O Livro de Eileen escrita por MundodaLua


Capítulo 22
A Verdade


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo pra vocês meus lindos



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Eileen mal pode acreditar quando se viu uma vez mais na biblioteca do bunker, ainda presa, por algum tipo de magia, à poltrona em que estivera sentada. Mas sua surpresa não foi maior que a dos irmãos, que até aquele momento estiveram em frente a seus notebooks, tentando descobrir para onde a menina havia fugido. Dean conseguiu articular apenas uma palavra em meio a toda aquela situação – Chuck? - Ele perguntou em choque, olhando do homem para a menina inerte na poltrona.

— Nós precisamos conversar. - Foi tudo que Chuck disse antes de se sentar em uma das cadeiras ao redor da mesma mesa em que Sam e Dean estavam – Pra começar, eu imagino que uma reapresentação deva ser feita. - Continuou, e, de repente, por trás de onde estava a cabeça do homem uma luz branca se acendeu, e um canto gregoriano começou a soar pela sala. Os irmãos olharam assombrados para o que era agora uma visão tão diferente do escritor que eles conheceram há tanto tempo, descobrindo naquele momento que estiveram na presença de Deus. Aquele a frente deles, ainda conservava o mesmo rosto do autor da série Supernatural, mas suas maneiras e seu olhar eram completamente diferentes. Com um piscar dos olhos, a luz e o canto cessaram.

— O que você fez com ela? - Sam perguntou, virando seus olhos para a menina que continuava presa por amarras invisíveis.

— Acho que um pouco dela já me reconhece… - Ele disse, mais para si mesmo do que como resposta para o Winchester mais novo – Eu vou te soltar agora – Começou – E eu te peço que me ouça. - Com um movimento da mão, Eileen sentiu o aperto se extinguir, e pode movimentar seus braços e pernas novamente – Mais uma coisa, a essência de Lúcifer. - Sem esperar que a menina entregasse o frasco, ele simplesmente fez com que o recipiente de vidro aparecesse em sua mão – Ache seu antigo receptáculo e volte aqui. - Sussurrou para a essência azulada e brilhante, antes de soltar o anjo caído.

— Hei! - Dean gritou, pensando que aquilo significava voltar para Cas, sem nem mesmo pensar no fato de que o anjo teria que aceitar para que Lúcifer o possuísse. Mas naquele momento Castiel também apareceu na biblioteca, seus olhos se abrindo feito pratos, muito mais espantado do que os irmãos ficaram, pois ele podia ver além do rosto que Deus vestia, ele podia ver a própria imagem do divino.

— Pai? - A pergunta flutuou no ar, e por um segundo Dean achou que teria que amparar o anjo que parecia em choque. Chuck apenas sorriu de forma terna, Castiel sempre fora um bom filho e seguidor.

— Explicações você disse? - A voz de Eileen chamou a atenção de todos, ela parecia mais calma agora, ainda sentada na poltrona – Já pode começar.

Castiel se acomodou próximo a Chuck, a expressão hipnotizada, incapaz de dizer qualquer outra coisa. O escritor por sua vez, arrumou-se na cadeira, voltando a encarar Eileen, tentando se preparar para dizer em voz alta algo que há muito ele escondera – Vocês apareceram logo depois que eu derrotei minha irmã – Começou – E eram algo que eu nunca esperei que encontraria na minha existência, vocês eram criaturas que possuíam um poder páreo ao meu ou o de minha irmã. - Chuck soltou um longo suspiro, olhando rapidamente em direção aos Winchesters – Eu aprisionei a Escuridão, por medo do que ela poderia fazer aos meus recém-criados humanos, e então, de repente, eu me vejo cercado por cinco criaturas que também poderiam por suas mãos na humanidade. - Ele se levantou, caminhando de um lado para o outro.

“Meus arcanjos, eles adoraram vocês, Lúcifer em especial tomou um interesse muito grande por Cimmeris. Você o acalmou de uma maneira que eu não achei que seria possível, e isso, mais do que qualquer outra coisa me assustou. Ver o poder que os Mitrahá exerciam ante minha criação mais poderosa e perfeita, me fez pensar o que poderia acontecer com as almas imperfeitas dos humanos. Eu tomei uma decisão, logo depois de convidar vocês para o paraíso, eu já havia tinha tudo mente...”

