O Livro de Eileen escrita por MundodaLua


Capítulo 7
Problemas Com Uma Deusa


Notas iniciais do capítulo

Olá caros leitores, espero que vocês gostem desse próximo capítulo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/686215/chapter/7

Assim que Eileen recuperou um pouco de suas forças, embora ainda estivesse atordoada, quando notou que braços a envolviam, tentou se desvencilhar.

— Hei! Calma… Calma. - Dean a segurou com mais força, impedindo a menina de continuar se debatendo.

— Me solta! – Ela disse, embora quisesse ter gritado, tudo que saiu foi um sussurro exausto – Você viu o que aconteceu, me solta. - Continuou tentando se debater, mas foi em vão, acabou sendo acomodada em uma das camas restantes, e antes que pudesse pensar as lágrimas já começavam a escorrer pelo seu rosto.

— Mas que merda… - Dean olhou para Sam atordoado, sem saber mais o que dizer. Eileen começara a soluçar e quando o mais velho voltou a olhar para ela, a menina havia se encolhido contra a cabeceira da cama e abraçava com força o travesseiro, os olhos já haviam se tornado dois úmidos refletores de luz – Eileen! - A chamou, mas a menina nem mesmo o olhou – Eileen! - Ele tentou encostar nela novamente, mas ela se encolheu ainda mais – Está tudo bem, está tudo bem, o feitiço já acabou, ele passou de você pra cama e acabou. - Disse, tentando usar a voz mais calma que conseguiu.

— Dean tem razão. - Sam chegou mais perto dela, que já não tinha mais para onde se encolher. Mas suas ações logo traíram suas palavras, uma vez que ele hesitou e nem mesmo chegou a querer tocar nela. Não estava inclinado a ser tão descuidado quanto seu irmão fora, eles não poderiam ter total certeza de que não existia nenhum resíduo do feitiço em Eileen.

— Acabou, viu, você tá com o travesseiro, e ele está inteiro, você encostou em mim, e eu estou inteiro. - Começou Dean ante aos soluços que aumentava gradativamente, sentindo uma estranha empatia pelas faces vermelhas e que já começavam a inchar da garota.

— Eu… - Ela começou com esforço – Eu poderia ter machucado vocês. E… Eu senti como se alguém tivesse sugado toda a minha energia num só puxão, foi horrível… Horrível. - Apertou com mais força o travesseiro e enterrou seu rosto nele.

Dean já não sabia mais o que dizer para acalmá-la, então sentou-se na cama em que ela estava e olhou para Sam em busca de alguma ajuda, mas o mais novo também não sabia o que dizer, eles teriam que entender que era muito para Eileen assimilar de uma vez só. Se sentiram aliviados quando depois de longos minutos, os soluços foram diminuindo, e eles ouviram, baixo e abafado pelo travesseiro:

— Eu tenho poderes… - Ela disse apenas, e os irmãos foram obrigados a rir, aliviando um pouco da tensão.

— É, você tem. - Dean disse, ainda rindo.

— Eu acho que eu preciso comer alguma coisa. - Ela disse, tirando o travesseiro do rosto, pensando em como um feitiço feito sem querer pode drená-la com tanta força.

— Eu vou pegar alguma coisa nas máquinas lá fora. - Dean falou, deixando o quarto.

— Eu nem sei o que dizer. - Eileen começou, finalmente relaxando o corpo e sentando na beirada da cama – Não sei se fico com medo ou se acho isso a coisa mais legal do mundo.

— Acho que uma média disso já é bom. - Sam disse, sorrindo.

— É, algo entre aterrorizada e superanimada deve funcionar pra mim. - Levantou-se e foi até o lugar em que agora só havia uma lembrança da cama – Eu nem mesmo pensei em nada, eu só disse a palavra… - Começou, voltando-se para encarar Sam – E foi uma mistura de sensações quando eu liberei o poder… A coisa mais próxima que eu já senti disso foi vomitar, foi literalmente como tirar algo de mim da maneira mais agressiva possível.

— Não pense muito sobre isso agora, Eileen. Se foi tão forte quando você diz, é melhor que você só descanse um pouco e depois nós resolvemos. - A menina concordou e voltou a sentar na cama.

— Bem, pelo menos agora nós podemos riscar algumas perguntas da lista.

— É, mas nós ainda temos que achar aquele documento do qual John falou, ainda existem grandes lacunas na história dos Mitrahá.

— Vocês vão continuar me ajudando, mesmo depois disso? - Ela imaginava que depois do que ocorrera, assim que chegassem ao bunker, a fariam voltar para casa.

