— Eliza, eu não consigo entender. Você é uma aluna brilhante, mas quando as provas chegam é tudo cinco, seis, no máximo sete.

Sentada na sala do diretor, a garota olhou para o boletim em cima da mesa, sem muito interesse. Ela sabia que mais cedo ou mais tardem a chamariam na diretoria para discutir aquele assunto, afinal, não era à toa, ele estava certo. As notas dela estavam caindo mais rápido que uma pessoa sem paraquedas.

— Se tem alguma coisa acontecendo, pode falar. Eu tô aqui para te ajudar.

Ela olhou para ele. Olhos azuis, cabelos louros, por volta de... 40 anos? Independente da idade, era inegável que todas as garotas do ensino médio suspiravam quando ele passava e estavam sempre a tentar chamar sua atenção. Com exceção de         Eliza, não que ela não achasse ele atraente mesmo que não admitisse isso para si mesma, mas havia Jonatas... e sua mãe, que depois de muito dificilmente aceitar Jonatas, jamais aceitaria Arthur.

— Eu vou tentar me esforçar mais da próxima vez, prometo — disse ela, abaixando a cabeça novamente. Queria sair dali o mais rápido possível, embora não soubesse bem por que.

— Você não respondeu minha pergunta.

— O senhor não perguntou nada.

Arthur pensou por um tempo e, bem, de certa forma ela estava certa.

— Eliza, tem alguma coisa acontecendo para você estar tirando notas tão baixas? Algum problema em casa ou algo assim?

— Você realmente se importa? — perguntou Eliza com o máximo de desdém possível, e embora percebesse o que disse apenas após já ter dito, ela não se arrependeu inteiramente. Sabia que o diretor estava preocupado com apenas a imagem de sua própria escola, não era como se ela fosse especial.

— É claro que eu me importo.

Não era essa a resposta que ela esperava, mas o que ela realmente e definitivamente não esperava era que ele levantasse de sua cadeira e fosse até ela, acariciando seus cabelos.

— Quem te disse que eu não me importo?

Eliza ficou ereta, sem saber o que fazer. Não dava para sair dali, ele estava bloqueando a porta. Institivamente e sem conseguir se controlar, a garota começou a chorar.

— Ei, ei, o que foi?

Arthur estava preocupado, a intenção de seu gesto não era fazer Eliza chorar, muito pelo contrário. Mas acontece que ele não sabia sobre seu padrasto abusivo, que a traumatizava desde que começara a crescer.

Começando a soluçar, a garota perguntou:

— Você não vai abusar de mim, vai?

— Não, não, não. — Disse ele, abraçando-a. — Eu nunca pensaria em fazer uma coisa dessas — ele desmanchou o abraço para olhar diretamente para ela. — Eliza... Eliza, eu te amo.

— Como assim?

— Vai me dizer que você ainda não percebeu?

Perceber... mas perceber o quê? Ah, mas se ela fosse parar para pensar, sempre que ele passava pelo corredor do ensino médio, ela era a única garota em que ele notava, e os dois conversavam constantemente durante o recreio sobre assuntos aleatórios, e quando ela ia até a biblioteca ele coincidentemente estava lá. De fato, se ela fosse parar para pensar ele estava sempre por perto, tentando fazê-la se sentir melhor até mesmo nos dias mais cinzentos. Ele a amava, mais do que qualquer outra pessoa no mundo.

Após essa reflexão, Eliza recebeu um beijo na testa.

— Eu te amo — mas então ele se afastou. — Mas eu entendo se você não me ama de volta.

— Arthur... — então ela segurou o rosto dele com as mãos e o beijou. Um beijou demorado e apaixonado, que foi retribuído de ambos os lados. — Eu também te amo.