— É, eu pude ler isso no livro. - Eileen disse, rancor dominava a sua voz.

— Você leu, eu sei, mas me deixa mostrar a minha versão da história. - A menina deu de ombros – Eu não espero que você entenda o medo que eu senti pelos meus filhos humanos. Logo depois de batalhar com a minha própria irmã, eu não estava em mim completamente. Então eu fiz… Eu tentei…

— Você tentou nos matar. - Eileen terminou, asperamente.

Chuck soltou outro longo suspiro, a única coisa, Eileen pensou, que a estava impedindo de atacar aquele homem e fazê-lo pagar pelo que fizera, era a sincera expressão de arrependimento que ele mostrava no momento – Sim, eu tentei – Daquele momento em diante, ele não conseguiu mais olhar nos olhos da menina – E eu cheguei perto disso, mas o que eu não imaginava era o efeito que a magia que eu lancei teria. Uma parte da essência de vocês, a parte mágica, se separou, e viraram seu livro, o cajado e assim por diante. O resto acabou esquecendo o que era, e começou a vagar sem rumo pelo paraíso. Eu fiquei completamente surpreso, mas depois eu entendi, Mitrahás não podem ser mortos, não definitivamente, mas vocês podem ser “desativados”. Tudo que eu consegui foi desativar, e isso me consumiu por inteiro.

“Quando eu vi o que eu tinha feito, eu logo me arrependi. Pude sentir a tristeza que emanava da parte da essência que havia esquecido o que era, e como não vi jeito de desfazer meu erro, eu acobertei. Nenhum dos arcanjos descobriu, eu apenas disse que vocês haviam ido embora. Então eu apenas fiz o que me restou fazer, eu dei um jeito de juntar a parte que havia esquecido que algum dia fora um Mitrahá, com um corpo humano. Toda vez que o receptáculo morresse, o Mitrahá partiria para outro corpo.”

— E quanto a nossa essência mágica? – Eileen perguntou – Não diz no livro como elas vieram parar na Terra.

— Eu não pude evitar, elas vieram atrás de vocês. Foi então que eu cometi o meu segundo errado. Essa parte não está no livro, e é que mais me envergonha, porque apesar de ter me arrependido, de ter desejado poder desfazer meu erro, quando essa chance se apresentou, eu tive uma nova recaída de medo.

“Uma vez no corpo humano, os Mitrahá não poderiam ser identificados por outros seres mágicos, mas assim que sua essência se curou, e veio atrás de sua outra parte, eu me deparei com o fato de que, uma vez em posse do objeto, era possível que ambas as partes se juntassem novamente e voltassem a ser a criatura que foram outrora. Isso despertaria a atenção dos arcanjos, e eu imaginei o que aconteceria se os cinco Mitrahás voltassem a si na Terra, lembrando-se do que eu fiz. Eu tinha certeza que vocês descontariam nos humanos, então usei minha magia outra vez, e garanti que as essências não se encontrassem.”

Naquele momento uma nova figura surgiu na sala. Eileen não precisou de uma apresentação para saber que aquele era Lúcifer, uma vez que Sam, Dean e Castiel puxaram as armas mais próximas.

— Podem ficar tranquilos. - Chuck começou dirigindo um sorriso melancólico em direção a seu primogênito – Ele não vai fazer nada enquanto ela estiver aqui.

Lúcifer parecia furioso. Eileen pode ver, naquele rosto novo, claros sinais de que ele estava prestes a perder o controle e atacar o próprio pai. A ideia de que a única coisa o segurando ali era ela, a fez sentir estranhamente lisonjeada.

—Eu não posso acreditar que você fez isso. - o arcanjo disse – Eu sabia que você era um covarde, imbecil, mas eu não mensurei o tamanho dessa imbecilidade. - Ele voltou os olhos para a menina. Agora, mais do que antes, ele conseguia sentir a verdadeira essência dela, de Cimmeris, talvez o único outro ser além de seu pai que ele foi capaz de amar.

— Eu só não entendo duas coisas. - Dean ainda segurava sua pistola, apesar de saber que ela não teria efeito algum caso Lúcifer atacasse – Primeiro, quem escreveu aquele livro se você não falou pra ninguém, e segundo, como o livro encontrou a Eileen, se a magia deveria manter os dois afastados.

— Eu contei pra um anjo. - Chuck começou, encarando o chão por alguns segundos, mas sem continuar.