— É claro que nós vamos. Você vai ter que aprender a lidar com esses poderes, e não me entenda mal, mas eu acho que seria mais seguro se nós pudéssemos assistir isso. E talvez você possa vir a ser útil em uma causa maior.

— Causa maior? - Ela perguntou, mas Sam não teve tempo de explicar, pois Dean irrompeu no quarto trazendo alguns pacotes de chocolate e latas de refrigerante.

— Pacotinhos de energia. - Disse balançando uma das embalagens que trazia, recebendo uma cara de reprovação de Sam, e um grande sorriso de Eileen.

A menina comeu todo o doce e chocolate que acho humanamente possível sem que antes se tivesse uma intoxicação alimentar, assistida por Sam e Dean que carregavam em suas expressões um misto de graça e preocupação, está última já se tornara recorrente demais, para que Eileen não a percebesse facilmente.

— Eu nunca imaginei que na minha vida eu estaria numa situação dessas. - À fala seguiu-se um suspiro.

— Você não escolhe essa vida, essa vida é que te escolhe. - Dean falou em tom de gracejo.

— É! - Mais um suspiro – Eu vou dormir um pouco, eu imagino que devam ter alguns colchões extras no armário. - Mas antes que ela pudesse ir até eles, Sam insistiu que ele preferia ficar acordado aquela noite, para pensar e pesquisar um pouco mais na internet. Assim, o mais velho e a garota foram dormir, enquanto Sam, sentado em frente ao computador, tentava se concentrar, mas seus olhos eram constantemente levados até o espaço vazio, onde a cama estivera, lembrando-se com um misto de admiração e pavor a cena que presenciara.

Eileen pegou no sono depressa, e todo seu corpo pareceu agradecer, e embora os mesmos sonhos tenham voltado, agora estranhamente mais nítidos do que antes, ela pode desfrutar do descanso. Mesmo em seu estado relaxado, ela pode ouvir quando uma porta bateu, mas está foi a última coisa do mundo externo que seu cérebro registrou antes de apagar por completo, o resto foi silêncio.

Não poderiam ter se passado mais do que quatro horas desde que pegara no sono, quando ouviu a voz de Dean, distante e pouco definida, a chamando. Por algum tempo ela achou que aquilo fosse um sonho, mas então sentiu ser tocada no ombro, e sua mente foi tragada para a realidade.

— O que foi? - A voz injuriada, o corpo ainda clamando por mais descanso.

— Sam…

— O que tem ele?

— Alguma coisa sequestrou ele. - Dean tinha a voz carregada de uma preocupação que Eileen nunca tinha ouvido até aquele momento, isso e a nova informação a fizeram despertar por completo, e se erguer com rapidez da cama.

— Como assim alguma coisa sequestrou ele? - Ela o encarou, encontrando na face do rapaz o mesmo medo que sentira na voz.

— Eu ouvi quando ele saiu de noite, mas ele sempre faz isso, então eu não dei importância, mas quando eu acordei, tinham duas mensagens dele no meu celular. - Ele mostrou os dois textos, que de maneira curta diziam apenas “SOS” e um número 746, uma mensagem fora enviada logo em seguida da outra, cerca de uma hora atrás.

Eileen esfregou o rosto com força – 746? Isso é o número de algum lugar? - Levantou, indo até o banheiro e jogando uma generosa quantidade de água no rosto.

— Provavelmente. - Dean foi até o computador que fora deixado ligado, e descobriu que 746 era o número de um galpão alguns quilômetros além da cidade em que estavam – Vamos! - Eileen concordou e ambos correram até o carro.

Enquanto Dean dirigia, seu celular tocou e o nome de Sam apareceu no visor, ele atendeu, colocando rapidamente no viva-voz.

— Meu querido Dean, eu não esperava te encontrar por perto. - O mais velho fez uma careta, no segundo em que a voz feminina soou, a garota por outro lado não fazia ideia de quem falava – Embora não tenha sido por vocês que eu me aproximei, devo dizer que eu estou com muita sorte.

— O que você quer Inanna? - O Winchester disse, cheio de raiva. Eileen continuava perdida.

— O de sempre, te fazer a mesma proposta irrecusável. - A voz cheia de malícia sugeria perfeitamente as intenções daquela conversa.

— Deixa eu lembrar… A mesma proposta que eu recusei antes?

A voz no outro lado soltou um grunhido de raiva, mas logo voltou a falar – Agora é diferente, eu tenho seu irmão, o belo Sammy, se eu já não quisesse tanto você Dean, ele serviria perfeitamente.

— Como você nos achou? - Dean perguntou, sem dar qualquer resposta aquela provocação.

