Young Gods - Interativa escrita por honeychurch


Capítulo 7
Capítulo 06




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c a s t e r l y   r o c k

Havia já algumas semanas, Lysara recebera um bilhete de sua amada amiga Darly, no qual ela dizia que iria visitar a corte em breve. E naquela manhã, alguns dias depois da desagradável visita aos aposentos do filho do rei, era o dia em que finalmente Lysa iria rever a amiga. 

Ela escolhera um lindo vestido rosa, com detalhes em creme, e uma bela rede de pérolas estava no topo de seus cabelos apenas meio presos. A rainha nunca  tinha permitido que ela se vestisse de maneira simples, ou que qualquer outro aspecto de sua vida estivesse abaixo do requerido pela nobreza. Como seu coração se enchia de gratidão ao pensar em tudo que a família real tinha feito por ela. Quem poderia imaginar a vida da moça sem o coração caloroso da rainha agindo sobre ela?

O pai de Lysara não tinha feito muito por ela, era o que a rainha sempre dizia. Se ele tivesse tido o senso de ter se casado com a pobre moça Tully antes de tê-la deflorado, Lysa teria nascido com uma nobreza resplandescente em seu sangue. "Você tem mais sangue nobre do que a maioria das damas dessa corte, peixinha" Peronelle nunca cansava de dizer "E se aquele tolo pudesse ter se controlado por alguns instantes... afinal o que é preciso para se casar? Um homem, uma mulher, e um septão, e quando se tem os dois primeiros, o último é sempre fácil de encontrar. Quem iria se opor? Os Tully? Vendo sua jovenzinha se casando com um príncipe? Os Lannisters? Quando nada poderia ter sido melhor para o tolo Mern do que uma boa, bela, e honesta esposa? Os Redwyne! Pelos deuses, os Redwyne! Antes me afogarei no próprio vinho da Árvore, à dar importância ao que um Rdwyne pensa. Não, não, não.... Todos estaríamos felizes. Talvez com as doces palavras de uma esposa o seu pai não fosse se aventurar por aí, apenas para acabar perdido. E com o tratamento adequado que eu lhe daria, ao invés do descaso frio dos Tully, a pobre Lycoris talvez tivesse sobrevivido. Ah, minha peixinha, e você seria uma princesa... Como eu a odeio quando vejo que não sente nenhum rancor do seu pai, e como eu a amo por isso também".

Era incontestável que Lysa amava a tia, mas sempre terminava com o coração partido quando ela tocava nesse assunto. Era apenas doloroso ouvir o que poderia ter sido sua vida, e toda a infinita felicidade que quase pertencera a ela. Não valia a pena pensar em benções de uma vida que não era dela, muito mais proveitoso era pensar nas alegrias que de fato tinha. Como a grande amizade que partilhava com uma dama de tantas qualidades quanto Darlessa  Reyne.

Roxanna era a melhor amiga de Lysara. quanto à isso não havia discussão, mas tinham pontos em que o interesse das duas moças divergiam, e era nesse buraco que a amizade com Darly se tornava tão preciosa. 

A carruagem trazendo a bela dama da casa Reyne tinha chego no pátio do palácio com a pompa natural que uma casa tão abastada fazia questão de manifestar. A grande peça madeira pintada com detalhes de esmalte vermelho era puxada por quatro cavalos negros, e encimada por flamulas de um leão vermelho em fundo branco. A comitiva que vinha atrás tão grande como toda vez que os Reyne deixavam seu castelo, quase tão ostensiva quanto as da família real. Mas mesmo assim não era em lanceiros, cavaleiros ou carruagens apinhadas de baús que Lysa estava interessada, e uma certa ausência foi notada por ela com aperto no coração.

Depois de receber a bela amiga, trocar com ela abraços, sorrisos e perguntas sobre o bem estar uma da outra, e quando a conversa se encaminhava para o típico questionamento sobre a saúde de ambas as famílias, foi que Lysa se sentiu confortável para perguntar com a voz tímida:

— Eu vejo que lorde Raynard não veio. Espero que sua ausência não se deva a nada grave. A moça Reyne fez um gesto com a mão de quem espanta uma mosca, e depois passou ambas as mãos nas saias para tirar o amassado da viagem.