— Metatron. - Castiel disse, um fio de desapontamento em sua voz.

O escritor acenou positivamente – Ele tinha um pacto de sigilo, isso e também o fato de que ele me temia acima de todas as coisas. O que ele escreveu foi minha confissão, eu precisava dividir aquilo com alguém. Eu nunca imaginei que esse livro chegaria até um dos Mitrahá, mas parece que desde que eu me ausentei, alguns documentos foram extraviados do paraíso. Eileen já se conectou com sua essência, ela não é uma criação minha, eu não posso ver o que ela faz, não pude impedir que ela lesse.

— E o meu livro, como ele chegou até mim? - Eileen perguntou.

Chuck respirou fundo, esfregou o rosto com as mãos – Eu… - Tentou começar, mas se deteve por mais alguns segundos – Quando eles soltaram a Escuridão, eu sabia que não poderia lutar contra ela, na verdade ninguém poderia, a não ser…

— A não ser eu ou um dos outros Mitrahás. - Eileen completou, tudo começando a fazer sentido – Por que eu?

— Cimmeris tem um poder parecido com o de Amara, eu achei que era a opção mais óbvia em caso de combate.

Ninguém disse mais nada depois disso, a biblioteca caiu em um silêncio sepulcral. Eileen fechou os olhos e se afundou na poltrona, digerindo tudo que ouvira, Sam, Dean e Lúcifer olhavam para a menina, Castiel não sabia o que pensar e Chuck tomava coragem para dizer o que viera de fato dizer.

— Não foi pra pedir por perdão que eu procurei vocês. Bem, a princípio não foi, mas assim que eu descobri que você tinha lido o livro… eu não poderia fugir disso.

— O que mais…? - Eileen perguntou os olhos ainda fechados, a voz cansada e entristecida. Ela conteve uma exclamação de susto quando sentiu uma mão pousar em seu ombro, descobrindo logo em seguida um Lúcifer que tinha ódio e ternura misturados em suas feições.

— Eu vim porque Amara se recuperou. - Assim que disse isso, Dean se agitou, mas só Castiel e Sam pareceram notar - Ela sabe sobre você, sabe o perigo que você representa.

Todos na sala pularam em surpresa, e encararam Chuck com olhos arregalados.

— Então o que nós estamos fazendo parados aqui? - Sam perguntou – Temos que esconder Eileen, ela não 'tá pronta pra lutar ainda.

— Eu já estou fazendo o máximo que eu posso pra esconder ela. - Deus soltou mais um de seus suspiros – Magia é a única coisa que pode proteger Eileen agora, mas eu imagino que eu só vá conseguir manter esse feitiço por mais umas 72 horas no máximo. A energia necessária pra acobertar a essência de Eileen não é algo que qualquer outra criatura possa fazer além de mim.

— Qual sua ideia então, jogar ela numa batalha pra morrer? - Dean perguntou irritado.

— Eu não achei que demoraria tanto para as essências se reconectarem.

— Não tem como eu estar com força total em três dias. - Eileen disse, seu tom era de derrota – Mas eu posso tentar lutar com o que eu tenho. - Falou por fim, virando seu olhar para os irmãos e Castiel – O segundo poder já daria conta do recado, eu imagino. Eu tiro os poderes dela e problema resolvido.

—É, você poderia fazer isso, nós só precisaríamos pegá-la de guarda baixa. - Chuck disse – Mas isso também…

— Isso me “mataria”. - Eileen complementou.

— O seu corpo não se conectou completamente, ele não suportaria a carga do poder.

— O que vai acontecer comigo? - Ela perguntou – Quero dizer eu Eileen.

— Eileen morreria, você começaria de novo em outro corpo, sem qualquer memória dessa vida.

Eles se encararam durante um longo tempo. Chuck pode ver a determinação crescendo no rosto infantil da menina – Se não existe outro jeito, então é assim que vai ser. - Ela disse por fim.

— Hei, hei. - Dean começou – Nós podemos pensar em outra coisa, arrumar mais tempo até que você possa lutar de igual pra igual.

— Nada vai segurar a Escuridão. - Chuck disse.

— Você… - Foi a vez de Castiel falar – Você derrotou ela antes, não pode ajudar Eileen?

