Desvios escrita por Sayumi Ota


Capítulo 6
Capítulo 5 - Sufocante


Notas iniciais do capítulo

Olá, gente! Espero que gostem do capítulo!
Bombons de chocolate, até o/



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A sala estava brilhando. O piso branco, impecável. O sofá laranja, com almofadas de coração, apresentável. O aparelho de TV, desligado. Os inúmeros DVDs de Cosmo-Guerreiro, guardados. O tapete de estampa verde e preto, limpo.

Os pais de Cascão estavam fora naquele dia, iriam jantar com um casal de amigos, e Cascão ficou responsável por arrumar a sala para sua convidada especial. O garoto nunca se imaginou como dona de casa, mas olhando seu trabalho bem feito, até que não seria tão ruim. E ele pôde emprestar as luvas de sua mãe para realizar a limpeza. Então, nada de água para o rapaz até aquela hora. Cascuda era pontual.

Faltando meia hora para o encontro, Cascão foi tomar banho. Despiu-se e, com um receio característico dele, colocou os pés dentro da área do box, e fechou-o em seguida. Cascão só percebeu o nervosismo quando levou sua mão até a torneira do chuveiro. O choque não podia ser maior ao vê-la tremendo.

Ele encostou a testa na parede de azulejo branco. Era mesmo o fim dos dois? Ele podia fazer algo para impedir? O garoto inclinou a cabeça para trás e depois jogou-a para frente, com força, com intuito de bater a testa. Conseguiu.

Não, se Cascuda tivesse realmente decidido algo assim, ele não poderia fazer nada. Ela era cabeça-dura e decidida. E o que ele tinha feito de errado? Ter amigas? Não, o ciúme de Cascuda chegava a ser pior que o de Mônica em relação ao Careca, pois o mesmo dava motivos, Cascão não. Ele sempre pensava isso, e por vários momentos pensou em dizer isso à namorada.

Não o fez.

Ao invés disso, girou a torneira e sentiu a água quente encontrar suas costas nuas. O calor era reconfortante e ao mesmo tempo atormentador. Para que ele estava se arrumando? Cascão conhecida sua namorada, ela não era de marcar compromissos para pedir desculpas.

Lavou-se e fechou a torneira. Respirou fundo duas ou três vezes, antes de pegar a toalha limpa e passá-la em seu corpo. Ele colocou a cueca do Capitão Pitoco – que ainda usava, em segredo – para dar sorte, seguido de uma bermuda jeans e uma regata verde. Escovou os dentes e encarou seu reflexo no espelho acima da pia. Parecia ter levado um soco pela expressão que estava fazendo.

O garoto saiu do cômodo, encaminhando-se para a sala à espera da namorada. Faltavam quinze minutos para a hora marcada. Ele não ligou a TV, apenas sentou-se no sofá, ereto. Decidiu, então, ligar para Cebola, pois pelo menos o compromisso do Careca com o Do Contra o divertiria.

Desbloqueou o aparelho e rapidamente colocou o número. Apertou em ligar e esperou. Com três toques, o amigo atendeu.

— Fala, Careca – disse Cascão. Olhou no relógio. Seis e quarenta e sete.

E aí? — pelo resmungo de seu amigo, Cascão percebeu que o garoto estava decididamente estressado.

— O que tá rolando? – perguntou ele.

Cebola bufou.

Estou indo para a casa da Mô— respondeu. Cebola bufou outra vez. Cascão estranhou, o amigo não ficaria tão estressado assim. Até que Cebola continuou – O maluco do Do Contra pediu para ela se a gente podia fazer o trabalho na casa dela e depois nós três poderíamos fazer algo.

Cascão começou a rir.

— Tá brincando! Não acredito que a Mônica deixou – disse Cascão, em meio às gargalhadas.

É óbvio que ela deixou, por causa do Do Contra, já que ela faz tudo por ele— Cascão não conseguia ver o Cebola, mas conseguia quase perceber que o amigo estava revirando os olhos. – Mas fala aí, o que você quer?

Cascão pensou brevemente no assunto. Contaria ao seu amigo o que estava o deixando aflito? Será que Cebola zombaria dele? Ele deu de ombros. Situações desesperadas pedem medidas desesperadas.

