Um Sussurro nas Trevas escrita por Will, kveronezi


Capítulo 3
A Primeira Transformação


Notas iniciais do capítulo

E por fim, conhecemos a terceira personagem da trama: Ramona. A jovem descobre da pior forma o significado de fúria.



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RAMONA

O aniversário foi horrível. Ramona entrou no chevette bege de cara fechada, Rodrigo entrou em seguida no banco do passageiro. A morena de cabelos escuros, cacheados era a dona de belos olhos escuros. Vestia-se com elegância sempre que possível. Usava agora um jeans justo, uma regata branca e uma jaqueta de couro por cima, um sapato de salto a deixava mais alta do que já era. Apesar de bela, o seu semblante no momento era de descontentamento. Rodrigo, tinha a mesma pele e olhos de sua irmã, os cabelos curtos, bem cortados e era ligeiramente mais alto que a morena. Usava uma regata preta com o logo do Linkin Park, um jeans folgado e um par de allstar preto.

—Calma, Mona... O pessoal só queria te dar uma festa surpresa, não precisava ter saído assim de cara fechada sem falar com ninguém.

—O pessoal? A ideia foi sua, aposto. Sabe bem que odeio surpresas. Digo! Sempre odiei. Eu ainda fingindo que estava tudo bem ate o babaca do seu amigo... O tal do Piolho, bêbado vir dar em cima de mim. Não sei nem por que convidou esse idiota e além do mais...

—Calma! -interrompeu Rodrigo- Tá tudo bem, já estamos indo embora, não precisa reclamar o resto da vida, garota. E além do mais, ninguém além do Piolho quis emprestar a casa para festa. E você sabe que ninguém teria coragem de ir lá em casa, a gente mora aonde Judas perdeu as pregas...

—Já entendi, Digo. Eu agradeço, mas dá próxima não faça mais surpresas.

Rodrigo suspirou.

—Ok, eu só não queria deixar passar em branco. Não é todos os dias que a gente faz 23 anos.
Ramona olhou pro irmão, se deu conta de como estava sendo injusta com ele. Rodrigo havia organizado toda a festa com carinho, e no final quem estragou tudo foi ela.
—Eu sei... É só... Que eu não gosto de festas. Não tenho mais animo para essas coisas desde que o pai morreu...

—Ta, mas esquece isso. A gente vai pra casa, pede pizza, e canta parabéns lá, que tal?

—Melhor assim. Posso chamar o Fred?

Rodrigo suspirou. Era o tipo irmão ciumento e desde que Ramona começou um relacionamento enrolado com o tal de Frederico, um rapaz mais novo que ela, e que ele só tinha uma palavra para definir: Vagabundo. Fred tinha 19 anos, não trabalhava ou estudava e vivia com os pais. Ou ao menos era isso que Rodrigo pensava. Ele passou a mão no rosto, visivelmente incomodado. Girou a chave do chevette no contato e foi dirigindo.

—Quer saber? Tudo bem, chama o Fred. -Ele forçou um sorriso. Já havia chateado a irmã demais. -No final das contas, só nós dois não dá uma festa mesmo...

Dito isso, Ramona ligou para o namorado animada.

O telefone chamou algumas vezes até que ele atendeu.

—Alô, Mona?

—Oi Fred... Sabe o que é... Você lembra que dia é hoje, não lembra?

—Err... Aniversário de namoro?

—Não, seu babaca!- Ela respondeu rindo. - É o meu aniversário!

—Já sabia, só estava te testando, hehe.

—Vai ter uma festinha lá em casa, por que não vem?

—Festinha, é? - Ramona imaginou o rapaz ao outro lado da linha mordendo os lábios ao dizer isso, é sorriu para si mesma. -Só nossa?

—Não, idiota, o Digo também vai estar.-Rodrigo nesse momento olhou de esguelha e franziu o cenho, imaginando o conteúdo da conversa.

—O que?!? Eu vou ter que encarar o brucutu do seu irmão?

—Relaxa, Fred, ele já sabe que você vai, Tá de boa.

