Vidas Secretas escrita por skammoon


Capítulo 30
Capitulo 30


Notas iniciais do capítulo

Vida ou morte



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Acordei com o barulho do radio que Shelby estava ouvindo, ela aproveitava quando Carly não estava no quarto.

Já passava das sete, eu não tinha ouvido o alarme, mas não importava, já que eu não iria à aula.

No meio da madrugada me deram alguns enjoos, que não me permitiu dormir direito, estava ansiosa e nervosa demais.

Senti o cheiro de bacon e batatas fritas, que me deixaram meio zonza. Estranhei, já que eu adorava bacon e batatas.

—Bom dia, dorminhoca. – Shelby disse a me ver levantando. – busquei hambúrgueres, bacons e batatas fritas, eu sei que você ama.

—Obrigada. – estava me sentindo um pouco enjoada. – o cheiro esta forte.

—Esta como sempre, do jeitinho que eu gosto.

Troquei-me de roupa. Eu sabia que logo algum “escravo” do meu pai chegaria pra me buscar.

Coloquei um short, minha camiseta cinza e preta com o numero “18” estampado na frente e um tênis branco.

Escovei os dentes e fui para cama da Shelby para tentar comer algo.

Quando me aproximei, meu estomago se revirou por inteiro. Corri para o banheiro, ajoelhei-me segurando a borda do vaso e coloquei tudo pra fora.

—Amiga? – Shelby correu até a porta assustada. – o que aconteceu?

—Não sei, deve ser ansiedade.

—Ansiedade? – ela cruzou os braços. – você disse que o cheiro daquelas delicias que trouxe estava forte, e quando você se aproximou deu enjoo.

—Hum... – eu parei raciocinando, já sabia o que ela estava pensando. – eu não estou gravida.

—Amiga...

—Não tem como eu estar.

—Vocês se preveniram todas às vezes?

—Sim, quer dizer. – eu estava ficando nervosa. – teve uma ou duas vezes que não.

—Então!

—Mas pelas minhas contas, eu não podia ficar gravida.

—Como assim pelas suas contas?

—Analisei os dias da minha menstruação.

—Mas até eu sei que às vezes você é meio desregulada.

—Não pode ser, não tem como!

—Claro que tem. – ela estava surtando – ai esta a prova, você tem que fazer o teste. Por que não tomou a droga do anticoncepcional?

—Achei que minhas contas estivessem certas e eu estaria segura. – meu coração começou a acelerar. – e ainda acho isso. – na verdade, eu estava um pouco desconfiada.

—Ok, digamos que suas contas estejam certas, quando era pra ter vindo pra você?

—Hum... – pensei um pouco... Droga! – uma semana e meia atrás.

—Meu deus! – ela pirou! E eu também já estava enlouquecendo! – você tem que fazer o teste!

—Por favor, não me deixe mais nervosa, daqui a pouco vou encontrar meu pai.

—Amiga! Se toca, isso é bem mais serio.

—Eu não posso estar gravida! Eu e Luan acabamos de terminar!

—Eu sei, mas com certeza vocês vão voltar, e mesmo se não voltar, agora você tem um bebê pra cuidar.

—Eu só vomitei uma vez.

—Uma vez? Te vi levantando de madrugada e indo até o banheiro.

—Ok! Duas vezes, grande diferença.

—Pra uma gravida é!

—Eu não estou gravida! Isso é loucura Shelby!

—Quer saber? Eu vou até a farmácia da faculdade comprar cinco testes pra você fazer!

—Cinco? – ela estava exagerando.

—Sim, pra você ter certeza!

Antes que eu respondesse ela pegou a carteira e saiu.

Eu estava negando, mas Shelby poderia ter razão. Eu não havia feito às contas direito, estava atrasada e com enjoo, que sinais mais eu precisava pra desconfiar que estivesse gravida? Eu poderia estar carregando algo dentro de mim, uma criança tão pequenininha, que também fazia parte de Luan. Meu Deus, tínhamos acabado de terminar. Isso seria tão louco pra ele quanto pra mim! Talvez ele nem quisesse assumir, isso mudaria totalmente nossas vidas.