— Meu irmão? Ele é tão imprudente - ela disse com uma voz cheia de preocupação - Nós encontramos o príncipe em nosso caminho, junto com sua comitiva de caça, e gentilmente parou para cumprimentar Raynard. Por cortesia, é claro, ele perguntou se meu irmão gostaria de se juntar a ele e aos outros senhores no esporte. Nosso príncipe, é tão gentil, mas eu não acredito que ele esperasse que Raynard aceitasse o convite. Ninguém  sensato aceitaria. Ele está , já faz uma semana, sentado na sela daquele cavalo, pois se recusa a usar a carruagem. Está cansado, dolorido e quem sabe até desnorteado! O que ele foi fazer em uma caçada assim, sem mais nem menos? Esse esporte é tão perigoso. Quantos dias acha que vai durar?

Enquanto falava, a mão enluvada de Darly repousava no peito aflito, em um gesto que lembrou Lysara do dia em que o príncipe confrontara a mãe nos jardins.

— Damon nunca passa mais que três dias em suas caçadas.

Lysa disse em seu tom mais reconfortante, mas não foi o suficiente para a amiga.

— Três dias!

Ela exclamou aflita, com a mãozinha migrando do peito para a testa.

— Não se preocupe minha querida, Damon não deixará que nada de ruim aconteça à Ray. Eu detesto vê-la assim. Vamos deixe que eu a distraia. A rainha pediu para vê-la assim que você chegasse, mas antes temos tempo para alguns mimos, eu pedi que fizessem doces para você, e também há vários tecidos de Essos, acho que você vai gostar de todos!

Darly lentamente foi se desprendendo de seu semblante preocupado, para ao invés dele usar um sorriso.

— Existe criatura mais generosa do que você? Minha doce Lysa, como eu senti sua falta. Se soubesse a falta que me faz! Gostaria muito que Ray concordasse em viver na corte, ou ao menos que permitisse que eu vivesse! É tão solitário em Castamere, e todos os dias eu sinto falta de alguém como você do meu lado.

A jovem dama Reyne era muito mais bonita quando sorria, especialmente com os cabelos dourados expostos à luz do sol. Lysa achava que Darly era provavelmente a moça mais bonita do reino, e quem sabe, de todo o continente. 

— Vamos – Darlessa falou brincando com uma mecha do cabelo ruivo da amiga – agora que você propôs eu estou ansiosa por pôr algo doce na minha boca. 

Com um sorriso inocente, e quase infantil Lysa conduziu a amiga pelo caminho até a parte do jardim onde as sobremesas e os tecidos esperavam por elas.

Estavam quase chegando quando a amiga a tomou pelo braço e lhe segredou em um tom de travessura. 

— O que acha de trocarmos segredos? 

Lysa soltou um risisnho, aquela era uma brincadeira que as duas faziam desde que começaram a amizade, e sempre terminava em risos. 

— Eu não consigo pensar em nenhum – A jovem Hill confessou ainda sorrindo – Diga  seu enquanto eu penso no meu. 

— Muito bem – Darly ergueu a cabeça e imitou uma marcha determinada – Deixe-me ver... Ah sim, você vai gostar dessa. Meu irmão foi até Correrrio não há nem dois meses, e eu fui obrigada a segui-lo. Não pode acreditar o que eu vi!

Darlessa falava sem conseguir conter o sorriso, e sempre como se estivesse a ponto de se desmanchar em risos.

— O que? Me conte, por favor.

— Meu irmão estava com a noiva Tully dele em um estábulo. Pode acreditar nisso? A sobrinha de um rei se encontrando com rapazes em estábulos como se fosse a filha de estalajadeiro? –Darly virou a cabeça para trás e soltou um riso travesso, levou alguns segundos antes que ela pudesse voltar à história, e quando o fez foi aos sussurros, no mais alto nível de segredo - Ray estava com a mão dentro das saias da garota. E a pobre infeliz estava tão ridícula! Se você pudesse tê-la visto! Com a boca aberta como um peixe no anzol, e parecia tão pegajosa quanto um peixe. Segundo Ray, as partes secretas dela cheiravam a peixe também. 