Ramona ouviu o suspiro de Fred ao outro lado da linha e ele finalmente respondeu:

—...Tá, em uns 20 minutos eu chego. Beijo.

—Beijo.-A moça desligou o celular e sorriu. -Agora sim..

O irmão nada falou, e tomou a estrada rural que levava a casa deles, afastados da Cidade.

*

Cerca de 15 minutos depois, os irmãos trilhavam o caminho tortuoso e escuro para a casa. Adiante o caminho se bifurcava. De um lado, o caminho para o sítio,. Do outro, um caminho sem pedagio para Cristalina, a cidade vizinha de Nova Independência. Entre a bifurcação, ficava um posto de gasolina, daqueles sem bandeira que está sempre vazio. Já era possível ver as luzes do posto a uns 2 ou 3 quilômetros a frente. O chevette de Rodrigo já estava acostumado com aquela trilha, subia, descia e pulava entre as depressões da estrada de terra sem abrir o bico. Eles alcançaram um descampado que margeava o estradão. Dali, a lua cheia parecia gigantesca como se via em filmes e fotos.

Rodrigo diminuiu velocidade e foi admirando a beleza da lua naquela estado.

—A lua cheia é a mais bonita, mas a mais melancólica...- Ele disse para a irmã. Esperou uma resposta, mas Ramona nada dizia. Ele olhou pra irmã e percebeu que ela é estava pálida, Suando muito. -Mona. O que foi? Cê tá bem? Quer ir para o médico?

—Para o carro, Digo. Pelo amor de Deus, acho que vou vomitar...

Na mesma hora, Rodrigo jogou o carro para a beira da estrada e brecou próximo a uma árvore. Ramona saiu apressada, se apoiou na árvore com uma mão e a outra segurou os cabelos. Ela fazia força para vomitar, para acabar logo com aquele mal estar, mas nada vinha.

Rodrigo saiu do carro e foi pra perto dela. Ele percebeu que Ramona parecia paralisada, olhava vidrada para o chão sob os pés. Ela se virou de repente, olhando para aquela lua cheia cênica.

—Mona... O que você tem? Será possível que...? -Rodrigo olhou para aquela lua, as lembranças vinham a tona.. Sangue, destruição, morte... Ele logo entendeu o que era...- Ramona! Se controla, Ramona!

Os olhos da mulher se acenderam como labaredas, ela soltou um grito estridente olhando para a lua. Rodrigo, com o susto, se afastou, mas não desistiu. Tudo o que queria era impedir outro desastre. Ramona começou a mudar. O corpo todo da moça começava a crescer, tentando rasgar as roupas que a cobriam. A sua boca se projetava adiante, os dentes crescendo tais quais o de um leão... Ou de um lobo. A roupa cedeu e se rasgou, pelos logo cobriram todo o corpo de Ramona, suas unhas transformavam-se em garras. Entre as pernas, surgia uma cauda felpuda. A cabeça dela perdia o formato humano em favor de um formato híbrido canino. Orelhas pontudas surgiam no topo do crânio a medida que as orelhas humanas amalgamavam-se a nova forma. Os pés estouraram o sapato de salto a medida que cresciam, mudando de estrutura até ficarem como as patas traseiras de um lobo.

Perplexo, Rodrigo caiu sentado no chão, atrás do chevette. Aquele pesadelo do passado voltou, a silhueta monstruosa contornada Pela luz do luar...Era o Lobisomem. A criatura se aproximou de Rodrigo com passadas largas e pesadas, se aproximou do rosto dele e rugiu ferozmente. O medo irracional de Rodrigo o paralisou. Ele simplesmente não tinha reação, não estava preparado para aquilo...

O Lobisomem então saltou para longe, pousando no capô do chevette. O peso e força descomunais da besta destroçaram o motor, o eixo e todos os componentes na dianteira do carro. Ela então assumiu uma postura quadrúpede e correu pela estrada, na direção do posto.

Rodrigo só se recuperou daquele estado catatônico quando viu a fera ir para longe.

—Não... Ela está indo pro posto, deve ter gente lá... Merda, merda, merda!!!