Talvez seja melhor não contar pra ele, eu não queria que Luan tivesse que se sentir obrigado a cuidar do bebê, eu poderia fazer isso sozinha, não precisaria que ele ficasse comigo por obrigação, não queria isso. Se eu estivesse gravida, cuidaria do meu filho, sozinha. Quando não desse mais pra disfarçar, teria que ir embora, mesmo que isso significasse deixar Yale.

Eu já estava pensando em tudo isso, sem nem ter feito o teste. Talvez desse negativo.

—Pronto. – Shelby chegou com a sacolinha. – a mulher do caixa estranhou um pouco, e eu tive que dizer que era pra minha mãe, pra não sair boatos.

—Não acredito. – soltei um risinho.

—Vai la fazer.

—Estou com medo.

—Obviamente, mas não se preocupe.

Ela me abraçou e entregou os testes.

Fui até o banheiro e fiz.

Esperei cinco minutos e os cincos testes apitaram. Eu estava com muito medo, não conseguia ver.

—Eu vejo. – Shelby disse pegando-os. Ela olhou todos e ficou boquiaberta. – Amiga...

—Qual foi o resultado?

—Hum...

—Fala logo!

—Você vai ser mamãe...

—O que? – a ficha não estava caindo.

—Deu positivo, amiga.

Meu mundo virou de cabeça pra baixo. Eu já havia pensado em tudo que eu faria, mas vivenciar isso era totalmente diferente. Todo resto desapareceu naquele momento, os únicos que estavam em meus pensamentos eram meu bebê e Luan, eu contaria a ele? Não, não quero dar essa obrigação, ele se sentiria preso a mim de alguma forma e eu o queria deixar livre para ser feliz do jeito dele.

—Malu? – Shelby chamou ao perceber que eu estava sem reação. – você tem que contar a ele.

—Não. – surtei – por favor, você não pode contar pra ele, nem pro Daniel.

—Esta falando serio? Vai esconder isso do Luan?

—Sim, é melhor.

—Você esta louca? Todo homem deve saber que vai ser pai!

—Eu não posso – meus olhos se encheram de lagrimas. – não posso.

—Você não esta pensando direito.

—Eu já pensei.

—Não vai dar pra esconder pra sempre.

—Eu sei, por isso logo irei embora.

—Você só pode estar brincando.

—Darei um jeito pra tudo, mas não vou contar pra ele.

—Mas...

Ela parou quando a porta se abriu.

Um homem entrou no quarto, ele estava de jeans e uma jaqueta de couro preta. Pude reconhecer na hora que era um dos homens que trabalhava para meu pai.

—Você não sabe bater? – Shelby gritou.

—Cale a boca. – ele pegou minha pequena mala que eu havia feito na noite seguinte e entregou a outro homem barbudo que estava na porta. Depois me puxou pelo braço.

—Me solta! – gritei – vocês são os capangas do meu pai, certo?

—Você já sabe que sim, então não enrola garota.

—Não fale assim com a gente, ok? – o que a Shelby estava fazendo? Ela sabia que esses homens eram perigosos. – E eu vou junto com vocês.

—Vamos levar a garota para o aeroporto e a por no voo pra confirmar que não ira fugir. Se quiser a acompanhar, então de seus jeitos e vai sozinha até la!

—Não se preocupem, eu não vou fugir. – minha voz ainda era tremula.

—Cansei de enrolação. – o homem me pegou pelo braço e me puxou o mais rápido possível até o carro.

Shelby tentou vir atrás, mas eles eram bem mais rápidos. Jogaram-me no banco de trás e deram partida.

Olhei pra trás e ela estava desesperada mexendo no celular.

Os capangas me deixaram faltando poucos minutos para o avião decolar.

Eles haviam me dado à passagem e feito ameaças, caso eu resolvesse fugir.

Olhei pra trás e vi Shelby, Daniel e Luan vindo em minha direção. Naquele momento eu queria correr para os braços de Luan, mas não podia fazer isso.

Os capangas me seguraram pelo braço novamente.

—Fiquem longe dela! – Luan os empurrou pronto para soca-los, mas Daniel o segurou.