O assunto proibido, e a maldadezinha do comentário fez a jovem Rayne corar. O rosto de Lysa também tinha sido violentamente tingido de vermelho, ela ainda não se acostumara com aquele tipo de assunto, e nem estava certa se um dia se acostumaria, mas ainda assim havia mais. Se fosse qualquer outro cavaleiro na história ela talvez tivesse sido capaz de rir da situação, mas era Raynard, o jovem, belo, e gentil, Raynard. Era doloroso ouvir qualquer história que envolvesse ele e a noiva – a própria prima dela, Lynesse Tully – descobrir, no entanto, que ele era capaz de fazer um comentário tão indelicado sobre uma dama, era completamente terrível.

Com muito esforço foi capaz de fingir um riso, mas deveria haver algo de tão falso na sua alegria que logo foi visto pela amiga. 

— Me perdoe, eu não deveria ter falado isso, não é... adequado, eu suponho. Mas é que às vezes eu sinto tanta vontade de falar sobre ... sobre... isso. Você não? Eu sei que as septãs dizem que qualquer coisa à esse respeito deve ser debatido com elas mas... Pelos deuses, elas só nos dizem que é doloroso, e desagradável. Que devemos deixar que nossos maridos nos conduza e sejamos tão obedientes no leito como somos na vida. Você realmente acha que é só isso? 

Nessa altura Lysa começou retardar o passo, temendo chegar na mesa dos doces onde os criados as esperavam, ainda dentro daquele assunto.

— Acho que só vamos descobrir quando nos casarmos. 

Ela respondeu constrangida, mas ainda assim ardendo de curiosidade. 

— Sim, acho que você está certa. Mas será que isso nos impede de imaginar?

— Imaginar? 

Darly mordeu os lábios corada, como uma criança que tinha acabado de roubar doces da cozinha. A moça abriu os lábios mais uma vez, sem duvida para dizer outra coisa que faria Lysa corar. Por sorte elas alcançaram a mesa repleta de delícias, na qual dois criados esperavam para servi-las, e na presença deles, a jovem Reyne se inibiu.

Elas se sentaram, e os doces foram oferecidos juntos com mostras de tecido. Elas tinham muito o que conversar sobre como passaram o tempo uma longe da outra. Parecia haver tanto há ser dito. Lysa derramava histórias atrás de histórias, que a amiga gentilmente ouvia, com os mais sensatos, ou engraçados, comentários. Pontualmente Darly contava algo que lhe tinha acontecido, mas segundo ela a vida em Castamere não era nem de longe tão interessante quanto à da corte. 

— Pelos Deuses! – A bela jovem exclamou com uma fruta cristalizada na boca, e ao notar o quão chamativa tinha sido a cena, engoliu o doce e se inclinou para a amiga em tom bem mais baixo – Você ainda não me contou um segredo seu.

— Mas já lhe contei tanta coisa!

— Mas nenhuma delas eram secretas, ou eram? O jogo não funciona assim. 

Lysa riu, em um instante era come se estivesse brincando de pique-pega de novo, mas ao invés de perseguirem crianças elas perseguiam segredos. 

— Eu não tenho nenhum tão escandaloso quanto o seu. 

— Vamos, não seja boba.

— Bem, a rainha pretende dar Banefort para o filho ilegítimo do rei, mas eu não sei se isso agrada o príncipe. 

Foi impossível não ver o desapontamento que tinha cruzado o roto de Darly.

— Bem, minha querida, eu não acho que isso seja exatamente um segredo. Todos só comentam sobre isso, alguns até dizem que a rainha encovou antigos poderes do Deus afogado das ilhas para acabar com a descendência de alguma casa abastada e poder conferir os espólios ao querido enteado. Já ouviu história mais ridícula? É quase tão absurdo quanto princesas se jogando de torres.

Lysa ficou desapontada também, ela poderia jurar que ninguém além da família real sabia sobre aquilo, mas ao invés disso todos sabiam. A jovem teve que então varrer na memória por algo secreto, algo que em todo o mundo só ela pudesse contar a Darly.

— Tudo bem minha querida, não há necessidade de continuarmos com isso. Acha que consigo aquela seda azul por um bom preço? Ray anda muito rabugento quanto aos meus gastos.