Com as pernas ainda bambas Rodrigo enfrentou seu medo e correu na mesma direção. Tinha que impedir Ramona de algum jeito...

*

Fred era um garoto pálido, de cabelos negros e cumpridos, bem embaraçados. Seu visual largado era o que mais chamava a atenção de Ramona. Estava sempre de roupas folgadas era descontraído, conversava sobre tudo e com todos. Não era um vagabundo como Rodrigo o definia. Parte do dia trabalhava num estúdio de tatuagem e piercings, na outra ajudava a avó paterna, que estava em estado Terminal de câncer. estacionou o carro na frente da bomba de gasolina. Apagou o cigarro de maconha no cinzeiro antes de sair do uno antigo preto que antes pertencia ao seu pai.

— E aí, seu Manoel? - desceu cumprimentando o senhor que tomava conta do posto, um homem próximo dos sessenta anos, negro e com alguns fios grisalho na cabeleireira calva, trajando o uniforme e a jaqueta do posto. Entregou a chaves. - 30 de gasolina, por favor.

— E aí, moleque. Tá indo pra onde animado assim? - o velho ia abrindo o compartimento do tanque e ajustando a bomba eletrônica.

—Tô indo ver a minha gata, aniversário dela hoje.

Começou a injetar o combustível, ambos ouviram um ruído ao longe mas não se importaram.

— Gata é? Deixa o Digo descobrir isso que ele te mata.

—Mata nada, seu Manoel. Ele vai estar lá também, parece que tá começando a aceitar.

Mais ruídos, agora mais altos. Ambos olharam e viram um vulto na escuridão. Fred engoliu em seco e Manoel continuou tranquilo.

—Vira homem, moleque. Deve ser uma das vacas do Silveira que escapou.

—Vaca? Tá vindo rápido demais...

Enquanto isso um outro senhor estacionou uma van sprinter ao lado de outra bomba de gasolina. Vindo da estrada de Cristalina o senhor moreno que aparentava estar na casa dos 40 desceu do carro de cara fechada. Usava um uniforme da transportadora Martins. Um par de óculos e o bigode davam o ar sisudo ao homem. Ele foi até o senhor Manoel e entregou a chave do tanque da sprinter.

—Completa.- Ele disse antes de virar as costas e ir ao banheiro.

Manoel olhou o homem se afastar e comentou com Fred.

—Sujeito babaca. Odeio ter que atender esse tipinho...

Fred concordou sem tirar os olhos da escuridão da estrada.

*

Aos novos olhos de Ramona, tudo era um alvo. Ela queria matar, destroçar, devorar. Por algum motivo, não consegui fazer isso com o irmão, algo a impediu. Então ela correu. Correu tanto quanto podia na direção daquela luz. Lá haveriam alvos nos quais descontar aquele ódio crescente.
Ela correu a todo impulso o tempo inteiro, em segundos chegou no posto. Ela pulou das sombras e avançou no que tinha o cheiro mais forte.

Fred nem mesmo teve tempo de gritar. Seu azar foi ter aceso o baseado antes de sair de casa. Ramona pulou sobre ele mordendo a sua cabeça e o esmagando contra a bomba de combustível. Manoel gritou horrorizado e correu pra dentro da lojinha de conveniência procurando o telefone. A Fera, ainda insatisfeita destroçou o que restou do corpo de Fred com as garras, jorrando sangue para todos os lados. Um dos golpes acertou um dos pilares, e um lado do telhado caiu destruindo a sprinter e arremessando escombros pra dentro da loja de conveniência . O cheiro de sangue encheu as narinas da mulher lobo e de repente ela parou. O ódio irracional se desfez uma vez que ela provou o sangue, e sua consciência retornou num baque. Ela estava lá, sobre o corpo mutilado do namorado... E a culpada era ela própria. Cheia de angústia, a lobisomem uivou melancólica para a lua...

Rodrigo chegou ofegante, só para ver que a desgraça já havia se realizado. Ele caiu de joelhos, os olhos cheios de lágrimas.

—Ta acontecendo tudo outra vez.


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