—Se acalma cara! – Daniel falou – isso só vai piorar as coisas.

—Ouve seu amiguinho rapaz. – o barbudo disse. – podemos acabar com você em poucos minutos.

—Eu duvido disso. – Luan deu um sorriso irônico.

Ouvi o alto-falante dizendo que o avião para Las Vegas já iria decolar.

—Vamos. – Shelby disse.

Luan sentou-se ao meu lado. Já era de se esperar. Estava estampado em minha cara que eu não estava nem um pouco bem e a qualquer hora ele ia querer conversar sobre isso.

Fiquei olhando o céu pela pequena janela. Lembrei-me do dia em que eu estava indo para Miami, a nova vida que eu havia planejado ter estava indo por água abaixo.

E ali estava eu outra vez, observando as nuvens que pareciam de algodão e o céu tão azul quanto o mar.

—Você esta bem? – ouvi a voz de Luan.

—Sim.

—Malu, te conheço o bastante pra saber que não está.

—Não quero falar sobre isso.

—Tudo bem, eu entendo. – ele pegou minha mão e eu virei-me para olhar em seus olhos. – mas quero que saiba que apesar de tudo, ainda estou com você.

—Obrigada. – meus olhos se encheram de lagrimas e eu sabia que não conseguiria segurar.

Olhei de volta para a janela enxugando meu rosto disfarçadamente.

Acabei dormindo quase a viagem toda. Acordei pelo grito de Daniel quando tínhamos chegado.

Desci sentindo o ar de Vegas. Era estranho estar ali novamente, eu me sentia meu antigo eu, e isso não era nada bom.

—Vamos comer alguma coisa. – Daniel disse – estou faminto.

—Acho que não temos tempo. – Shelby disse.

—Temos sim.  – eu respondi – meu pai nem me mandou o endereço de onde quer me encontrar.

Eles já estavam me ajudando, eu precisava pelo menos os deixar matar a fome.

—Vamos naquela lanchonete. – Luan apontou para o outro lado da rua.

—Pode ser. – Daniel concordou. – vocês concordam meninas?

—Se a Malu quiser. – Shelby disse.

Ir para uma lanchonete não era uma ótima ideia, pensar nas comidas gordurosas que iria ter la, já revirava meu estomago. Mas se eles queriam, eu não podia falar que não.

—Pode ser.

Nos sentamos na mesa perto da janela, e o banheiro era do outro lado da lanchonete, que ótimo!

Todos pediram hambúrgueres e eu um suco de laranja.

O cheiro inundou quando a garçonete trouxe os pedidos. Eu tive que prender um pouco a respiração e dei uma golada no suco.

Shelby estava com um olhar preocupado, ela sabia como eu estava me sentindo e sabia que a qualquer hora eu teria que correr para o banheiro.

—Você só vai beber isso? – Luan perguntou.

—Sim. – disse rapidamente.

—E vai te sustentar?

—Vai sim, não se preocupe.

—Garçonete! – Daniel chamou. – traz uma porção de batatas fritas, por favor.

—Ok. – a garçonete respondeu.

Aquilo não estava acontecendo. Ele tinha mesmo que pedir batatas?

—Malu? – Shelby chamou. – esta tudo bem?

—Sim, está. – forcei um sorriso.

A mesma garçonete trouxe a porção de batatas, prendi a respiração ainda mais. Eu odiava ser sensível assim, mas devia ser normal enjoar de quase tudo durante a gravidez.

—Não vai querer nem batatas? – Daniel estranhou.

—A deixe em paz amor. – Shelby resmungou.  

—Estou bem só com um suco. – forcei para as palavras saírem, eu precisava sair dali. – vou ao banheiro.

Quando me levantei dei uma cambaleada, segurei na cadeira da Shelby que estava ao meu lado.

—Você não esta legal. – Luan foi até mim. – eu te levo até o banheiro.

—Eu... – droga! Eu precisava correr antes de por tudo pra fora ali mesmo na cabeça de alguém.

Deixei Luan pra trás e fui o mais rápido possível para o banheiro.