— Eu nunca me recuperei plenamente da batalha com ela, e depois do feitiço que eu usei contra os Mitrahá. No momento, Amara é mais forte que eu, tudo que eu posso fazer é acobertar a essência de Cimmeris.

— Eu não posso ajudar? - Lúcifer perguntou.

— Você também morreria tentando.

— Que seja assim então.

A menina ergueu o olhar em direção ao anjo caído, uma onda de afeto se apoderou dela, e Eileen se viu pegando a mão de Lúcifer e dando um leve aperto de agradecimento.

— Vamos tentar manter as mortes no mínimo possível. - Ela disse - Eu vou fazer isso, mas você vai ter que prometer uma coisa. - Eileen continuou – Quando eu voltar, no outro corpo, você vai me entregar meu livro, e não só para mim, você vai devolver a essência de todos os outros quatro Mitrahás.

Chuck pensou durante longos segundos, antes de responder.

— É justo. - Ele disse apenas.

— Certo. - Eileen disse por fim – Talvez seja o momento pra dizer que, ontem meu sonho finalmente se tornou nítido, a imagem que eu vi foi a de uma mulher em um vestido preto, que eu imagino, é a Amara, então eu acho que todo esse tempo, inconscientemente eu já sabia que isso ia terminar assim. - Ela se levantou – Vocês me deem licença, eu preciso beber alguma coisa. - E saiu, indo em direção a cozinha.

Quando ela não estava mais onde poderia ser vista, Dean começou – Eu também quero pedir uma coisa. Quando ela… Se ela morrer, ou reencarnar, sei lá, faça com que ela venha parar aqui com a gente, você pode fazer isso?

— Vocês teriam que criar ela. - Chuck disse.

— Somos dois caçadores e um anjo, não é o que eu chamaria de família perfeita, mas a gente dá conta. - Sam e Castiel assentiram.

— Vocês não precisam fazer isso. - A voz da menina soou do arco que levava até a biblioteca. Ela havia parado lá tentando por suas ideias em ordem, quando ouviu Dean fazer o pedido.

— É, a gente não precisa, mas nós queremos. - Sam disse.

Foi a vez de Eileen suspirar, ela olhou para cada um presente naquela sala. A exceção de Chuck, todos ali despertavam um sentimento de afeto nela, e ela se sentiu mais segura em relação a tarefa que teria pela frente. No pior dos casos, voltaria e seria criada por seus amigos. A menina deu um pequeno sorriso, e alcançou seu livro que estivera todo aquele tempo no braço da poltrona.

— É isso então, mais três dias… - A menina disse – Só três dias sendo Eileen. Eu vou sentir falta. - Começou, estendendo os braços e as pernas, analisando o próprio corpo – Eu nunca reparei como eu gostava de ser eu… - Falou, mais para si mesma.

— Se você quiser eu posso tentar providenciar um corpo parecido. - Chuck disse.

— É, eu ficaria feliz com isso, mas não é só o corpo. - Disse por fim.

— Eu não acho que a sua personalidade vá mudar muito, em essência você sempre vai ser a mesma pessoa.

— Melhor. - Ela deu mais um sorriso, mas logo ele de dissolveu em um início de lágrimas.

 Não demorou muito antes que ela sentisse braços a rodeando. Para a surpresa de todos, Lúcifer a manteve em um forte aperto, mesmo que sua expressão tenha se tornado série e quase dura, o abraço dele era cuidadoso. Ali Eileen chorou, não porque ela sentia medo, ela chorava pelas lembranças que ela perderia, as lágrimas caiam porque ela sabia que dali três dias, a noite de queda de braço no bar, a amizade que ela fez com Pâmela, a viagem a Londres, o encontro com o carro fantasma, tudo aquilo seria varrido de sua memória, e mesmo que Sam, Dean e Castiel pudessem contar para ela, tudo aquilo, não seria o mesmo que ter vivido.


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Notas finais do capítulo

Desenho no fim é destinado para a leitora Giulia Potter, que queria uma base para imaginar a Eileen. Eu fiz mais dois desenhos (me empolguei) os links estão aqui:

https://66.media.tumblr.com/a22821c4beafca670164b32b879116e9/tumblr_oaw6cxOv3K1tirmiro2_1280.jpg

https://67.media.tumblr.com/7158299a1eaed73ab30462660900f181/tumblr_oaw6cxOv3K1tirmiro3_r1_1280.jpg

Obrigada por ler :D