— Tem algo que vocês carregam, eu imagino, que soltou uma carga de energia muito forte. No momento que eu a senti, vim, curiosa, descobrir o que era, e tal foi minha surpresa ao achar seu irmãozinho perambulando por ai, perto de onde a energia foi liberada. Eu vi a chance, e aproveitei.

Dean olhou para Eileen, que parecia mais mortificada do que nunca. Ele via estampado o “isso é tudo minha culpa” nas expressões dela.

— É melhor você não fazer nada com ele, sua filha da puta, por que eu estou indo até ai.

— E eu estou contando com isso… - Foram as últimas palavras antes de ela desligar.

— Quem diabos, é Inanna? - Eileen perguntou, sem saber mais o que dizer.

— É uma deusa… - O rapaz começou, vendo a garota arquear as sobrancelhas – Deusa pagã da fertilidade, ela é meio… Meio que apaixonada por mim – Eileen teria rido daquilo, não fosse a atual situação – Nós já nos encontramos antes, ela nos salvou de um dos irmãos dela, que estava tentando me matar. Então ela fez essa proposta, de que eu fosse o marido de número cem dela.

— 100? Tipo cliente número cem? - Gracejou, mas se arrependeu assim que viu o olhar do mais velho – Ok, ok, você recusou, ela ficou puta.

— Exatamente. Ela forçou a barra, nós tentamos matá-la e ela fugiu.

— E agora ela achou vocês por minha culpa.

— Quem imaginaria que ela estava por perto? Eu mesmo achei que ela tivesse desistido de nos procurar depois de todo esse tempo.

— O que nós vamos fazer?

— Você? Nada, eu vou entrar lá e resgatar meu irmão.

Eileen indignada ia começar a expressar sua discordância quanto aquilo quando Dean recomeçou – Você sabe como matar um deus? - Novamente a menina apertou os olhos em sinal de protesto, e novamente Dean lembrou-se do amigo anjo – Não, você não sabe.

A garota não tinha como contra argumentar aquilo, então calou-se, mas a lembrança do que fizera na noite anterior a levaram a crer que muito em breve ela poderia ser útil, sabendo ou não como matar deuses.

— Você acha que vai ser fácil assim, só entrar e matar ela?

— Eu tenho certeza que não. - Falou apenas, e o carro caiu em um silêncio mortal até que eles chegaram ao galpão.

— Então, como se mata um deus? - Perguntou enquanto assistia o mais velho tirar várias coisas do porta-malas do carro.

— Depende – Tirou de dentro de uma sacola ramos de alguma planta que Eileen não reconheceu a primeira vista– Ramos de Valeriana, não vai matar ela, mas essas aqui foram molhadas com o orvalho de um templo sagrado, vão colocar ela pra dormir por, pelo menos, um século.

— E você vai só jogar nela? - Observou as pequenas flores duvidando da capacidade delas de nocautear uma deusa.

— Você amassa, fala o encantamento e Bum, ela vai tirar um longo, longo cochilo.

— Ok, parece fácil. - Disse, seguindo o rapaz enquanto ele se dirigia para a entrada do galpão.

— Hei! - Virou-se em direção a ela – Você vai ficar ai mesmo.

— Mas se é só isso, qual o problema de eu ir junto? - O instinto curioso dela realmente queria assistir aquela cena.

— É, mas as vezes as coisas podem ficar um pouco mais complicadas, logo, você fica. E não, não adianta argumentar, eu não preciso me preocupar com mais uma coisa assim que eu entrar lá.

E dito isso, ele se foi galpão adentro, e Eileen pode apenas se conformar e encostar-se ao impala, esperando pelos irmãos. Mas dado meia hora de espera, ela começou a achar que de fato as coisas haviam ficado mais complicadas, e sentindo-se tentada a entrar, mal pode começar a por seu plano em prática, quando Dean irrompeu porta afora.

— Aquela vadia colocou um feitiço no lugar. - O rapaz estava vermelho de raiva.

— Que tipo de feitiço.

— Os corredores estão em loop infinito e as janelas estão seladas, eu não consigo chegar até onde eles estão.

— Mas ela não disse que estava te esperando, por que ela te impediria de chegar perto?

— Eu tenho dez minutos… Se eu não aceitar fica com ela, ela disse que vai matar o Sam. E com o feitiço, ela garante que eu não vou chegar perto.

— Você não pode simplesmente fazer o feitiço daqui?

— Não, ele tem um raio de alcance, nós estamos muito longe. - As feições de Dean passeavam entre a raiva e a tristeza.

— Você não pode só aceitar, e depois fugir? - Chegou mais perto do rapaz, o encarando com seus olhos de coruja.