Senti um alivio. Passei o lenço umedecido e o enxaguam-te bucal que havia no banheiro.

Quando saí Luan parou em minha frente, ele havia me esperado na porta do banheiro.

—Eu estou bem. – falei.

—Não é o que parece.

—É só nervosismo.

—Tem certeza?

—Tenho.

Passei por ele e voltei para a mesa, o cheiro já não estava me incomodando tanto, mas eu preferia não estar sentindo. Era loucura não estar suportando as coisas que eu mais amava.

Meu celular apitou, era uma mensagem do meu pai.

Comecei a ler para que os outros ouvissem.

“Estou no cassino, te esperando no mesmo lugar de sempre, venha logo minha princesinha.”

—É agora. – falei um pouco nervosa. – eu já vou ir.

—Nós vamos. – Luan levantou-se.

—Nós também. – Shelby disse.

—Não precisa, vocês podem ficar se divertindo por aqui, meu pai não curte muita gente em nossas conversas.

—Eu sei. – Shelby disse. – mas...

—Eu vou com ela. – Luan a interrompeu. – podem ficar aqui, vocês sabem que comigo ela estará segura.

Assenti, eu não podia negar o que era pura verdade.

Depois de cinco minutos insistindo, Shelby e Daniel aceitaram o que Luan havia dito. Shelby já me ajudará muito no passado e ela odiava meu pai tanto quanto eu. Não queria que ela tivesse que revê-lo, porque eu sabia que meu pai a deixaria nervosa, eu só queria resolver isso logo e sair daquele lugar o mais rápido possível.

—Você vai ter que me guiar. – Luan estendeu a mão, eu não sabia exatamente o que ele pretendia nessa viagem.

Sorri pegando-a e andando apressadamente, precisávamos chegar logo.

O meu medo era tanto que minhas mãos estavam tremulas e senti Luan a acariciando.

O cassino continuava incrível, mas ainda me traziam péssimas lembranças.

Vire-me para Luan que estava boquiaberto olhando o teto dourado com suas luzes espetaculares, ele observava cada desenho e escultura.

Passamos entre as mesas e consegui avistar o balcão em que meu pai estava.

La estava ele, de costas com sua jaqueta preta e seu jeans justo, seu estilo continuava o mesmo, porem parecia mais acabado. Seus cabelos estavam compridos, quase até os ombros.

Luan apertou minha mão mais forte enquanto nos aproximávamos.

—Pai? – sussurrei.

—Até que enfim. – ele virou-se aos poucos e abriu um largo sorriso. – trouxe um acompanhante, suponho que seja seu namorado.

—Esse não é o assunto. O que você quer?

—Estou em uma enrascada.

—Isso não é novidade. Vá direto ao ponto.

—Assim que eu gosto, vejo que puxou pra mim.

—Você está muito enganado, não tem nada de você em mim, e fico muito feliz por isso.

—Ah minha querida. – ele tocou meu queixo e Luan me puxou pra trás, se pondo á minha frente. – calma ai garoto, eu sou o pai aqui.

—Você não merece o titulo de “pai”. – Luan disse. – fala logo o que você quer!

—É um caso de vida ou morte. – ele prosseguiu. – preciso de dinheiro para pagar o pior dos jogadores.

—Quem? – perguntei.

—Julian Young.

—Que droga! – surtei – você sabe que ele joga com a vida! Por que foi se meter com esse mafioso?

—Cheguei a pensar que poderia ganhar.

—Você só pode estar brincando. – ri ironicamente, eu estava ficando cada vez mais nervosa. – quantos você deve?

—Quinze.

—Quinze? – Luan perguntou? – quinze dólares?

—O que? – meu pai riu. – meu deus.

—Quinze mil Luan.

—Mas, você esta economizando esse dinheiro.

—Eu sei. – eu precisaria muito daquele dinheiro, eu tinha um bebê pra cuidar, mas precisava acabar com essa relação que tinha com meu pai. – depois disso, nunca mais quero te ver.

—Estamos de acordo minha lindinha. – ele sorriu pegando uma mexa do meu cabelo. – então, você vai salvar minha vida?


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