Um suspiro. E nele, resumidos todos os seus sentimentos, sendo os de tristeza, culpa e amor os mais fortes. Afinal, não pense que é fácil: essa coisa de ter que ser obrigado a vê-la com outro e não poder fazer nada para mudar a realidade.

Ele até sairia dali se pudesse, mas a bobagem promocional da Totalmente Demais tinha parceria com a Excalibur e sua participação era obrigatória até pelo menos a metade do evento, e ele mal começara.  O que automaticamente significava pelo menos mais uma hora e meia de Eliza e Carrapato rindo, dançando e beijando. Por que diabos ela o havia trazido mesmo? Seria algum tipo de vingança?

— Quer saber? Que se dane — ele se virou para o barman. — O que você tiver de mais forte, por favor.

— É pra já! — disse o barman num tom educado, simpático. — Aqui está.

— Obrigado.

O líquido esbranquiçado e agridoce foi rapidamente bebido por Arthur e num piscar de olhos o copo já estava vazio.

 — Merda de vida — resmungou ele.

E então a música Oceans da banda Seafret começa a tocar e depois de alguns versos ele percebe o quão perfeitamente ela resume o relacionamento dele e de Eliza. Dói. Bem lá no fundo, dói.

— Arthur! Você aqui?

Ele olha para o lado e encontra Leila, com um sorriso amigável.

— Eu que o diga. Pensei que depois de tudo não ia mais aceitar o emprego na Totalmente Demais.

— Na verdade não aceitei. É que eu fiz uma matéria para a edição desse mês e fui convidada.

— Ah, entendi.

— Pois é. Eu ainda não decidi se a Carolina me merece de volta na Totalmente Demais. Mas se eu acabar voltando com certeza não vai ser por causa dela.

— Entendi.

— Mas e você? Veio pela Excalibur?

— É, mas sabe de uma coisa? Se eu pudesse nem teria vindo.

— Ah é, mas por quê?

Ele se se encolheu e levou o copo aos lábios para só depois perceber que estava vazio e ela olhou para a pista e teve a resposta para sua pergunta.

— Sinto muito.

— O pior não é nem isso. O pior mesmo é que eu só entrei naquela de desmascarar a Carolina por causa da Eliza. E no fim não serviu de nada.

Leila ficou em silêncio, sem saber ao certo o que dizer. Conseguia compreender perfeitamente como ele se sentia. Sentira-se do mesmo modo quando teve de terminar com Jonatas, pois ele ainda gostava de Eliza. Os dois na pista de dança, parecendo mais felizes do que nunca apenas confirmava o que ela sempre havia suspeitado.

— Aceita um conselho de quem já sofreu por amor: doí. Mas passa.

— O problema é só quando vai passar né? — retrucou Arthur, rudemente.

Isso a deixou meio sem graça, talvez nem devesse ter aberto a boca.

— Desculpa. A culpa não é sua, é minha. Talvez eu devesse ter ficado em casa e inventado qualquer desculpa.

Ao dizer isso ele se afastou do bar, levando consigo o copo vazio. Será que não percebeu que estava vazio?

— Arthur — chamou Leila, fazendo com que ele parasse. — Eu sei como você se sente. Acha que também não dói para mim, ver os dois assim?

Ele ficou em silêncio.

Ela também.

— Eu conheço uma estória. Não um poema, mas um romance. E a última frase dele era: “Ela nunca soube o quanto ele chorou, esperando-a. Talvez fosse melhor assim.” E eu acho que não importa o quanto eu chore, esperando pela Eliza. — ele olhou para o casalzinho feliz por um segundo. — Ela nunca mais vai voltar.

— Parece ser um romance triste.

— E é. Só não o final, que acaba sendo feliz.

— Sabe de uma coisa, Arthur?...

— Eu sei, eu sei. Eu sei que meu final não vai ser feliz, mas...

— Não, não é isso. Seu copo. Tá vazio.

— Ah! — seu tom foi irônico e ele até deu uma leve risada.

— Bora beber alguma coisa. A noite provavelmente vai ser bem longa.

— Concordo.