Mas Lysa não queria desistir, elas nunca tinham abandonado o jogo daquela maneira, parecia desnecessário começar agora. Devia haver alguma, em todas as suas lembranças tinha de ter apenas uma que satisfizesse a amiga. E então ela se lembrou de uma coisa, algo sobre o qual tinha jurado o mais absoluto segredo. Parecia tão errado descumprir sua promessa, mas era só o que ela tinha.

— Bem, há uma coisa mas...

— Ah, parece que você tem um escândalo afinal. 

— Você deve jurar, por todos os deuses que jamais falará disso com ninguém.

Darly pressionou a ponto de seu dedinho indicador contra os lábios macios. 

— Trocar segredos só tem graça se for com você.

Lysa corou mais uma vez, agora sem saber ao certo o motivo que a deixava tão envergonhada. Com a voz hesitante ela começou a derramar tudo o que prometera guardar apenas para si.

— O príncipe, ultimamente, tem andado sempre com uma caixinha redonda com ele. Às vezes ela a abre e olha para o interior como se tivesse algo de muito precioso nele. Certo dia eu criei coragem para perguntar o que era.

— E então?

A amiga parecia muito empolgada, mal conseguia ficar sentada esperando pelo que viria. Lysa estava satisfeita agora, embora ainda muito culpada. Olhando para os lados ela se certificou que os servos estavam distantes o bastante para que não as ouvisse, se inclinou na direção da amiga, e sussurrou:

— É um retrato, em miniatura é claro, cabe na palma da mão dele. 

— Um retrato de quem?

— Uma princesa nortenha, o príncipe deseja fazer dela sua noiva. Ela é de fato muito bonita, ao menos no retrato, e se tudo que foi relatado ao príncipe for verdade então será uma rainha admirável. Mas Damon não quer que ninguém saiba até que esteja tudo acertado, pela vontade dele tudo só seria revelado quando ele voltasse já casado, de braços dados com a princesa.

A historia tinha feito Lysa suspirar quando foi contada pelo primo. Nunca tinha imaginado Damon como um romântico, mas ele parecia tão encantado por aquela moça que nem sequer conhecia, a admiração era tão evidente na fala dele que fazia o coração de Lysa saltitar. De fato, ela tinha ficado tão encantada que só poderia esperar uma reação parecida da amiga, mas ao invés do belo rosto de Darly ser invadido por um sopro de prazer, a jovem moça olhou para a amiga com piedade e tristeza nos olhos.

— Nortenha? Pobrezinha.

Confusa, Lysa se apressou a tentar mudar aquela impressão.

— Não, eu acredito que Damon goste muito dela. Nunca o vi fazendo tanto esforço por ninguém.

Darlessa suspirou com o rosto apoiado em uma das mãos

— Eu não duvido. Mas meu bem, será que é da garota realmente que ele gosta, ou só da princesa? Afinal o príncipe ainda nem a conhece, e pode ser que uma vez conhecendo descubra que não tem nenhuma admiração por ela afinal. Não é por isso, no entanto, que eu lamento por ela.

Lysa abaixou os olhos por um instante. Se por um lado ela sabia que havia verdade no que Darly dizia, por outro continuava relutante em aceitar.

— Então – A jovem balbuciou – Por que você a chama de pobrezinha?

— Bem, ela é nortenha, e ninguém nessa corte tem sido amigável com um nortenho desde a guerra. Sempre que olharem para a ela irão ver um parente ou amigo querido que foi abatido

Do modo como a jovem Reyne falava tudo parecia muito óbvio.

— Mas a princesa não tem culpa.

— Ah, minha amada criatura – Darly a olhou com os olhos verdes piedosos e apanhou as mãos dela nas suas – Eu sei disso, e você também sabe. Mas todos os outros parecem se fechar para sensatez quando se trata do Norte. E a pobre moça nem ao menos tem a sorte de ser uma simples dama, ela é a princesa! Foi o irmão dela quem matou Sor. Lucien! Ele era primo, e melhor amigo do rei. Você já conheceu alguém que não gostasse de Sor. Lucien, ou que não tivesse chorado sua morte? Pobre garota, eu temo que muitos tolos vão culpá-la pelos atos do irmão.