— A Cascuda disse que quer conversar comigo. Ela já tá vindo – admitiu Cascão – E se ela terminar comigo?

Do outro lado da linha, foi a vez de Cebola rir.

Do que você tá falando? Vocês já terminaram e reataram tantas vezes, e relaxa, cara. A Cascuda é louquinha por você— Cascão não conseguiu sentir alívio – Se vocês quiserem dar um pulo na casa da Mônica depois, eu agradeço— Cebola parou um pouco – Pensando bem, não quero segurar vela para dois casais.

A campainha tocou e o coração de Cascão bateu forte.

— E-eu tenho que ir, Careca. Depois a gente se fala – murmurou o garoto. Antes de Cebola falar qualquer coisa, o rapaz desligou e guardou o celular no bolso.

Hesitante, foi até a porta. Sua mão na maçaneta fria fez com que ela pensasse se deveria ou não atender. Não, fugir apenas pioraria tudo. Ele girou e puxou a porta.

Cascuda estava arrumada da maneira dela, com uma calça jeans, sapatilha rosa claro, e uma camisa cheia de florzinhas suaves. Ela não parecia zangada. Parecia... outra coisa. Cascão não sabia o que era.

— E aí, minha linda? – Cascão inclinou a cabeça e deu um selinho nos lábios cheios de gloss de morango da sua namorada. Cascuda não desviou, o que já era um passo na direção certa. Ele endireitou o corpo e a olhou. Não entendia como ninguém a achava tão linda quanto ele acreditava.

Ela tentou olhar um pouco a sala, e Cascão entendeu seu recado.

— Bora entrar? – perguntou. Ela assentiu e entrou na sala antes dele, que a seguiu e fechou a porta de madeira, trancando-a.

Cascuda deu uma longa olhada no cômodo, e como tudo estava organizado. Ela parou um longo tempo vendo algumas fotos de Cascão quando criança. Ergueu a mão e passou no Cascão criança, sorrindo entristecida. O garoto não estava gostando do rumo que aquela situação ia tomando.

— Cascudinha, senta aqui no sofá – ele apontou para o lugar. Ela parou de “acariciar” a foto e olhou para o sofá, incerta se deveria ficar ali ou não. Por fim, cedeu, e colocou o corpo com delicadeza no lugar arrumado.

Cascão esperou que ela falasse. Mais assustador que uma Cascuda brava era uma Cascuda quieta.

— Você não vai me fazer companhia? – perguntou ela, por fim. Cascão não esperou duas vezes antes de jogar seu corpo ao lado do dela.

— O que aconteceu, Cascuda? – Ele devolveu a pergunta, curioso e receoso demais para esperá-la puxar assunto. Até sua pergunta, ela não olhava para ele, mas seus olhos voltaram a sua atenção para o garoto.

— Cascão, eu andei pensando e – Cascão não conseguia mais olhá-la nos olhos, então desviou o olhar para as mãos da garota, que tremiam. Cascuda quase nunca fraquejava. – E eu... eu... – Cascão fitava os dedos magros dela. Ele sabia que terminaria assim. Sabia. – CASCÃO, PRESTA ATENÇÃO EM MIM.

Cascão não esperava por uma reação daquelas, ainda mais que Cascuda gritasse. O mais assustador era que ela estava chorando. A sua Cascuda, que geralmente só chorava com filmes do Tuálaite* e nas vezes que eles se separaram, estava chorando de novo.

Ele a abraçou forte, e deixou que ela chorasse. Depois de um tempo ela parou e se desvencilhou dos braços dele. Cascão segurou as mãos dela e a olhou nos olhos. Seu coração parecia ter sido apunhalado milhares de vezes antes mesmo que ela falasse.

— Cascão, eu – Ela sussurrou – Eu acho que é melhor nós terminarmos. – Os olhos dela se encheram de lágrimas de novo e ele sentia que os dele também. Mas não iria chorar. Não na frente dela. Ou ia? Não sabia mais de nada. – Eu achei que algum dia iríamos casar, talvez. E que daria certo. Só que é difícil, Cas – Ela tirou uma das mãos e passou no rosto do rapaz. – Nós só brigamos, não anda sendo saudável – continuou. – Meus ciúmes gerariam mais e mais brigas. E eu não quero que nós sejamos infelizes. – sussurrou. – Então, talvez algum dia a gente volte, no entanto, enquanto eu não conseguir lidar com meus ciúmes e você com seus sentimentos, eu acho que não é possível seguir com isso.