— Nas lendas, quando Inanna casa com um mortal, é pra foder com ele, e então cortar a cabeça dele fora. É um ritual pra manter ela jovem. Se eu aceitar eu vou ser automaticamente teletransportado pra área de abate dela.

— E se a gente tentar desfazer o feitiço que ela fez no galpão…

— Não vai dar tempo, eu não tenho o que é preciso. - Dean parecia resignado e Eileen não gostou daquilo, pela sua fala e atitude ele aceitaria, e foi nesse momento que a garota aprendeu a extensão do amor que os irmãos compartilhavam, o mais velho estava pronto para se sacrificar pelo mais novo, mas ela não deixaria aquilo acontecer.

— Não, não. - Começou, indo até próximo da porta do lugar – Não vai ser assim tão fácil pra ela. - falou enquanto pousava a mão sobre a madeira fria da entrada.

— O que você vai fazer? - Dean foi atrás dela, os olhos arregalados, um semientendimento do que ela faria cruzou sua mente – Não! - Sentenciou – Você viu o que aconteceu no quarto…

— É, eu vi, agora vamos ver se funciona de novo. - Dean fez menção de tocá-la – Não Dean! Ela achou vocês por minha causa, eu vou resolver isso - E numa fração de segundos, antes de realizar a magia, ela pensou “Por favor, só o que é galpão, e nada mais” - Ignihs – E assim que o disse, o mesmo fogo verde brilhou na mão dela. Da mão o fogo se alastrou para a porta que começou a inchar e escurecer, apodrecendo e envelhecendo, indo em direção ao concreto que pouco a pouco se esfarelava, e quanto mais a chama avançava mais rápido ela consumia. Dean se afastou rapidamente, assistindo espantado enquanto o ferro que segurava a estrutura se enferrujava e desfazia, e das paredes que seguravam o lugar, viu insetos caírem, intocados pelo feitiço. Tudo não demorou mais do que dois minutos, e logo o lugar estava infestado por baratas e mariposas, caídas abaladas sobre o chão. Quanto a estrutura que outrora estivera ali, ficou apenas o pó do concreto que pairava no ar, 200 metros quadrados que simplesmente desapareceram. No centro do agora espaço vazio, estava uma mulher de aparência muito bela e de expressões que denotavam sentimentos muito além da raiva, ela tinha o medo tremendo em seus olhos.

Sam estava amarrado a uma pilastra, mas como essa também fora levada pelo feitiço, sobraram apenas cordas soltas envolvendo seu tórax. O rapaz não parecia menos assustado, de dentro do lugar, ele pode assistir enquanto o teto também apodrecia, dando lugar ao céu recém-amanhecido.

— O que é você? - Inanna perguntou a Eileen, mas antes que ela pudesse responder, o frenesi do feitiço havia acabado, ela foi direto ao chão, desacordada. Dean correu em direção a ela, assim como Sam o fez logo que se livrou das cordas, ambos ignorando a presença de Inanna, está por sua vez, tomada pelo pavor de sentir toda aquela energia ser liberada, um poder que ela nunca vira antes e que era muito mais antigo do que ela mesma, achou que Dean já não valia mais a pena, pelo menos não naquele momento, e resolveu que o melhor seria fugir.

Os irmãos pararam um de cada lado do corpo de Eileen, que agora carregava uma aparência além de cansada, a imagem do rosto dela lembrava o de uma pessoa que se privara de água e comida por semanas, os olhos estavam fundos, a pele era pálida e os lábios estavam completamente secos. Dean tentou sentir o pulso dela, este estava fraco e arrítmico. Tentaram chamá-la, mas ela não deu nenhum sinal de consciência. Levaram-na até a parte de trás do impala.

— Nós precisamos de um médico. - Dean começou, enquanto se dirigia até o banco do motorista. Sam apenas acenou, ele não poderia acreditar no que ela fizera.

— Ela deveria ter imaginado que isso aconteceria. - Sam disse, consternado, virando-se para observar o corpo inerte da menina.

— Ela achou que era culpa dela. - Sam não entendeu, então Dean explicou a conversa que tiveram com Inanna, isso fez com que o mais novo sentisse uma forte onde de afeto pela garota - Mas ela vai ficar bem, ela é durona. - Dean também parecia abalado – Ela é durona. - Repetiu, tentando fazer a si mesmo acreditar no que dizia. Ele não poderia aceitar o fato de que mais alguém se sacrificasse pelo bem deles, ele não deixaria que Eileen morresse, e com isso em mente acelerou o impala, enquanto Sam procurava pelo hospital mais perto.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, nos vemos semana que vem (ou talvez antes, se eu estiver me sentindo inspirada)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Livro de Eileen" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.