforçar a segurança. E muito.- anuncia.

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Silvie e Jimmy

—Anda novato, quero chegar no quartel antes da meia noite!- provoco, implicando com Jimmy,que se limita a me dar um de sus lindos e encantadores sorrisos-Da próxima vez,eu dirijo- anuncio,dando um tapa em seu ombro.

—Você que manda, gatinha!- devolve a provocação,sabendo o quanto odeio que me chamem assim.

Havíamos acabado de fazer o último resgate do dia, deixado o paciente no Med, e estávamos voltando para o quartel para encerrarmos nosso turno.

—Que tal uma cerveja no Molly's gata?-sugere e faço uma careta .

—Se para de me chamar de gata ou gatinha, posso pensar no caso.- digo, vendo, pelo canto do olho, seu sorriso aumentar- Eu disse pensar,novato- reafirmo - Não sou fã de beber em plena segunda feira!- argumento .

— Tá certo - diz - Uma pizza então? - convida após um tempo.

—Melhorou - digo, observando a lentidão do  transito a nossa frente - Não é o Rhodes ali?- aponto na direção do homem que saia, os braços repletos de sacolas, de um supermercado, abrindo a mala do carro para depositá-las, fechando, caminhando,a seguir, para a porta do motorista, abrindo-a.

—É sim- confirma, buzinando, acenando, e faço o mesmo.

No momento em que ele se vira para nós, acenando de volta,sorrindo, um carro para atravessado a frente do seu, impedindo-o de sair.

Meu coração dispara ao ver dois homens descerem do mesmo, saltando sobre ele, armas na mão, um atingindo seu rosto, fazendo-o perder os sentidos, enquanto o outro apontava diretamente para nós. Um terceiro surge, abrindo a mala onde jogam Rhodes, fechando-a, entrando novamente, saindo em alta velocidade, a ação toda não durando mais do que alguns minutos.

Encaro Jimmy, tremula,a boca aberta, sem conseguir esboçar qualquer reação. É ele quem se recupera primeiro.

—Central, aqui é a ambulância, 61, preciso reportar um incidente policial- começa,afobado- Um sequestro...a poucos minutos. O nome da vitima é Rhodes. Connor Rhodes - informa, me olhando, tão assustado quanto eu.

"...Será que alguma coisa nisso tudo, faz sentido?

A vida é sempre um risco eu tenho medo...

Lágrimas e chuva molham o vidro da janela

Mas ninguém me vê;

O mundo é muito injusto,eu dou plantão dos meus problemas

Que eu quero esquecer..."