Lysara viu a amiga balançando levemente o rosto, e como os cachinhos soltos que emolduravam seu rosto dançavam como se lamentassem junto com a dona.

— Acha que ela se sentiria... solitária?

Os olhos de Darlessa ganharam um brilho úmido ao olharem para a amiga.

— Como eu detesto te ver triste! Esqueça tudo o que eu disse. Cada palavra que saiu da minha boca foi com uma previsão catastrófica. Afinal, por qual razão Damon não a amaria? E ainda que a corte ouse ser antipática com a pobre princesa, ela ainda pode contar com o seu amor e com o meu. Ela será feliz, é claro que será, esqueça tudo o que eu disse.

A amiga se inclinou para abraçá-la. Mas mesmo com a tentativa de reparação e o gesto afetuoso de Darlessa, Lysa não pode evitar que aquela semente de receio germinasse. Ali, com o rosto enterrado nos cachos perfumados da jovem Reyne, o mocinha só conseguia temer pelo futuro da princesa nortenha.

No final daquela tarde Darlessa tinha feito Lysa prometer que naquela noite as duas dormiriam juntas. “Vai ser tão divertido” sua amiga tinha prometido, e ela não achou que Roxanna fosse se importar em dormir com outra dama naquela noite.

Esses planos, no entanto, tiveram de ser abandonados, pois depois do jantar, a rainha tinha pedido especificamente à Lysa que a arrumasse para a noite. A jovem não era capaz de negar nada a gentil Peronelle que desde sempre havia sido tão generosa com ela.

Lysara ajudou a rainha a se lavar e se vestir, e agora viria a parte mais complicada, uma interminável aplicação de óleos e unguentos vindos de Essos, mesmo assim a moça não se importava.

Como primeiro passo para o processo, Lysa tirou a pesada peruca castanha da cabeça da rainha, e a colou em uma réplica de madeira. Havia anos que Peronelle não exibia seu verdadeiro cabelo em público, o havia substituído por caras perucas que simulavam o que ele havia sido na juventude, castanhos, densos e gloriosos.

Na sala de conferências do rei um retrato pendurado testemunhava não só a beleza dos cabelos como da modelo como um todo. Peronelle permaneceria para sempre jovem e bela naquele quadro. Vestida com um esplêndido vestido vermelho na moda de Ferro, e cobertas de jóias que incluíam uma corrente robusta de ouro nos ombros, a então princesa Hoare exibia a cascata brilhante e castanha que eram seus cabelos.

Aquela beleza exuberante tinha se transformado em ralos cabelos grisalhos que a rainha tinha cortado mais curtos do que os de um rapaz.

Peronelle coçou a cabeça com as unhas quando a jovem Lysa a livrou da peruca.

— Não quero passar nada no meu rosto essa noite, me traga apenas aquele óleo do frasco verde.

A moça acenou com a cabeça e trouxe o frasco, cujo conteúdo ela derramou nas mãos da rainha.

— Minha querida peixinha, como é possível que você fique mais bonita a cada dia? Que adorável, veja como você enrubesce quando é elogiada.

— A senhora é muito generosa com seus elogios.

— Não, sou não – A rainha respondeu esfregando o óleo nas mãos – Se lembra daquele dia nos jardins quando eu mandei que fosse com Roxanna até os aposentos de Sifrit?

Sim” Ela tinha respondido com a memória daquela ocasião tão desconfortável ainda fresca na mente.

— E sabe por que eu mandei que você fosse?

— A princesa jamais deve ficar sozinha.

Peronelle riu.

— É claro que sim, mas por que tinha de ser você? Bem, eu lhe digo. Tanto você como Sif nasceram nessa condição de ilegitimidade, mas isso não significa que tenham de viver como renegados. Eu consegui fazer algo grande por Sif, e agora pretendo fazer algo por você também.

— Isso significa que eu também ganharei um castelo?

Lysa perguntou em tom divertido, e a brincadeira fez a rainha rir mais uma vez.

— Ah, meu bem, quase isso. Eu vou fazer de você a senhora do seu castelo, e lhe darei o melhor marido desse mundo, um marido que até mesmo eu sou capaz de amar.


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