Era como se Cascão tivesse levado vários murros. Ele nunca pensou que Cascuda estava infeliz, pensava egoisticamente só nele e em como era insuportável aturar as inúmeras críticas dela. E agora ela estava ali, em seus braços, inofensiva, fraca, transtornada, sendo – como sempre – a mais madura entre os dois.

Ele não sabia direito o que sentir. O choque de tudo estar acontecendo como ele temia era grande demais. A ficha não tinha caído.

— Me dá mais uma chance, Cascuda – Agora ele estava chorando. – Por favor, a gente tenta, eu tento, me esforço mais, só me dá mais uma chance. – Ele implorava. Não era como das outras vezes, agora era pra valer. Cascuda realmente estava acabando com aquilo. Com tudo que eles construíram durante anos, ela estava derrubando tudo.

— Desculpa, Cas – balbuciou ela. – Eu sei que se a gente voltar agora, nós só vamos nos ferir mais e mais. Então é mais saudável terminar agora. – Ela também voltou a chorar. – Eu sinto muito. – A garota passou os finos braços em torno de Cascão e o apertou bastante. – Eu amo você – sussurrou. – Você foi meu primeiro amor. Mas não deu certo, ao menos por enquanto. Obrigada por tudo.

Cascão também a abraçou, com força, porque ele sabia que a partir do momento em que ele a soltasse, era o fim. Apesar de ele não querer que fosse, sabia que no fundo ela estava certa. Ambos haviam se magoado demais. Quem sabe um dia voltariam? Ele não sabia. Queria voltar agora. Porém, talvez fosse necessário o término para que os dois amadurecessem.

Quando ambos pararam de chorar, eles se soltaram.

— Eu também amo você, Cascudinha – sussurrou ele, encostando a testa na testa de sua ex. – Eu espero que algum dia a gente volte. Eu também sinto muito.

Ela passou a mão no cabelo de Cascão e o bagunçou.

— Eu ainda quero ser sua amiga – disse. – Só que agora não é o momento. Vamos dar tempo ao tempo, certo? – Ela se levantou. – Eu preciso ir, Cascão, antes que eu volte a chorar de novo.

Ele também se levantou e ficou de frente para ela. A vontade que tinha era de trancá-la até que ela resolvesse dar outra chance, e como não faria isso, ele foi com ela até a porta.

Era tudo tão insano.

Ele abriu, e percebeu que tremia. Droga.

Cascuda passou por ele e saiu da casa. Ele percebeu a carro preto da mãe de Cascuda e se perguntou desde que horas o automóvel estava ali. Os dois se olharam e desviaram o olhar, constrangidos. Era bizarro. Parecia que eles tinham voltado à época antes do namoro, em que ficavam com vergonha e não sabiam como agir um com o outro.

Ela o abraçou forte, e ele retribuiu o abraço.

— Fica bem, sério. E dorme bem. – disse, em tom de ordem.

— Você também, dorme bem. – respondeu ele. O que havia de errado com os dois?

Ela então correu até o carro da mãe e entrou. Cascão esperou que o veículo partisse de vista para fechar a porta. Ele sentia agonia e desespero. Acabou?

Acabou?

Acabou.

De repente, percebeu que não podia suportar aquilo sozinho. Ele ia pirar. Abriu a porta, saiu da casa, e trancou o lugar. Começou a correr enquanto digitou uma mensagem.

“Posso ir aí?”, enviou. A corrida pela rua escura fazia com que a dor diminuísse um pouco, para ser substituída pela dor de correr naquela velocidade.

A resposta veio logo em seguida: “Sim”.


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Notas finais do capítulo

Olá, de novo. Quero agradecer à helenabenett, nandinha berry, e Bia por comentarem o capítulo anterior! Muito obrigada, meninas, vocês fizeram meu dia ficar menos triste. Muito obrigada.
Hoje eu não tenho muito o que falar sobre o capítulo. Acho que vocês já esperavam algo assim. O Tuálaite é o Twilight, certo? É que na TMJ estava escrito Tuálaite e eu quis deixar deste jeito. Bem, eu queria saber se vocês gostaram!! Vejo vocês!!



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